FACE
OCULTA
NÃO LEMBRA NEM AO
DIABO
Com a pompa e
circunstância, próprias dos grandes momentos, o Banco Comercial inaugurou,
recentemente, o seu novo balcão na Horta. Um edifício de gabarito, num local
sumamente central, a atestar a importância que o, ainda, banco “regional”
atribui à capital do, ainda eufemisticamente chamado, ex-distrito da Horta.
E até aqui tudo
iria bem. Mais um investimento vultuoso a atesta a importância que, apesar de
tudo, a Horta ainda dispõe. Se por mais nada, pelo menos pelo facto de ainda
ser um dos ex-três polos em que assentava a organização dos Açores antes do 25
de Abril e que nem sequer tantos anos de autonomia conseguiram apagar.
Mas, como se
disse, tudo iria bem se a Administração do BCA não se tivesse lembrado de nomear
como gerente da neófita e promissora agência um picoense que, ainda por cima,
sempre tem vivido no Pico! Um picoense não assimilado (porque assimilados são
muitos os que lá existem e que vão desde ex a actuais presidentes de câmara,
membros do governo, etc.) que, “inexplicavelmente”, passou à frente de
potenciais candidatos faialenses para vir a ocupar um lugar de algum relevo.
Facto, pelos
vistos, custoso de engolir para certos sectores da ilha vizinha que
desencadearam um movimento que teve honras de jornal, esquecendo, embora, outra
nomeação que, pela lógica, deveria, também, ser considerada “estranha” como foi
de um micaelense para dirigir os serviços de Obras Públicas do Faial.
Mas a coisa não
foi pacífica tendo a administração do banco sido obrigada a deitar água na
fervura por causa de assunto cuja competência lhe cabe por inteiro.
Não interessa
para o caso se o ex-gerente da agência da Madalena do Pico é ou não a mesma
pessoa com melhor perfil para ser gerente da nova agência da Horta. Essa
avaliação cabe e compete ao concelho de Administração do BCA, pese embora o
facto de se tratar de uma empresa pública. E, naturalmente, que essa
administração escolheu, de entre os seus quadros disponíveis, aquele que lhe
pareceu que lhe pareceu mais adequado para preencher o lugar.
E tudo ficaria
por aqui, na mais rigorosa normalidade, se não se tivesse levantado uma
verdadeira tempestade em copo de água pelo prosaico argumento do homem vir do
Pico. Crime de lesa ilha e que deve ter deixado os administradores micaelenses
boquiabertos.
Situação do mais
complexo provincianismo que veio, mais uma vez, demonstrar como região ainda se
pauta por critérios do mais puro corporativismo e como a generalidade das ilhas
ainda vive um certo ipo de autismo narcisista. Uma região que anda,
literalmente, com as calas na mão e com déficites de desenvolvimento, cada vez
mais, preocupantes e que ainda se preocupa e perde tempo com situações da mais
pura “lama caprina”!
O que é grave
não é que o BCA tenha nomeado, no estrito âmbito das suas competências, um
picoense do Pico para ser gerente do novo balcão da Horta como poderia ter
nomeado um corvino do Corvo ou um Jorgense de S. Jorge.
O que é grave é
que os ditos sectores faialenses se tenham preocupado, apenas, com isso.
Esquecendo, e isso é que é realmente grave, que o futuro (?) ex-banco
“regional”, pesem inaugurações de pompa e os discursos de circunstância,
continua a não ser o verdadeiro motor da economia regional (e só por isso é que
faria sentido a existência de um banco “regional” – atento e conhecedor das
realidades e especificidades regionais). Banco que se limitou, sobretudo no
último ano, à obsessão de uma operação cosmética que o tornassem apetecível
para compra por parte de algum grupo financeiro continental de 2ª linha, dado
que os principais já têm os seus interesses assegurados no arquipélago.
As oportunidades perdidas na Região já foram e
continuarão a ser muitas, em grande parte por falta de uma entidade bancária
que – sobretudo nas ilhas mais pequenas – tenha percebido os grandes déficites
estruturais dos Açores e tenha ajudado a dar “ o golpe de asas” a uma economia
vulnerável. Uma entidade que soubesse identificar e apoiar os investimentos
estruturais imprescindíveis ao arranque do desenvolvimento sem o qual nem a
própria banca poderá sobreviver.
Seja na Horta,
no Pico ou em S. Miguel o BCA continua a ser, fundamentalmente, um banco de
pequenos e médios aforradores e um pagador de salários atolado em créditos mal
parados, incapaz de responder adequadamente às solicitações do fragilizado
tecido empresarial regional e aos mais elementares desafios do desenvolvimento.
Circunstâncias que possivelmente ajudaram a minar eventual interesse de
compradores credíveis e que levou ao adiamento “sine die” da sua privatização por
falta de interessados.
Essa de
contestar a nomeação do novo gerente da Horta do BCA da forma e pelas razões
que o foi não lembra nem ao diabo.
P
E D R O DA M A S C E N O
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