FACE
OCULTA
A liberdade de
imprensa não é um fim em si mesmo mas um meio para o objectivo de uma sociedade
livre
Felix Franfurter
O RENDER DA GUARDA
A passagem de testemunho da direcção
do Ilha Maior é uma excelente
oportunidade para uma reflexão sobre o papel e a importância da imprensa.
Sobretudo tendo em atenção as intenções, reiteradamente, anunciadas de
manutenção da linha editorial e de intervenção do jornal.
E é bom que assim seja porque o Ilha
Maior tem estado no caminho certo, pese um ou outro acidente de percurso, mas
muito poucos. Ao longo destes cinco anos afirmou-se como um jornal de toda a
ilha e de todos os picoenses. Se mais longe não foi, foi porque alguns dos
«velhos» colaboradores não colaboraram tanto quanto podiam e porque o recrutamento
de novos é tarefa bem difícil.
E a subsistência de um jornal com as
características deste passa por um conjunto muito grande de boas vontades e de
carolice. O mercado potencial é muito exíguo e os custos de produção são
significativos. Mas o Pico tinha necessidade de um jornal com as
características deste e ele aí está. Parabéns ao Director que saiu, palavras de
estímulo para o que entrou.
O «segredo» do Ilha Maior assentou
em dois pilares essenciais. Por um lado procurou adoptar uma postura de ilha,
de abordagem dos problemas de uma forma global, fugindo à tentação do concelho.
Por outro esteve sempre aberto a toda a gente: dos partidos, dos concelhos, das
religiões, etc.
Um jornal só pode ter força e ser um
veículo de pregresso e liberdade enquanto for inteiramente aberto ao mundo e às
pessoas. No momento em que caia na tentação de privilegiar, indevidamente, uma
terra, um grupo ou uma crença passa a ser, apenas, a correia de transmissão de
uma qualquer coisa. A partir daí terá força apenas para os apaniguados.
Naturalmente que qualquer grupo,
partido ou crença tem toda a legitimidade para ter um jornal que sirva,
essencialmente, os seus interesses específicos. Que vivam os jornais de
partido, de bairro e de igreja mas que se assumam como tal. Que identifiquem
claramente a quem pertencem e os objectivos que pretendem alcançar.
O que não se deve é tentar servir
uma qualquer bandeira e pretender que serve todas. Esse é um equívoco fatal e
que apenas poderá servir o retrocesso a falta de liberdade para não falar em
interesses mais do que obscuros.
Garantias que sejam as necessárias
regras de educação, respeito e qualidade, um jornal deve ser um fórum
inteiramente aberto. Se o individuo X escreveu alguma coisa que o indivíduo Y
acha que está mal ou não corresponde à verdade, o único remédio que este último
tem é de pegar na pena e repôs o que acha que está mal. Em nenhuma
circunstância se justifica que uma voz seja silenciada só porque põe em causa
os interesses de quem quer que seja.
Essa
é a regra de oiro da liberdade e do pluralismo.
A verdade é uma realidade muito
complexa. A ponto de podermos falar mais de verdades do que propriamente de
verdade. A verdade, propriamente dita, é, possivelmente, um somatório complexo
de uma miríade de verdades. Quantos de nós já mudou de verdade ou de verdades,
várias vezes? O que, hoje, nos parece definitivo e indiscutível quantas vezes
não nos irá parecer pueril, amanhã?
É neste pressuposto crucial que deve
assentar uma imprensa livre e pluralista. E é com esta imprensa que se promovem
os cidadãos nas mais variadas vertentes (sociais, culturais e económica) dado
que quanto mais debate houver e mais pontos de vista foram veiculados mais
próximo as sociedades estarão da realidade e, o mesmo é falar, da possibilidade
de promoverem o progresso.
O
sectarismo, o obscurantismo e a censura só servem a corrupção e a estagnação.
Os dados estão lançados. Compete,
agora, aos picoenses de todos os quadrantes credos e origens darem o seu
contributo para o debate sem preconceitos ou tabus. Os limites só devem ser os
da seriedade, do rigor, do respeito e da qualidade. Que todas as Bandeiras
desfraldem ao vento.
P
E D R O D A M A S C E N O
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