FACE
OCULTA
EUROPA POR UM CANUDO
Independentemente dos resultados
obtidos por qualquer das forças partidárias em contenda o dado político mais
relevantes das passadas eleições europeias foi a altíssima abstenção que rondou
os 65%. Ou, por outras palavras, apenas 35 portugueses em cada 100 entenderam
ser necessário ou importante votar para o Parlamento europeu. Ou seja, apenas
acerca de um terço dos nossos eleitores se deu ao trabalho de se deslocar às
assembleias de voto!
Descontados alguns aspectos
secundários como são o facto de a votação ter ocorrido no meio de uma “ponte”
que foi aproveitada por muitos portugueses para num curto período de férias, a
acompanha não ter conhecido o entusiasmo e a dimensão de outros actos
eleitorais e mesmo o facto de a abstenção ter sido também significativa noutros
países europeus, ficam-nos números que têm de ser analisados de forma isenta e
objectiva.
E a grande conclusão é evidente: a
maioria esmagadora dos portugueses esteve-se nas tintas para as eleições europeias.
A partir daí os resultados obtidos
pelos próprios partidos têm que ser vistos numa perspectiva altamente
condicionada. Provavelmente foram apenas o resultado da votação dos respectivos
eleitorados fixos, ou seja dos militantes mais activos e empenhados de cada
partido e que, habitualmente, vão a todas. O que, se calhar, poderá constituir
para os partidos uma oportunidade de ouro para contarem as “armas” seguras com
que contam em delinearem estratégias futuras.
Porque se tratou da maior abstenção
verificada em Portugal nos últimos 20 anos estamos perante um fenómeno social
da maior relevância. Irando os ditos militantes activos de cada partido
independente e que se caracterizam por um elevado sentido cívico de
participação social e política.
O que significa que, em termos
sociológicos e políticos, os resultados eleitorais têm que ser vistos no
contexto de representarem, apenas e
somente, o sentido do voto de uma ou duas faixas de cidadãos de
características bem definidas.
Ficam os restantes que constituem a
generalidade dos portugueses e que vão desde os que não quiseram ter a maçada
de ir votar aos que quiseram mostrar aos partidos, de forma geral, que estão
fartos de tanta política e tanta politiquice e de tantos actos eleitorais que
em pouco ou nada resultam para a modificação das suas vidas quotidianas. Como também
significará que, para muitos portugueses, a política que interessa não vai além
da paróquia e dos seus interesses imediatos e que não tem qualquer noção de
caracter mais geral, nomeadamente europeu.
Possivelmente para muitos
portugueses a Europa continua a ser um slogan que pouco ou nada lhe diz.
Tornou-se moda falar da Europa, dos fundos comunitários e das directivas, e
entendeu-se que os portugueses estavam com ela. E, se porventura, os portugueses
não estão contra a comunidade europeia – e de forma activa não estarão – também
não estão minimamente empenhados na sua construção ou conscientes da sua
eventual importância para as suas vidas diárias.
Doutro modo não faz sentido que a
generalidade dos cidadãos se tenha abstido.
A vitória nestas eleições, de quem
quer que ela seja, terá sempre um sabor amargo porque apenas representará o sentir de uma minoria muito magra dos
portugueses. Os partidos apenas viram os portugueses pelo buraco da fechadura.
Os hipotéticos votos de quem não votou não contam nem podem contar. O que conta
foi o surgimento na sociedade portuguesa de um fenómeno sócio-político da maior
importância e que não deverá ser objecto de explicações simplistas ou, o que é
pior, oportunistas. Os cidadãos absentistas não nomearam, ao que se sabe,
qualquer porta-voz.
Se houver empenhamento e seriedade
por parte do estado apenas haverá, portanto, um caminho: a realização de um
estudo de opinião a nível nacional, exaustivo e totalmente isento, que nos
venha dar uma explicação cabal e objectiva do que se passou. Só assim as
diferentes forças partidárias e o próprio governo estariam em condições de
intervir, de forma positiva e adequada, numa sociedade que deu um berro de
protesto (?) mas não se explicou.
Finalmente um facto marginal mas que
tem importância para uma crónica sobre abstenção escrita nos Açores: pela
primeira vez desde o 25 de Abril a abstenção na Região foi menor que a nível
nacional. Fenómeno interessante e que constitui um recado claro para o Partido
Socialista que, em mais uma prova da sua incapacidade de se postular como
alternativa ao partido Social Democrata nos Açores, não inclui nas suas listas,
em lugar ilegível, um candidato açoriano. Uma boa razão de reflexão para uma força
partidária que persiste numa trajectória regional suicida.
P
E D R O D A M A S C E N O
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