sexta-feira, janeiro 09, 2009

Crise à Portuguesa

Crise à Portuguesa


Não há hipótese: levamos com a crise de manha, à tarde e a noite. Não há noticiário que se preze nem canal que se tenha em boa conta que não nos inunda com mais desgraças: falências, burlas, despedimentos, processos de tribunal, etc., etc.

A crise institucionalizou-se e tornou-se, juntamente com Gaza e o tempo frio, o tema genérico das conversas. A tal ponto que já começa a ser tratada de forma brejeira e despiciente. E não começarão a faltar as anedotas.

Ao fim e ao cabo a crise é um tema recorrente na sociedade portuguesa. Esta é diferente apenas pela sua componente internacional. Mas de resto continuamos a produzir e a investir pouco e a viver acima das nossas possibilidades.

A especulação e a burla financeira em Portugal já têm dentes. De tal modo que chamaram D. Branca a Bernard L. Madoff, o suposto mago financeiro de Wall Street que, pelos vistos, não passava de um grande vigarista que – só a Portugal – fez perder 96 milhões de euros!

De resto um esquema de jogo financeiro baseado no conceito de pirâmide (pagamento de juros elevados aos investidores mais antigos feito com o dinheiro dos mais recentes) ainda há meses circulava em Portugal com grande sucesso. E já a crise estava ao dobrar da esquina…

Ou seja: crise existe mesmo mas a generalidade dos portugueses parece ainda achar que isso tem a ver com uma meia dúzia de ricaços ambiciosos e uns bancos sem escrúpulos e muito pouco com o comum dos mortais que continua a fazer a vidinha que sempre fez.

A vidinha de cada um por si e Deus por todos. Até ir votar é uma chatisse porque os políticos são todos parecidos e é melhor um dia de praia, uma tarde a ver telenovelas ou um dia de conversas de chacha no café. Como assim, o voto não vai mudar nada.

No Natal de 2008 foi levantado mais dinheiro, nas caixas Multibanco, do que ano de 2007! Para o grande público, possivelmente, ainda se estava/ou está em mais uma daquelas situações em que o pastor veio dar o sinal falso de alarme de lobo. Ou será apenas um faz de conta?

E nós somos mestres em fazer de conta.

A crise existe, é grave e não se deve apenas à especulação financeira, às falcatruas das grandes empresas, aos paraísos fiscais e à falta de regulação dos mercados. A crise deve-se, também, a um modelo de consumo e esbanjamento das nossas sociedades ocidentais, dos países dito desenvolvidos – num caldo de perspectivas de crescimento irrealistas.

E as soluções não estão, apenas, com os economistas e os políticos. As soluções passam, também, por todos nós que elegemos os políticos e que, por essa via, decidimos persistir num modelo de sociedade em que os valores supremos são o dinheiro e o bem-estar material num contexto do menor trabalho possível.

Esse modelo não era viável e implodiu.

Só uma solução de compromisso entre as nossas expectativas de conforto e os imperativos sociais – nacionais e internacionais – poderão tornar possível um modelo realista. Em que as diferenças entre as pessoas e entre as nações sejam atenuadas para níveis aceitáveis.

Arregaçar as mangas, prescindir do supérfluo e assumir uma cidadania responsável/interventiva serão ferramentas ao alcance de todos e que poderão fazer a diferença. Meter a cabeça na areia e esperar que a crise passe não prenuncia nada de bom.

Longe vai, felizmente, o tempo dos homens providenciais.




P E D R O D A M A S C E N O

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