FACE
OCULTA
«A civilização é um movimento e não uma
condição, uma viagem e não um porto»
Arnold Toynbee
CASOS EXEMPLARES
É praticamente
um lugar-comum falar mas dos telefones e dos correios. Tal é a frustração que
as contínuas incompetências, abusos e prepotências criam nos cidadãos.
Os correios e
Telecomunicações de Portugal continuam a ser um grande elefante branco que,
sobranceiramente, caminha sobre o nosso quotidiano insular.
As reclamações e
críticas são de todo o lado, das mais variadas e, por vezes bem exaltadas. Mas
tudo termina, invariavelmente, no cesto dos papéis da empresa. Raríssimas vezes
esta se dignou dar esclarecimentos públicos e adequados. E, quando o fez, foi
mais para publicitar os milhões que investiu e vai investir na Região.
Mas não adianta
gritar e espernear. Haverá sempre uma desculpa e tudo ficará, habitualmente, na
mesma.
As situações,
hoje já clássicas, repetem-se diariamente: contas de telefone exorbitantes que
os utentes têm de pagar sem qualquer possibilidade de controlo, telefones que
funcionam aos soluços e quando do calha, anos de espera para um telefone,
cartas que desapareceram misteriosamente ou que demoram meses a chegar aos
destinatários, tarifas especiais (expresso e correio azul) que não cumprem os
prazos anunciados, etc. etc..
Mas mesmo que o
cidadão se sente e escreva uma queixa perfeitamente fundamentada não tem
qualquer garantia de ter uma resposta escrita, atempada e satisfatória. Pode
esperar, debalde, mais um ano sem que o assunto ande. Por muito gravoso que
isso seja para a sua vida. O que pode é deixar de pagar o telefone na alturinha
certa e por muito disparatada que seja a conta, aí a empresa é mesmo eficaz.
Adeus viola!
Os CTT funcionam
para o imaginário comum como quele criminoso que faz trinta por uma linha e que
acaba sempre por escapar. Arranja sempre um expediente, uma desculpa, um
silêncio e está feito.
Só que, talvez,
desta vez a empresa terá que enfrentar um situação muito concreta e da qual
terá dificuldade em se deslindar com a habitual impunidade.
Numa estação de
correios desta Região não uma ou duas cartas desapareceram, mas centenas!
Desaparecimento que teve o tratamento que é habitual: encolher os ombros. Não
estavam registadas, paciência. Ainda por cima os caminhos andam cheios de
buracos.
Acontece, no
entanto, que o «milagre» aconteceu: as cartas apareceram. Mas não por via de
qualquer diligência dos CTT, apenas porque um cidadão comum as descobriu
enterradas na terra e as foi entregar a um dos seus remetentes!... Assim mesmo,
enterradinhas da costa. Cartas, mesmo sujas e tudo, que os CTT andam,
finalmente, a entregar aos destinatários.
Naturalmente que
haverá um responsável directo por esta situação mas não se trata de crucificar
ninguém ou procurar bode expiatório para as deficiências desta verdadeira
calamidade regional.
Importa, sim,
pegar num caso exemplar e extremo como este e perguntar a quem de direito como
é que é possível que situações destas acontecem em 1992. Como é possível que
actuações desta gravidade possam existir e passar despercebidas e impunes, não
fora uma coincidência?
Se calhar,
grande parte dos nossos sofrimentos são devidamente a papeis que se enterram ou
deitam fora, funcionários que não arranjam os equipamentos, responsáveis que
não fiscalizam adequadamente os seus serviços, etc..
Quem faz um
cesto, faz um cento.
P
E D R O D A M A S C E N O
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