FACE
OCULTA
INATELGATE OU UMA BARRACADA À
PORTUGUESA
Se não bastasse o martírio do nosso
desenvolvimento, sempre condicionado pela nossa endémica mansidão e pelo medo
que desperta noutras ilhas e nos seus grupos de pressão, foi o Pico agora
brindado com um acontecimento que ultrapassa as raias da normalidade para se
atirar para o mais puro surrealismo: o caso do Hotel do Inatel.
Depois de tudo feito, menos a obra,
voltamos à estaca zero.
Após o esforço e o empenhamento da
Câmara da Madalena que se abalançou a um investimento imobiliário
significativo, do projecto ter sido executado, a obra abjudicada e lançada –
com pompa e circunstância e com a presença do Ministro da República – a 1ª
pedra foi, subitamente e de forma inesperada, tomada a decisão de já não fazer
a obra!
Posto que os dados que fundamentaram
a decisão de fazer a unidade no Pico não se alteraram nem constatar que o
Inatel tenha ido à bancarrota, cai-se na maior perplexidade e numa situação que
deve ser a única a nível do país: um investimento é anulado exactamente na
grelha de partida e quando todas as despesas preliminares – e são muitas – já
estão feitas!
Situação que à partida permite
formular, essencialmente, dois cenários:
1º- Uma complexa e total
incompetência e irresponsabilidade de quem liderou o processo até esta fase e
que sendo este que tal modo errado e anti económico levou a que alguém mais
avisado e sensato decidisse anular tudo o que estava feito e assumir vultuosas
verbas já despendidas como prejuízo irrecuperável.
2º- Uma mudança de decisão que não
deve ter a ver com alteração de qualquer das premissas existentes mas apenas
com pressões políticas e/ou outras que foram exercidas no sentido de conduzir o
investimento para outras paragens.
Em qualquer dos cenários ressalta,
desde logo, a completa falta de respeito do Inatel para com o Ministro da
República e outras entidades intervenientes nomeadamente a Câmara Municipal da
Madalena que foram reduzidos à condição – e pede-se desculpa pela rudeza da
expressão – de palhaços. O ministro da República porque veio com o seu peso
institucional dar pompa e importância ao arranque do empreendimento, a
autarquia locar porque se empenhou – totalmente desde a primeira hora – numa
iniciativa que considerou importante (e que sem dúvida é) para o
desenvolvimento do concelho da ilha, tendo mesmo investido uma avultada verba
na compra dos terrenos.
Uma vez que o primeiro cenário é
quase inverosímil ficamos, em termos práticos, a braços com o segundo. Porque
embora o Inatel sofra dos vícios de coisa pública, não acreditamos em tanta
incompetência.
Entretanto, e como normalmente
acontece nestas coisas, surgiram os mais variados boatos que vão desde a
intenção de fazer a construção do hotel na Ribeira Grande – São Miguel ou na
Madeira as dificuldades financeiras do Inatel. Hipóteses que poderão ter algum
fundo de verdade mas que não são fundamentais para o teor desta análise.
Porque o que, de facto, importa
analisar é a gravidade da decisão que foi tomada e a forma como o volte face se
deu e, sobretudo, a reacção que teve se ser adoptada. Ainda ecoam os últimos
acordes da “guerra” do bloco operatório do Centro de Saúde de São Roque e já
está o Pico a braços com nova machadada.
O que se está a passar com a
construção do hotel do Inatel no Pico é – para chamar os bois pelo seu nome –
inconcebível, inaceitável e maximamente ultrajante para com esta ilha e os seus
habitantes, para com os seus representantes legitimamente eleitos e para o
representante do Governo da República da Região.
É
uma cabala ordinária e sórdida que só poderá ser levada ai fim num sítio aonde
toda a dignidade tenha sido perdida e já não exista o sentido do dever e da
honra.
As primeiras reacções dos
responsáveis autárquicos de ilha e da oposição foi adequada e expectante mas é
fundamental que os responsáveis políticos se apercebam que a guerra do Inatel
terá que ser uma guerra total e sem
tréguas. Uma guerra que ponha toda a gente que não é do Pico, incluindo o
Governo Regional, a perceber que a única saída para a crise é o cumprimento integral
do que estava planeado, acordado e decidido.
Porque qualquer fraqueza que os
picoenses, nomeadamente os políticos, demostrarem neste caso será sempre extrapolada para o futuro, seja
ele alargamento da pista, escola da Madalena ou protecção da orla marítima da
Lajes.
O caso do bloco operatório de São
Roque foi, provavelmente, apenas o ensaio geral em matéria de defesa dos
interesses do Pico.
Porque
todos os argumentos que, porventura (?), existam para não fazer a obra do
Inatel deviam ter sido analisados a seu devido tempo, nunca agora. E toda a posição dos picoenses que
não leve à reposição integral do que
estava para se fazer será sempre uma derrota.
O
Pico terá de demonstrar, uma vez mais, que deixou de ser cordato e apaziguador,
mesmo quando o espezinham, e de demonstrar que também é filho de boa gente.
As presentes autarquias picoenses
têm dado sinais que percebem que o seu grande desafio é o da unidade de ilha e
que os objectivos do desenvolvimento e da sua própria sobrevivência política
passa por unirem fileiras, mesmo contra o governo do seu partido. Porque há
coisas que têm que estar acima das balizas partidárias.
Espera-se que, agora, estejam à
altura de assumir – de forma completa – este novo desafio. Porque o problema do
Inatel da Madalena não é um problema daquele concelho, é um problema do Pico já
que tem a ver com o desenvolvimento global da ilha e também porque é,
porventura, mais um teste e até mesmo uma rasteira para, novamente, tomar pulso
aos picoenses. Se hoje dermos o dedo ou mesmo a mão, amanhã teremos que dar o
resto. Foi isto que a nossa história nos tem ensinado.
Que o Inatel e quem mais esteja por
trás desta história ridícula sinta que entraram num caminho sem retorno. Tudo
deve ter o seu tempo e a sua oportunidade e ambas passaram há muito neste caso
que nos entristece e revolta. Naturalmente qualquer entidade Pública ou Privada
tem o direito de fazer os seus investimentos aonde lhe parecer mais adequado.
Mas não podemos, em circunstância alguma, esquecer as regras básicas porque se
deve reger uma sociedade democrática e de direito.
E tantas vezes a distância entre a
liberdade e a burla é bem pequena!
P
E D R O D A M A S C E N O
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