sexta-feira, junho 25, 2010

Síndroma de Défice de Natureza

As nossas crianças não podem usufruir – nem aprender com – as maravilhas da natureza se os adultos dizem uma coisa (sair de de casa) e fazem outra (ficar dentro de portas)
Richard Louv


Síndroma de Défice de Natureza


Contacto com a natureza - para quem vive numa zona rural – é uma coisa trivial que pouco valorizamos. As estações que se sucedem, as plantas que desabrocham, os pássaros que chilreiam e o vento que passa.

Infelizmente o homem dos nossos dias está tornar-se num ser urbano que assume a selva de betão e o trânsito como o seu habitat sendo os espaços verdes, progressivamente, mais escassos.

E a criança tem vindo a substituir as brincadeiras esquecidas na rua para se passar para o computador, a consola de jogos e a televisão. Para não falar nos telemóveis com os quais desaprendem de falar e escrever.

Como dizia, recentemente, uma criança: “prefiro brincar dentro de casa porque é ai que estão as tomadas eléctricas”. Antigamente as crianças problemáticas eram as que se refugiavam em casa. Hoje são as que se refugiam na rua e na floresta.

As alergias e as doenças auto-imunes que tem vindo a aumentar estão relacionadas com uma baixa acentuada das defesas imunitária que, por seu turno, são afectadas por um mundo esterilizado e stressante.

Situação muito preocupante que levou à identificação do Síndroma de Déficite de Natureza que não tendo uma carácter científico ou médico sintetiza bem os deficits de natureza que as crianças, sobretudo urbanas, têm.

Preocupações sobre as consequências, a longo prazo – afectando o bem estar emocional, as capacidades de aprendizagem e a consciência ambiental – criaram os Estados Unidos um movimento nacional que visa não deixar nenhuma criança dentro de casa.

O movimento Children & Nature Network (Rede de Crianças e Natureza) tem como objectivo voltar a “ligar” as crianças às alegrias e lições da natureza. Destinando-se a apoiar pessoas e organizações – a nível nacional e internacional - cujo trabalho se desenvolva com esse objectivo.

No portal www.childrenandnature.org é possível encontrar um manancial de notícias sobre esta tema bem como sobre a investigação que está a ser feita nos mais diversos campos com ele relacionados.

Uma criança para quem uma galinha é um saco de plástico com carne dentro, uma vaca/porco um conjunto de peças sanguinolentas expostas numa vitrina refrigerada ou a floresta é um desenho animado/jogo de computador precisa de ser “re-ligada”, urgentemente, à natureza.

E às que a esse extremo ainda não chegaram é prioritário impedir que cheguem. E aqui entram as nossas que vivendo num ambiente privilegiado dele não tiram o prazer e as lições que os avós, a todos os níveis, tiravam.

O progresso – para o ser – não pode tornar-se num inimigo activo da natureza e do ambiente. As modernas tecnologias e confortos devem, antes de tudo, ser ferramentas para usufruirmos, em melhores condições, de tudo aquilo que os os nossos antepassados usufruíam.

Doutro modo o Síndroma de Déficite de Natureza arrisca-se mesmo a tornar-se numa classificação médica e numa verdadeira patologia.


PEDRO DAMASCENO

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