sexta-feira, junho 16, 2006

O País de Camões ou uma anarquia galopante?

F A C E O C U L T A



Só temos passado à nossa disposição
Eduardo Lourenço



O País de Camões
ou
Uma anarquia galopante?


A passagem de mais um Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades é, sempre, uma boa oportunidade para uma reflexão. Tão necessitados que estamos de encontrar um caminho para o desenvolvimento e para a modernidade.

Um caminho lúcido, capaz de casar os imperativos sociais e económicos com o respeito pelo ambiente/natureza e pela manutenção de uma escala humana susceptível de assegurar qualidade de vida.

Qualidade de vida sem a qual não haverá desenvolvimento que valha a pena. Mesmo que “compensado” por um consumismo que, normalmente, só atrapalha ainda mais em vez de ajudar.

Não sendo os portugueses e correlativos governos menos capazes do que outras nacionalidades – bem mais sucedidas – será de crer que tudo tem a ver com atitudes e correspondentes desempenhos cívicos.

Continuando os portugueses a comportarem-se como se o estado não fossem eles próprios e os governos a tratarem os portugueses como fossem crianças mimadas a que quem é preciso fazer todas as vontades.

Resvalando-se, desse modo, para uma anarquia crescente em que o estado de direito se dilui em retóricas inconsequentes com os tribunais entupidos e a administração, quer central quer local, a não assegurar o cumprimento da lei.

A polícia não actua ou diz que não pode, ou não vale sequer a pena, actuar. Os alunos andam à batatada uns com os outros e com os professores sob a complacência destes e das estruturas directivas das escolas.


Os trabalhadores não produzem e os empresários não inovam. Os serviços de assistência social continuam a criar condições para a manutenção de um exército de parasitas sociais em vez de ajudarem quem precisa (sim) mas mediante contrapartidas de trabalho e reintegração.

Os partidos políticos continuam a caça ao voto em vez de assegurarem a concretização dos seus projectos políticos e os eleitores continuam a usar o voto como moeda de troca para obtenção de benesses em vez do exercício de uma cidadania consciente.

A religião continua ser um faz-de-conta-social em vez de uma ferramenta espiritual capaz de ajudar os putativos crentes a encontrar as forças necessárias para o combate contra o desespero, a descrença e a falta de auto estima.

Portugal – o País de Camões – não pode contar apenas com o passado. Tem que saber encontrar um caminho para o futuro que ponha termo à irresponsabilidade, à paralisia e à anarquia.

O estado são todos os portugueses e é tempo – como bem lembrou o Presidente da República parafraseando John Kennedy – que passem a pensar mais naquilo que podem fazer pelo país em vez daquilo que o país pode fazer por eles.

Ou, como dizia Ghandi, que passem primeiro a mudar em si aquilo que quereriam ver mudado no país. Sendo, por conseguinte, uma grande viagem aquela que os portugueses têm pela frente mas que terá, inevitavelmente, de começar com um primeiro pequeno passo.

Sob pena de caminharmos todos, a passos largos, para uma anarquia galopante.





P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, junho 02, 2006

A licença para o macaco

A licença para o macaco


Num dos velhos filmes da Pantera Cor de Rosa havia uma cena contracenada por Peter Sellers que retive até hoje, não só pelo lado cómico mas também pelo profundo significado que encerrava.

Quando passeava um pequeno macaco pelas ruas de Paris o Inspector Closeau (Peter Sellers) foi abordado por um polícia que lhe pediu a licença para o macaco. Irritado Closeau questionou a necessidade de ter uma licença para passear o macaco na rua.

Palavra puxa palavra e a discussão prolongou-se em tom acalorado. Enquanto isto, nas costas de ambos, um gupo de ladrões assaltava um banco e saqueava a seu belo prazer – sem que nenhum dos dois (ambos polícias) – se apercebesse do que se estava a passar...

Uma das razões porque retive esta cena de um filme com mais de 20 anos tinha e tem a ver com maneira caricata como a nossa burocracia, tantas vezes, valoriza os aspectos formais das leis e regulamentos pouco se preocupando com os objectivos que se pretendem atingir.

Embora sejam bem conhecidas as dificuldades na interpretação da lei – atestadas pelas divergêncais profundas que, tantas vezes, os próprios juristas exibem na interpretação de um texto – verificamos que a grande maioria dos agentes da nossa administração exibe, por norma, um grande fundamentalismo.

Não sendo a maioria deles licencidos em direito (e mesmo que o fossem) assumem interpretações literais ou mesmo profundamente subjectivas que não deixam grandes alternativas ao cidadão comum que não terá outro remédio senão recorrer a um advogado.

Portugal é, de si, um país cheio de leis e regulamentos a que se devem acrescentar as directivas de Bruxelas que são sobejamente conhecidas pelo seu frequente desajustamento em relação às variadas realidades nacionais.

E é assim que, “em nome da lei”, se criam entraves intermináveis ao cidadão e se desmobilizam pessoas empreendedoras e criativas que desistem dos seus investimentos face a exigências legais (?) incompreensíveis.

Sem que, em tempo útil, se consiga ultrapassar aquilo que, tantas vezes, não passa de uma interpretação subjectiva (para não dizer ignorante) da lei. Os recursos são, habitualmente, extremamente morosos e dispendiosos quando não são mesmo impossíveis.

Numa região periférica como os Açores em que tudo é mais díficil e complicado esta realidade transforma-se num verdadeiro freio ao desenvolvimento matando, à partida, o empreendorismo de que agora tanto se começa a falar.

O comum é verem-se pessoas muito mais preocupaas com a “licença para o macaco” do que com os verdeiros assaltos ao nosso desenvolvimento que por aí se verificam, todos os dias.

Não basta criar sistemas de incentivos – embora isso seja de capital importância - para o investimento. É, igualmente, necessário criar uma administração ágil e célere que não mate na secretaria aquilo que deveria o cerne do nosso futuro.

Sem empreendorismo e iniciativa privada não é possível fazer desenvolvimento económico. Mas não há iniciativa que resista a sistemáticas barreiras burocráticas e à falta de um sistema de recurso rápido, eficiente e barato.

Só resistirão os que já possuem um grande poder económico e uma boa capacidade de resposta jurídica. Os outros, incluindo os jovens, ficarão pelo caminho – desalentados senão mesmo falidos.

Que deixem de ser necessárias as licenças para os macacos.




P E D R O D A M A S C E N O

quarta-feira, maio 17, 2006

Boa Gente

Portugal é o país europeu com maiores desigualdades sociais
Dos jornais



B O A G E N T E


Os portugueses são, indiscutivelmente, boa gente.

São afáveis, simpáticos e afectuosos. São capazes das maiores peixeiradas e barbaridades verbais que, normalmente, não concretizam esperando, antes, por uma oportunidade para caírem nos braços uns dos outros.

Gostam de ter muitos amigos e usam a palavra com a maior facilidade: uma pessoa amiga, somos muito amigos etc. Mas esse aparente culto da amizade é, muitas vezes, assente numa grande inconsistência.

São de lágrima fácil e de emotividade subcutânea – uns adeptos incondicionais do porreirismo, termo possivelmente inventado por portugueses. São uns gajos porreiros num país porreiro.

Gostam de comer e beber bem e não há festa, comemoração ou mesmo evento político que valha a pena sem comes nem bebes.

E a culinária portuguesa traduz isso mesmo: pesada e de longa digestão, a convidar a uma boa sesta depois de umas conversas porreiras temperadas por um bom rebatente.

Para não falar no almoço – uma verdadeira instituição nacional. Desculpe mas o senhor está almoçar, saiu para almoçar ou saiu para almoçar e ainda não voltou. Uma instituição intocável que tem agora a variante tecnocrática dos almoços de trabalho.

Gostam de discutir, guerrear e libertar adrenalina mas não gostam do confronto frontal e directo. Na altura da verdade quedam-se, geralmente, por paninhos quentes que não ofendam e não venham pôr em causa o porreirismo.

Por isso mesmo, apesar dos mais de trinta anos de democracia, a má-língua e a coscuvilhice continuam a ser dos jogos sociais mais praticados. Acontecendo aos mais variados níveis e atingindo transversalmente a sociedade portuguesa: desde o camponês ao ministro.


O advento dos partidos, das eleições e do poder assente no voto, tornou este na verdadeira moeda de troca da sociedade portuguesa. O escudo desapareceu mas o voto continua e é realmente o que conta, desde a autarquia local ao governo.

Há muito tempo que os portugueses gerem o seu voto em função daquilo que lhe parecem ser os seus interesses mais imediatos ou as eventuais vantagens que dele possam tirar. Disponíveis para todas as manobras de assédio interesseiro, disciplina em que os políticos (com honrosa excepções) se tornaram exímios.

Todos os portugueses acham que é fundamental fazer grandes reformas, mudar as mentalidades e investir na educação. Mas desde que seja apenas para o vizinho.

Não há português que não ache que isto vai mal e, quase todos, têm uma fórmula mágica que usariam se estivessem no lugar de quem manda. Fórmula que, por ironia, os que mandam parecem não ter…

Se alguém incauto aterrasse em Portugal e não soubesse que o país está em crise pensaria exactamente o contrário. Até, possivelmente, iria pensar que o números de desempregados está errado tal a displicência com que os empregados tratam os seus postos de trabalho.

Os mesmos portugueses que quando emigram até se tornam excelentes e cumpridores trabalhadores. Como tivesse sido suficiente terem, apenas, mudado de contexto social e cultural e não poderem depender, sómente, do votito e do porreirismo para sobreviverem.

Boa gente, os portugueses.





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sexta-feira, maio 05, 2006

MALDITA COCAÍNA

A cocaína é uma droga estimulante e altamente viciante. O seu consumo leva a uma grande aceleração do envelhecimento e a profundos e irreversíveis danos cerebrais.


M A L D I T A C O C A Í N A


Nem o hediondo crime, ligado à droga como se provou em tribunal, que manchou, há bem pouco tempo, o nosso quotidiano pachorrento e corriqueiro conseguiu despertar – de forma visível – as nossas consciências.

Para além do folhetim do julgamento e do frémito causado pela sentença dura, parece não ter ficado mais nada. Continua a consumir-se na mesma, nas calmas. E mais jovens continuam a cair na rede de uma dependência dramática.

Como já tivemos ocasião de sublinhar, longe vão os tempos em que a droga no Pico não passava de uns charritos fumados à socapa. Há muito que já se consome, e bem, cocaína e heroína. Possivelmente as drogas que estiveram por trás de um crime que nem sequer poupou um adolescente.

Quem não conhece o Pico seria levado a pensar que tudo isto tem a ver com investigações complexas e difíceis. Mas quem conhece, sabe bem que não é assim. A rede de distribuição é quase pública como era pública a ligação do assassinado ao tráfego como ele próprio fazia questão de ostentar!

Pelo que fica a constatação aflitiva de que nada se faz porque quem pode e deve não faz. Como não se vê ninguém, com responsabilidades políticas públicas, a pegar o touro pelos cornos. Será por medo? Será por desleixo?

Os nossos jovens são, obviamente, um bem precioso que temos que saber educar mas também proteger. Os jovens do Pico estão, inteiramente, dependentes do factor sorte para não caírem no consumo de drogas pesadas.

A robustez cívica de uma sociedade mede-se, precisamente, pela forma como os cidadãos assumem protagonismo na sua vida colectiva e não se limitam a esperar pelo “estado-papá” para resolver todos os problemas.

A participação cívica, empenhada e consistente, é timbre das sociedades com democracias consolidadas e culturalmente avançadas constituindo um factor essencial para a criação de qualidade de vida.

Cada um de nós deveria assumir, com frontalidade e coerência, uma participação cívica que defendesse os valores da solidariedade e da responsabilidade em que acreditamos (ou devíamos acreditar?!) e que pressionasse os poderes constituídos para assumirem, por seu turno, as suas obrigações.

Temos que deixar de falar do que não interessa para passar a falar, cada vez mais, do que interessa. Temos que deixar o refúgio amorfo do sofá da televisão e da leitura dos jornais desportivos para passar a participar na gestão do nosso dia e dos nossos problemas.

É certo que existe (?) polícia de investigação criminal, tribunais e comissões de menores. Mas por aonde andam? E o que fazem? Ás tantas talvez fosse melhor haver menos entidades e mais trabalho que se visse.

O problema da droga, sobretudo das drogas duras, não está resolvido no Pico (e por analogia na maior parte da ilhas dos Açores?) porque ainda ninguém, verdadeiramente, se chegou á frente e assumiu uma questão que ameaça destruir os poucos jovens que, ainda, nos restam.

Maldita cocaína….



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sexta-feira, abril 21, 2006

Ahmadinejad, Hitler e um grande sarilho

Teerão formou 40.000 kamikazes para atacar alvos ocidentais”
Sunday Times


Ahmadinejad, Hitler e um grande sarilho


Claro que comparar Mahmoud Ahmadinejad, presidente da República Islâmica do Irão, com Adolfo Hitler é um exercício essencialmente didático. Os tempos e as culturas são outros e outras. Mas duas coisas, pelo menos, têm em comum: o pendor ditatorial e a imprevisibilidade de comportamento.

Mas, mais importante, do que detectar essas semelhanças é perceber que a atitude macia e tolerante que o III Reich mereceu da comunidade internacional é, mutatis mutandi, a mesma que o Irão está a receber agora. Até o presidente Bush sentiu a necessidade de explicar que os Estados Unidos não estão a considerar a opção militar!

O Irão de Ahmadinejad não tem nada a ver com os nossos conceitos de democracia e de liberdade. Desde logo porque é, assumidamente, um estado teocrático “inspirado” por Deus e depois porque vive do radicalismo que adopta em relação ao mundo “infiel”.

A base do poder na antiga Pérsia construiu-se numa feroz repressão interna, no radicalismo religioso e numa retórica de afrontamento em relação ao mundo não islâmico. Tire-se isso ao regime e pouco ou nada fica.

Os ayahtollas não podem, por conseguinte, dar-se ao luxo de mostrarem a menor tibieza perante o ocidente e terão que subir sempre a parada, não tendo condições internas para negociar no plano internacional. Isso seria perder um pilar indispensável à sua manutenção no poder.

Da mesma forma que o regime nazi vivia da ideia da supremacia ariana e do controlo do mundo. A manutenção de Hitler no poder dependia inteiramente, como se viu, do sucesso da sua política de expansão e de dominação do mundo não ariano. Do sucesso da sua política externa dependia a manutenção no poder.

Ahmadinejad não terá condições de se manter no poder se for obrigado a fazer concessões significativas a nível internacional. Toda a sua retórica se baseia em conceitos profundamente xenófobos e isolacionistas matizados pelo discurso religioso do Grande Islão.

Só assim se percebe a notícia de que o Irão esteja a preparar um verdadeiro exército de kamikazes destinados a perpetrar acções suicidas no ocidente. Tendo a notícia tido origem num alto responsável dos Guardas da Revolução organização de onde, também, provem Ahmadinejad está tudo dito.

A serem verdade tais declarações só podem ser entendidas num contexto de afrontamento destinado a desencorajar uma acção militar ocidental contra as instalações nucleares iranianas e, simultaneamente, a reforçar o apoio dos sectores mais retrógrados da sociedade iraniana.

O Irão não só não aceita submeter-se ao escrutínio da agência de controlo nuclear das Nações Unidas (porque não, se realmente não tem em mente a bomba atómica?) como embarca em atitudes provocadoras que atestam as suas intenções bélicas.

Estando a Europa ao alcance dos misseis iranianos e por conseguinte de uma eventual ogiva nuclear percebe-se bem que a questão ultrapassa as fronteiras do Médio Oriente para se ter tornado numa ameaça inegável para todos nós e que não pode ignorada em nome de uma qualquer paz podre.

Sendo uma ameaça para a Europa se-lo-á para todo o ocidente, convertendo-se no grande sarilho do século. Sarilho que se não for resolvido, diplomaticamente, a muito curto prazo deverá desencadear a reacção firme e até às últimas consequencias por parte da comunidade internacional que Adolf Hitler não conheceu até ter acontecido Pearl Habour. Só assim será possível evitar um quadro semelhante ao que conduziu, como todos se lembram, à segunda guerra mundial.


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sexta-feira, abril 07, 2006

Desabafos de um deus menor

“e Deus disse vou destruir da face da terra o homem que criei.....porque me arrependi de o ter feito” Genesis (cap. VI – 7)


Desabafos de um deus menor

Dado que Deus nos criou à sua imagem e semelhança (“vamos fazer o homem à nossa imagem e semelhança” Genesis cap I – 26) será razoável considerar-me um deus menor, sem cair em qualquer sacrilégio.

E, embora, não pretendendo arrogar-me a possuir quaisquer poderes sobrenaturais ou capacidades omniscientes, sempre será de esperar que consiga entender, minimamente o Criador.

Criador que nos deu o domínio discricionário sobre os outros seres vivos e a terra e que deixou que os seus filhos casassem com as nossas filhas ( Genesis cap. VI – 2). Uma relação muito próxima portanto.

Mas apesar de tudo isso – das semelhanças e dos poderes outorgados – Deus acabou por se irritar e destruir com um dilúvio a obra feita à sua imagem e semelhança e, quem sabe, os seus próprios descendentes.

Quer se aceite a Bíblia como uma descrição histórica fidedigna ou apenas como um livro de culto a ser seguido por fieis não deixa de ser interessante o tema recorrente da ira de Deus perante o comportamento dos homens.

Tendo nós sido feitos à sua imagem e semelhança seria de esperar que os nossos comportamentos tivessem alguma coisa de divino. Sobretudo sabendo-se, como se sabe hoje, a importância que a genética tem nos comportamentos.

Independentemente de professarmos ou não uma fé religiosa é evidente que conduzimos a nossa vida como bem entendemos e as interferências que sofremos provêm, essencialmente, de outros seres humanos e de circunstâncias aliatórias.

E mesmo que se considere a história do castigo divino na forma de dilúvio do Velho Testamento como uma mera alegoria não deixam de ser preocupantes os sinais de violência e miséria que se vivem no mundo e o total desrespeito com que lidamos com a Terra.

Mas ainda mais preocupante é o aumento exponencial dos sinais de extremismo e intolerância religiosos sempre feitos em nome de um Deus que todos – cada um à sua maneira – julga saber interpretar. Para defender as maiores violências e injustiças.

Apesar de não passar de deus menor e só poder falar em nome próprio não posso deixar de sentir alguma ira e revolta por toda esta utilização, abusiva e infundamentada, da hipotética vontade de Deus. E por todo este desrespeito pelos outros e pela nossa casa comum.

A palavra de Deus é uma coisa muito séria e não será por acaso que a sua invocação – em vão – é um pecado mortal na Igreja Católica, a pronúncia do nome Geová é totalmente proibida na Religião Judaica e na Religião Muçulmana não é permitido representar por imagem o profeta Maomé.

Se a minha palavra - ainda que de um deus menor - fosse minimamente ouvida gostaria de exortar as religiões (todas elas) a regressarem aos seus fundamentos e ao papel que lhes cabe no preenchimento da nossa dimensão espiritual.

As religiões deveriam servir – precisamente – para estabelecer padrões de comportamento positivo, quer individual quer colectivo, que visassem unir as pessoas e promover a justiça e o equilíbrio num profundo respeito pela natureza que é a nossa matriz de vida.

Se não for para isso não passam de uma treta, tantas vezes, ao serviço de fins inconfessáveis e uma “ajuda inestimável” para uma nova fúria de Deus.


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sexta-feira, março 24, 2006

As Manifestações de Paris

As manifestações de Paris


A situação de agitação social que se vive, presentemente, em Paris – bem no centro da Europa – é mais um sinal dos tempos difíceis que aí vêm ou, melhor, que aí estão.

E, também, mais um bom exemplo de uma situação que escapa aos chavões políticos clássicos de direita/esquerda, representando – antes – o mal estar profundo que atinge o estado providência.

Estamos a falar da França que foi o Eldorado dos emigrantes portugueses das decadas de 60, 70 e mesmo 80. O país que acolhia, de braços abertos, a mão de obra estrangeira.

O mesmo país que, hoje, se vê a braços com uma constestação que visa assegurar uma estabilidade de emprego aos jovens que, obviamente, o estado não está em condições de garantir.

E nenhum governo, seja de direita ou esquerda, gosta de ser contestado de forma tão extensa e continuada. Isso irá custar-lhe e/ou aos seus dirigentes, inevitavelmente, votos a muito curto prazo.

Pelo que, um pouco à semelhança do que também se passa por cá, se perceba que o governo francês se tenha visto, antes, forçado a assumir o ónus de uma medida que se tornou, provavelmente, indispensável.

As nossas sociedades de abundância e estabilidade habituaram-se a esquecer, sistematicamente, a miséria e a pobreza profundas que atingem continentes inteiros e milhões de pessoas.

Desvalorizando sempre a ideia popular de que não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe. Pensando que essas situações de profunda desigualdade estavam lá bem longe, incapazes de beliscar o nosso bem estar.

Mas, quase à velocidade da luz, tudo isso tem vindo e mudar e a a vulnerabilidade da Europa é, hoje, um facto evidente. Seja ao terrorimo, à emigração clandestina maciça ou à concorrência comercial violenta dos paíes asiáticos e do continente indiano.


O próprio gigante americano está de cócoras perante um situação que criou no Iraque e, agora, não é capaz de resolver adequadamente e uma ameaça bem real de um Irão que não hesitará em esticar a corda ao limite.

A presente crise económica que se vive em França e na Europa está ligada a questões que ultrapassam, em absoluto, os problemas laborais que parecem ser a base das manifestações de Paris.

Mas são, realmente, muito mais a ponta de um grande icebergue à escala mundial que tem vindo a ameaçar o modelo de estabilidade laboral e crescimento económico que nos habituamos a ter.

Hoje deixou de ser possível pensar, apenas, a uma escala nacional e, muito menos, a uma escala individual. Hoje, um espirro na China provoca, de imediato, uma gripe no resto do mundo.

E é a essa luz que os acontecimentos de Paris devem ser vistos. O estado francês, tal como o português ou o alemão, deixou de poder assegurar uma estabilidade de emprego plena.

Os nossos jovens, que tanto mimámos e estragamos, têm que começar a perceber a nova ordem mundial que aí vem e que não se compadece com guetos de bem estar num mundo profundamente desiquilibrado.

É indispensavel que se se esqueçam, apenas, do próprio umbigo e arregacem as mangas para vencer o desafio de encontrar um lugar ao sol numa grande casa em que há, cada vez, menos pão.




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sexta-feira, março 10, 2006

Casar ou não casar - eis a questão?





Casar ou não casar
Eis a questão?


O casamento de homossexuais é um tema recorrente na agenda de algumas forças políticas e, naturalmente, dos movimentos gay tendo subsidiarimente associada a questão da adopção de crianças por casais (pares?) do mesmo sexo.

Sendo que a união/relacionamento de duas pessoas adultas do mesmo sexo é uma questão estritamente do foro pessoal correspondendo a orientações sexuais que apenas aos próprios dizem respeito.

E que a sociedade portuguesa, mesmo a mais rural, já aceita com grande naturalidade. Pesem, embora, atitudes discricionárias que ainda existem mas que são claramente residuais e não representam um sentir generalizado.

Ser homossexual em Portugal, hoje em dia, deixou de ser – e ainda bem – um opróbio e um exercício clandestino.

Sendo um preceito constitucional a não descriminação com base em matérias de orientação sexual há que encontrar um fórmula jurídica que conceda aos homossexuais que decidam comungar uma vida em comum, todos os direitos e garantias outorgados aos casamentos heterosexuais ou propriamente ditos.

O casamento, “união legítima entre homem e mulher” segundo Cândido Figueiredo, é uma figura jurídica criada para consagrar uma união entre dois indivíduos de sexos diferentes. Surgindo assim as figuras da mulher e do marido.

Não fazendo, por conseguinte sentido, que se passe a poder vir falar de marido e marida ou de mulher e mulhero! O regime jurídico de união de homossexuais, que corresponde a uma realidade social nova, terá que ser específica para essa mesma realidade.

Não devendo ser jamais um mero arremedo do casamento heterossexual para fins de reconhecimento e/ou aceitação social. E deveriam ser os próprios homossexuais os primeiros a rejeitarem um nome que corresponde a outra realidade que eles recusaram.

Sem prejuízo, como já se disse, de lhe serem assegurados todos os direitos, liberdades e garantias. Mas quem escolheu uma orientação sexual diferente deverá a assumir essa diferença em toda a sua plenitude nomeadamente a de não poderem gerar novas vidas.

A procriação é uma vocação e uma capacidade própria e específica das uniões heterossexuais, sejam elas legítimas ou ilegítimas. A incapacidade de procriar é uma consequência incontornável das uniões homossexuais. Devendo as pessoas envolvidas terem disso perfeita consciência e assumirem as respectivas responsabilidades e consequências.

Casamento é casamento e união gay é união gay. Sem que qualquer delas possa ser considerada mais legítima ou importante. São simplesmente diferentes.

E assim sendo não faz qualquer sentido que pessoas do mesmo sexo pretendam ser progenitores de seres que, em nenhuma circunstância, poderiam ter gerado. Sobretudo envolvendo crianças que para tal não foram ouvidas nem achadas.

Salvo melhor opinião para o desenvolvimento óptimo de uma criança são fundamentais as figuras da mãe e do pai. Não, naturalmente, de um pai-pai e de um pai-mãe ou de uma mãe-mãe e de uma mãe-pai.

Entende-se bem, nos planos genético e afectivo, que os homossexuais mantenham instintos maternais e paternais mas a sua satisfação não poderá passar pela imitação de uma matriz sexual que não existe.

A satisfação desses instintos e desses afectos deverá e poderá ser satisfeita a um nível de participação em voluntariado de apoio a tantas crianças carenciadas sem, contudo, criar situações cujas repercussões futuras são difíceis de imaginar.

É tempo que os homossexuais deixem as imitações e assumam as suas diferenças através da assunção de modelos de vida, originais e próprios. Que viva a diferença!



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sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Quem nos acode?

Quem nos acode?



Quem não se lembra das polémicas que ocorreram em torno da decisão, exclusivamente política, de construir na Horta um hospital com pretensões a servir as populações do Faial, Pico, Flores e Corvo?

Decisão tomada ao arrepio de todos os estudos que sobre a matéria tinham sido feitos. A começar no tempo do último plano de fomento do antigo regime e a acabar no chamado plano dos suecos.

Todos eles apontavam para a existência de dois polos hospitalares diferenciados – Ponta Delgada e Angra – e para um hospital de 1º linha nas restantes ilhas. Nos dois primeiros centrar-se-iam os meios mais sofisticados e nos segundos as valências indispensáveis a cada ilha.

O que fazia então (e ainda hoje faz) todo o sentido tendo em conta a população de S. Miguel e da Terceira em relação a todas as outras.

Nas duas ilhas mais populosas (com uma diferença enorme de qualquer das outras) era indispensável a construção de hospitais de nível regional que para além de assistirem às respectivas populações dessem apoio diferenciado à outras.

Contudo a política de capelinhas e os compromissos partidários falaram mais alto e ditaram a construção de um hospital “diferenciado” na Horta que em breve se transformaria na maior entidade empregadora da Ilha do Faial.

E, assim, as restantes ilhas do ex-distrito da Horta ficaram condenadas a não ter um hospital de ilha já que passaram a ter que fazer parte da área de influência de um hospital cuja construção nunca fez sentido – ao menos em termos de planeamento racional.

E o que era inevitável aconteceu. Os quadros administrativos e auxiliares preencheram-se num ápice enquanto que os quadros de especialistas e respectivos serviços nunca chegaram a atingir o nível indispensável e dar respostas adequadas.

Mas era fundamental justificar tão grosseiro erro de planeamento e mascarar as suas consequências económicas: um verdadeiro sorvedouro de dinheiro. Para tanto foram criadas as famigeradas juntas médicas de deslocação de doentes sediadas no Hospital da Horta.

Fazendo tábua rasa da organização administrativa da Região e das perrogativas e competências profissionais dos médicos das restantes ilhas essas juntas passaram a tutelar e controlar a saída dos doentes do Pico, Flores e Corvo houvesse ou não resposta adequada na Horta.

Situação que, incrivelmente, se mantêm até hoje com episódios frequentes de decisões atentórias de direitos elementares dos utentes e dos respectivos médicos de família. Para não falar de algumas listas de espera absurdas.

Como é o caso das tomografias axiais computorizadas (TAC) que atingem anos. Sendo um episódio recente o mote desta crónica. Um doente do Pico portador de uma requisição urgente de um especialista que o observou foi confrontado com uma lista de espera de 2 (dois) anos no Hospital da Horta!...

O que sendo ridículo aos olhos de qualquer leigo sensato não deixa de ser inteiramente ilustrativo da situação caricata a que se chegou e que dispensa qualquer outro comentário.

Quem nos acode?



P E D R O D A M A S C E N O

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

O polvo fundamentalista

Os responsáveis (pelas caricaturas) devem ser decapitados!
Cartaz de jovens muçulmanos na manifestação de Londres




O polvo fundamentalista


Há males que vêm por bem.

A onda de violência, histérica e gratuita, desencadeada pelo fundamentalismo islâmico sob o pretexto de umas caricaturas do profeta Maomé publicadas num jornal dinamarquês, é um desses males.

E vem por bem porque, possívelmente, virá a abrir os olhos a muita gente que ainda não percebeu a gravidade do islamismo fundamentalista e o seu carácter de polvo multitentacular.

A Europa, ciosa dos seus pergaminhos democráticos e culturais bem como da sua tradição de tolerância civilizacional e religiosa, poderá ver ruir – num ápice – um edifício que parecia à prova de bala.

E, ironicamente, a onda de intolerância e radicalismo religioso erigiu como seus principais inimigos os países nórdicos. Conhecidos pelo seu curriculo especialmente brilhante em matéria de tolerância e de defesa das causas étnicas e do multiculturalismo.

Não questionando o bom ou mau gosto das caricaturas de Maomé e muito menos o respeito que lhe é devido há, contudo, um princípio que fundamenta toda a cultura de liberdade do ocidente: o direito de expressão. E sobre esse direito não pode haver qualquer tergiversação esteja em causa Cristo, Maomé, Moisés ou, mesmo, Deus.

Os limites da liberdade, num estado de direito, só podem ser os da lei desse mesmo estado. Lei que foi, obviamente, democraticamente discutida e votada. Tudo o resto só pode existir na cabeça de fanáticos radicais, desprovidos de qualquer respeito pela liberdade e pela tolerância.

Fanáticos que foram os primeiros a descredibilizar e desrespeitar o Corão e a religião muçulmana que se vê, assim, usada para fins completamente alheios à sua vocação e com meios que nada têm a ver com os pregados pelo profeta Maomé.

Sendo, também, profundamente irónico que tenham sido, precisamente os tais fanáticos “guardiões” da honra de Maomé a dar o mote para a caricatura que mostra o profeta com uma bomba no turbante! Então não foram eles que fizeram ou mandaram fazer os ataques em Nova Iorque, Madrid e Londres para além das chacinas diárias no Iraque?

Não são eles que, agora, destroiem embaixadas e desencadeiam ondas de violência completamente desproporcionadas comandadas por imãs que vociferam em nome de Alá e de Maomé. Não foram eles que, há anos, tiveram a audácia de condenar à distância e à morte o escritor Salmon Rushie e assassinaram, recentemente, em plena via pública um cineasta holandês?

Esses mesmos que, nos respectivos países, mantêm regimes fortemente ditatoriais e que colocam as mulheres num plano secundário de intolerável discriminação sempre em nome de um deus ou de um profeta que não se podem defender.

Sendo bem triste e lamentável – para quem ama a liberdade e a tolerância – o que se passa nesses países só faltava, agora, que viessem tentar impôr nos nossos países as mesmas práticas totalitárias de intolerância e discriminação.

Objectivo que é o deles e que a Europa – que já está a lidar com uma escalada muito grave de violência e fanatismo – terá de combater pondo, muito rapidamente, os pés à parede.

Tendo, para isso, de se deixar de chavões politicamente correctos e políticas “soft”e não repetir os mesmos erros que cometeu com o advento do nazismo, desvalorizando o que é mesmo muito sério e uma ameaça real para a nossa civilização ocidental e, o mesmo é dizer, para a liberdade.

Não assobiando para o lado, como tantas vezes tem feito.

Em Roma sê romano. Quem não gosta de nós e do que nós representamos não tem que nos sofrer mas o inverso é rigorosamente verdade. Que cada um viva aonde se sinta bem e goste de viver mas que o faça em pleno respeito pela casa que escolheu.

Qualquer tipo de capitulação em matérias que são o cerne da nossa civilização levará, inevitavelmente, a conflitos generalizados (que no limite poderão chegar aos nucleares) e à desagregação da nossa matriz política, social e cultural.

Há que agir e depressa.

P E D R O D A M A S C E N O

domingo, janeiro 29, 2006

A cegueira da lei

Quanto mais leis mais ladrões
Provérbio chinês




A cegueira da lei
ou
A lei dos galheteiros


É sabido que a proliferação de leis, a propósito de tudo e de nada, normalmente esconde males bem mais profundos.

Como é o caso do nosso país que, para além dos males próprios, ainda tem que sofrer as diarreias legislativas e normativas de Bruxelas. Um país em que cada repartição, serviço ou mesmo empresa tem as suas “leises”.

Da mesma forma que de médico e de louco temos um pouco, todos temos, também, talentos jurídicos natos que nos permitem discernir – ex-cátedra – a lei que se aplica ao nosso bairro ou à nossa repartição.

E de nada vale contestar esses talentos/interpretações porque surgirá, sempre, o inevitável aqui é assim. E como reclamar é, por norma, uma prática condenada ao insucesso e os tribunais um passe para a eternidade, fica tudo mesmo assim.

Os poucos cidadãos que persistem em manter uma prática de cidadania activa acabam, aos poucos e poucos, por desistir porque não valem a pena tantos dispêndios energéticos incomportáveis.

Cada burocrata é totalmente cioso da sua vírgula ou ponto parágrafo sem se preocupar, em regra, com o que pretendia o legislador. E (resquícios da burocracia da antiga senhora?), desse modo, defende a sua dama contra toda a lógica e evidência – se tal for necessário.

Isto a jusante da lei porque a montante as coisas, frequentemente, não são nada melhor como é caso de uma portaria acabada de publicar e que acaba com o uso dos galheteiros nos restaurantes!


Com efeito a partir de agora o azeite – esse produto tipicamente mediterrânico e de tão grande prestígio – deixou de poder ser servido nos tradicionais galheteiros de muito velha memória!

Embora todos os outros temperos, nomeadamente o vinagre, possam continuar a ser servidos como dantes, o azeite passou a ter que ser servido em embalagens invioláveis e rotuladas, que podem ter qualquer feitio ou dimensão.

Mantendo-se, contudo, a possibilidade de o azeite utilizado para confecção na cozinha poder continuar a ser adquirido, sem outros pormenores, até à quantidade máxima de 25 litros por embalagem!...

Ou seja, aí aonde se faz o mais importante de um restaurante que é confecção dos alimentos, pelos vistos, já não importa o tipo de embalagem do azeite. Como se fosse mais fácil aldrabar à mesa do que no recato da cozinha!....

Sendo o azeite uma substância dificilmente miscível com o que quer que seja, de gosto bem distinto e que hoje em dia pouco se usa à mesa não se percebe aonde se fundamenta a putativa preocupação com o consumidor.

Porque, obviamente, é muito mais fácil fazer mistelas na cozinha, aonde tudo continua com dantes.

Esquecendo, ainda por cima, o problema do aumento da poluição ambiental, através da colocação no mercado de milhões de novas garrafas usadas, com resíduos de azeite, altamente poluidoras.

Ou ignorando todas as negociatas que serão possíveis com a publicidade às marcas de azeite já que levar a “marca à mesa” será uma boa forma de incentivar todos os esquemas possíveis por baixo da mesa.

O que faz lembrar um episódio de um filme da pantera cor-de-rosa em que um polícia se preocupava com a licença de um macaco para andar na rua enquanto que nas suas costas um banco era assaltado em pleno dia.

Afinal quem lucrará? O consumidor ou os fabricantes de embalagens, as marcas de azeite e os restaurantes?


P E D R O D A M A S C E N O

domingo, janeiro 15, 2006

Ecologia e Agricultura


Globalização é uma mutação de colonialismo




Ecologia e Agricultura
(Ironias da vida moderna)


A criação do movimento europeu Green Care (Cuidados Verdes) e o seu alastramento a países como a Alemanha, Áustria, Holanda, Itália e Bélgica tem vindo a confirmar o regresso europeu à agricultura com face humana.

Nas explorações agrícolas ligadas a este movimento fomenta-se a saúde física e mental das pessoas através dão seu envolvimento no trabalho na terra, deixando para trás uma agricultura industrializada, altamente poluente.

Pretende-se, desse modo, promover o retorno à agricultura de pequenas dimensões e carácter familiar e à distribuição e consumo locais de alimentos, também produzidos localmente, envolvendo um número crescente de pessoas na agricultura.

O que implicará, a curto prazo, reformas profundas da política agrícola comum europeia. Contrariando a tendência actual de produção e transporte massificado de alimentos à volta da mundo, liquidando as pequenas explorações agrícolas dos países menos desenvolvidos.

Baseado no paradigma de que a chave do desenvolvimento e do progresso é o crescimento económico contínuo a todo custo tem-se vindo a apostar na globalização como a forma mais eficiente de o fazer.

Nem que isso implique uma utilização brutal dos combustíveis de origem fóssil nas práticas agrícolas industriais e no transporte – à escala mundial – dos bens que representa hoje cerca de 60% de todos os meios de transporte. Ficando o turismo e o lazer nos 40%.

Realidade que gera um contributo extremamente relevante e negativo para o aquecimento global do planeta e as graves alterações climatéricas que já são evidentes para toda gente.

O que tem vindo a criar uma contradição insolúvel: por um lado industrializa-se a agricultura e promove-se a globalização da distribuição dos bens alimentares e por outro agride-se de forma dramática o ambiente.

Sendo também certo que a nova cultura médica e de saúde aponta para a necessidade crescente das pessoas fazerem exercício físico e usufruírem de um contacto estreito com a natureza, consumindo alimentos o mais naturais possível.

Sendo, progressivamente, evidente que a vida atrás de um computador e em volta de papeis em escritórios com luz artificial e com níveis elevados de sedentarismo em nada contribui para a sua qualidade.

Ou que a vida no campo e na agricultura e o contacto com a natureza são formas de vida menores e que o vento, a chuva e o frio são coisas a evitar como a peste! Sendo mais importante ser “doutor” não importa de quê.

Situação que se verifica, também e infelizmente, no nosso meio em que a vida na terra é entendida como uma forma de actividade a evitar e um trabalho na função pública ou um canudito como os novos Eldorados.

É, certamente, importante que as pessoas adquiram mais conhecimentos e se promovam social e culturalmente mas é bem mais importante que promovam a sua qualidade de vida que passa por uma ligação profunda à natureza e à terra.

O que torna triste o rumo que as nossa sociedades rurais estão a tomar assumindo todos os tiques e defeitos das sociedade urbanas industrializadas e virando as costas ao que verdadeiramente é mais importante.

Ironias da vida moderna.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, dezembro 30, 2005

A guerra dos crucifixos

A guerra dos crucifixos


Durante dias vários articulistas de diferentes jornais dissertaram sobre o episódio da proibição da presença de um crucifixo numa escola portuguesa!

E quase todos concordaram que se tratou de um excesso de zelo e de uma interpretação, extremamente restritiva, da lei. Para além de que a cruz – sendo um símbolo religioso – não deixa, por esse facto, de ter uma enorme carga histórica para Portugal.

E o estado, por muito laico que seja, não deve, por via desse estatuto, ignorar que a maioria dos portugueses ainda se identificam como católicos – pese embora o carácter meramente tradicional e quase nada profundo da sua crença.

Facto que não devendo, em nada, condicionar o estado e o estatuto de igualdade de todos os cidadãos perante a lei, não deve – por outro lado – ser ignorado como se uma vergonha se tratasse.

E qualquer político, também por muito laico que seja (e deve sê-lo no exercício das suas funções), deverá saber respeitar, na íntegra, os seus constituintes e suas convicções, sejam elas profundas ou não.

E não será, certamente, a presença, de um crucifixo na parede de uma escola que virá atestar ou não a imparcialidade do estado ou o seu respeito da lei. Sobretudo se tal presença não representar mais do que um testemunho avulso de uma tradição religiosa.

Não será por aí que virá qualquer mal ao mundo.

De onde poderá vir muito mal ao mundo são os fenómenos de crescente radicalização religiosa, sejam eles provenientes do mullahs islâmicos do Irão, das comunidades protestantes super conservadoras dos Estados Unidos ou dos judeus ortodoxos dos guetos de Israel.

Tudo farinha do mesmo saco.

Gente que confunde tudo e que, numa auto proclamada representação de Deus, diz – em contravenção com os mais elementares conhecimentos científicos e práticas civilizadas – os maiores disparates e comete as mais sanguinárias atrocidades.

E não estando, propriamente, debaixo das nossas camas não andam lá muito longe. Sobretudo neste mundo globalizado em que as pessoas se deslocam por todo lado com a maior facilidade (Madrid, Londres, Nova Iorque).

Sendo essas práticas ditas religiosas – e não propriamente as religiões que dizem confessar – o verdadeiro inimigo dos estados laicos e da igualdade dos cidadãos perante a lei.

Não um simples crucifixo pendurado na parede de uma escola portuguesa que, provavelmente, não terá mais significado do que a maior parte das cruzes de ouro que vemos, todos os dias, pendurados nos mais inverosímeis pescoços!

O combate tem mesmo é que ser dirigido contra todo o tipo de extremismo religioso. Uma combate sem quartel que passa, principalmente, por uma luta empenhada contra todas as exclusões e desigualdades que são, ao fim e ao cabo, o seu nutriente principal.

Porque numa sociedade (verdadeiramente) livre, fraterna e igualitária não há lugar nem pretextos para extremismos.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Envelhecer para quê?

Envelhecer para quê?

Neste princípio de século a obsessão com a longevidade tornou-se num verdadeiro paradigma, um objectivo supremo. E a morte uma inimiga que se deve fintar a qualquer custo.

Curiosamente essa mesma morte que nasce connosco e que apenas nos larga quando cumpre a sua missão!

E é, justamente, nesta sociedade em que se estimula o culto da longevidade, da vaidade física e do terror da morte que se desvalorizam os idosos.

Á medida que aumenta a esperança de vida ao nascer aumenta, obviamente, o número de idosos. Idosos que, em número crescente, não conseguem usufruir a velhice em ambiente familiar e com real qualidade de vida.

Tendo que demandar lares que jamais lhe poderão proporcionar a atenção e o afecto de que necessitam. Instituições que, no entanto, preenchem lacunas gritantes e que fazem, em grande parte dos casos, um trabalho inestimável.

Uma sociedade que valoriza, cada vez mais, a longevidade e, cada vez menos, os idosos. Uma contradição flagrante e que torna os grandes investimentos feitos na saúde, sobretudo, na área da geriatria contraproducentes!

O estado de arte a que muitos cuidados médicos chegaram e que permitem prolongar vidas - de forma impensável há poucos anos - não consegue, afinal, assegurar aquilo que verdadeiramente interessa: a qualidade de vida.

E aqueles que, pela sua experiência e sabedoria acumuladas, deveriam ser a nata da nossa sociedade tornam-se, em termos práticos, empecilhos. Não só pelos vultuosos montantes de pensões que determinam mas pela chatice que representam.

Uma sociedade que valoriza a competição desenfreada e a eterna beleza (cirurgias plásticas, depilações, liposucções, etc) de capa de revista torna a velhice, em que investe tanto dinheiro, numa “inutilidade” consentida.

Sendo certo que um pôr-do-sol pode ser tão belo como o seu nascer, dificilmente se compreende porque se persegue a eterna juventude e se procura ocultar a idade. Será porque a velhice faz lembrar, mais, a morte?

A idade é um sinal de experiência, de milhas passadas. Que implica, inevitavelmente, menor vigor físico mas que proporciona, em contrapartida, um insubstituível acumular de saber. Um capital humano que civilizações milenares souberam aproveitar.

Mas no tempo do fast-food e do fast-tudo não há tempo nem paciência para “aturar” velhos que deveriam, como tudo, ser descartáveis. “Velhos” em que se investiram vultuosos recursos para afinal serem empurrados para o canto.

Sem desvalorizar as acções de animação e de ocupação dos tempos livres dos idosos que se tem vindo a por em prática, não deixam de ser actividades que ocorrem, essencialmente, à margem da sociedade dita activa.

A verdadeira qualidade de vida dos idosos só poderá ser atingida quando foram considerados parte integrante e activa da sociedade, em contacto permanente com todos os grupos etários nomeadamente com crianças e jovens.

Crianças e jovens para cuja educação deveriam contribuir de forma decisiva e não serem apenas os “cotas” que se toleram. Educação que não é sinónimo de instrução e terá sempre que caber, em primeiro lugar, às famílias e, dentro destas, obviamente, a quem mais experiência e saber detêm.

Mal vai uma civilização que não “tira” o máximo proveito dos seus idosos e não os considera uma referência central e um recurso inestimável. Dando-lhes um merecido papel activo que os mantenha vivos, muito para além do bater do coração e do tomar o folgo.

Doutro modo, envelhecer para quê?


PE DRO DAMASCENO

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Exibicionismos





E X I B I C I O N I S M O S


Os recentes episódios mediáticos que rodearam o caso da troca de beijos entre duas adolescentes homosexuais numa escola de Vila Nova de Gaia, bem podem servir de mote para algumas situações que se vivem nas escolas.

É diário encontrar nas nossas escolas secundárias cenas de beijos de língua prolongados e acompanhados de “esfreganços” despudorados, a qualquer hora e qualquer lugar incluindo halls de entrada, corredores etc.

Perante a complacência de contínuos, professores e conselhos directivos que, pelos vistos, não se querem arriscar a ter chatisses. E chatisses é o que ninguém quer neste país, assumidamente, na cauda da Europa.

E, assim, se passou - em pouco de 20 anos - de um extremo ao outro. De um opressivo obscurantismo sexual e de costumes para uma promiscuidade chocante. Sem que pelo meio tivesse havido qualquer tentativa consistente e sustentável de formação e esclarecimento.

E a escola tem vindo, progressivamente, a servir de palco a exibicionismos e comportamentos desviantes. Porque não lembra, nem ao diabo, que escolas que têm alunos a partir dos 10 anos não se preocupem em assegurar comportamentos adequados a um local de ensino.

Não estando em causa, nem por um segundo, o direito dos jovens a uma sexualidade livre e saudável (base indispensável para uma vida equilibrada) não se pode aceitar que – nem ao nível da escola – esse jovens sejam devidamente orientados para comportamentos cívicos e sociais aceitáveis e adequados.

Tudo sem o seu lugar e o seu tempo.

Faz tanto sentido que jovens se beijem e se acariciem despudoradamente na escola como os funcionários da câmara municipal façam o mesmo, publicamente, nas horas de serviço. Ou, como escrevia um cronista, dois militares o façam na parada do quartel!

Há coisas na vida que têm, apenas, a ver com bom senso e equilíbrio. Se há trinta anos, no calor da revolução, ainda se poderiam compreender certos excessos não faz, hoje, nexo que se tolerem situações que não fazem qualquer sentido num quadro democrático e de liberdade.

O sexo é, indiscutivelmente, uma área central da nossa vida íntima. Uma área em que cada um tem que procurar o seu caminho e inclinação – em total liberdade e responsabilidade. Mas, também por isso mesmo, uma área que não se pode impôr a ninguém.

Os pais que mandam os seus filhos de tenra idade para uma escola deveriam ter a garantia de que, ao menos dentro da escola, eles não fossem confrontados com práticas exibicionistas que, inevitavelmente, lhe criarão modelos e referências mais do que discutíveis.

E já agora votos de que a educação sexual passe a fazer, de facto, parte dos curriculos escolares. E de que a pedagogia e o saber substituam o filme pornográfico, único material “didáctico” de que os jovens, verdadeiramente, dispõem.


P E D R O D A M A S C E N O


sexta-feira, novembro 18, 2005

Verdades que têm de ser ditas

A luta contra o terrorismo islâmico tem que ser obra conjunta de mulçumanos,
cristãos, judeus e budistas
Rei Abdullah II da Jordânia




Verdades que têm de ser ditas


Numa altura em que o terrorismo islãmico ataca, sem dó nem piedade, os seus próprios “irmãos” como acontece, diariamente, no Iraque e aconteceu, mais recentemente, na Jordânia – perante o silêncio produndamente pesado da generalidade dos países árabes – é de sublinhar a coragem cívica e política do Rei da Jordânia.

Porque ele vem dizer aquilo que é fundamental dizer: que os grupos terroristas ditos islâmicos nada têm a ver com o Corão. Como a inquisição nada tinha a ver com a Biblia, digo eu.

É urgente demascarar grupos que se arrogam em intérpretes priveligiados dos profetas ou mesmo de Deus para, em seu nome, praticarem os crimes mais hediondos e darem largas aos seus delírios fanáticos.

Grupos que conseguem arrebanhar verdadeiros exércitos de seguidores entre todo o tipo de excluídos, presas fáceis de quem promete o paraíso a troco de um suicídio. Gente que não tendo uma vida digna nem perspectivas futuras se vê, desse modo, promovida a heróis.

Na sua grande parte sendo pobres zé ninguéns que conhecem uma fama éfemera pelas piores razões. Mas devidamente controlados por outros – os autores morais – que sabem muito bem o que fazem e porque o fazem. Fanáticos religiosos que utilizam a suposta palavra divina para alcançarem o poder.

Líderes dos movimentos fundamentalistas que procuram, essencialmente, o poder – um poder bem terreno e ditactorial. Como aconteceu no Irão – com resultados bem conhecidos – e que, agora, procuram estender a todo lado. Incluindo o Iraque, tornado presa fácil pela imprevidência dos americanos.

E que tem gerado na comunidade internacional uma crescente fobia a tudo a que cheire a muçulmano. Criando condições para que os nossos extremistas, por seu turno, consigam criar vagas de xenofobismo que metem tudo no mesmo saco.

Daí a importância de ser um muçulmano, com as responsabilidades que o Rei Abdullah tem, a denunciar – preto no branco – o terrorismo islãmico como uma farsa em relação àquilo que realmente é ou deveria ser a religião muculmana.

Porque só assim será possível unir esforços entre todas as religiões e todos homens de boa vontade e dar luta sem quartel à grave ameaça que o mundo (seja ele ocidental ou muçulmano) enfrenta.

O ocidente tem que aprender a distinguir entre quem faz da religião muçulmana uma prática tolerante e positiva de quem a “pratica” como branqueamento de intolerância, violência e ânsia incontida de poder.

Porque se isto não for feito estaremos a empurrar, ainda mais, o mundo islâmico para o braços dos extremistas.

Sendo, também, imprescindível que as forças muçulmanas moderadas tenham a lucidez e a coragem de denunciar os cancros que crescem no seu seio. Dando, assim, força a quem procura pontes de diálogo e cooperação.

Violência gera violência e quem semeia ventos colhe tempestades. E se é certo que o terrorismo tem que ser combatido com firmeza e determinação não é menos certo que essa luta terá que se desenvolver sobre uma matriz de diálogo, lucidez e tolerância.



P E D R O D A M A S C E N O

sábado, outubro 22, 2005

CRISE MOLE

A crise não é dura. É mole!
João César das Neves




CRISE MOLE




Como dizia há dias um elemento contestário das Forças Armadas na televisão: “querem sonegar cidadania aos cidadões....cidadães...!?.”. Ou seja: está bem que se corte nas despesas e se aperte no rigor desde que não me atinjam a mim.

Ou então a cara de pau que certos senhores afivelam quando nos dão, na televisão, severas descomposturas sobre o despesimo português enquanto abundam estatutos e reformas milionárias para alguns e benesses incompreensíveis para muitos outros.

A crise tornou-se um facto banal com que todos lidam, mais ou menos bem. Tirando aqueles que pouco ou nada tinham e que ainda ficaram pior não conseguindo, como agora se diz, dar a volta por cima.

Só assim se percebe que as medidas tímidas e cautelosas que o governo tem vindo a tomar causem tantos e tão irritados protestos, fundamentalmente, em quem sente que perde privilégios e regalias.

Protestos, essencialmente, de bem empregados – não de desempregados.

Não protestos de quem está no aparelho produtivo e que nunca usufruiu desses privilégios e regalias. Não de gente que tem a sua capacidade de sobrevivência, realmente, ameaçada.

“Portugal nunca esteve, ao mesmo tempo, tão rico nem tão pobre como hoje – nem tão corrupto.”

Realidade bem patente no ambiente de carnaval, desperdício e corrupção que se viveu nas últimas autárquicas. Qualquer observador desprevenido não teria tido a mais pequena hipótese de perceber que estamos num país em crise.

Uma crise que é muito mais de cidadania e de valores do que de raíz económica. Uma crise que muito pouca gente leva a sério, seja no seu posto de trabalho ou seja na sua intervenção cívica e política.

Estamos todos muito mais preocupados com direitos do que com obrigações. Estamos muito mais atarefados em descobrir novas formas de obter dinheiro fácil e “subir” na vida do que encontrar caminhos de responsabilidade e solidariedade.

Sendo certo que os problemas económicos existem e têm âmbito internacional não é menos certo que são, apenas, um dos aspectos que explicam os graves problemas estruturais que afectam em Portugal.

E não é lícito nem justo atribuir os males, essencialmente, aos políticos. Os políticos são portugueses como os outros, com todas as suas virtudes e defeitos. Político que não vá na onda que se vive em Portugal não tem condições para sobreviver.

Político sério, rigoroso e corajoso não pode ir muito longe. Porque toda a gente foge disso como o diabo da cruz! Interessa é o caldo do porreirismo e do laxismo, interessa é cobrirmo-nos todos com a mesma manta.

Para depois bradarmos, em uníssono, contra a tenebrosa crise que ameça tirar-nos privilégios e regalias. Terrível crise que, ao fim e ao cabo, é um excelente alibi para não crescermos e agarrarmos o toiro pelos cornos.

Pobre crise que, afinal, é bem mole!




PEDRO DAMASCENO

sábado, outubro 01, 2005

A U T Á R Q U I C A S

....precisamos de uma colectividade coesa e consistente
José Gil



A U T Á R Q U I C A S




Acabou de se iniciar a campanha eleitoral oficial para as eleições autárquicas. Um país cheio de cartazes, slogans e panfletos. E o circo mediático que também já aí está para explorar o filão dos candidatos-vedetas e as disputas de bairro e quarteirão.

Como tem vindo a ser hábito, pouco ou nada se discutirá da nossa vida colectiva profunda para nos perdermos em debates infindos e estéreis – tantas vezes falhos mesmo de, pura e simples, boa educação.

O país das fatimas, dos valentins, dos isaltinos e dos torres volta ao de cima. Fazendo tábua rasa de valores, ideologias e referências. Um país falho de autoestima, que não gosta do estado e que prefere os heróis de capa e espada e os robins do bosque de pacotilha.

Um país que aprecia os espertos não ligando muito a pessoas verticais e frontais, que não oferecem benesses nem fazem da coisa pública uma coutada política. Um país que acha de si próprio que é uma trampa mas que não se decide a mudar de vida.

Bem gostaria de acreditar que estas autárquicas venham a ser um verdadeiro momento de reflexão. Uma busca de um sentido colectivo que nos venha restituir a nossa dignidade de cidadãos de uma sociedade democrática madura e não, apenas, habitantes de um país brando e poucochinho à beira mal plantado.

Temo, contudo, que o desfecho será bem diferente e que teremos no pódio dos vencedores quem nos tem arrastado pela lama. Um branquemento popular que será tão deprimente quanto autoflagelador.

E será, se assim for, outro passo para que muitos cidadãos capazes e sérios se afastem, ainda mais, da actividade autárquica e da vida política. Pesem, embora, os autarcas competentes e de príncipios que, felizmente, também existem.

Mas o tom será para a debandada. Quem se disporá a enfrentar, no dia a dia, golpes baixos e pressões ilegítimas que corroem e desgastem? Quem se disporá a ver a sua vida pessoal devassada e sua actividade profissional comprometida a troco de um prato de lentilhas?

É hoje lugar comum dizer que o povo tem os políticos e o país que merece. Mas não deixa por isso de ser bem verdade. Como é possível que uma pessoa que anda há dois anos e meio a envergonhar a democracia e a justiça portuguesa seja candidata a uma Câmara?

E pior ainda poderá estar para vir, se for eleita. Porque nesse caso as urnas terão, essencialmente, sido uma oportunidade de révanche e de legitimidade popular que supostamente a compensará dos seus problemas com a Justiça.

E quem diz essa, diz outros.

O país precisa urgentemente de encontrar um rumo que o tire da inércia e que os portugueses comecem a gostar mais de si próprios. E nada mais urgente que encontrar os líderes que saibam criar uma dinâmica de coesão social e cívica.

O País bem precisa disso, e o Pico não fica atrás.




P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, setembro 16, 2005

Um gigante com pés de barro

O Protocolo de Quioto teria arruinado a nossa economia
George W. Bush


Um gigante com pés de barro


Não deixa de ser, tremendamente, irónico que sejam precisamente os Estados Unidos a sofrer um dos maiores desastres naturais dos tempos modernos, pouco tempo após uma afirmação tão arrogante, quão ignorante do seu presidente.

Não vem tanto ao caso se o furacão Katrina foi ou não uma consequência directa das mudanças climatéricas associadas aos problemas da camada de ozono. Vem muito mais ao caso perceber até que ponto a nação dita mais poderosa do mundo sucumbiu, impotente, perante um desastre natural.

De dum dia para o outro, a nação dos exércitos colossais e da tecnologia militar de ponta vê centenas de milhares de seus cidadãos sem acesso a bens de consumo essencias a berrarem em uníssono por socorro!

Uma manifestação pungente de sofrimento, desespero e miséria.

Nada mais do que uma catástrofe natural foi o necessário para pôr de joelhos a super potência. Em horas a natureza fez aquilo que guerra fria e o terrorismo islâmico não conseguiram em anos. O “eixo do mal”, como gosta de lhe chamar Bush, tem sido – em comparação – quase uma brincadeira.

Parece que, desta vez, os ambientalistas tinham razão. Provando, porventura, que não são, apenas, um grupo de radicais apostados em boicotar o desenvolvimento económico e o milagre capitalista. Tendo ficado claro que a sustentabilidade da economia está, indissoluvelmente, ligada ao ambiente.

Mesmo que a responsabilidade do furacão Katrina não seja – ao menos directamente – imputável à emissão de gases e ao buraco de ozono, não restam dúvidas que a natureza e o ambiente são realidades que não podemos menosprezar e, muito menos, ignorar.

E, como quase sempre acontece, foram os mais desprotegidos a pagar a maior factura. Eram eles que viviam nas zonas mais vulneráveis e eram eles que não dispunham nem de dinheiro nem dos meios para fugirem.

Todavia – e aqui os média aqui têm muita culpa – não é tempo para aproveitar para “molhar a sopa” nos americanos nem tão pouco para partir para manifestações primárias de anti-americanismo.

Os Estados Unidos e as inúmeras vítimas (sobretudo as mais carenciadas) deverão ser objecto da nossa simpatia e solidariedade. Independentemente de gostarmos ou não de George W. Bush ou das políticas expansionistas da América.

Mas é tempo de esperar que a opinião pública americana comece a ganhar consciência das suas próprias vulnerabilidades e a pôr em causa uma filosofia de vida assente num esbanjamento inaceitável de recursos.

O Estados Unidos têm, agora, pela frente desafios formidáveis. Não apenas para realojar as centenas de milhares de pessoas que perderam as suas casas mas para encontrar caminhos que lhes permitam refazer as suas vidas profissionais.

E, acima de tudo, aproveitar a oportunidade para combater, de raiz, os enormes problemas sociais e raciais que as zonas afectadas tinham. Tempos de crise que podem ser, também, excelentes oportunidades para encetar mudanças de fundo.

Para a reconstrução da América destruída terá que haver muito dinheiro e muitos recursos mas, principalmente, terá que haver muita criatividade e – acima de tudo – muito coração.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, setembro 02, 2005

B L O G O S F E R A

A blogosfera tem tudo para ser a pulga atrás da orelha dos monopólios do saber
Pedro Jordão



B L O G O S F E RA



A Internet (ou Net) tem, como tudo, o seu lado bom e o seu lado mau. Tanto pode ser, também como tudo, escrava ou ama.

Como escrava é fabulosa porque nos pode levar a “mares nunca dantes navegados”, como quem vai ali e já volta. Como ama pode ser um verdadeiro desastre, idêntico ao da televisão.

Blogosfera é um neologismo que surgiu como consequência do aparecimento de um fenómeno mediático que atinge proporções astronómicas: 14,2 milhões de blogues, um novo blogue criado a cada segundo, duplicação da blogosfera a cada cinco meses e meio!

Blogosfera significa, afinal, o mundo dos blogues, um conjunto de milhões de blogues. Sendo um blogue uma página da internet actualizada frequentemente, composta por pequenos parágrafos apresentados de forma cronológica.

É como uma página de notícias ou um jornal que segue uma linha de tempo com um facto após o outro. O conteúdo e tema dos blogs abrange uma infinidade de assuntos que vão desde diários, piadas, links, notícias, poesia, ideias, fotografias, enfim, tudo que a imaginação do autor permitir.

Qualquer pessoa, com conhecimentos rudimentares de informática e de utilização da Internet pode criar um blogue, de forma inteiramente gratuita. Blogue que poderá, então, ser visitado por qualquer outra pessoa em qualquer parte do mundo, desde que tenha acesso à Net e tenha o endereço do blogue.

Os blogues tanto podem ser de iniciativa colectiva como individuais. Tipicamente, permitem que qualquer visitante deixe, se assim o entender, um comentário. Circunstância que os torna interactivos.

Desse modo têm sido criados milhares de blogues-forums para discutir os mais variados temas, situação que veio revolucionar a comunicação social que, assim, não fica restringida aos jornais convencionais.

Para esse efeito existem um conjunto de alojamentos gratuitos com extensões já muito conhecidas em Portugal como são, por exemplo, blogspot.com, blog.com ou blogs.sapo.pt. Sendo a criação do blogue a parte mais fácil. Basta seguir alguns passos, claramente indicados e explicados em cada página, para escolher um endereço e começar a escrever.

E, desse modo bem simples, é possível começar a publicar textos e fotos que podem ser consultados e comentados em qualquer parte do mundo! Criando espaços originais de reflexão e debate que fogem a qualquer controle para além daquilo de que deve ser a ética de qualquer cidadão civilizado.

Existe, até, em Portugal – já agora um outro neologismo – a Blogopédia (http://www.blogopedia.blogspot.com/) uma enciclopédia de blogues aonde se poderão encontrar espaços e temas para todos os gostos.

Naturalmente que muitos desses espaços acabam por não ter continuidade, seja por falta de tema seja por falta de vontade. Mas muitos mantêm uma actividade regular e profíqua, valendo apena visitas regulares.

“Embarcando” na moda, decidimos criar um blogue que designamos de FACE OCULTA (http://cronicasilhadopico.blogspot.com/) e que tem como objectivo manter estas crónicas na net dando aos leitores, que assim o desejarem, a possibilidade de deixarem o seu comentario.

Boa viagem na Blogosfera!


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, agosto 19, 2005

Será que ainda amamos, de verdade, a nossa Ilha?

Será que ainda amamos, de verdade, a nossa Ilha?



Desde sempre, os nossos agricultores tiveram um papel central na manutenção do ordenamento territorial das ilhas. Foram eles que modelaram, com suor e lágrimas, o que é hoje património da humanidade.

Foram eles que, com sensibilidade e bom senso, conquistaram, pedra a pedra, a terra que lhes permitiu sobreviver e criar as suas famílias. Terra com que estabeleceram uma relação reverencial.

Porque eles percebiam e sentiam que sómente uma relação de muita proximidade e respeito com a terra, lhes poderia assegurar sustentabilidade e, o mesmo é dizer, a sobrevivência.

Eram tempos muito duros em que as ligações com o exterior eram precárias e raras. Tinham, forçosamente, que depender da mãe-terra para tudo. Sentiam estas terras como a sua verdadeira casa, como o ventre da sua mãe.

Quem não se lembra, ainda, de velhos agricultores e do seu apego e verdadeiro amor à terra? Para eles, a terra era muito mais que um meio de sobrevivência – era um modo de vida, uma maneira muito especial de estar na vida.

Vida muito modesta mas temperada por uma dureza que lhe conferia um elevado grau de humanidade e de capacidade de entreajuda. Vida que, no entanto e felizmente, melhorou, a olhos vistos, nas últimas décadas.

E dá gosto ver a substancial elevação do nível de vida dos agricultores, desde a qualidade da habitação, ao poder de compra e à própria escolaridade. Bem longe vão os tempos de profunda modéstia em que viveram durante séculos.

Por tudo isto seria de esperar – pensamos nós – um maior cuidado e sensibilidade pela natureza e pelo ambiente que serão sempre, ao fim e ao cabo, o suporte da actividade agrícola.

Sendo, por conseguinte, com a maior mágoa que começamos a verificar, por toda a ilha, um total desleixo no tratamento do lixo resultante das explorações agrícolas nomeadamente dos sacos utilizados para as rações e fertilizantes, dos invólucros de medicamentos, das coberturas plásticas e, mesmo, de grades de madeira para transporte de carga.

As nossas terras começam a estar invadidas por todos esses detritos que condicionam, de forma crescente, a paisagem e dão uma péssima imagem de nós próprios. E já não é raro ver turistas a recolher esses detritos que, posteriormente, depositam em local apropriado!

Para além das questões de mera higiene e de asseio fica-nos a sensação que há, por trás de tudo isso, um falta de respeito e, mesmo, de amor por essas terras que já deram de comer a tantas gerações e que, ainda hoje, são o primeiro suporte destas ilhas.

Seja por causa da actividade pecuária, seja por causa do turismo ou seja – simplesmente – por causa da nossa qualidade de vida. Sendo que um dos pilares básicos de qualquer actividade sustentável é o total respeito pelos recursos existentes.

Ou – por outras palavras – um crescimento sustentável só é possível se salvaguardarmos os nossos recursos de modo a que os vindouros também os possam vir a usufruir. O que não será, concerteza, o caso de uma paisagem infinda de sacos de rações e recipientes plásticos.

Será que ainda amamos, de verdade, a nossa Ilha?



P E D R O D A M A S C E N O







sábado, agosto 13, 2005

A importancia do estado laico


O Estado deve preservar uma distância primordial em relação à esfera religiosa
Vital Moreira


A importância do estado laico



Desde há muito que se entende - na Europa - que a secularização do Estado é um sinal de modernidade e tolerância. A nossa história provou que o casamento entre Estado e Igreja nunca foi benéfico nem potenciador de desenvolvimento.

Progressivamente, foi ganhando raízes o entendimento de que as opções religiosas são questões da esfera íntima e pessoal e que, por isso mesmo, não se devem repercutir na sociedade como um todo. Tanto mais que a mescla de religiões que existem no nosso seio tem vindo a crescer de forma significativa.

Há muito tempo que a maioria dos estados europeus deixou de precisar da religião para afirmar a sua identidade nacional. Para que alguém se sinta português, hoje em dia, não é forçoso que se sinta católico, embora o Catolicismo tenha sido a religião que mais profundamente marcou a História e a Cultura portuguesa.

O que de modo algum retira às práticas religiosas a importância que podem ter no âmbito pessoal e espiritual. Mas que, apenas, coloca no plano certo uma faceta – embora muito importante – da nossa vida.

Qualquer confissão religiosa tem como base uma posição de fé. Fé que não carece de demonstração para poder ser vivida em plenitude e que, simultaneamente, deixa de fora qualquer necessidade de debate.

Uma religião necessita de estudo, aprofundamento e militância. Mas jamais necessitará do voto democrático como forma de poder exercer a sua actividade. Por definição, só pratica uma religião quem quer.

A opção religiosa é, antes de mais, uma escolha do coração e do espírito.

Após um período relativamente longo (sobretudo no Ocidente) de “adormecimento” religioso, verifica-se, presentemente, um recrudescimento sensível da actividade religiosa e espiritual.

Das grandes manifestações religiosas do pontificado de João Paulo II aos fenómenos de radicalismo islâmico, passando pelos movimentos evangélicos americanos e africanos, sem esquecer o crescimento de práticas espirituais relacionadas com o budismo e o taoismo.

E são, precisamente, as correntes mais radicais que pretendem impor a dessecularização do Estado como consequência da dessecularização da sociedade. Como se a perda de laicismo do Estado fosse condição necessária, ou mesmo imprescindível, para a prática religiosa.

Sendo certo, isso sim, que a mistura entre religião e Estado tem levado a conflitos e guerras como, abundantemente, provam os casos dos Balcãs e o conflito da Irlanda do Norte, ou, pelo menos, criado interferências dramáticas, como no caso do Iraque e do Médio Oriente.

Ou gera novos fenómenos, como é o caso mais mediático da actualidade: o terrorismo de cariz fundamentalista islâmico. Aí, é a própria religião que se pressupunha dever procurar a concórdia e a harmonia que vem, ela própria, espalhar o terror e o ódio!

Por muito contraditório que possa parecer, é o Estado laico quem melhor defende toda e qualquer religião. Só ele poderá garantir que os direitos – cada vez mais actuais – da liberdade, igualdade e da fraternidade sejam respeitados e que, por via disso, se possam desenvolver as mais diversas opções religiosas e espirituais.




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terça-feira, julho 05, 2005

Alice no país dos porreirismos

... uma sociedade à beira do precipício
José Gil



Alice no país dos porreirismos


É um dado adquirido que somos um país de gajos porreiros. Boa gente: simpática, pouco agressiva (brandos costumes?), espertalhona e emotiva – uma malta porreira.

Mesmo nas nossas deambulações por esse mundo, nunca deixamos marca de torcionários e exploradores. Deixamos, sempre, este jeito suave de sorrir e a lágrima fácil. Tesitos mas alegritos.

E foi talvez, também, por isso que “deixamos” as coisas descambarem, desde do entusiasmo igualitário 25 de Abril, para níveis nunca vistos de facilitismo, compadrio e corrupção.

“Enormes privilégios dos funcionários foram inventados, arranjados, organizados e concedidos pelos dirigentes políticos e partidários que, nos governos, no Parlamento e nas autarquias, durante trinta anos, tentaram desta maneira conquistar votos, prender as clientelas e empregar os seus correligionários.”

Tudo à mistura - bem entendido - com grandes doses de porreirismo e desenrascanço. O estado, nas suas componentes central e local, foi o veículo mais eficaz de ganhar votos. Concedendo privilégios e aceitando - como comportamentos normais - o absentismo, o oportunismo e a incompetência.

No que fomos todos, em maior ou menor grau, coniventes. Sendo tolerantes com a corrupção, tendo um baixíssimo nível de participação cívica e, sobretudo, não utilizando a arma do voto para nos promover assegurando administrações isentas e competentes.

Preferimos, antes, continuar a nadar no caldinho do porreirismo e do incumprimento das obrigações fossem elas laborais, fiscais ou culturais. Preferimos embarcar na música que canta que isso dos partidos e dos políticos são todos iguais e que as ideologias morreram.

Dando de comer, cada vez mais, a esse virus nacional que é a inveja.

“Ou comem todos ou haja moralidade” como diria o sapateiro de Braga. Quem triunfa ou é porque anda no negócio da droga ou porque é ladrão e cheio de padrinhos. E os bancos avançam com créditos para consumos desnecessários que apenas visam manter aparências.

Se os outros têm também temos o “direito” de ter. Não interessa nada como nem para quê. E, muito menos, interessa à custa de quem e do quê. Interessa, essencialmente, ter um lugar cativo nas nossas quintas das celebridades.

Não deixa, por tudo isso, de ser irónico (para não dizer patético) que quando um governo se vê na contingência inadiável de apertar o cinto as comadres se zanguem todas.

Os funcionário públicos porque estão a ser vítimas de ataques terríveis e a serem transformados nos maus da fita, os vários partidos porque se acotovelam para tirar dividendos políticos da situação e os sindicatos porque aproveitam para molhar a sopa.

Esquecendo-se os primeiros que durante anos se deixaram “comprar” por privilégios imerecidos, os segundos porque fazem parte do mesmo sistema que tem vivido à custa dessas políticas e os terceiros porque denunciam a perda de direitos para alguns que deviam ter defendido para todos.

E, como sempre, procuramos os bodes expiatórios em todos os outros esquecendo-nos que aceitamos todas as demagogias e populismos que nos quiseram impingir, fingindo que não sabíamos que estávamos a viver acima das nossas possibilidades.

Será que alguma vez vamos deixar de ser crianças grandes?



P E D R O D A M A S C E N O







segunda-feira, junho 13, 2005

"A côrte do bobo"

Alguns bastardos no continente, para não lhes chamar fillhos da puta
Alberto João Jardim
Presidente do Governo Regional da RA da Madeira





“A côrte do bobo”


As diatribes, insolências e liminares falta de boa educação do “eterno” Presidente do Governo Regional da Madeira, já há muito que fazem parte do roteiro dos políticos pimba e têm lugar cativo no nosso folclore mais foleiro.

E, também, toda a gente sabe e percebe que o poder que se exerce na Madeira tem forte pendor autocrático, amaciado, apenas, por eleições que se exercem com regras do jogo bem difíceis para as oposições.

As oposições na Madeira não se respeitam e muito menos se estimulam à participação. Apenas se toleram o suficiente para “legitimar” eleições que visam, essencialmente, assegurar maiorias dóceis, reconhecidas e obrigadas.

Maiorias “sui generis” que justificam este artigo. Porque os desmandos populistas e grosseiros do Dr. Jardim, que o transformam num verdadeiro “bobo da côrte”, já há muito que deixaram de ser notícia.

Tanto mais que nem o próprio Presidente da República acha que tais desmandos merecem reparo e que nada há a opor a que um responsável por um orgão de soberania não cumpra as mais elementares regras da boa educação e de conduta civilizada.

Sendo, por conseguinte, que o mais grave de tudo isto não foi o presidente do Governo da Madeira ter chamado filhos da puta a alguns jornalistas do continente. Essa atitude ficaria com ele e com quem, tendo competência para lhe chamar a atenção, não o fez. E a tudo isso ele já nos “habituou”.

O que, realmente, foi mais grave é que tenha sido a própria “côrte” (leia-se os deputados do PSD na Assembleia Regional da Madeira) a saudar de pé e com aplausos os insultos proferidos.

“Congratulando-se com o modo, mais uma vez firme, como o presidente do Governo Regional denunciou comportamentos na comunicação social de Lisboa, os quais atentam contra os direitos, liberdades e garantias dos portugueses”.


Ou seja, não só insultos soezes e despropositados são “legitimados” pela tal maioria democrática como ainda se transformaram numa forma de defesa dos direitos, liberdades e garantias dos portugueses!

Um insulto em vez de ser isso mesmo – um insulto – e, desse modo, constituir matéria para os tribunais (art.ºs 180.º ou 181.º do Código Penal) é, bem pelo contrário segundo os membros da “corte”, um modo firme de defesa dos direitos, liberdades e garantias!

Penso que nem nos tempos do Idi Amin no Uganda se conseguiu fazer melhor.

Não pondo em causa a liberdade de qualquer cidadão de opinar sobre questões pessoais suas e contestar quem quer seja incluindo, naturalmente, os orgãos de comunicação social, não lembra – nem ao diabo – transformar um insulto, público e grosseiro, num voto de congratulação de um orgão legislativo regional.

Já passou tempo demais e aconteceram coisas demasiado graves para que se possa continuar a poder considerar a actual situação da Madeira como genuinamente democrática. Democracia é bem mais do que eleições de quatro em quatro anos.

Democracia tem de ser, principalmente, o exercício de uma cidadania integral e responsável com um respeito profundo pela comunidade em geral e por cada cidadão em particular, com enfase redobrado para quem detêm cargos públicos e que, por isso mesmo, deve ter especial elevação na sua conduta.

Possivelmente por estas linhas vou entrar, igualmente, na listagem dos bastardos, para não me chamar filho da puta, do Dr. Alberto João Jardim.

Mas... paciência!


P E D R O D A M A S C E N O

terça-feira, junho 07, 2005

Uma história de cabo de esquadra


É fartar vilanagem!





Uma história de cabo de esquadra



É conhecida e notória a falta de competência, empenhamento e mesmo de seriedade de algumas empresas públicas que se refugiam no seu estatuto institucional e monopolista e na pesada/lenta máquina da justiça para “brincarem” com os utentes a seu belo prazer.

Está nesse caso a CTT Expresso que, com especial gravidade para as Regiões Autónomas (ou Ilhas como gostam de lhe charmar), se dá ao luxo de decidir em causa própria o que é aceitável ou não e, sobretudo, de pagar ou não indemnizações mais do que devidas.

A história é simples e conta-se em poucas palavras. No dia 1 de Abril de 2005 foi posta no correio no Pico uma carta por EMS (express mail) com destino ao Funchal. Aos dias 8 do mesmo mês foi reclamado por fax o facto de não haver notícia da carta!

Após vários telefonemas veio a “descobrir-se” no dia 12 de Abril que a dita carta estava na estação do Funchal – Deus sabe lá desde quando – e foi preciso o destinatário ir lá buscá-la sob pena de ainda hoje estar, possívelmente, à espera.

Acresce que tudo isto aconteceu num período de normal operação dos aeroportos, sem intempéries conhecidas.

Pela “prestação” desse serviço foi paga na origem a quantia de 17, 6 Euros em vez dos 2,17 Euros normais . Concerteza por se tratar de um serviço especial de caracter prioritário e não, certamente, por masoquismo financeiro do expedidor.

Os documentos enviados na carta tinham grande urgência porque implicariam como implicaram prejuízos financeiros para quem enviou e para quem não recebeu. Era de toda a normalidade, por conseguinte, que a expectativa de entrega, em express mail, desses documentos nunca tivesse atingido o rídiculo número de 11 dias e, ainda por cima, sem entrega domiciliária!

Face ao ocorrido o utente pagador apresentou uma nova reclamação em 18 de Abril de Maio, solicitando o reembolso da quantia paga bem como a indmenização pelos prejuízos causados fisando que o destinatário teve que se deslocar ao balcão dos CTT no Funchal e insistir para que, finalmente, lhe entregassem o EMS!


Após longuíssimas investigações e eventuais circunlóquios burocráticos teve o utente uma resposta no dia 10 de Maio! Em que se comunica “que foi dado início ao desenvolvimento de acções que visem precisamente a sensibilização da nossa rede operacional/distribuidores”.

Acrescentando-se um pedido de desculpas pelo incómodo e uma informação que isso de rembolso nem pensar porque entre Ilhas (?) não existe “qualquer padrão de entrega de objectos”.

Ou, trocando por miúdos, não existe qualquer tipo de regras ou obrigações por por parte do prestador do serviço de EMS que apenas se limita a receber dos incautos quantias exorbitantes que não têm qualquer contrapartida ou garantia!

Não é de admirar, pois, que o país ande pelas ruas da amargura com serviços públicos que, além de incompetentes, não assumem as suas responsabilidades. Que espécie de desenvolvimento é possível, de facto, esperar quando um sector tão crucial como as comunicações se comporta de forma tão totalmente irresponsável?

Escusado será dizer que levar o assunto para tribunal (e será) vai levar a outro fadário de esperas, despesas e frustrações. Mas é tempo de os cidadãoes começarem a assumir as suas responsabilidades e dirimirem essas situações nas instâncias próprias em vez de cruzarem os braços para “não se chatiarem”.

Só assim será possível conter casos como estes que são verdadeiras histórias de cabo de esquadra e que demonstram como, passados mais de 30 anos sobre o 25 de Abril, ainda é tão notória e comum a mentalidade do estado novo.



P E D R O D A M A S C E N O

terça-feira, maio 24, 2005

Maremotos silenciosos


É tempo de agir
Jamie Drummond




Maremotos silenciosos


Ainda está bem presente na memória de todos nós o maremoto que devastou grandes áreas do sudoeste asiático e trouxe imagens trágicas de sofrimento e terror.

Imagens que desencadearam um grande movimento de solidariedade mundial e nacional, atestando a nossa capacidade de identificação com os outros e de sermos capazes de ser generosos em causa alheia.

E esse momento – único - poderá tornar possíveis grandes mudanças. A confluência de circunstâncias políticas e o aparecimento de fortes movimentos populares proactivos determinaram dinâmicas que podem levar os políticos a dar novos e ousados passos.

“Com cerca de 0,5% da riqueza colectiva, os cidadãos das nações desenvolvidas poderão – num prazo de 10 anos – assegurar a frequência de escola primária de todas as crianças do planeta, abastecer de água potável um bilião de pessoas, vencer a sida, a tuberculose e a malária e fazer baixar para metade a fome no globo!”

De facto, enquanto respondemos com tanta generosidade ao último desastre televisionado em directo, ignoramos verdadeiros maremotos silenciosos como são a extrema pobreza que provoca a morte a 30.000 crianças por dia ou as 6.000 pessoas que morrem, também por dia, de sida em África.

Ao mesmo tempo que ocorrem verdadeiras insanidades como é o caso da política agrícola comum da Europa ou da carta americana da agricultura que subsidiam uma produção agro-industrial excessiva colocando esses produtos de falso baixo preço em países não industrializados, pondo em causa os produtores locais.

Tecnicamente a extrema probreza que ainda, hoje, se vive em grandes áreas do globo é evitável e solucionável desde que haja a necessária vontade política e os nossos líderes se convençam que começou uma nova era de solidariedade global. O que faz perfeito sentido quando tanto se fala de globalização, a propósito de tudo e de nada.

E - mesmo para aqueles menos sensíveis aos argumentos da compaixão, da justiça e da sustentabilidade do ambiente - há argumentos de sobra para que mudem a sua atitude. Como é a situação incontornável de ser, precisamente, a extrema pobreza que leva a práticas insustentáveis para o ambiente com consequências que, em última análise, nos vêm cair à porta.

E são, também, as nações mais pobres e fracas que se tornam mais susceptíveis à falência do próprio estado com a consequente “tomada do poder” pelos traficantes de drogas, de armas e de todo tipo de extremistas. Abrindo a porta a conflitos militares e políticos que criam a destabilização e o clima propício ao terrorismo.

A sida, a tuberculose,a malária e a extrema pobreza são verdadeiros maremotos silenciosos que, sem as honras de directos em todas as televisões, atingem o nosso mundo de conforto com uma gravidade de proporções catastróficas, ainda que de forma bem mais insidosa.

Mais do nunca é indispensável actuar localmente mas pensar globalmente. O nosso destino está cada vez mais ligado ao que se passa no mundo seja em Nova Iorque, Bagdade ou Medelin. As repercussões no nosso dia a dia são, crescentemente, evidentes. Não vale a pena esconder o sol com a peneira.

É tempo de agir.




P E D R O D A M A S C E N O










quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Votar


Uma verdade amarga é mais doce do que uma mentira açucarada


V O T A R
Um dever de cidadania incontornável


Quando esta crónica sair, estará concluída a campanha eleitoral. Ficar-nos-á o sábado para meditar e o domingo para votar.

O Carnaval já lá vai, o Verão ainda não chegou e não haverá, realmente, nenhuma “boa” desculpa para não votar. Tirando as esfarrapadas tiradas do tipo “não quero saber da política” ou “eles são todos iguais” ficará, com o rabo de fora, uma incompreensível falta de cidadania e responsabilidade social matizada de puro comodismo.

Se é certo que se verifica, no nosso país, uma progressiva diminuição da qualidade do desempenho político não é menos certo que esse défice é consequência da nossa falta de participação cívica e da falta de motivação que muitos cidadãos capazes sentem frente a um eleitorado que, nem sequer ao simples “trabalho” de ir votar, se quer dar!

Talvez esta campanha eleitoral não tenha sido capaz de gerar grandes paixões e talvez os nossos actuais líderes partidários não consigam suscitar o entusiasmo que suscitavam os da velha guarda. Talvez se sinta cansaço por tantos ataques pessoais.

Talvez para muito de nós a liberdade de votar já se tenha tornado numa banalidade que até achamos que podemos dispensar. Mesmo para aqueles que ainda chegaram a sofrer na pele as discriminações e as injustiças de um regime autoritário.

Talvez para muitos jovens que já nasceram em democracia tudo isto seja uma “chatice” sobretudo se foram à discoteca no sábado à noite. Uma grande “seca” apesar de começarem a sentir as dificuldades de emprego e falta de oportunidades.

Mas o nosso futuro, queiramos ou não, depende, em grande parte, da administração que escolhermos para o nosso país. Se formos votar com paixão e convicção tanto melhor. E, se assim não for, bastará votar no mal menor ou mesmo votar em branco.

Mas nunca ficar em casa.

Todos devemos viver a vida com sentido de responsabilidade assumindo a nosso papel de cidadãos, de pleno direito, de uma comunidade. Só assim estaremos em condições de poder criticar e só assim poderemos exigir responsabilidades de terceiros.

Portugal é, como se tornou moda dizer, um país de treinadores de bancada. Toda a gente manda bocas e tem, na ponta da língua, solução para tudo. Os problemas aparecem é quando temos de passar da bancada para o campo. Aí, quase sempre, entramos mudos e saímos calados!

Como dissemos em crónica recente o Congresso da Cidadania foi uma semente preciosa, em boa hora, lançada entre nós. Veio chamar a nossa atenção para a imprescindibilidade da participação cívica e do envolvimento social responsável.

O próximo domingo é uma excelente oportunidade para pormos em prática essa participação e esse sentido de responsabilidade. Votar é, por excelência, um dever de cidadania incontornável.



P E D R O D A M A S C E N O