sexta-feira, janeiro 14, 2011

Bastão e Cenoura?

Quanto mais leis mais ladrões
Ditado taoísta


Bastão e Cenoura?


A crise das instituições em Portugal já se tornou um facto banal, de tanto ser badalado. Sobretudo a administração pública que, de forma recorrente, ocupa o pódio da baixa rentabilidade e o centro do humor laboral.

E também, de forma recorrente, se preconiza como solução a nomeação de comissões de inquérito que, por sua vez, apontam para a emissão de mais regras, regulamentos e leis. Bem como a instituição de incentivos para os vários agentes fazerem bem aquilo que era sua obrigação.

Bastão e cenoura.

E, assim, vamos perdendo a confiança em instituições de que dependemos. Instituições que não nos dão o que precisamos.

Escolas que não cuidam da instrução dos nossos filhos como deviam. Médicos que não nos dão a atenção e os cuidados sem pressas que procuramos. Sistema judicial mais amarrado a procedimentos administrativos do que a fazer justiça.

Funcionários administrativos das mil e uma repartições que nem se preocupam em dar bom dia e utilizam o seu “poder” de forma displicente e arrogante. Trabalhadores do estado que adormecem em cima das enxadas.

Todos nós conhecemos e vivemos isto. Como, também, todos nos sentimos desencantados e insatisfeitos. Mas, bem mais frequentemente do que se pensa, os autores dessas nossas frustrações também estão, por sua vez, mergulhados no desencanto e na frustração.

Muitos médicos gostariam, certamente, de tratar bem melhor os seus doentes em vez de estarem afogados em tarefas administrativas e terem de atingir verdadeiros recordes de consultas por hora.

Muitos professores gostariam de ensinar melhor o seus alunos em vez de estarem absorvidos por intermináveis acções de formação, testes estandardizados e novas técnicas de ensino que, na prática, se traduzem num interminável aumento de tarefas burocráticas.

Muitos magistrados, advogados e funcionários judiciais estariam muito mais realizados se não estivessem soterrados sob verdadeiras diarreias legislativas e regulamentares mas, antes, a fazer justiça.

Muitos funcionários administrativos estariam muito mais satisfeitos a fazer tarefas simples e claras que tornassem o seu trabalho atractivo do que sujeitos ao infernal aparelho burocrático do estado.

No fundo a grande maioria de todos nós gostaria que o nosso trabalho fosse estimulante e gratificante. Do mesmo que todos nós sentimos necessidade de afecto e calor, quer a nível pessoal quer a nível profissional.

Trabalho e afecto: as chaves da felicidade.

E para isso é indispensável a sabedoria prática, a mesma que um tocador de jazz precisa para improvisar ou um artesão para fazer uma casa.

Sabedoria não é um bem reservado a elites e a gurus mas uma ferramenta essencial à gestão do nosso dia a dia. Uma sabedoria prática que nos ajude a atingir a excelência na vida e a saber lidar com os problemas concretos. Uma sabedoria que os antigos tinham de sobra.

Regras e incentivos são necessários. Mas nada pode substituir o olhar para dentro e o saber libertar o enorme potencial que todos nós possuímos. Trocando as voltas ao circo mediático e barulhento em que se tornaram as nossas vidas.

Uma tarefa que cabe a todos: desde o primeiro ministro ao mais modesto trabalhador.


P E D R O D A M A S C E N O

1 comentário:

Anónimo disse...

Pedro, ao ler seus comentários sobre o comportamento social, pensei que estava falando sobre o Brasil, pois aqui o comportamento é o mesmo. Penso que estamos numa falência de valores, alimentada pelo estresse e pelo desequilíbrido social, pelos políticos medíocres e pela mais-valia do capital sobre o homem. Sem querer ser Marxista!
Parabéns! Colocações inteligentes e enriquecedoras.
Forte abraço.
João Batista Jr
Recife-Pernambuco-Brasil