FACE
OCULTA
O PS está a
transformar-se num desgosto
Augusto Abelaira (23/10/92)
NEM O PRÓPRIO
CRIME, ÀS VEZES, COMPENSA
As últimas
eleições regionais foram, certamente, uma excelente lição para muita boa gente.
A começar pelos
«três mosqueteiros» da AD Açores que sofreram a maior humilhação das
respectivas e defuntas carreiras políticas. Levaram um «nyet» que nenhum
político, mesmo no maior pesadelo, esperava levar. E deles, mais não rezará a
história.
Seguidos do
PS/Machado/Guterres/César que não atingiu qualquer dos objectivos que se propôs
obter. Não conseguiu maioria, nem absoluta nem simples, para governar nem tão
pouco o mais modesto de todos – retirar a maioria absoluta ao PSD.
Apesar dos deméritos do PSD e de um desejo de
mudança patente em largos sectores da população, o PS conseguiu uma meta
notável: o aumento da maioria do PSD na Assembleia Regional! Ficou com o
modesto prémio da consolação de ter subido 0,9% na Região.
O PS sofreu, por isso, uma clara e pesada
derrota eleitoral que nenhum seu dirigente, por muito bem-falante que seja,
conseguiu ou conseguirá escamotear.
A aposta de
Mário Machado, com consequente descaracterização do partido e subalternização
do seu líder, falhou redondamente. Sobretudo em S. Miguel onde se jogava, e
toda a gente o sabia, o resultado eleitoral. Um claro aviso à navegação: fazer
política à base de sondagens, passando por cima de projectos e pessoas, não
pegou.
A derrota do
projecto PS/Mário Machado/Guterres/César não foi grande mal para ninguém, para
além dos seus principais protagonistas. Era à partida, um projecto
«hermafrodita», uma manta de retalhos de cariz exclusivamente eleitoralista,
sem coesão política nem chama.
Se calhar até
foi bom porque, assim, não se queimou a ideia de que é necessário mudar. Como
também não se abriu a porta a uma mudança que, por ter pés de barro, se
arriscava a ser apenas uma mudançazinha que mais não traria do que maior
descrédito ao sistema democrático e aos políticos. O que, de facto, se queimou
foi (apenas) oportunismo; incoerência política e ambição de poder pelo poder.
O PS tem, agora
uma encruzilhada e dois grandes caminhos.
O primeiro é
aceitar, com humildade e inteligência, os resultados eleitorais e, finalmente,
arregaçar as mangas e começar a trabalhar a sério para daqui a quatro anos.
Trabalho que, essencialmente, terá de se desenvolver em duas frentes: por um
lado repensar, o partido, o projecto e a liderança; por outro desenvolver um
trabalho político e parlamentar profícuo e credível.
O segundo é
limitar-se a lamber as feridas e a culpabilizar os natalinos e os sacos de
cimento pela derrota e continuar à espera que algum truque de mágica (seja ele
Mário Machado ou outro) lhe dê o
poder.
Os Açores
precisam do PS porque precisam de democracia e, o mesmo é dizer, de alternativas.
E o PS é, simultaneamente, um partido com dimensão para ser poder e que se
situa na grande área ideológica (social democracia/socialismo democrático) da
maioria esmagadora dos açorianos. O problema do PS/Açores não é de dimensão nem
de ideologia. É de liderança, trabalho e credibilidade.
Águas paradas só
criam limos. Da diferença e do conforto é que surge a vida.
É imprescindível
para o desenvolvimento da região que a vida democrática seja revigorada e que a
Assembleia Legislativa Regional se transforme num verdadeiro fórum de trabalho
político e debate.
O imobilismo e o
unanimismo só servem a corrupção e o atraso.
Mas o PS se não
mudar, será o eterno número dois. Teve uma oportunidade política de oiro e
perdeu-a. Fundamentalmente porque preferiu a cábula ao trabalho, a improvisação
ao planeamento.
Nem o próprio
crime, às vezes, compensa.
P
E D R O D A M A S C E N O
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