sexta-feira, maio 14, 2010

As cinzas do norte

As cinzas do norte


A “moda” chegou. Inevitavelmente as cinzas vulcânicas da Islândia atingiram os Açores. Provando a pequenez do planeta e a susceptibilidade de todos nós.

Sem cair no chavão de que estamos a pagar pelas agressões ao ambiente deverá ser, contudo, motivo de reflexão. Dado que engrossamos uma Europa que tem tido prejuízos no sector do turismo da ordem dos trezentos milhões de euros num só dia.

A Organização Mundial de Turismo já estimou prejuízos para o turismo europeu que ultrapassam os 1.700 milhões de euros e as companhias aéreas poderão ter que subir os preços das passagens.

A chegada das cinzas deixou a Região paralisada desde domingo e sem ligações ao exterior sendo apenas possível viajar, com normalidade, entre as ilhas do Triângulo. Atestando o caracter peculiar e de proximidade destas ilhas.

Os prejuízos económicos serão, também, de monta nos Açores sem contabilizar todos os transtornos pessoais ocorridos. O que, ironicamente, nos põe todos a desejar ainda mais chuva, mas desta vez para ajudar a limpar as cinzas.

As cinzas da Islândia, o derrame de petróleo do Novo México, os sucessivos furacões nos Estados Unidos conferem à crise financeira numa dimensão bem menos trágica. Dado que ultrapassar esta depende, em primeira linha, de nós.

Contexto em que se torna importante reflectir sobre a necessidade crescente de reavaliarmos o nosso estilo de vida e o modo insensato como, tantas vezes, desbaratámos os nossos recursos naturais ou menosprezamos a força da natureza.

Força que, num ápice, pode fazer ruir o baralho de cartas em que as nossas vidas se tornaram já que dependem de recursos e tecnologias que falhando nos deixam ao sabor do improviso.

O que é ainda mais verdade para uma região periférica como a nossa em que, infelizmente, as pessoas tem vindo a perder competências de sobrevivência mercê de um facilitismo que atinge o próprio sector alimentar, condição primeira de vida.

A presente experiência, se bem digerida e reflectida, pode ser o ponto de arranque para uma nova postura perante a vida e um recuo face a um consumismo que já nos atinge em cheio e que nos vulnerabiliza em termos de sobrevivência num cenário de catástrofe.

Sem perder o rumo da modernidade e do desenvolvimento deveríamos preservar e estimular as nossas ancestrais capacidades de fazer face a uma natureza lindíssima mas igualmente agreste e difícil. Voltar, se possível, ao amor à terra.

Os Açores são um local fascinante com condições para atrair gente igualmente fascinante. Mas o futuro de tudo isso depende de nós e da maneira como formos capazes de “casar” progresso com tradição.

As Ilhas de Bruma recomendam-se mas é urgente voltar a amá-las.


P E D R O D A M A S C E N O

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