terça-feira, dezembro 15, 1992

Minha EDA gentil


FACE OCULTA

MINHA EDA GENTIL
DE EMPREGADOS MIL
NINFA DE DESENCANTOS
CEGUEIRA DOS MEUS PRANTOS
«Um PT anónimo»


Minha EDA gentil


Nem os poetas te resistem, Eda das nossas noites à moda antiga!

Bem podemos pregar e protestar contigo que nada adiantamos. Para ti o silêncio é de oiro e como o oiro, apesar da crise, está caro…estamos conversados.

Cortes tem-los de rodas as qualidades: de dia e de noite, de madrugada e ao entardecer, longos e curtos, totais e parciais. Terás defeitos mas também tens qualidades e destas avulta a democraticidade. Comem todos: do norte e do sul, do oeste e do leste, pobres e ricos, trabalhadores e preguiçosos, pêésses e pêpêdês. Até, coitados, os das Aliança Democrática.

Altiva e serena, continuas o teu rumo de fada. Espraiando teus raios cintilantes, por serrados e encostas, vales e montanhas, lagos e falésias, és a rainha incontestada e incontestável da nossa modernidade. Não há nada que te resista: televisões e vídeos. Computadores e caixas registadoras, arcas e frigoríficos, lâmpadas e holofotes. Através de ti bebemos a beleza e a arte, o trabalho e o pão.

As baleias, grandes seres que povoam a nossa memória colectiva, lá vão passeando, à custa da CEE, nos mares aos nossos pés. Deixando-nos sem óleo que em nossas candeias ardeu e que, modestamente mas sem cortes, nos iluminou. Quase que apetece dizer que antes vale uma baleia em terra do que duas centrais térmicas a cortar.

Mas a vida passa e os poetas que ladrem, dirás tu.

E, se calhar, tens razão. Sempre foi assim: os cães a levantarem a perna, os poetas a sonharem, a más-línguas a mexericarem, os trabalhadores a trabalharem, os outros a olharem para eles.

Porque havias tu, bem pensado, de dar mais luz do que aquela que o teu ventre, delicado e mimado, dá? Porque haveria a tua face mimosa de levar chapada dos filhos das trevas que pululam por todo o lado? Quem não te ama é porque é cego e a pior cegueira, bem o sabes, não é a que é provocada pela falta de luz mas falta de vontade de querer ver.

Por isso, hoje estou contigo. Sobretudo quando afirmas que se as pessoas soubessem o que custa dar à luz não haveria pirilampos nesta vida. Mas o que mais dói, concordo contigo, é andarem para aí alguns filhos da luz a comportarem-se como filhos das trevas e a tentarem trazer-te para a lama. Mas sempre foi assim em terras pequenas: cortar as asas a quem quer voar, puxar para baixo quem quer subir, escurecer quem dá luz.

Por isso aguenta-te no teu posto e não dês cavaco.

Ilumina enquanto puderes e quando não puderes manda-os todos levar no contador.



P E D R O  D A M A S C E N O

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