sexta-feira, outubro 28, 2011

Danças com Lobos

Danças com Lobos



Oficialmente acabou a rebelião da Líbia, com Kadhafi morto e enterrado no deserto.

Muammar Kadhafi, um ditador sanguinário com jeitos de pop-star e com um ego do tamanho do mundo jaz e apodrece na areia do deserto que o viu nascer. Para trás ficaram as pilhagens, os actos terroristas e os sofrimentos sem fim que infligiu ao seu próprio povo.

Odiado, bajulado e temido passou de besta a bestial e, novamente, de bestial a besta. Um excelente exemplo da promiscuidade entre política, dinheiro e ética e, sobretudo, da hipocrisia do mundo dito civilizado.

As circunstâncias da morte do ditador/criminoso foram públicas e objecto de devassa planetária, numa demonstração sanguinária que em nada fica a dever ao agora executado. Mostrando bem que estamos a falar de farinha do mesmo saco.

Uma execução sumária até se perceberia sobretudo para não dar azo a mais julgamentos fantoches para massas verem. Mas tudo o resto, que o mundo pode ver, são sinais de que se pode ter passado de um lobo para uma matilha.

Democracia não é a ditadura de um grupo por muito grande que este seja. Democracia é uma cultura que se constrói ao longo de anos e que tem como base o respeito pelas minorias (sejam elas quais forem) e o integral respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

A maneira como ocorreu a morte do ditador e as exibições que se lhe seguiram não auguram nada de bom. O que aconteceu no momento da morte até poderia ser apenas obra de uns radicais destemperados e primitivos. Mas tudo o resto foi demasiado patético e primário para ser ignorado.

E é pena que uma personalidade com peso internacional não venha dizer tudo isso, alto e claro. Que venha alertar o povo líbio para necessidade de fazer reconciliação nacional que, também, passará por punir os criminosos do regime deposto.

Lá como cá a política não deve ser judicializada nem os crimes politizados. Política é política, seja boa ou má e compete aos cidadãos julgar. Crime é crime e compete aos tribunais decidir. Só assim se pode erguer um estado democrático que não afaste da política os cidadãos sérios e competentes e não branqueie os casos de polícia.

A parte mais difícil a nova Líbia começa agora.

Primeiro não substituindo uma oligarquia de criminosos por uma oligarquia de mullahs ou de corruptos. Segundo não deixando que os interesses internacionais no seu abundante petróleo se tornem nos novos donos do país e garantindo que os grandes recursos do ouro negro sejam uma oportunidade para a alfabetização, a democratização e a modernização do país.

Só assim terão valido a pena os milhares de vidas ceifadas para que o regime de Kadhafi tivesse chegado ao fim. Se assim não for tudo não terá passado de danças com lobos: entre que os que não queriam sair e os que queriam entrar.



P E D R O D A M A S C E N O

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