sexta-feira, julho 10, 2009

O Amor em tempo de crise

Em Portugal a aventura acaba na pastelaria
Alexandre O’Neill



O Amor em tempo de crise



De vento em popa lá se foi, ou vai indo, o amor à antiga portuguesa! Um amor previsível e seguro, embora cheio de alçapões, enganos e desenganos. “Amor” de vida inteira, com uma outra facadita à mistura.

Amor de papel assinado e bênção de eterna fidelidade. O homem angariador e dominante, a mulher submissa e mãe de filhos. Deus, Pátria, Família: a Trilogia da Educação Nacional. O lar perfeito, rústico, humilde, analfabeto, patriarcal e cristão.

Sendo certo que nessa altura já havia os ballet rose e outras perversidades do regime que eram, contudo, apenas usufruídas pelos privilegiados dos corredores do poder. E, claro, a burguesia urbana que já fugia ao cenário edílico do mundo rural e agrícola.

25 de Abril, revolução dos cravos e do costumes.

Em pouco mais de trinta anos passa-se de oito para oitenta. A pornografia irrompe nos mais longínquos lugarejos e a televisão torna-se no omnipotente omnipresente meio de comunicação que ainda hoje é.

A mulher assume, progressivamente, um papel socialmente relevante e invade as universidades em que detêm, hoje, uma maioria qualificada. E com a emancipação e a liberdade vêm, inevitavelmente, uma reviravolta radical nos costumes.

A Igreja Católica perde pé e passa a não conseguir impor a sua ortodoxia moralista que durante anos lhe garantiu um lugar privilegiado à mesa dos poderosos. Incapaz de se adaptar aos novos tempos perde sacerdotes e influência.

A moral e o sexo liberalizam-se e o divórcio assume carácter da maior naturalidade. As relações de facto vulgarizam-se estimando-se que no presente já ultrapassam os casamentos. O sexo pré marital tornou-se uma “pandemia”!

A homossexualidade sai do armário e torna-se num lóbi poderoso que já conquistou em muitos países o direito ao casamento. Sendo previsível que o mesmo venha a acontecer em Portugal a curto prazo.

O casamento e a família como as conhecíamos tornaram-se em instituições em vias de desagregação. E, como tudo está em grande ebulição, ainda se não enxerga bem o futuro: famílias mono parentais, pluri parentais, homossexuais, transsexuais?

E o amor? Esse certamente continua, mas irrompe das maneiras mais diversas possíveis. Sem as mascaras de uma sexualidade reprimida ou de sentimentos de culpa, pleno de desejo e de paixão. Saltando os paredões da convenção e assumindo a descoberta.

O amor e a paixão são intemporais mas, como quase tudo o resto, não estarão a resvalar para o “fast” e o descartável? Talvez por isso o amor on-line se tenha tornado quase mais popular do que o propriamente dito.

Os meios de comunicação e a rapidez das telecomunicações tornaram o mundo numa aldeia global mas a comunicação pessoal e directa parece ter-se vido a tornar mais difícil. Passam-se horas no telemóvel e na Internet mas a qualidade da comunicação parece ter piorado.

Ter-se-á somado à crise económica uma crise de afectos de proporções igualmente preocupantes? Será que o consumismo terá inquinado também o coração e o deixado à mercê dos mercados volúveis da moda e do politicamente correcto?


P E D R O D A M A S C E N O

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