Tempos de come-come e bebe-bebe
Nestes tempos de “come-come e bebe-bebe” em que se perde, cada vez mais, a noção de refeição é oportuno reflectir um pouco sobre essa actividade imemorial que é o comer e beber.
Comer e beber são, antes de tudo, necessidades fundamentais da vida. Tão fundamentais que no advento do homem geravam, mesmo, a sua actividade principal. Os nossos antepassados mais longínquos passavam, possivelmente, a maior parte do seu tempo à procura dos imprescindíveis alimentos.
De lá até hoje - sociedade de consumo – passamos por muitas fases: pela fome pura e simples, pela escassez, pelos ciclos das estações e, sobretudo, pela alimentação remediada, fruto de muita criatividade e improvisação.
Até chegarmos a hoje, a sociedade da super abundância sem ciclos, com as “alternativas permanentemente oferecidas”!. As novidades próprias das diferentes estações desapareceram, havendo sempre de tudo, todo o ano.
Os produtos caseiros, rústicos, desiguais são, obsessivamente substituídos pela norma, pela estandardização, pela embalagem estanque, pela assepsia. Exige-se “pureza”, certificado de origem, rótulo, etc. Pede-se pão branco, arroz branco e açúcar branco – perde-se a broa, o pão caseiro, o arroz com cascas e impurezas à mistura mas mais perto da realidade.
Solitário, stressado e inseguro o homem moderno devora e não come. Consome produtos alimentares inventados para lhe captarem o apetite desmesurado que surge como válvula compensadora das suas frustrações diárias.
Como disse um médico ilustre “o come-come e o bebe-bebe triunfam enquanto morre a refeição”!
O prazer da comunhão à mesa, saboreando refeições confeccionadas com autenticidade e cuidado são substituídas por actos solitários de devorar “hamburgers”, pizzas, batatas pré-fritas, croissants etc., possivelmente acompanhados com música de furar os tímpanos. Comer, condição indispensável de vida, transforma-se, assim, em comer como factor de risco de vida com a obesidade a crescer em flecha. Enterrou-se a “slow food” (comida lenta) e deu-se lugar à “fast food”Comida rápida).
A obesidade já atingiu, “graças” aos seus estonteantes números, o estatuto de doença de direito próprio e causa de morte. Em Portugal cerca de 50% da população é obesa. Os mais jovens e os mais velhos, são cada vez mais gordos mais cedo. Ao contrário do que seria de esperar a abundância gera pobreza: come-se mais e pior. A falta de tempo da vida moderna e as modas levam a que, progressivamente, se cozinhe menos em casa dependendo das refeições pré-cozinhadas e dos anúncios da TV que nos dizem, a toda hora do dia e da noite, o que devemos comer.
Corrida inevitável para a doença e para uma morte precoce que nós açorianos – porque ainda estamos a tempo – poderemos evitar, retomando os nossos hábitos ainda bem próximos da refeição comungada e caseira, geradora de saúde e bem estar. Havendo para isso que tirar tempo para cozinhar e para comer, retomado tantas práticas que perdemos quando nos deparamos com as ofertas estonteantes dos super e hipermercados que nos modelam os nossos próprios desejos a uma lógica de mercado.
Que vivam as nossas “velhas” refeições em torno de uma mesa de família confeccionadas com produtos da terra, menos lindos, mas certamente muito mais nutritivos e autênticos. Refeições que integrem os conhecimentos e “segredos” passados de geração em geração, de avó para neta. Evitando a obsessão de comer e voltando à alegria das tradicionais e simples refeições mediterrânicas regadas, moderadamente, por autêntico vinho de uvas.
Hábitos que a ciência, agora, se não cansa de elogiar. Afinal antigamente não se comia assim tão mal em Portugal.
Tudo isto à mistura com o culto da magreza excessiva que, tantas vezes, mais não é que uma reacção neurótica às disfunções sociais e humanas de que, progressivamente, padecem as nossas sociedades ocidentais da superabundância. O que leva – suprema ironia - que à medida que as pessoas se tornam mais gordas por força de uma indústria alimentar mediática e super poderosa, gerem sentimentos de culpa que, quase sempre, conduzem a novos excessos alimentares!
Estamos, indubitavelmente, em tempos de come-come e bebe-bebe e não há festa, entre nós, que seja festa se não tiver comes e bebes.
P E D R O D A M A S C E N O
Nestes tempos de “come-come e bebe-bebe” em que se perde, cada vez mais, a noção de refeição é oportuno reflectir um pouco sobre essa actividade imemorial que é o comer e beber.
Comer e beber são, antes de tudo, necessidades fundamentais da vida. Tão fundamentais que no advento do homem geravam, mesmo, a sua actividade principal. Os nossos antepassados mais longínquos passavam, possivelmente, a maior parte do seu tempo à procura dos imprescindíveis alimentos.
De lá até hoje - sociedade de consumo – passamos por muitas fases: pela fome pura e simples, pela escassez, pelos ciclos das estações e, sobretudo, pela alimentação remediada, fruto de muita criatividade e improvisação.
Até chegarmos a hoje, a sociedade da super abundância sem ciclos, com as “alternativas permanentemente oferecidas”!. As novidades próprias das diferentes estações desapareceram, havendo sempre de tudo, todo o ano.
Os produtos caseiros, rústicos, desiguais são, obsessivamente substituídos pela norma, pela estandardização, pela embalagem estanque, pela assepsia. Exige-se “pureza”, certificado de origem, rótulo, etc. Pede-se pão branco, arroz branco e açúcar branco – perde-se a broa, o pão caseiro, o arroz com cascas e impurezas à mistura mas mais perto da realidade.
Solitário, stressado e inseguro o homem moderno devora e não come. Consome produtos alimentares inventados para lhe captarem o apetite desmesurado que surge como válvula compensadora das suas frustrações diárias.
Como disse um médico ilustre “o come-come e o bebe-bebe triunfam enquanto morre a refeição”!
O prazer da comunhão à mesa, saboreando refeições confeccionadas com autenticidade e cuidado são substituídas por actos solitários de devorar “hamburgers”, pizzas, batatas pré-fritas, croissants etc., possivelmente acompanhados com música de furar os tímpanos. Comer, condição indispensável de vida, transforma-se, assim, em comer como factor de risco de vida com a obesidade a crescer em flecha. Enterrou-se a “slow food” (comida lenta) e deu-se lugar à “fast food”Comida rápida).
A obesidade já atingiu, “graças” aos seus estonteantes números, o estatuto de doença de direito próprio e causa de morte. Em Portugal cerca de 50% da população é obesa. Os mais jovens e os mais velhos, são cada vez mais gordos mais cedo. Ao contrário do que seria de esperar a abundância gera pobreza: come-se mais e pior. A falta de tempo da vida moderna e as modas levam a que, progressivamente, se cozinhe menos em casa dependendo das refeições pré-cozinhadas e dos anúncios da TV que nos dizem, a toda hora do dia e da noite, o que devemos comer.
Corrida inevitável para a doença e para uma morte precoce que nós açorianos – porque ainda estamos a tempo – poderemos evitar, retomando os nossos hábitos ainda bem próximos da refeição comungada e caseira, geradora de saúde e bem estar. Havendo para isso que tirar tempo para cozinhar e para comer, retomado tantas práticas que perdemos quando nos deparamos com as ofertas estonteantes dos super e hipermercados que nos modelam os nossos próprios desejos a uma lógica de mercado.
Que vivam as nossas “velhas” refeições em torno de uma mesa de família confeccionadas com produtos da terra, menos lindos, mas certamente muito mais nutritivos e autênticos. Refeições que integrem os conhecimentos e “segredos” passados de geração em geração, de avó para neta. Evitando a obsessão de comer e voltando à alegria das tradicionais e simples refeições mediterrânicas regadas, moderadamente, por autêntico vinho de uvas.
Hábitos que a ciência, agora, se não cansa de elogiar. Afinal antigamente não se comia assim tão mal em Portugal.
Tudo isto à mistura com o culto da magreza excessiva que, tantas vezes, mais não é que uma reacção neurótica às disfunções sociais e humanas de que, progressivamente, padecem as nossas sociedades ocidentais da superabundância. O que leva – suprema ironia - que à medida que as pessoas se tornam mais gordas por força de uma indústria alimentar mediática e super poderosa, gerem sentimentos de culpa que, quase sempre, conduzem a novos excessos alimentares!
Estamos, indubitavelmente, em tempos de come-come e bebe-bebe e não há festa, entre nós, que seja festa se não tiver comes e bebes.
P E D R O D A M A S C E N O
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