FACE
OCULTA
GARES, BARCOS E COMPANHIA, LDA.
Infelizmente, as ligações marítimas
entre as ilhas do triângulo continuarão a ser manancial – pelos vistos
inesgotável – das crónicas desta coluna e motivo para infindáveis rosários de
lamentação.
Por mais que se diga, que se sugira
ou que se critique tudo continua, mais ou menos olimpicamente, na mesma, ano
após ano: os horários, os barcos, as gares, etc. Como se não se tratasse de um
serviço público da maior importância para esta área dos Açores.
Ainda recentemente a RTP inseriu no
noticiário da noite um trabalho da Delegação da Horta em que mostrava imagens
de uma Espalamanca, completamente ultrapassada, a fazer a ligação Faial-São
Jorge. Numa ilustração da pouca consideração que o confronto e a segurança dos
passageiros merecem à transportadora concessionária.
Pena que a televisão não tivesse
aproveitado e tomado algumas imagens do modo como se continuam a processar os
embarques e desembarques de passageiros e carga no porto da Madalena.
A mais completa anarquia que não só
torna a vida dos utentes um inferno como dá uma péssima ideia de todos nós a
quem nos visita. Um amontoado de gente que se mistura, de forma totalmente
desorganizada: que chega com que parte; quem quer, apenas, ver a lancha ou
esperar alguém com que parte e com quem chega. Tudo isto sem áreas definidas
para nada, sem sinalização ou qualquer outro apoio.
Mas quando se trata de bagagens tudo
se complica, ainda mais. Como não há regras quem parte tenta pôr a sua bagagem
junto do barco para ser carregada enquanto os que chegam tentam tirar a sua de
lá, de mistura com quem nem parte nem chega e que apenas atrapalha. Situação
que se agrava quando chegam ou partem grupos de turistas organizados que têm
que se “desenrascar” em tal bagunça.
Se ainda se percebe que tornar a
gare da Madalena minimamente adequada para o tráfego que serve tenha custos
significativos, quer por envolver remodelação das instalações sanitárias que
por implicar o aumento em área coberta; não se percebe, certamente, porque não
se organiza, convenientemente, a chegada e partida de passageiros e bagagens.
Porque tudo o que isso implicará
será, essencialmente, bom senso, sentido prático e algumas regras de boas
maneiras. O fundamental é definir algumas áreas destinadas a fins específicos:
um corredor para quem desembarca, uma para que embarca, uma área destinada a
colocar as bagagens a desembarcar e outra para as destinadas ao embarque bem
como uma área desafogada para quem as vai buscar e levar e, finalmente, uma
área para os que não vão utilizar o transporte.
Depois serão apenas necessários
alguns sinais indicativos e umas barreiras separadoras amovíveis. E a terminar,
alguém, que oriente as pessoas e assegure que as reras civilizadas de
utilização sejam cumpridas. O que não deverá ser problema porque entre a
autoridade marítima, a policial e os funcionários da empresa concessionária
sempre haverá alguém disponível.
Mas, em primeira mão, é
imprescindível definir as regras de circulação e as áreas destinadas aos
diferentes fins. Se em dias ou horas de pouco tráfego tais cuidados e
preocupações podem parecer excessivas não o serão, certamente, nas alturas de
tráfego mais intenso.
E, numa perspectiva optimista, o
tráfego continuará a aumentar sobretudo na época de Verão e não a diminuir.
Aumento que se fará, com toda a probabilidade, essencialmente à custa de
visitantes que serão, simultaneamente, para todos nós uma fonte de
desenvolvimento para já não falar no direito que nós, também, temos tratamento
minimamente civilizado.
Demorou anos e muitas reivindicações
e apelos para que os doentes do Pico com destino à Horta, em maca, fossem
transportados com um mínimo de dignidade. É tempo, agora, de os passageiros
correntes e respectivas bagagens terem o direito a embarques e desembarques com
um mínimo de dignidade.
Faria, até, sentido (e porque não?)
que nas gares da Horta e Madalena existissem carros de bagagens como existem
nos aeroportos. Porque o porto da Madalena continua, porventura, a ser ainda a
porta de entrada e saída mais importante do Pico. E nem toda a gente terá
capacidade atlética necessária ao transporte de malas pesadas, por entre
multidões compactas e empurrões de um lado para o outro, em distâncias
significativas.
A questão da funcionalidade das
gares é parecida com a dos horários. Tem fundamentalmente, a ver com boa
vontade e bom senso e alguma criatividade. Tem muito pouco a ver com dinheiro.
O problema dos transportes marítimos
entre ilhas do triângulo é, como repetidamente se tem afirmado, crucial para o
seu desenvolvimento. E transporte marítimo não é apenas uma questão de barcos e
equipamentos. É, também, uma questão de serviço.
P
E D R O DA M A S C E N O
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