Os noticiários do nosso descontentamento
ou os arautos da desgraça
Quase (inversamente) proporcional ao avanço das tecnologias multimédias e de telecomunicações decresce a nossa vontade de ver noticiários televisivos, quer das privadas quer das públicas. Ou porque são chatos (entrevistas intermináveis sobre assuntos desprovidos de interesse com pessoas que nem falar sabem) ou porque se limitam a dois ou três temas da moda (Médio Oriente, Iraque, Casa Pia) que repetem até à exaustão como este mundo multifacetado e, tantas vezes, fascinante não passasse disso.
Os noticiários que deveriam ser uma oportunidade de oiro para trazer junto do grande público um sentido positivo da vida e do que de relevante acontece em termos do nosso progresso a todos os níveis, não passam – na generalidade – de palco de disputa de audiências e, o mesmo é dizer, de procura de sensacionalismo que passa por escândalos, política barata, violência e mesmo por pura ordinarice.
Se não andássemos por este mundo de olhos abertos (quem anda!) seríamos tentados a pensar que o Juízo Final se aproxima a passos de gigante porque pouco ou nada de puro, positivo ou, simplesmente, interessante acontece. E assim, a nossa percepção colectiva vai sendo inquinada de um pessimismo/derrotismo que vai minando a nossa vontade de participar na vida comunitária remetendo-nos para um individualismo feroz, tantas vezes, perto de verdadeiro autismo.
É importante que haja rigor e verdade na informação e que não se escamoteiem matérias que, embora deprimentes e dolorosas, devem ser conhecidas das pessoas porque este mundo não é um mar de rosas e é importante que haja consciência colectiva dos atropelos, injustiças e crimes que se cometem neste planeta. Mas não faz sentido que, simultaneamente, não se faça, sistematicamente, eco das coisas extremamente positivas que podem ser exemplos importantes para sociedades que, em crise aberta de valores, procuram um caminho.
Sobretudo não se entende que as próprias televisões públicas, que deveriam ter um papel pedagógico inestimável, caiam precisamente no mesmo rol de desgraças e se prestem a um papel que em nada dignifica um serviço que deveria estar do lado de uma apresentação equilibrada do que acontece no país e no mundo sem receio de conquista de audiências a qualquer preço. Não se tratar de tentar infantilizar as pessoas através de lupas cor de rosa mas tão somente de fazer o trabalho de casa, em condições, de modo a poder apresentar diariamente aos cidadãos deste país informação digerida e global que represente aquilo que, efectivamente, acontece cá e no mundo.
Suspeito bem que é mais fácil e barato apresentar os “enlatados” noticiosos que estão na moda do que fazer o trabalho de pesquiza e de campo que uma informação verdadeiramente consistente e rigorosa exige. Vamos todos para aqui e para ali, aos bandos de câmaras e repórteres, e deixemos de mão aquilo que é considerado pouco ou nada mediático (?) embora possa ser da maior importância e qualidade. Não há escândalo, não há crime, não há sexo, não há violência, então que chatisse! Já viram a chatisse que os noticiários seriam se não houvesse a Casa Pia, o Carlos Cruz e o Paulo Pedroso? E que seria de nós que assim não poderíamos armar em juízes e dar “doutas” sentenças à mesa do café?
A chatisse que seria se tivéssemos que falar da poluição, do ambiente, da falta de valores e referencias que, cada vez mais, se fazem sentir na nossa sociedade?! A sensaboria que seria se tivéssemos reflectir sobre as perpectivas do nosso desenvolvimento e da necessidade imperiosa de mais educação e formação para podermos enfrentar os desafios do alargamento da Europa aos países de leste ou então que tivéssemos que começar a pagar impostos para assegurar as receitas indispensáveis ao investimento público que falta por todo lado?!
E a desgraça que não seria se nos tirassem as horas e horas de intermináveis de debates sobre o futebol? Iríamos falar de quê? O que poderia substituir aquelas imagens que nos permitem chamar cego e burro, entre outros mimos, aos árbitros que não viu aquilo que todos nós vimos? É bem verdade que vida não pode ser só de coisas sérias ou “intelectuais” mas não pode também ser também apenas futebol, fado e circo.
Os nossos noticiários (sobretudos os públicos) deveriam ser, por excelência, momentos de informação, reflexão e formação. Oportunidades de trazer à colação temas e assuntos que apenas uma câmara de televisão e jornalistas competentes e com talento podem fazer. Sobretudo num país em que as assimetrias sociais e culturais ainda são tão vincadas.
É bem pena que se limitem a ser apenas os arautos da nossa desgraça e do nosso descontentamento
P E D R O D A M A S C E N O
ou os arautos da desgraça
Quase (inversamente) proporcional ao avanço das tecnologias multimédias e de telecomunicações decresce a nossa vontade de ver noticiários televisivos, quer das privadas quer das públicas. Ou porque são chatos (entrevistas intermináveis sobre assuntos desprovidos de interesse com pessoas que nem falar sabem) ou porque se limitam a dois ou três temas da moda (Médio Oriente, Iraque, Casa Pia) que repetem até à exaustão como este mundo multifacetado e, tantas vezes, fascinante não passasse disso.
Os noticiários que deveriam ser uma oportunidade de oiro para trazer junto do grande público um sentido positivo da vida e do que de relevante acontece em termos do nosso progresso a todos os níveis, não passam – na generalidade – de palco de disputa de audiências e, o mesmo é dizer, de procura de sensacionalismo que passa por escândalos, política barata, violência e mesmo por pura ordinarice.
Se não andássemos por este mundo de olhos abertos (quem anda!) seríamos tentados a pensar que o Juízo Final se aproxima a passos de gigante porque pouco ou nada de puro, positivo ou, simplesmente, interessante acontece. E assim, a nossa percepção colectiva vai sendo inquinada de um pessimismo/derrotismo que vai minando a nossa vontade de participar na vida comunitária remetendo-nos para um individualismo feroz, tantas vezes, perto de verdadeiro autismo.
É importante que haja rigor e verdade na informação e que não se escamoteiem matérias que, embora deprimentes e dolorosas, devem ser conhecidas das pessoas porque este mundo não é um mar de rosas e é importante que haja consciência colectiva dos atropelos, injustiças e crimes que se cometem neste planeta. Mas não faz sentido que, simultaneamente, não se faça, sistematicamente, eco das coisas extremamente positivas que podem ser exemplos importantes para sociedades que, em crise aberta de valores, procuram um caminho.
Sobretudo não se entende que as próprias televisões públicas, que deveriam ter um papel pedagógico inestimável, caiam precisamente no mesmo rol de desgraças e se prestem a um papel que em nada dignifica um serviço que deveria estar do lado de uma apresentação equilibrada do que acontece no país e no mundo sem receio de conquista de audiências a qualquer preço. Não se tratar de tentar infantilizar as pessoas através de lupas cor de rosa mas tão somente de fazer o trabalho de casa, em condições, de modo a poder apresentar diariamente aos cidadãos deste país informação digerida e global que represente aquilo que, efectivamente, acontece cá e no mundo.
Suspeito bem que é mais fácil e barato apresentar os “enlatados” noticiosos que estão na moda do que fazer o trabalho de pesquiza e de campo que uma informação verdadeiramente consistente e rigorosa exige. Vamos todos para aqui e para ali, aos bandos de câmaras e repórteres, e deixemos de mão aquilo que é considerado pouco ou nada mediático (?) embora possa ser da maior importância e qualidade. Não há escândalo, não há crime, não há sexo, não há violência, então que chatisse! Já viram a chatisse que os noticiários seriam se não houvesse a Casa Pia, o Carlos Cruz e o Paulo Pedroso? E que seria de nós que assim não poderíamos armar em juízes e dar “doutas” sentenças à mesa do café?
A chatisse que seria se tivéssemos que falar da poluição, do ambiente, da falta de valores e referencias que, cada vez mais, se fazem sentir na nossa sociedade?! A sensaboria que seria se tivéssemos reflectir sobre as perpectivas do nosso desenvolvimento e da necessidade imperiosa de mais educação e formação para podermos enfrentar os desafios do alargamento da Europa aos países de leste ou então que tivéssemos que começar a pagar impostos para assegurar as receitas indispensáveis ao investimento público que falta por todo lado?!
E a desgraça que não seria se nos tirassem as horas e horas de intermináveis de debates sobre o futebol? Iríamos falar de quê? O que poderia substituir aquelas imagens que nos permitem chamar cego e burro, entre outros mimos, aos árbitros que não viu aquilo que todos nós vimos? É bem verdade que vida não pode ser só de coisas sérias ou “intelectuais” mas não pode também ser também apenas futebol, fado e circo.
Os nossos noticiários (sobretudos os públicos) deveriam ser, por excelência, momentos de informação, reflexão e formação. Oportunidades de trazer à colação temas e assuntos que apenas uma câmara de televisão e jornalistas competentes e com talento podem fazer. Sobretudo num país em que as assimetrias sociais e culturais ainda são tão vincadas.
É bem pena que se limitem a ser apenas os arautos da nossa desgraça e do nosso descontentamento
P E D R O D A M A S C E N O
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