sexta-feira, outubro 10, 2008

O estado da crise ou a crise do estado?

O estado da crise
ou a crise do Estado?



Não há muito tempo tivemos oportunidade de abordar, nesta coluna, a crise da banca. Tendo sublinhado a política virada para o umbigo que o sector vinha fazendo, centrando-se – essencialmente – em lucros altamente especulativos.

Um modelo sem sustentabilidade que as recentes falências da banca nos USA e as dificuldades da banca portuguesa vieram, infelizmente, comprovar. Um modelo criado sob a batuta de gestores ambiciosos sem escrúpulos, num cenário de neo-liberalismo desenfreado.

O circo da especulação financeira tentando gerar dinheiro apenas com dinheiro esquecendo a máxima fundamental de que o dinheiro é um bom servente mas um mau amo. Tornando o investimento não produtivo a pedra de toque.

Como escrevi então: os bancos criaram as condições para a festa do consumo desenfreado na área da habitação e dos equipamentos como se não fosse possível saber que, mais menos dia, os juros iriam disparar. Quantos bancos não incentivaram o consumo sugerindo mobílias, carros e etc. debaixo do guarda-chuva da habitação?

Sendo bem irónico que tenha sido a administração Bush, conservadora e ultra-liberal, a ver-se obrigada a injectar dinheiro dos contribuintes num sector financeiro que viveu, essencialmente, do desrespeito por esses mesmos contribuintes.

Depois da falência do modelo soviético e do colapso dos regimes comunistas ficou claro que o estado não tem vocação nem competência para dirigir a economia, num modelo centralista e totalitário. Sendo necessário passar para o sector privado as capacidade de iniciativas e criatividade.

O estado é, tipicamente, um mau gerador de riqueza. Não tem esse talento nem precisa de ter. Precisa, isso sim, de criar as oportunidades e definir, com clareza, as regras do jogo. O estado não deve tentar anular o privado como este não deve tentar anular o estado.

O estado deve ser o garante do cumprimento das regras e o responsável pela definição dos sectores prioritários e das grandes opções de desenvolvimento. O estado tem que ser responsável por todos nós e cada um de nós responsável por si próprio.

O actual estado de coisas é fruto de uma situação mundial complexa. Reduzir tudo às questões da economia é errado e redutor. Mas colapso da economia é um factor de instabilidade que vem ajudar a deflagrar o barril de pólvora em que nos tornamos.

O estado e o modelo capitalista têm que ser repensados. Precisamos de melhor estado e de melhores investidores. De um estado mais regulador e de um sector privado mais responsável. E precisamos, acima de tudo, de não esquecer os mais carenciados, sejam eles nações ou indivíduos.

Sem esquecer a punição dos responsáveis. O crime económico, sobretudo desta gravidade, não pode ser isentado.

O ultra neo liberalismo está morto e enterrado e vai nos custar os olhos da cara. Sendo por conseguinte necessário que para alem do tratamento de choque se estabeleça um diagnóstico e se trate a doença de fundo.

Um sistema sem competência, rigor e eficácia não funciona. Mas um sistema sem coração também não.



P E D R O D A M A S C E N O

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