sexta-feira, maio 23, 2008

Gateway Virtual

Gateway Virtual


A confirmação de que a Ilha do Pico continuará a ter apenas uma ligação semanal com Lisboa – ainda por cima ao sábado à tarde e com escala na Terceira – vem dar consistência à ideia de que estamos perante uma gateway virtual.

Um voo por semana, ao sábado à tarde, não é uma oferta minimamente consistente e que possa estimular qualquer tipo de resposta significativa do lado da procura. Basicamente sair ou entrar ao sábado não serve para nada.

Nem para turistas nem para quem se desloque por motivos profissionais, de doença ou desportivos. É um horário que servirá, apenas, aqueles que se deslocam ao Pico em férias de saudade e a quem tanto faz. Para além de uma ou outra situação, perfeitamente esporádica.

Sabemos que a nova obrigação de transporte público prevê um aumento de lugares para o Pico, que o Governo conseguiu um bónus financeiro para os passageiros do Pico e que apenas o seu empenhamento político possibilitou a continuação da existência da gateway do Pico, que chegou a estar em causa.

O que não sendo pouco, de pouco serve.

Não partilhando a opinião de que tudo isto se deve, exclusivamente, à falta de empenhamento do governo, à manipulação sinistra por parte de um qualquer lóbi ou à má vontade da SATA e TAP; partilhamos a ideia de que de tudo isso tem um pouco. E também de alguma anemia do Pico.

O Governo, logicamente, deverá ter interesse em viabilizar o vultuoso investimento que fez e continua a fazer. Desconhecemos a existência de um lóbi que, por si só, tenha tanta força. E pensamos que as transportadoras de bandeira devem estar empenhadas em fazer os melhores negócios possíveis.

Mas o Governo podia e devia fazer mais. Não havendo lóbis sinistros e todo-poderosos há, conhecidamente, pressões e inúmeras más vontades de quem não quer o aeroporto do Pico no mapa. A TAP e a SATA continuam a mostrar défices de agressividade comercial, incompreensíveis num sector altamente competitivo como é o transporte aéreo.


O que torna tudo isto, desconcertantemente, português. Ou, como diria o Dr. Alberto João Jardim, uma grande trapalhada.

De um lado temos uma estrutura aeroportuária de grande qualidade e que ficará, a curto prazo, superiormente equipada. Do outro temos um potencial de negócio interessante constituído pelo Pico, uma ilha em perfeita expansão e consolidação turística, e por São Jorge que anseia por poder ir a e regressar de Lisboa, de forma expedita e cómoda. Sem contar com o papel de complementaridade e alternativa ao Faial.

E terá sido, também, por tudo isto que o governo fez o investimento e considerou a gateway do Pico como uma obra estruturante. Não foi, certamente, pelos lindos olhos de quem quer que seja.

O que falta, então?

Falta pegar em todos os dados e escrever uma página nova na política de transporte aéreo para as ilhas do Faial, Pico e São Jorge. Com coragem mas sem atavismos ou preconceitos, somente tendo em linha de conta que os distritos morreram há mais de 30 anos e que chegou a hora de lhes fazer o enterro, com pompa e circunstância, rumo a uma vida nova.

Se assim não for a gateway do Pico jamais deixara de ser virtual e estas ilhas serão, progressivamente, uma miragem de progresso.




P E D R O D A M A S C E N O

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