FACE
OCULTA
PÃO,
CATRAPÃO, CATRAPUM
A
cerimónia oficial teve lugar nos Paços do Concelho que conseguiu ganhar o
privilégio, com o prosaico jogo da moeda ao ar.
Como
as câmaras da ilha não tinham conseguido pôr-se de acordo quanto ao local (as
Lajes insistiram que devia ser no sul, S. Roque que devia ser no norte e a
Madalena que devia ser lá), não houve outro remédio senão utilizar a moedinha
para desenrascar.
Naturalmente
por sorte, mas também por ironia, calhou à Madalena. Ironia porque bem em frente,
lá na cidade da Horta, alguns jovens mastigavam, à mesma hora que decorria a
cerimónia, uns saborosos pregos em pão (papo-seco) mirando a beleza
inconfundível da montanha do Pico.
A
hora era concebida ao Pico, como ilha e como parcela ultraperiférica da
Comunidade Europeia. Os dignatários do Livro Guiness de Recordes chegaram num
voo proveniente de Londres e destinado ao aeroporto de St. Luzia mas que, como
é costume, não pode aterrar por razões atmosféricas.
Assim
tiveram que vir pela Horta, aonde tiveram de pernoitar, dado que o horário de
chegada do avião não atinou com o horário das lanchas do Pico. Como não estavam
habituados com hábitos madrugadores da Transmaçor perderem a lancha da manhã e
acabarem por vir na da uma que por não ser obrigada e desdobramento nem a velar
pela integridade física e psicológica dos utentes, foi a Espalamaca. Escusado
será dizer que levaram um arrocho dos diabos mas cá chegaram numa só peça.
As
flores que os acolheram já estavam meio-murchas porque eram de véspera e tiveram
que acarretar malas até ao Hotel Caravelas. Mas de resto chegaram muito bem e
acharam, logo, a ilha lindíssima. Wonderful!
Depois
de se banharem no Hotel com excelente água de Luso ficaram quase prontos para
outras e partiram para a Quinta das Rosas onde foram obsequiados com um Pico se
Honra e queijo da Cooperativa da Almagreira. Um grupo de jovens locais bailou
gentilmente um chamarrita que, de imediato, cativou os ilustres visitantes.
Ao
jantar, como o Garcia estava fechado para obras, o restaurante do Calhau
fechado para férias e o Pinóquio para descanso do pessoal, foram jantar ao
Salão da Criação Velha aonde lhes foi oferecido um abundante copo de água (Cit.
De «O Dever»), servido por graciosas moçoilas locais.
A
cerimónia, propriamente dita, começou, por isso, já um pouco mais tarde.
Presentes
todas as forças vivas: deputados de todos os partidos, presidentes das
assembleias municipais e câmaras dos três concelhos, todos os presidentes de
junta de freguesia da ilha, todos os chefes de repartições públicas,
presidentes das Santas Casas das Misericórdias, os presidentes dos conselhos de
administração de centros de saúde, presidentes de conselhos directivos das
escolas C+S, todos os chefes de bombeiros de todas as corporações da ilha e
respectivos estandartes e treinadores de clubes de futebol, todos os maestros
de filarmónicas, todos os chefes de agrupamento de escuteiros, etc., e muito
povo anónimo.
Intrigados,
os ingleses perguntaram pelos outros representantes da sociedade civil (câmaras
do comércio e da indústria, associações agrícolas, sindicatos, associações
culturais). Um pouco desconcertado o mestre de cerimónias balbuciou que não
sabia mas que lhe parecia que não era costume.
O
primeiro discurso, bastante inflamado, foi o de um fogoso deputado que
descreveu a sua luta titânica na Assembleia Legislativa Regional com uma
avalanche de requerimentos. Mas nada feito, concluiu. Nem o órgão máximo da sua
autonomia conseguiu fazer prevalecer a sua vontade.
Depois
falou o presidente da câmara anfitriã que descreveu, com maior detalhe, a luta
travada pela Associação de municípios do triângulo. Em reuniões plenas na Horta
e na Vela de S. Jorge, tudo fez para que o insólito terminasse mas nada,
também, conseguiram. Pelo que achava justa a atribuição do galardão que, como
representante de todas as câmaras, iria receber.
Foi,
pois, com um frémito de emoção (e em momento magistralmente captado pelo Luís
Bettencourt) que a sala apinhada ouviu o anúncio público do galardão e a sua
entrega.
Também
ligeiramente emocionado, o ancião inglês anunciou:
- Mr. President
I have the great honor of presenting you with The Guiness Book award for the
only place within Europe without dry-breads.
Foi
o delírio quando o fogoso deputado traduziu que se tratava da atribuição do galardão
Guiness para único local da Europa sem papos-secos.
No
fundo da sala, uma mãe embaraçada repreendia o filho – vê lá se não queres
levar uma tapona – que cantarolava em tom brejeiro:
-
Pão, Catrapão, Catrapum!
P
E D R O D A M A S C E N O
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