quarta-feira, março 30, 1994

ILHA MAIOR E O GRANDE DESAFIO


FACE OCULTA


ILHA MAIOR E O GRANDE DESAFIO



Neste número que se quer júbilo pelo caminho já percorrido, imperioso se torna analisar os grandes desafios do futuro. Porque se Ilha Maior nasceu da necessidade de o Pico ter mais uma voz, esta tornou-se agora, num estejo imprescindível do nosso devir.

Ilha Maior tem conseguido subsistir sem ser correia de transmissão de coisa alguma, razão principal porque deve continuar. Um espaço aberto aonde todos os picoenses se revejam e aonde é possível assumir a diferença, sem constrangimento. Um jornalismo plural e regionalista mas, simultaneamente, aberto ao mundo.

E porque vale a pena continuar a fazer este jornal, com entusiasmo cada vez maior, necessário se torna a reflectir sobre os grandes desafios do futuro e do desenvolvimento, que são muitos.

Mas de todos eles avulta, com grande destaque, um que justifica o título desta crónica: o desafio da unidade da ilha.

Esta ilha, segunda em tamanho e terceira em população, continua na cauda do desenvolvimento regional. O gigante adormecido ou a pescadinha de rabo na boca. Um eterno motivo de trocadilhos, mais ou menos brejeiros.

Uma ilha em que se fez tanto, e ao mesmo tempo, tão pouco.

Porque a passada foi sempre mais pequena do que a perna. Fizeram-se hospitais, escolas, portos e aeroportos e, ao fim e ao cabo, estamos quase na mesma. Continuamos sem ter uma unidade de saúde que resolva a generalidade dos nossos problemas de saúde, sem uma escola que impeça a saída precoce dos nossos filhos adolescentes, sem um porto que garanta de forma definitiva os nossos abastecimentos e sem aeroporto que nos ligue ao exterior de forma viável e regular.

Temos tudo e não temos nada.

Uma mentalidade de campanário que nos tem amarrado à defesa, por vezes intransigente, de soluções que só visam apaziguar interesses provincianos e barristas e que tem sido o obstáculo maior ao nosso desenvolvimento.

Uma mentalidade que terá de ser radicalmente mudada sob pena de o Pico continuar a ser apenas a soma aritmética de três pequenos e pobres concelhos e jamais a ilha majestosa que aparenta. Mudanças que, em primeira linha, terá que ser protagonizada pelos responsáveis políticos, sobretudo pelos presidentes de câmara e deputados.

Mais uma vez o Pico tem três presidentes de câmara da mesma formação partidária. Situação que potencializa a possibilidade do diálogo, do consenso e sobretudo da pedagogia da unidade. Porque é exactamente de pedagogia de unidade que esta ilha está precisada. Alguém terá que dar o exemplo e quem melhor do que autarcas e deputados para o fazer?

O planeamento dos concelhos do Pico terá que ser forçosamente, e cada vez mais, fruto de muito diálogo e cooperação entre eles com vista à unidade da ilha. Seja para definir e dimensionar equipamentos colectivos seja para definir estratégias de desenvolvimento económico.

No Pico já não há lugar para jogadas de concelho e de paróquia.

Do exterior não virão ajudas. Ou os picoenses se põem de acordo e começam a defender os seus interesses de ilha de forma coerente e integrada, numa perfeita unidade de objectivos, ou continuarão a ser prisioneiros das suas próprias limitações e atavismos.

A maioria dos erros que se fizeram no Pico ficaram-se a dever em primeira linha aos próprios picoenses que não souberam defender os seus interesses de uma forma coerente e unida. Ao longo dos anos algumas vozes se têm levantado a favor da unidade mas acabaram por ser perder no ruído das confrarias e das capelas.

E o governo? O governo claro que teve e tem muitas culpas no cartório e a falta de coesão dos picoenses não pode servir de desculpa para erros crassos de planeamento que cometeu (porto, aeroporto, hospitais etc.) mas tudo talvez tivesse sido muito diferente se o Pico se tivesse assumido como Ilha, num todo integral.

Os desafios que se colocam hoje ao Pico são muitos – da modernidade, do desenvolvimento e da preservação do ambiente - mas de todos eles avulta o da unidade. Sem ela nunca haverá Pico Maior.

Por tudo isso o grande desafio que se coloca ao Ilha Maior é o desafio da unidade, da coerência e da coesão da Ilha do Pico.

Para isso as suas colunas deverão estar sempre abertas ao mais amplo debate das grandes questões que se põem à sociedade picoense, sem complexos nem peias. As balizas apenas deverão ser as do respeito e da tolerância. Sem Mais.


P E D R O  D A M A S C E N O

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