sexta-feira, abril 08, 2011

A CRISE DAS PALAVRAS

A CRISE DAS PALAVRAS


Não apetece falar.

A vida política, económica e social tomou tal rumo em Portugal que não apetece falar, sob pena de cair um lugares comuns e redundâncias. As palavras foram-se esgotando de tanto e tão mal usadas.

As palavras tem tomado o lugar dos actos que ficam, assim, substituídos por treta e mais treta, quer do lado da situação quer do lado da oposição. Para além do perorar contínuo e infatigável das carradas de opinantes televisivos e jornalísticos.

De liderança nicles!

Os chavões da dívida soberana, dos mercados e do rating esgotaram-se e desbotaram-se de tanto repetidos. E da mentira se fez luz de tanto repetida ou afirmado que foi dita faltando deliberar comprar uns quantos detectores da dita cuja.

Os fatos e as gravatas de cores lisas ou multicolores, conforme a moda da altura, alinham-se em exércitos palavrosos e portadores das respectivas verdades que lavam sempre mais branco do que as outras. E o Zé embasbacado vira as costas fazendo o gesto da praxe.

O consenso para os males é quase unânime, o consenso para os bens meteu baixa e foi de férias.

Entra FMI, não entra FMI num rodopio de diz que sim e diz que não que nos deixa tontos, atarantados e abananados não nos restando mais do que ir a votos por causa de PECs que não se discutiram e deveriam ter discutido e outras irrelevâncias.

Os alfas estão de saída e os beta preparam-se para entrar como se tudo isto fosse uma questão de castas e não um país a sério. E, cada vez menos,se acredita no carrossel de vaidades, arrogâncias e incompetências em que se tornou a Praça da Alegria da política.

Não será de estranhar que a vindoura diarreia de palavras que se propõe levar nos de novo ao paraíso desencadeie uma súbita e aguda vontade de ficar em casa e ir à praia (se ainda as houver) ficando tudo, novamente, em águas de bacalhau.

Só a ironia nos pode salvar deste tsunami de banalidades.

O país, esse vai ter que esperar para que a maré seque e dos escombros surja uma reconstrução feita - com diligência, competência e disciplina - por sobreviventes reciclados. Resta esperar pela bonança depois da tempestade.

Porque, entretanto, até as palavras incomodam de tão rotas e ocas.


P E D R O D A M A S C E N O

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