FACE
OCULTA
OS CAPADORES DA ILHA (II)
OU
A MÃE DE TODAS AS CAPADELAS
Infelizmente os últimos
acontecimentos confirmaram os nossos piores temores e vêm, mais uma vez, dar o
nome a esta crónica.
Como se já não nos bastasse todos os
nossos déficites de desenvolvimento são, agora, as próprias bases, prévias e
indispensáveis, para que ele, finalmente, arranque que nos são negadas. Como se
fosse possível construir qualquer edifício, minimamente estável, sem fundações.
Mas o que mais magoa e desanima é a
revogação, à última hora, de compromissos formal e publicamente assumidos.
Ontem foi o bloco cirúrgico do Centro de Saúde de São Roque, hoje é o
alargamento da pista do Pico. E se há estrutura cujo devido e adequado dimensionamento
merece consenso dos picoenses - políticos da situação e oposição, deputados,
autarcas, empresários e público geral – é exactamente o alargamento da pista.
E, contradição das contradições, é
precisamente essa estrutura que é retirada do Plano de Orçamento para 1995 do
Governo Regional dos Açores e, o mesmo é dizer, para muitos anos. Por que
ninguém se iluda: se esse objectivo for, agora conseguido não vamos ter
alargamento de pista por muitos anos. E porquê? Porque essa opção não é
inocente muito menos de caracter económico e transitório e vejamos porquê.
Em primeiro lugar porque na
elaboração de qualquer plano a primeira coisa a ter em linha de conta é o
elenco das prioridades. E não há dúvida que no topo desse, está, para o Pico, o
alargamento da pista. E isto mesmo tem sido por toda a gente e nomeadamente
pelos autarcas que, de forma perfeitamente unânime, o têm afirmado
repetidamente em público.
Em segundo lugar terá de ter em
conta o montante dessas prioridades e o alargamento da pista – no montante da
ordem dos 300 mil contos – é perfeitamente comportável mesmo para um orçamento
restritivo. Sobretudo se tivermos em linha de conta que a Ilha do Faial – como
menos população, um terlo do tamanho e com um conjunto de estruturas muito mais
alargado e valioso – vai receber neste orçamento uma verba superior à do Pico
que se aproxima do valor que seria necessário para alagar a nossa pista!!...
Em último lugar, tratando-se de um
orçamento de uma região insular, terá de ter em conta uma filosofia que venha
diminuir e esbater as assimetrias regionais. Preocupação que fundamente o
próprio regime autonómicos. Para que nos serve uma autonomia que em vez de nos
defender de um poder central discriminatório e preconceituoso venha, ela
própria, criar e consolidar assimetrias?
O
alargamento da pista do Pico é hoje a prioridade número um para o
desenvolvimento desta ilha. Doa
a que doer e cause os engulhos que causar.
O canal Pico-Faial, pese embora a
sua grande importância, não pode nem deve substituir um aeroporto adequado como
uma pista bem dimensionada. Disso dependerá a curto, médio e longo prazo do
desenvolvimento da Ilha. Sobretudo se tivermos em atenção que se trata de um
investimento extremamente modesto em virtude dos enormes benefícios que vai,
indiscutivelmente trazer.
Embora não podendo comparar as duas
situações não deixa de ser interessante reflectir sobre os investimentos
faraónicos que a Ilha da Madeira tem vindo a fazer e vai continuar a fazer para
ter um aeroporto adequado às suas necessidades. Porque os madeirenses já
perceberam que, para eles, se trata de uma estrutura imprescindível para o seu
desenvolvimento, mesmo que tenham de construir pilares para fazer uma pista
sobre o mar! Verdade que é universal dado que nenhuma ilha poderá aspirar, hoje em dia, a um desenvolvimento
sustentado e consequente sem um aeroporto satisfatório.
Enquanto para a Pista do Pico se
reivindica somente uns reduzidos metros de asfaltagem mas que virão a fazer
diferença.
É ridículo questionar em 1995 e em
sede de orçamento regional essa necessidade vital da ilha. De modo que a
explicação só pode ser encontrada nos capadores da ilha que andam por aí de
lâmina em riste e não desistem. Não há outra lógica que possa explicar
semelhante decisão.
Cabe a palavra, agora, aos políticos
nomeadamente aos deputados e presidentes de câmara da Ilha do Pico. Só eles
poderão fazer inflectir o sentido da decisão tomada o que não deixará, por isso
mesmo, de ser um teste decisivo sobretudo para os actuais presidentes de câmara
que têm procurado pautar a sua actuação por uma perspectiva de ilha, pondo de
lado as capelinha, mas que agora enfrentam um desafio realmente sério até
porque terão que, de algum modo, de pôr em causa o governo que apoiam.
Mas, desde já, uma coisa é certa: a
decisão de excluir do plano de 95 o alargamento da pista do Pico é a mãe de todas as capadelas a que esta
ilha tem estado sujeita.
P
E D R O D A M A S C E N O
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