FACE
OCULTA
«A política, como o futebol, vive de craques»
Peter Stein
O BENFICA –
SPORTING DA POLÍTICA
Não há dúvidas que
as eleições autárquicas são o acto político que mais se aproxima do futebol.
Suscita grandes paixões e provoca um nunca acabar de «transferências» e de caça
aos craques.
Mas se é cero
que a carga partidária deve e deveria ser muito mais atenuada a nível deste
tipo de eleições não é menis certo que se verificam desvios e atropelos que
atingem foros de verdadeira pouca-vergonha. Com os partidos a tentarem roubar
candidatos de outros ou menos candidatos a oferecerem os seus «serviços» ao
partido que der mais.
O que só vem a
provar que a carga partidária que a constituição Portuguesa ainda impõe para as
eleições autárquicas, com a ilustre excepção das juntas de freguesia, é um erro
que potencializa episódios caricatos que apenas desprestigiam a política e
arrendam inúmeros cidadãos de participação política.
O poder local,
mais do que qualquer outro, deve ter uma conotação e peso partidário muito
diminuto. Porque é um poder tipicamente vocacionado para a solução dos
problemas concretos e para o qual as grandes opções são mais de natureza local
e prática do que de natureza ideológica ou doutrinária.
As questões de
carácter são, tipicamente da esfera do parlamento e do governo. Embora, também
aí, não esgotam, bem longe disso, as questões doutrinárias e porque a voz das
minorias, numa democracia que se preze, também deve chegar ao céu. Até porque
os scores eleitorais dos grandes partidos tem muito a ver com técnicas de
marketing e paixões clubistas.
Mas tudo isso é
mais grave, de facto, a nível do poder local. Não só deveria ser possível a
apresentação de candidaturas independentes como os próprios partidos deviam
preocupar-se mas com uma atitude política pela positiva: abrir as suas listas a
cidadãos com prestígio local – os chamados «homens bons» que, felizmente, ainda
existem por todo esse país. E não preocuparem-se apenas em ganhar, vorazmente,
câmaras e juntas de freguesias para depois tentarem tirar ilações e dividendos
políticos indevidos, extrapolando conclusões e resultados não extrapoláveis.
Como, por
exemplo, a oposição a tentar derrogar, em sede de poder local, a legitimidade
do governo e do parlamento. Ou, ao contrário, a maioria a tentar desvalorizar
os resultados que não lhe são favoráveis.
Eleições
autárquicas e legislativas são muito diferentes, quer nas funções e
competências que no significado político. Tentar negar isso é, pura e
simplesmente, falta de seriedade política. Ambas são igualmente importantes,
mas são muito diferentes.
Por isso
confrange e desmobiliza o cidadão comum, a falta de dignidade que, cada vez
mais, vem surgindo em torno das eleições autárquicas. Com uma caça desenfreada
aos candidatos como se de verdadeiros goleadores se tratasse e de muitos desses
eventuais goleadores a portarem-se como autênticos mercenários.
Os partidos,
para além das questões ideológicas, deveriam ter noção de que têm, ou deveriam
ter, uma importante função social. Os partidos deveriam capacitar-se que o seu
principal papel não é conquistar eleições, com a mesma mentalidade que os
clubes de futebol tentam ganhar campeonatos, mas a participação política a
todos os níveis numa perspectiva de verdadeira pedagogia cívica.
Ganhar eleições
com o propósito central de ganhar pelo poder é a mesma coisa que um clube de
futebol ganhar eleições com o propósito central de coleccionar taças. Aonde
ficam, nestes casos, os princípios?
Ganhar, nem que
seja a feijões, é sempre bom. Mas ganhar o quer-que-seja, a qualquer preço, é
sintoma de corrupção e menoridade moral e intelectual.
Senão valerá a
pena que os craques da política passem, também, a ter passes que possam vender
ao «clube» que dê mais. Assim mesmo. Será mais sério que andar meio mundo a
tentar enganar o outro meio.
P
E D R O D A M A S C E N O
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