O homem não deixa de brincar porque envelhece, envelhece porque deixa de brincar
TERCEIRO ACTO
A estrutura fabulosa que é o nosso cérebro não deixa de nos pregar partidas. Sendo, talvez, a maior aquela que consiste em automatizar a nossa vida ao ponto de tornar verdades aquilo que são apenas hábitos adquiridos.
A rotina, dia após dia, acaba por criar no cérebro circuitos de células que se transformam em verdadeiros programas que comandam as nossas vidas. E basta deixarmos que isso aconteça para nos transformarmos em quase robots.
Sendo isso verdade para as tarefas quotidianas (comer, conduzir, falar etc) também o é para as ideias feitas que, muitas vezes, temos sobre o mundo e a nossa existência: os nossos paradigmas ou modelos.
E um dos paradigmas mais assentes é o da terceira idade. Numa faixa etária que nebulosamente se coloca na casa do sessenta as pessoas entrariam na terceira idade que, eufemisticamente, significaria velhice.
Daí que episódios que acontecem a cidadãos a partir daquela idade sejam, por exemplo, referidos nos jornais como acontecendo a sexagenários ou septuagenários ou idosos o mesmo não acontecendo a trintões ou quarentões !...
O paradigma da existência de uma terceira idade baseia-se ainda numa realidade que há muito tempo deixou de o ser nas sociedade ocidentais em que a esperança de vida ao nascer aumentou quase trinta anos.
A própria idade de 65 anos foi aceite como a idade da reforma numa altura em que a esperança de vida ao nascer e os recursos médicos eram completamente diferentes.
De resto há profissões em que a “reforma” não tem nada a ver com idade avançada mas simplesmente com a capacidade física para desempenhar certas funções sendo exemplos claros os jogadores de futebol ou os pilotos de fórmula um.
Idade e doença não andam necessariamente de mãos dadas. Ser mais velho não significa linearmente ser mais doente nem ser novo significa ser mais saudável. Naturalmente que a idade acarreta alterações desde o nascer até ao morrer mas não há calendários predefinidos nem idade para morrer.
Cada caso é um caso.
Por tudo isso faz mais sentido referir esses trinta anos anos a mais de longevidade que conseguimos no século passado como o terceiro acto da nossa vida – o acto em que, em vez de descermos ás cavernas da decrepitude, encetamos a subida da escada da maturidade e da sabedoria.
Se aos sessenta anos faltam as pernas para jogar futebol certamente que aos vinte falta o cérebro para gerir a vida de forma plena e sábia. A energia telúrica e “inesgotável” do nascimento vai dando lugar à sua gestão inteligente.
Não sendo, ainda hoje, possível determinar, em termos científicos, a longevidade teórica máxima do ser vivo. Sendo da admitir que a eliminação de grande número das causas genéticas de morte e as terapêuticas estaminais permitam prolongar, com qualidade, o horizonte de longevidade para metas impensáveis.
O actual paradigma/modelo da idade está totalmente ultrapassado e nenhuma sociedade se pode dar ao luxo de desperdiçar recursos altamente sofisticados nem ninguém se pode dar ao luxo de não viver só porque envelhece.
A vida é uma arte que não conhece idade.
PEDRO DAMASCENO
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