sexta-feira, maio 09, 2008

A fulanização da política

“A fulanização da nossa política encontra as suas raízes no nosso baixo civismo e desconhecimento geral da Política”



A fulanização da política

Os recentes acontecimentos da vida política nacional, nomeadamente as eleições directas para a liderança do PSD, têm vindo a trazer ao rubro a fulanização da nossa política.

Do que se fala é da Ferreira Leite, do Santana Lopes, do Passos Coelho, do Menezes, do Alberto João Jardim. E depois qual deles poderá vencer o Sócrates ou “ajudá-lo” a ganhar nova maioria absoluta. E de quem tem ou não o apoio do Cavaco.

De Política zero, ou muito próximo disso.

E que o Costa está chateado com o Sócrates e que o Jardim foi traído pelo Santana Lopes. Que o PSD vive de guerras de barões, baronetes e bases e que o que o pode salvar são as bases e os dirigentes patriotas – que será que patriota neste contexto quererá dizer? -.

De Política nada.

Ou seja quando o país for a votos vai decidir que pessoa vai ser primeiro-ministra/o não tendo grande relevância a questão dos partidos e, ainda menos, a dos respectivos programas. E nenhuma importância os graves problemas estruturais que o País atravessa.

No fundo irá discutir-se o Pinto da Costa é mesmo o maior ou se o Filipe Vieira não é tão mau ou se o Seabra fala melhor na televisão que o António Pedro de Vasconcelos. Ou se será desta vez que o Jardel vai entrar nos eixos.

Tudo isto com elevados níveis de adrenalina, de cerveja com tremoços e de murros em cima da mesa. Porque a maior parte destas merdas, pá, resolvia-se com uns tabefes. O que os gajos todos querem, pá, é tacho.

Ou então – nas antípodas – perora-se, em registo intelectual, horas a fio sobre os meandros dos bas-fond partidários e dos perfis psicológicos dos parceiros em contenda e dos respectivos objectivos a longo prazo. E das facaditas nas costas de uns e de outros.

Uns choram porque lhe invadiram a privacidade. Outros acotovelam-se para entrar na corrida que os poderá levar a perder a dita ou mesmo a dignidade. Uns fogem e outros transpiram.

Jardim está disponível, Santana está a ficar sem tropas e Cavaco tem um problema. A Ferreira Leite não é a “santa da ladeira” e Cavaco pode vir a ser uma força de bloqueio.

De Política zero.

Do excesso de ideologia do post 25 de Abril desceu-se às catacumbas do pragmatismo e do fulanismo deixando a falar sozinho quem ainda acha que a Política é um dos exercícios mais nobres e necessários em qualquer sociedade que se preze.

Embora as pessoas contem (e muito) porque quem faz pode ser decisivo para a eficácia e o sucesso é indispensável saber o que fazer. O embuste do conceito do fim das ideologias e dos princípios só serve a pescadores de águas turvas.

Mais do que nunca é indispensável pensar e escolher o caminho que queremos seguir. Os actores não podem sobrepor-se ao guião.



P E D R O D A M A S C E N O

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