Falta de esperma em Portugal
( A invasão silenciosa?)
Segundo a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução falta esperma em Portugal! Tendo sido levantada a possibilidade da importação de esperma de países como a Espanha.
O que, para além de deixar todos os nossos marialvas do passado e do presente à beira de um ataque de nervos, vem pôr em causa o que parecia ser o último reduto da produção nacional: o esperma.
Ou seja, até na produção de esperma vamos ter de recorrer a Espanha como se não bastasse tudo o que de lá importámos. Correndo obviamente o risco de virmos a ter no futuro sucessivas levas de nostros hermanos, via espermatozóides importados.
Tirando os aspectos anedóticos fica-nos a sensação de que, nem ao nível de recolha de esperma e de óvulos, conseguimos encontrar soluções que não passem pela importação de materiais biológicos que porão em causa a nossa própria carga genética.
Levando, por conseguinte, a globalização para o terreno da genética e da reprodução. O que não sendo trágico revela bem a fragilidade das nossas capacidades produtivas e organizativas, mesmo a um nível que parecia impensável.
É evidente que não haverá falta de esperma em Portugal a crer nas estatísticas da actividade sexual dos portugueses e do seu desempenho. O que significará, mais uma vez , a incapacidade de gerar a nossa auto-suficiência em domínios quase caricatos.
Segundo o juiz desembargador Eurico Reis há a necessidade urgente da criação de um centro público de gâmetas (óvulos/espermatozóides) o que significa que tal centro não existe bem como a concomitante recolha do material orgânico.
O que nos põe um pouco em paz com a bombástica e pública afirmação de falta de esperma em Portugal. Sendo o problema da escassez essencialmente centrado na organização e recolha e não tanto na falta de produção nacional.
O que, às tantas, é aplicável a outras importações que fazemos e que, com a devida organização e planeamento, não teríamos de fazer. Com evidentes implicações na balança de pagamentos e no famigerado défice das contas públicas que, agora, nos faz andar a todos de cinto apertado.
Défice que não surpreende no país do esbanjamento e do desperdício (será também assim com o esperma?!) em que nos comportamos como os recursos fossem infinitos e em que o cidadão comum se comporta como o estado e a coisa pública fossem coisas que não lhe dizem directamente respeito e que, gostosamente, ajuda a delapidar.
Reflexões sugeridas pelo magno problema da falta de esperma que, com toda a certeza, não é um problema estrutural mas simplesmente mais um sintoma alarmante da nossa proverbial incapacidade de aproveitar recursos próprios ou aqueles que nos foram postos à disposição.
Foi assim com as especiarias e o ouro da expansão colonial, foi assim com os biliões da comunidade europeia e, pelos vistos, será assim com o esperma que - tudo leva a crer - será de boa qualidade e em quantidade suficiente.
A ciência e a tecnologia devem merecer-nos todo o respeito. Mas há coisas que não lembram nem ao Diabo.
PEDRO DAMASCENO
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