As estatísticas do ministério da Justiça indicam que os maiores aumentos da criminalidade participada nos últimos seis anos foram registados nas ilhas Graciosa, São Miguel, São Jorge, e Pico
Há vida para além da máquina de velocidade
Um dos grandes bens do nosso quotidiano tem sido, desde sempre, a segurança. A ponto de muita gente ainda deixar as casas abertas e pouco se preocupar com a vigilância dos seus bens.
O que tem sido, de resto, uma das marcas da nossa promoção turística: a segurança. O que, nos tempos que correm, não é nada pouco.
Contudo o cenário parece estar rapidamente a mudar nomeadamente lá para os lados da Ponta da Ilha e não só aonde os assaltos se sucedem e começam a deixar os idosos inseguros.
Embora – à boca pequena – se diga que se sabe perfeitamente quem são os assaltantes tudo parece ficar assim mesmo. Perante a complacência de quem deveria investigar e actuar.
A ponto de muita gente pensar que não vale a pena apresentar queixa. Tal a falta de pro-actividade e empenhamento de quem tem como função velar pela segurança de pessoas e bens.
Com certeza, como sempre, com a desculpa universal da falta de meios humanos e materiais. Meios que parecerem ser inteiramente canalizados para a famosa máquina da velocidade, o balão fora das discotecas, os cintos de segurança e as papeladas (documentos).
Sem minimizar essas magnas questões tudo o resto parece ficar de fora: prevenção rodoviária com vigilância do crescente número de infracções graves que habitam as nossas estradas, os estacionamentos selvagens, trafico de estupefacientes como a heroína (que prolifera), segurança de pessoas e bens, etc etc.
Pouca gente acredita hoje nas forças da ordem.
Sem se contestar, à partida, a escassez de meios tornou-se paradigmático o seu afastamento dos cidadãos e das práticas susceptiveis de exercerem as funções que lhes são cometidas de contribuir para a formação e informação em matéria de segurança desses mesmos cidadãos.
Bem como proteger, socorrer e auxiliar os cidadãos e defender os bens que se encontrem em situação de perigo, por causas provenientes de acção humana. Para tal desenvolvendo as acções de investigação criminal e contra-ordenacional que lhe são atribuídas pela lei.
É indispensável, constitucional e urgente que se volte a viver em segurança nestas ilhas e se consiga circular sem ter se se fazer gincana à volta dos estacionamentos selvagens generalizados ou de temer pela vida perante manobras perigosas porta sim porta não ou de ver os nossos jovens escravizados por um tráfico de drogas que parece impune.
Não se sente por parte de quem devia o empenhamento para o exercício de funções que inevitavelmente acarretam riscos, dissabores e incompreensões. Mas quem não quer ser lobo que não lhe vista a pele.
Garantir os direitos dos cidadãos e a sua segurança – concedemos – não é tarefa fácil. Mas não conhecemos outra maneira mais adequada de tal assegurar que não seja uma força de segurança, uniformizada e armada, de natureza pública que responda perante um governo democraticamente eleito.
Fica a a palavra para quem de direito.
PEDRO DAMASCENO
FACE OCULTA é um blogue de compilação da coluna quinzenal, com o mesmo nome,assinada por PEDRO DAMASCENO no Jornal Ilha Maior que se publica semanalmente na Ilha do Pico, nos Açores. Comentários, sejam eles quais forem, são muito bem vindos!
sexta-feira, setembro 30, 2011
sexta-feira, setembro 16, 2011
Jose, Pedro ou Paulo - tanto faz -
O castigo por não quereres participar na política é acabares governado por pessoas piores do que tu
PLATÃO
José, Pedro ou Paulo
- tanto faz -
A política em Portugal vive, essencialmente, da fulanização. Ainda agora era o Sócrates para cima e para baixo, hoje é o Passos Coelho para baixo e para cima. Com umas pitadas de troika e está feito.
Ao virar da esquina espreita o Paulo à espera da sua oportunidade e, lá mais longe, já está enfileirado o José António. Os caldos em que se mexem – esses - mantêm-e idênticos procurando a sobrevivência ou o regresso.
Depois são os mercados para aqui e as bolsas de valores para ali. Com os impostos a subirem, continuamente, sob a desculpa universal da crise e das exigências do triunvirato, como lhe chama o Paulo.
Debates, como sempre, são às carradas. Mas pouco falam daquilo que realmente interessa ao comum dos cidadãos que não sendo doutores e, muito menos economistas, ficam basicamente na mesma.
Em síntese, esse comum dos mortais ainda não percebeu o que lhe caiu em cima e muito menos como vai sair do buraco escuro em que está metido. Depois de anos a receber, a torto e a direito, ofertas de credito para tudo e mais alguma coisa caiu-lhe em cima o Carmo e a Trindade.
Após depor um “mentiroso” há quem já afirme que elegeu outro que tal. Um mais afoito e palavroso, o outro mais manso e cordato. Mas diz-se que a mentira continua , só tendo mudado de registo.
Não se vislumbrando qualquer iniciativa que vise esclarecer, de forma cabal e compreensível para toda a gente, o que se passou e que tem que, colectivamente, se fazer para voltar à superfície.
É preciso ser directo, simples e pedagógico.
É preciso explicar que o capital financeiro, como é sua lógica, decidiu fazer dinheiro a partir do dinheiro jogando na especulação financeira – bolsa, derivados financeiros, etc – criando, também, um mercado do credito à habitação de forma inteiramente leviana e irrealista. Uma espécie de Dona Branca a uma escala planetária.
Sem qualquer preocupação de criar riqueza e emprego o capital tornou-se cada vez mais num activo fictício tendo a especulação ultrapassado, largamente, a produção. E os estados deixaram-se arrastar por esse tsunami financeiro abdicando de qualquer poder regulador.
Como a Dona Branca, o sistema especulativo, inevitavelmente. faliu e a economia mundial entrou numa espiral negativa que, como era de esperar, atingiu as economias mais frágeis em primeiro lugar. Como é o caso de Portugal.
Pondo directamente em causa a mastodôntica, ineficaz e caríssima máquina da administração pública e a descoberto uma maquina produtiva frágil e dependente e um público que se tinha endividado, perigosamente, embalado por juros de saldo.
Situação muito grave e cuja solução vai muito para além do aumento dos impostos e do acordo com a troika (que ninguém leu). Exigindo um volte face no paradigma do nosso dia-a-dia.
Todos assumindo o seu papel: o estado desmantelando o desperdício/excessos da administração pública, a banca retomando o apoio ao investimento produtivo, os especuladores arrumado as pastas e fechando as portas, os empresários inovando e procurando a excelência, os trabalhadores por contra de outrem labutando e lutando pelos seus postos de trabalho.
Lutando, também todos, por um verdadeiro renascimento cívico que ponha a politica e os políticos no seu lugar e lhes retire o monopólio da democracia. Partidos sim, mas só partidos não.
Procurando cada cidadão encontrar o seu lugar no contexto da democracia como resultado do exercício quotidiano dos deveres e dos direitos que lhe cabem, cultivando uma cultura de exigência, planeamento e responsabilidade.
Nem mais nem menos.
P E D R O D A M A S C E N O
PLATÃO
José, Pedro ou Paulo
- tanto faz -
A política em Portugal vive, essencialmente, da fulanização. Ainda agora era o Sócrates para cima e para baixo, hoje é o Passos Coelho para baixo e para cima. Com umas pitadas de troika e está feito.
Ao virar da esquina espreita o Paulo à espera da sua oportunidade e, lá mais longe, já está enfileirado o José António. Os caldos em que se mexem – esses - mantêm-e idênticos procurando a sobrevivência ou o regresso.
Depois são os mercados para aqui e as bolsas de valores para ali. Com os impostos a subirem, continuamente, sob a desculpa universal da crise e das exigências do triunvirato, como lhe chama o Paulo.
Debates, como sempre, são às carradas. Mas pouco falam daquilo que realmente interessa ao comum dos cidadãos que não sendo doutores e, muito menos economistas, ficam basicamente na mesma.
Em síntese, esse comum dos mortais ainda não percebeu o que lhe caiu em cima e muito menos como vai sair do buraco escuro em que está metido. Depois de anos a receber, a torto e a direito, ofertas de credito para tudo e mais alguma coisa caiu-lhe em cima o Carmo e a Trindade.
Após depor um “mentiroso” há quem já afirme que elegeu outro que tal. Um mais afoito e palavroso, o outro mais manso e cordato. Mas diz-se que a mentira continua , só tendo mudado de registo.
Não se vislumbrando qualquer iniciativa que vise esclarecer, de forma cabal e compreensível para toda a gente, o que se passou e que tem que, colectivamente, se fazer para voltar à superfície.
É preciso ser directo, simples e pedagógico.
É preciso explicar que o capital financeiro, como é sua lógica, decidiu fazer dinheiro a partir do dinheiro jogando na especulação financeira – bolsa, derivados financeiros, etc – criando, também, um mercado do credito à habitação de forma inteiramente leviana e irrealista. Uma espécie de Dona Branca a uma escala planetária.
Sem qualquer preocupação de criar riqueza e emprego o capital tornou-se cada vez mais num activo fictício tendo a especulação ultrapassado, largamente, a produção. E os estados deixaram-se arrastar por esse tsunami financeiro abdicando de qualquer poder regulador.
Como a Dona Branca, o sistema especulativo, inevitavelmente. faliu e a economia mundial entrou numa espiral negativa que, como era de esperar, atingiu as economias mais frágeis em primeiro lugar. Como é o caso de Portugal.
Pondo directamente em causa a mastodôntica, ineficaz e caríssima máquina da administração pública e a descoberto uma maquina produtiva frágil e dependente e um público que se tinha endividado, perigosamente, embalado por juros de saldo.
Situação muito grave e cuja solução vai muito para além do aumento dos impostos e do acordo com a troika (que ninguém leu). Exigindo um volte face no paradigma do nosso dia-a-dia.
Todos assumindo o seu papel: o estado desmantelando o desperdício/excessos da administração pública, a banca retomando o apoio ao investimento produtivo, os especuladores arrumado as pastas e fechando as portas, os empresários inovando e procurando a excelência, os trabalhadores por contra de outrem labutando e lutando pelos seus postos de trabalho.
Lutando, também todos, por um verdadeiro renascimento cívico que ponha a politica e os políticos no seu lugar e lhes retire o monopólio da democracia. Partidos sim, mas só partidos não.
Procurando cada cidadão encontrar o seu lugar no contexto da democracia como resultado do exercício quotidiano dos deveres e dos direitos que lhe cabem, cultivando uma cultura de exigência, planeamento e responsabilidade.
Nem mais nem menos.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, setembro 02, 2011
Abaixo a batota
Derivatives are financial weapons of mass destruction.
Warren Buffet
Abaixo a batota
A frase sibilina de Warren Buffet (o homem mais rico do mundo) de que os ricos deviam deixar de ser tão mimados, em termos fiscais, desencadeou ondas de choque a nível planetário. Que, naturalmente, não deixaram de chegar ao nosso país.
Mas não se deu tanta atenção à frase que se cita no início da crónica em que ele chamou, nem mais menos, armas de destruição maciça aos famosos derivados financeiros que mais não são do que uma maneira habilidosa de fazer dinheiro apenas com dinheiro.
Nos dia de hoje – ninguém com pés assentes na terra – contesta que o progresso depende fortemente do empreendedorismo e da capacidade de iniciativa. E que quem tem capacidade de inovação, excelência e coragem tem que ser devidamente compensado.
O mérito tem de ser o principal critério da remuneração sob pena de se desincentivar os melhores e de bitolar por baixo os desempenhos profissionais e empresariais deixando a porta aberta para o laxismo e falta de iniciativa.
O falhanço das economias ditas socialistas, com o exemplo mais recente de Cuba, vieram comprovar justamente isso. O aparelhismo e a falta de incentivos foram ingredientes básicos para esse fenómeno que deveria ser um verdadeiro caso para estudo.
Qualquer sociedade para viver em paz social tem que ser equilibrada e assegurar aos seus cidadãos um acesso digno aos bens essenciais como “pão, saúde e educação”. As enormes clivagens sociais que ainda hoje se vivem, mesmo em países ditos civilizados, são inaceitáveis.
A controvérsia que hoje se votou a gerar na sociedade portuguesa sobre o rendimentos dos mais ricos volta a pecar por um maniqueísmo deplorável. Ou porque se volta a esgrimar o fantasma da fuga de capitais ou porque se caiem em discussões de lana caprina sobre um hipotético e ideal modelo de taxar os mais ricos.
Quem investe, desenvolve e cria emprego tem que ser incentivado e fortemente apoiado. Mas dentro de parâmetros socialmente justos e que não gerem um rodopio de mais valias que, inevitavelmente, desembocam na economia de casino.
O grande problema de fundo da economia global tem a ver com as especulações financeiras – nas suas mais variadas formas – associadas a ganância desmedida. O último “crash” de Wall Street foi, para quem tivesse dúvidas, um exemplo paradigmático.
Felizmente há muitos e bons empresários/empreendedores que constroem as suas fortunas de forma consistente gerando riqueza e criando empregos e que por tudo isso devem ser claramente compensados e adequadamente taxados.
O problema são os “empresários” e os especuladores que usam todos os truques para gerarem dinheiro apenas com dinheiro para depois o ”esconderem” utilizando as omissões da lei e a falta de coragem dos governos para os travarem.
O sinais exteriores de riqueza ilícita abundam e só não vê quem não quer.
Os truques são sobejamente conhecidos. Sendo tempo de acabar com discussões serôdias e começar a taxar a sério os rendimentos do capital e a regular duramente os mercados financeiros.
O problema de fundo é a existência ou não de vontade política.
O resto são tretas que servem apenas para desculpabilizar e branquear a batota desmedida que por aí grassa. O capital sério e consistente não vai fugir de certeza se perceber que está perante regras de jogo claras, eficazes e justas e não navegando num infindável mar de águas turvas.
PEDRO DAMASCENO
Warren Buffet
Abaixo a batota
A frase sibilina de Warren Buffet (o homem mais rico do mundo) de que os ricos deviam deixar de ser tão mimados, em termos fiscais, desencadeou ondas de choque a nível planetário. Que, naturalmente, não deixaram de chegar ao nosso país.
Mas não se deu tanta atenção à frase que se cita no início da crónica em que ele chamou, nem mais menos, armas de destruição maciça aos famosos derivados financeiros que mais não são do que uma maneira habilidosa de fazer dinheiro apenas com dinheiro.
Nos dia de hoje – ninguém com pés assentes na terra – contesta que o progresso depende fortemente do empreendedorismo e da capacidade de iniciativa. E que quem tem capacidade de inovação, excelência e coragem tem que ser devidamente compensado.
O mérito tem de ser o principal critério da remuneração sob pena de se desincentivar os melhores e de bitolar por baixo os desempenhos profissionais e empresariais deixando a porta aberta para o laxismo e falta de iniciativa.
O falhanço das economias ditas socialistas, com o exemplo mais recente de Cuba, vieram comprovar justamente isso. O aparelhismo e a falta de incentivos foram ingredientes básicos para esse fenómeno que deveria ser um verdadeiro caso para estudo.
Qualquer sociedade para viver em paz social tem que ser equilibrada e assegurar aos seus cidadãos um acesso digno aos bens essenciais como “pão, saúde e educação”. As enormes clivagens sociais que ainda hoje se vivem, mesmo em países ditos civilizados, são inaceitáveis.
A controvérsia que hoje se votou a gerar na sociedade portuguesa sobre o rendimentos dos mais ricos volta a pecar por um maniqueísmo deplorável. Ou porque se volta a esgrimar o fantasma da fuga de capitais ou porque se caiem em discussões de lana caprina sobre um hipotético e ideal modelo de taxar os mais ricos.
Quem investe, desenvolve e cria emprego tem que ser incentivado e fortemente apoiado. Mas dentro de parâmetros socialmente justos e que não gerem um rodopio de mais valias que, inevitavelmente, desembocam na economia de casino.
O grande problema de fundo da economia global tem a ver com as especulações financeiras – nas suas mais variadas formas – associadas a ganância desmedida. O último “crash” de Wall Street foi, para quem tivesse dúvidas, um exemplo paradigmático.
Felizmente há muitos e bons empresários/empreendedores que constroem as suas fortunas de forma consistente gerando riqueza e criando empregos e que por tudo isso devem ser claramente compensados e adequadamente taxados.
O problema são os “empresários” e os especuladores que usam todos os truques para gerarem dinheiro apenas com dinheiro para depois o ”esconderem” utilizando as omissões da lei e a falta de coragem dos governos para os travarem.
O sinais exteriores de riqueza ilícita abundam e só não vê quem não quer.
Os truques são sobejamente conhecidos. Sendo tempo de acabar com discussões serôdias e começar a taxar a sério os rendimentos do capital e a regular duramente os mercados financeiros.
O problema de fundo é a existência ou não de vontade política.
O resto são tretas que servem apenas para desculpabilizar e branquear a batota desmedida que por aí grassa. O capital sério e consistente não vai fugir de certeza se perceber que está perante regras de jogo claras, eficazes e justas e não navegando num infindável mar de águas turvas.
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, agosto 05, 2011
Apocalipse Virtual - Um cancro social
Os blogues tornaram-se em tribunas de ódio e bílis, a coberto do anonimato
TIM ADAMS
Apocalipse Virtual
Um cancro social?
Considerar Anders Breivik, o assassino norueguês, simplesmente um psicopata perigoso ou o mero resultado de uma sociedade em decadência são explicações excessivamente simplistas.
O que aconteceu em Oslo foi demasiado grave e complexo para ser arrumado numa gaveta etiquetada.
Possivelmente Anders é tão psicopata como terão sido Hitler, Estaline ou Pol Pot. E a sociedade norueguesa não é certamente mais neurótica do que a Alemanha do III Reich, a Rússia dos bolcheviques ou o Cambodja dos kmers vermelhos.
Anders é um exibicionista vaidoso e arrogante, desprovido de qualquer sentido de empatia, capaz de actos extremamente violentos sem sentido de remorso e com um padrão comportamental muito desviante.
Podendo, por essa via, ser considerado um psicopata mas sem esquecer que nasceu e cresceu no seio de uma sociedade pacifica e culturalmente evoluída sem uma historia familiar ou pessoal particularmente violenta e/ou complicada, sem que o seu comportamento desviante tivesse sido identificado.
Tendo conseguido, além disso, obter, nessa sociedade, componentes para fabricar explosivos, armas e munições com aparente grande facilidade. E tendo, simultaneamente, conseguido fazer treino de manipulação de armas e de tiro num ambiente de “normalidade”.
O que levou a que o grande factor de perturbação seja que o terrorista nórdico é um dos “nossos” - branco, loiro, instruído e de origem cristã – bem nas antípodas do terrorista suicida de aspecto semita, primário e com convicções islâmicas radicais.
A barbárie atingiu em cheio o nosso próprio núcleo duro – democrata, tolerante e culto – sob a forma de um “cruzado” de aspecto viking que actuou em função de um “Plano” de 1.500 páginas que laboriosamente escreveu ao longo de dois anos e em que tenta criar doutrina sobre os males dos multiculturalismo e da ameaça islâmica ao Ocidente.
O norueguês pode até ter actuado sozinho mas não esteve sozinho ao longo do período de incubação dos seus actos criminosos. Foi bem acompanhado e industriado por blogers americanos e europeus que constituíram o núcleo duro da sua teorização.
Como escreveu Pedro Bacelar de Vasconcelos o pretenso “cruzado cristão” que semeou o terror em Oslo é simultaneamente o cavaleiro e a vítima do apocalipse virtual diariamente anunciado através dos média. Tendo entrado num processo de des-individualização que o anonimato da Internet permite e fomenta.
A nossa sociedade – da insolvência das dívidas soberanas, do declínio demográfico e da decadência económica – tem vindo a perder, perigosamente a sua homeostase. Ou seja a sua capacidade de manter um equilíbrio dinâmico que impeça a proliferação de ameaças à sua própria sobrevivência.
Em muito idêntico ao que se passa com o nosso organismo que, através do sistema imunitário, impede que as ameaças constantes que sofremos se concretizem em doença e, sobretudo, em cancro que no essencial é uma perturbação incontrolada e incontrolável da divisão celular que é base da própria vida.
O nosso “sistema imunitário social” está claramente abaixo dos mínimos necessários para evitar verdadeiros cancros sociais como o de Oslo sendo incapaz de assegurar o equilíbrio-harmonia-homestase da nossa cultura.
Essa é a grande lição a retirar da tragédia norueguesa. Que pode acontecer em qualquer outro lado deste nosso mundo em que o virtual e o real se confundem e em que a des-individualização tanto permite insultar grotescamente um primeiro-ministro como matar, indiscriminadamente, transeuntes inocentes.
Sendo irrelevante se o “cruzado viking” é doido ou não.
PEDRO DAMASCENO
TIM ADAMS
Apocalipse Virtual
Um cancro social?
Considerar Anders Breivik, o assassino norueguês, simplesmente um psicopata perigoso ou o mero resultado de uma sociedade em decadência são explicações excessivamente simplistas.
O que aconteceu em Oslo foi demasiado grave e complexo para ser arrumado numa gaveta etiquetada.
Possivelmente Anders é tão psicopata como terão sido Hitler, Estaline ou Pol Pot. E a sociedade norueguesa não é certamente mais neurótica do que a Alemanha do III Reich, a Rússia dos bolcheviques ou o Cambodja dos kmers vermelhos.
Anders é um exibicionista vaidoso e arrogante, desprovido de qualquer sentido de empatia, capaz de actos extremamente violentos sem sentido de remorso e com um padrão comportamental muito desviante.
Podendo, por essa via, ser considerado um psicopata mas sem esquecer que nasceu e cresceu no seio de uma sociedade pacifica e culturalmente evoluída sem uma historia familiar ou pessoal particularmente violenta e/ou complicada, sem que o seu comportamento desviante tivesse sido identificado.
Tendo conseguido, além disso, obter, nessa sociedade, componentes para fabricar explosivos, armas e munições com aparente grande facilidade. E tendo, simultaneamente, conseguido fazer treino de manipulação de armas e de tiro num ambiente de “normalidade”.
O que levou a que o grande factor de perturbação seja que o terrorista nórdico é um dos “nossos” - branco, loiro, instruído e de origem cristã – bem nas antípodas do terrorista suicida de aspecto semita, primário e com convicções islâmicas radicais.
A barbárie atingiu em cheio o nosso próprio núcleo duro – democrata, tolerante e culto – sob a forma de um “cruzado” de aspecto viking que actuou em função de um “Plano” de 1.500 páginas que laboriosamente escreveu ao longo de dois anos e em que tenta criar doutrina sobre os males dos multiculturalismo e da ameaça islâmica ao Ocidente.
O norueguês pode até ter actuado sozinho mas não esteve sozinho ao longo do período de incubação dos seus actos criminosos. Foi bem acompanhado e industriado por blogers americanos e europeus que constituíram o núcleo duro da sua teorização.
Como escreveu Pedro Bacelar de Vasconcelos o pretenso “cruzado cristão” que semeou o terror em Oslo é simultaneamente o cavaleiro e a vítima do apocalipse virtual diariamente anunciado através dos média. Tendo entrado num processo de des-individualização que o anonimato da Internet permite e fomenta.
A nossa sociedade – da insolvência das dívidas soberanas, do declínio demográfico e da decadência económica – tem vindo a perder, perigosamente a sua homeostase. Ou seja a sua capacidade de manter um equilíbrio dinâmico que impeça a proliferação de ameaças à sua própria sobrevivência.
Em muito idêntico ao que se passa com o nosso organismo que, através do sistema imunitário, impede que as ameaças constantes que sofremos se concretizem em doença e, sobretudo, em cancro que no essencial é uma perturbação incontrolada e incontrolável da divisão celular que é base da própria vida.
O nosso “sistema imunitário social” está claramente abaixo dos mínimos necessários para evitar verdadeiros cancros sociais como o de Oslo sendo incapaz de assegurar o equilíbrio-harmonia-homestase da nossa cultura.
Essa é a grande lição a retirar da tragédia norueguesa. Que pode acontecer em qualquer outro lado deste nosso mundo em que o virtual e o real se confundem e em que a des-individualização tanto permite insultar grotescamente um primeiro-ministro como matar, indiscriminadamente, transeuntes inocentes.
Sendo irrelevante se o “cruzado viking” é doido ou não.
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, julho 22, 2011
SILÊNCIO ENSURDECEDOR
SILÊNCIO ENSURDECEDOR
“A esquadra da PSP das Mercês, em Lisboa, ficou quinta-feira sem efectivos, depois de 35 agentes terem metido baixa médica, obrigando ao recurso a outros polícias, uma situação que vai durar mais alguns dias, admitiu fonte da Direcção-Nacional” Jornal de Notícias Julho 2011
Não sendo preciso ser medico nem especialmente perspicaz para perceber que se tratam de baixas fraudulentas. Bastando apenas saber que os 35 agentes ficaram todos “doentes” no mesmo dia!
35 agentes que acabaram por ser 80 porque o mesmo aconteceu na esquadra do Cais de Sodré tendo esta e da Bairro alto ficado 24 horas sem qualquer capacidade operacional.
Sendo também sabido que por “coincidência” essas baixas ocorreram dois dias após a condenação a prisão efectiva de dois polícias por agressão a um estudante alemão naquela esquadra.
Sendo, por conseguinte, claro que se tratou de um acto ilícito colectivo exercido por quem está pago para cumprir e fazer cumprir a lei.
Sem questionar os motivos que estiveram por trás desse acto estamos perante uma situação de total anormalidade. Profissionais de saúde, em evidente quebra ética, utilizaram uma prerrogativa profissional para, lesando o estado, desenrascar profissionais da polícia. E estes serviram-se de um expediente ilegal para protestarem corporativamente ou simplesmente irem para a praia.
O que sendo em si muito grave assume insólita gravidade quando sobre tudo isto caiu um pano espesso de silêncio não se tendo ouvido até à data qualquer tomada de posição nem da parte do Ministério da Administração Interna nem da Ordem dos Médicos.
Tudo levando a crer que o que se deveria ter tornado num caso exemplar de actuação perante um situação ridícula num estado de direito (nem o saudoso Raul Solnado teria feito melhor) se arrisca ficar mesmo assim, branqueando publicamente a baixa falsa e a intolerável falta de disciplina e sentido de responsabilidade de quem devia ser o guardião de legalidade e da ordem publica.
Com certeza que a PSP tem muitos e conhecidos problemas para o exercício das suas funções grande parte dos quais se prendem com uma Justiça que reconhecidamente não cumpre cabal e atempadamente o seu mister e com um Estado que não lhe garante, frequentemente, meios imprescindíveis para a sua actuação.
Com certeza que há profissionais de saúde que são vítimas de simulações e manipulações difíceis de detectar nomeadamente quando partem de cidadãos teoricamente insuspeitos.
Mas nada justifica que tamanha enormidade, com laivos de insurreição, venha a passar impune, com toda a gente a assobiar para o lado.
É assim que se mina completamente a credibilidade do estado de direito e dos políticos. Paulatinamente. Mas com casos completamente inverosímeis que deveriam ser exemplares para trazer de volta à vida pública práticas de cidadania e isenção.
É verdadeiramente intolerável o silêncio ensurdecedor que caiu sobre este caso.
P E D R O D A M A S C E N O
“A esquadra da PSP das Mercês, em Lisboa, ficou quinta-feira sem efectivos, depois de 35 agentes terem metido baixa médica, obrigando ao recurso a outros polícias, uma situação que vai durar mais alguns dias, admitiu fonte da Direcção-Nacional” Jornal de Notícias Julho 2011
Não sendo preciso ser medico nem especialmente perspicaz para perceber que se tratam de baixas fraudulentas. Bastando apenas saber que os 35 agentes ficaram todos “doentes” no mesmo dia!
35 agentes que acabaram por ser 80 porque o mesmo aconteceu na esquadra do Cais de Sodré tendo esta e da Bairro alto ficado 24 horas sem qualquer capacidade operacional.
Sendo também sabido que por “coincidência” essas baixas ocorreram dois dias após a condenação a prisão efectiva de dois polícias por agressão a um estudante alemão naquela esquadra.
Sendo, por conseguinte, claro que se tratou de um acto ilícito colectivo exercido por quem está pago para cumprir e fazer cumprir a lei.
Sem questionar os motivos que estiveram por trás desse acto estamos perante uma situação de total anormalidade. Profissionais de saúde, em evidente quebra ética, utilizaram uma prerrogativa profissional para, lesando o estado, desenrascar profissionais da polícia. E estes serviram-se de um expediente ilegal para protestarem corporativamente ou simplesmente irem para a praia.
O que sendo em si muito grave assume insólita gravidade quando sobre tudo isto caiu um pano espesso de silêncio não se tendo ouvido até à data qualquer tomada de posição nem da parte do Ministério da Administração Interna nem da Ordem dos Médicos.
Tudo levando a crer que o que se deveria ter tornado num caso exemplar de actuação perante um situação ridícula num estado de direito (nem o saudoso Raul Solnado teria feito melhor) se arrisca ficar mesmo assim, branqueando publicamente a baixa falsa e a intolerável falta de disciplina e sentido de responsabilidade de quem devia ser o guardião de legalidade e da ordem publica.
Com certeza que a PSP tem muitos e conhecidos problemas para o exercício das suas funções grande parte dos quais se prendem com uma Justiça que reconhecidamente não cumpre cabal e atempadamente o seu mister e com um Estado que não lhe garante, frequentemente, meios imprescindíveis para a sua actuação.
Com certeza que há profissionais de saúde que são vítimas de simulações e manipulações difíceis de detectar nomeadamente quando partem de cidadãos teoricamente insuspeitos.
Mas nada justifica que tamanha enormidade, com laivos de insurreição, venha a passar impune, com toda a gente a assobiar para o lado.
É assim que se mina completamente a credibilidade do estado de direito e dos políticos. Paulatinamente. Mas com casos completamente inverosímeis que deveriam ser exemplares para trazer de volta à vida pública práticas de cidadania e isenção.
É verdadeiramente intolerável o silêncio ensurdecedor que caiu sobre este caso.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, junho 17, 2011
Esta revolução não é de direita nem de esquerda
Esta revolução não é de direita nem de esquerda:
é de senso comum
Assim rezava um cartaz empunhado por uma mulher, nas recentes manifestações populares em Espanha. Um slogan interessante a levantar um conjunto de reflexões indispensáveis nos dias de hoje.
Nos dias que passam, de avançadas tecnologias, parece faltar, cada vez mais, bom senso para sermos capazes de ter uma existência equilibrada, harmoniosa e geradora de bem estar e qualidade de vida.
O que nos faz correr afinal? Uma desenfreada correria ao consumo e à gratificação imediata com uma total quebra de valores e de sentido comunitário? Ou a incapacidade de estarmos em contacto connosco próprios?
Os valores centrais da democracia estão hoje bastante estabilizados e assegurados na Europa. Sendo a transição entre partidos ditos de direita e ditos de esquerda e vice versa completamente pacífica.
Há um conjunto de liberdades, direitos e garantias que é assumido, de barato, por todos os partidos. Felizmente. Mesmo os extremos, de um lado e outro, não ousam contestar a ordem estabelecida.
Contudo a quebra de influência da religião em conjugação com falta quase total de autoridade democrática e uma filosofia de facilitismo tem vindo a criar gerações cheias de expectativas irrealistas. Num mundo ficcional de direitos sem deveres.
Autoridade democrática que deveria ser o cerne da própria liberdade. Sem constrangimentos ou processos de intenção. Devendo entender-se autoridade democrático como o exercício político com base em leis maioritariamente consensualizadas e aprovadas.
Exercício assegurado pelo normal funcionamento das estruturais judiciais e das autoridades políticas, administrativas e policiais. Devendo ser os seus limites os que decorrem da lei num clima de isenção e estrito cumprimento das regras.
Temos, neste lado do mundo, as ferramentas necessárias e suficientes para conseguirmos ter sociedade livres, igualitárias e abundantes e, por conseguinte, geradoras de equilíbrio social, paz e felicidade.
Mas, mesmo um Stradivarius, não consegue pôr a tocar bem quem não sabe tocar violino. E sobretudo quem não quer aprender, pesem embora todas as pautas dos melhores compositores ou o melhor dos maestros.
Democracia não é libertinagem, desrespeito e abuso. Liberdade não é fazer tudo o que nos der na gana e ainda achar que no fim devemos ter direito a cela arejada, cama comida e roupa lavada e televisão a cores.
E não serão mais leis ou mais bens-de-usar-e-deitar fora que irão fazer a diferença. A diferença só poderá nascer de um esforço individual e colectivo para aceitar regras e princípios e activar comportamentos socialmente responsáveis e responsavelmente sociais.
No fundo, tirando as patologias, todos sabem como deve ser. Vem de muito longe e diz simplesmente: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti. Uma simples frase que encerra um conceito intemporal e definitivo.
Questões que não são de direita ou de esquerda mas, apenas, do mais elementar bom senso não valendo a pena desfraldar bandeiras ou gritar slogans só para inglês ver. Como não diante pôr perfume antes de tomar banho.
Faz, de facto, muita falta uma revolução do senso comum.
P E D R O D A M A S C E N O
é de senso comum
Assim rezava um cartaz empunhado por uma mulher, nas recentes manifestações populares em Espanha. Um slogan interessante a levantar um conjunto de reflexões indispensáveis nos dias de hoje.
Nos dias que passam, de avançadas tecnologias, parece faltar, cada vez mais, bom senso para sermos capazes de ter uma existência equilibrada, harmoniosa e geradora de bem estar e qualidade de vida.
O que nos faz correr afinal? Uma desenfreada correria ao consumo e à gratificação imediata com uma total quebra de valores e de sentido comunitário? Ou a incapacidade de estarmos em contacto connosco próprios?
Os valores centrais da democracia estão hoje bastante estabilizados e assegurados na Europa. Sendo a transição entre partidos ditos de direita e ditos de esquerda e vice versa completamente pacífica.
Há um conjunto de liberdades, direitos e garantias que é assumido, de barato, por todos os partidos. Felizmente. Mesmo os extremos, de um lado e outro, não ousam contestar a ordem estabelecida.
Contudo a quebra de influência da religião em conjugação com falta quase total de autoridade democrática e uma filosofia de facilitismo tem vindo a criar gerações cheias de expectativas irrealistas. Num mundo ficcional de direitos sem deveres.
Autoridade democrática que deveria ser o cerne da própria liberdade. Sem constrangimentos ou processos de intenção. Devendo entender-se autoridade democrático como o exercício político com base em leis maioritariamente consensualizadas e aprovadas.
Exercício assegurado pelo normal funcionamento das estruturais judiciais e das autoridades políticas, administrativas e policiais. Devendo ser os seus limites os que decorrem da lei num clima de isenção e estrito cumprimento das regras.
Temos, neste lado do mundo, as ferramentas necessárias e suficientes para conseguirmos ter sociedade livres, igualitárias e abundantes e, por conseguinte, geradoras de equilíbrio social, paz e felicidade.
Mas, mesmo um Stradivarius, não consegue pôr a tocar bem quem não sabe tocar violino. E sobretudo quem não quer aprender, pesem embora todas as pautas dos melhores compositores ou o melhor dos maestros.
Democracia não é libertinagem, desrespeito e abuso. Liberdade não é fazer tudo o que nos der na gana e ainda achar que no fim devemos ter direito a cela arejada, cama comida e roupa lavada e televisão a cores.
E não serão mais leis ou mais bens-de-usar-e-deitar fora que irão fazer a diferença. A diferença só poderá nascer de um esforço individual e colectivo para aceitar regras e princípios e activar comportamentos socialmente responsáveis e responsavelmente sociais.
No fundo, tirando as patologias, todos sabem como deve ser. Vem de muito longe e diz simplesmente: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti. Uma simples frase que encerra um conceito intemporal e definitivo.
Questões que não são de direita ou de esquerda mas, apenas, do mais elementar bom senso não valendo a pena desfraldar bandeiras ou gritar slogans só para inglês ver. Como não diante pôr perfume antes de tomar banho.
Faz, de facto, muita falta uma revolução do senso comum.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, junho 03, 2011
The day After
The Day After
Tornou-se um lugar comum – por acaso de muito mau gosto – dizer que prognósticos só depois do jogo! Uma daquelas banalidades que faz carreira para preencher eventuais vacuidades intelectuais.
O mesmo se poderia/poderá dizer em relação ao dia 5 de Junho e ao resultado das eleições legislativas. No entanto nunca o dia a seguinte (the day after) foi tão previsível como neste caso.
Não sendo de todo necessário olhar para a noite do dia 5 ou para a manhã do dia 6. O diagnóstico está, antecipadamente, feito. Sendo de segundo plano a questão de quem ganhou ou perdeu ou mesmo se ganharam todos!...
O dia seguinte vai ser de todos arregaçarem as mangas e principiarem a levar a sério este-estado-a-caminho-de-ser-milenário depois de umas eleições que talvez tivessem escusado de ter sido se tivesse havido uma efectiva liderança política de quem podia.
Mas o que está feito, feito está.
Não sendo visivelmente possível mudar o regime (que era disso que se tinha falta) poderão mudar-se algumas cadeiras no Palácio de São Bento/Assembleia e no Palacete de São Bento/Residência. Aonde as regras serão semelhantes com os actores em eventuais papeis diferentes.
Estando essas regras, nas suas grandes linhas gerais, escritas e assinadas resta saber, se mais uma vez, vamos tentar fugir com o rabo à seringa ou vamos mesmo levar tudo ao pé da letra.
E esse talvez seja um prognóstico que terá de ficar para o fim do jogo!...
Mas, pese embora alguma ironia antecedente, é fundamental que haja uma participação maciça dos eleitores que nos ponha a cobro de correr risco de cair na tentação de discutir, novamente, o sexo dos anjos.
Portugal tem que votar com um grande nível de participação que afaste por uns bons quatro anos as discussões de lana caprina e permita a quem vai governar a estabilidade e tranquilidade necessárias para enfrentar os desafios em espera.
O pior que nos poderá acontecer será um nim.
Mal ou bem teremos que decidir sem deixar margens de dúvida suicidas e tal não será possível se o Verão que se avizinha leve as pessoas para a praia ou o doce remanso do sofá e das telenovelas as mantenha em casa.
Muita gente morreu ao longo da História pelas causas da liberdade e da democracia. O mínimo que podemos fazer é usar o privilégio do voto que é, antes de mais, um dever incontornável de cidadania.
O diagnóstico para o dia seguinte está mais do que feito: serão dias difíceis para todos e de grandes privações para muita gente. Os políticos que vão a votos são os que fomos capazes de gerar, melhores só nas Caldas da Rainha.
Não vale, portanto, a pena esconjurar demónios ou endeusar bezerros. Há apenas que votar em massa, com convicção e profundo sentido de responsabilidade. Ponto.
P E D R O D A M A S C E N O
Tornou-se um lugar comum – por acaso de muito mau gosto – dizer que prognósticos só depois do jogo! Uma daquelas banalidades que faz carreira para preencher eventuais vacuidades intelectuais.
O mesmo se poderia/poderá dizer em relação ao dia 5 de Junho e ao resultado das eleições legislativas. No entanto nunca o dia a seguinte (the day after) foi tão previsível como neste caso.
Não sendo de todo necessário olhar para a noite do dia 5 ou para a manhã do dia 6. O diagnóstico está, antecipadamente, feito. Sendo de segundo plano a questão de quem ganhou ou perdeu ou mesmo se ganharam todos!...
O dia seguinte vai ser de todos arregaçarem as mangas e principiarem a levar a sério este-estado-a-caminho-de-ser-milenário depois de umas eleições que talvez tivessem escusado de ter sido se tivesse havido uma efectiva liderança política de quem podia.
Mas o que está feito, feito está.
Não sendo visivelmente possível mudar o regime (que era disso que se tinha falta) poderão mudar-se algumas cadeiras no Palácio de São Bento/Assembleia e no Palacete de São Bento/Residência. Aonde as regras serão semelhantes com os actores em eventuais papeis diferentes.
Estando essas regras, nas suas grandes linhas gerais, escritas e assinadas resta saber, se mais uma vez, vamos tentar fugir com o rabo à seringa ou vamos mesmo levar tudo ao pé da letra.
E esse talvez seja um prognóstico que terá de ficar para o fim do jogo!...
Mas, pese embora alguma ironia antecedente, é fundamental que haja uma participação maciça dos eleitores que nos ponha a cobro de correr risco de cair na tentação de discutir, novamente, o sexo dos anjos.
Portugal tem que votar com um grande nível de participação que afaste por uns bons quatro anos as discussões de lana caprina e permita a quem vai governar a estabilidade e tranquilidade necessárias para enfrentar os desafios em espera.
O pior que nos poderá acontecer será um nim.
Mal ou bem teremos que decidir sem deixar margens de dúvida suicidas e tal não será possível se o Verão que se avizinha leve as pessoas para a praia ou o doce remanso do sofá e das telenovelas as mantenha em casa.
Muita gente morreu ao longo da História pelas causas da liberdade e da democracia. O mínimo que podemos fazer é usar o privilégio do voto que é, antes de mais, um dever incontornável de cidadania.
O diagnóstico para o dia seguinte está mais do que feito: serão dias difíceis para todos e de grandes privações para muita gente. Os políticos que vão a votos são os que fomos capazes de gerar, melhores só nas Caldas da Rainha.
Não vale, portanto, a pena esconjurar demónios ou endeusar bezerros. Há apenas que votar em massa, com convicção e profundo sentido de responsabilidade. Ponto.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, maio 20, 2011
DIVERSIDADE
DIVERSIDADE
Apesar das mais de três dezenas de anos que já levamos de democracia ainda continuamos a ter dificuldade em aceitar as diferenças. Sejam elas de cor de pele ou orientação sexual ou sejam elas de confissão religiosa, partido ou clube de futebol.
Ainda gostamos, que nos fartamos, do Maria vai com as outras.
Esquecendo que é, justamente, a diversidade que torna possível a nossa própria existência. Sendo a biodiversidade, comprovadamente, indispensável à nossa subsistência como espécie.
Falando no plano meramente humano a diversidade é , também, um ingrediente crucial para o crescimento pessoal e colectivo e, o mesmo é dizer, para o desenvolvimento e o progresso.
A que há que acrescentar o sal da liberdade. Liberdade para ser diferente e para promover a diferença. Liberdade para soltar a criatividade, a ferramenta que apenas o ser humano consegue utilizar e que o separa das outras formas de vida.
Criatividade que necessita de dois fertilizantes principais: a liberdade e a capacidade de sentir e pensar diferente. O que torna as pessoas criativas em seres que buscam a diferença e a inovação não se atolhando no pântano da formatação e da unicidade.
O medo da diferença tem, por conseguinte, um preço elevado: o da estagnação e do retrocesso que são os progenitores da repressão e da intolerância. Que o digam Galileu e Darwin, entre tantos outros.
Quantas pessoas não foram torturadas e chacinadas só por serem diferentes? Quantos milhões de pessoas não foram mortas, na historia da humanidade, “só” por ousarem acreditar num Deus diferente?
Quantas não morreram e morrem em campos de batalha por causas que apenas tinham ou têm a ver com sectarismo, ignorância e obscurantismo? Quando vezes o etnocentrismo não combateu e combate o multiculturalismo?
Para a liberdade e tolerância não pode haver limites que não sejam os estritamente necessários para compatibilizar o interesse individual com o interesse comum. A únicas regras admissíveis têm a ver com a prevenção da libertinagem e a falta de valores.
Que bom viver em total liberdade de culto, de exercício político/cívico ou de qualquer outra forma de associação cultural ou desportiva: um verdadeiro privilégio para quem ama a vida e acredita nos valores da igualdade e do respeito.
Liberdade e diversidade são, praticamente, sinónimos. E nenhuma delas pode viver sem a outra.
P E D R O D A M A S C E N O
Apesar das mais de três dezenas de anos que já levamos de democracia ainda continuamos a ter dificuldade em aceitar as diferenças. Sejam elas de cor de pele ou orientação sexual ou sejam elas de confissão religiosa, partido ou clube de futebol.
Ainda gostamos, que nos fartamos, do Maria vai com as outras.
Esquecendo que é, justamente, a diversidade que torna possível a nossa própria existência. Sendo a biodiversidade, comprovadamente, indispensável à nossa subsistência como espécie.
Falando no plano meramente humano a diversidade é , também, um ingrediente crucial para o crescimento pessoal e colectivo e, o mesmo é dizer, para o desenvolvimento e o progresso.
A que há que acrescentar o sal da liberdade. Liberdade para ser diferente e para promover a diferença. Liberdade para soltar a criatividade, a ferramenta que apenas o ser humano consegue utilizar e que o separa das outras formas de vida.
Criatividade que necessita de dois fertilizantes principais: a liberdade e a capacidade de sentir e pensar diferente. O que torna as pessoas criativas em seres que buscam a diferença e a inovação não se atolhando no pântano da formatação e da unicidade.
O medo da diferença tem, por conseguinte, um preço elevado: o da estagnação e do retrocesso que são os progenitores da repressão e da intolerância. Que o digam Galileu e Darwin, entre tantos outros.
Quantas pessoas não foram torturadas e chacinadas só por serem diferentes? Quantos milhões de pessoas não foram mortas, na historia da humanidade, “só” por ousarem acreditar num Deus diferente?
Quantas não morreram e morrem em campos de batalha por causas que apenas tinham ou têm a ver com sectarismo, ignorância e obscurantismo? Quando vezes o etnocentrismo não combateu e combate o multiculturalismo?
Para a liberdade e tolerância não pode haver limites que não sejam os estritamente necessários para compatibilizar o interesse individual com o interesse comum. A únicas regras admissíveis têm a ver com a prevenção da libertinagem e a falta de valores.
Que bom viver em total liberdade de culto, de exercício político/cívico ou de qualquer outra forma de associação cultural ou desportiva: um verdadeiro privilégio para quem ama a vida e acredita nos valores da igualdade e do respeito.
Liberdade e diversidade são, praticamente, sinónimos. E nenhuma delas pode viver sem a outra.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, abril 29, 2011
FMI
FMI
Muitos têm sido os analistas que colocam as próximas eleições como atípicas face aos condicionalismos criados pelo pedido de ajuda ao FMI e à Comunidade Europeia.
E realmente são-no na medida em que vão condicionar fortemente as políticas económicas e de investimento do Governo que vier a ser constituído. Mas deixam de fora um conjunto de questões políticas fundamentais.
De modo que não sendo as próximas eleições desprovidas de condicionalismos também não serão a simples nomeação de um intendente para gerir as imposições do FMI e CEE.
Mais do nunca são urgentes reformas profundas na justiça, na educação, na administração pública e na própria saúde que pouco ou nada têm a ver com dinheiro e muito menos com a ajuda internacional.
E como é sabido as reformas a efectuar terão uma componente fortemente política/ideológica e não será, portanto, de todo indiferente qual vai o partido/s que as vão levar a cabo.
O FMI essencialmente vai impor rigor nas contas públicas e uma gestão orçamental sem falhas com óbvias restrições no lado da despesa e ganho no lado das receitas. Objectivos que irão, em última análise, servir o País.
Pelo que, ao contrário do que muita gente pensa ou faz fazer crer, o FMI e Cª não são nenhum papão mas simplesmente um recurso a que teve de se lançar mão face a um conjunto muito complexo de razões.
Portugal tem, felizmente, uma democracia madura com partidos que, embora carecendo de profunda renovação, estão conscientes (com algumas excepções) do momento grave que se vive.
Temos liberdade de expressão e temos potencial de actuação cívica e política que não se esgota nos partidos. Temos as ferramentas necessárias para aproveitar as dificuldades e as tornar numa oportunidade de desenvolvimento.
Melhor teria sido, obviamente, que nada disto tivesse sido preciso.
Mas temos agora uma excelente oportunidade para olhar para o passado e corrigir o nosso rumo alterando a corrida desenfreada ao consumismo e o facilitismo para retomarmos uma vida mais de acordo com os nossos recursos.
Portugal tem grandes recursos e, desde logo, um mar a perder de vista se incluirmos a Madeira e os Açores. O clima é muito favorável e as gentes são hospitaleiras e, se motivadas, laboriosas.
Há, por conseguinte, que fazer da actual conjuntura um arranque para um país de mangas arregaçadas e de esforço colectivo estabelecendo uma relação de confiança entre governantes e governados.
O FMI não veio para ficar como não ficou das outras vezes.
Foi talvez um percalço indispensável para que tomássemos plena consciência do momento difícil que vivemos e para que assentássemos os pés na terra.
Há coisas muito piores e a recente tragédia do Japão é disso um excelente exemplo. A nossa reacção só poderá ser de maturidade que passa pela participação activa nas eleições que se aproximam.
Não há, felizmente, salvadores da pátria em stock.
P E D R O D A M A S C E N O
Muitos têm sido os analistas que colocam as próximas eleições como atípicas face aos condicionalismos criados pelo pedido de ajuda ao FMI e à Comunidade Europeia.
E realmente são-no na medida em que vão condicionar fortemente as políticas económicas e de investimento do Governo que vier a ser constituído. Mas deixam de fora um conjunto de questões políticas fundamentais.
De modo que não sendo as próximas eleições desprovidas de condicionalismos também não serão a simples nomeação de um intendente para gerir as imposições do FMI e CEE.
Mais do nunca são urgentes reformas profundas na justiça, na educação, na administração pública e na própria saúde que pouco ou nada têm a ver com dinheiro e muito menos com a ajuda internacional.
E como é sabido as reformas a efectuar terão uma componente fortemente política/ideológica e não será, portanto, de todo indiferente qual vai o partido/s que as vão levar a cabo.
O FMI essencialmente vai impor rigor nas contas públicas e uma gestão orçamental sem falhas com óbvias restrições no lado da despesa e ganho no lado das receitas. Objectivos que irão, em última análise, servir o País.
Pelo que, ao contrário do que muita gente pensa ou faz fazer crer, o FMI e Cª não são nenhum papão mas simplesmente um recurso a que teve de se lançar mão face a um conjunto muito complexo de razões.
Portugal tem, felizmente, uma democracia madura com partidos que, embora carecendo de profunda renovação, estão conscientes (com algumas excepções) do momento grave que se vive.
Temos liberdade de expressão e temos potencial de actuação cívica e política que não se esgota nos partidos. Temos as ferramentas necessárias para aproveitar as dificuldades e as tornar numa oportunidade de desenvolvimento.
Melhor teria sido, obviamente, que nada disto tivesse sido preciso.
Mas temos agora uma excelente oportunidade para olhar para o passado e corrigir o nosso rumo alterando a corrida desenfreada ao consumismo e o facilitismo para retomarmos uma vida mais de acordo com os nossos recursos.
Portugal tem grandes recursos e, desde logo, um mar a perder de vista se incluirmos a Madeira e os Açores. O clima é muito favorável e as gentes são hospitaleiras e, se motivadas, laboriosas.
Há, por conseguinte, que fazer da actual conjuntura um arranque para um país de mangas arregaçadas e de esforço colectivo estabelecendo uma relação de confiança entre governantes e governados.
O FMI não veio para ficar como não ficou das outras vezes.
Foi talvez um percalço indispensável para que tomássemos plena consciência do momento difícil que vivemos e para que assentássemos os pés na terra.
Há coisas muito piores e a recente tragédia do Japão é disso um excelente exemplo. A nossa reacção só poderá ser de maturidade que passa pela participação activa nas eleições que se aproximam.
Não há, felizmente, salvadores da pátria em stock.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, abril 08, 2011
O TROCA-TINTAS
Nobre mergulhou na lama a palavra Cidadania
Jorge Castro Guedes
Coordenador da Candidatura de Fernando Nobre
Viana do castelo
O TROCA-TINTAS
Portugal já andava muito mal de políticas e de políticas.
O que lhe faltava, mesmo, era perder a confiança na possibilidade de existir vida para além dos partidos. Pese embora o papel fundamental que estes desempenham numa democracia parlamentar.
O pleno exercício de uma cidadania – esclarecida, tolerante e interveniente – é uma necessidade vital para reformar o sistema político democrático português porque só ela poderá levar os partidos à indispensável reflexão interna e consequente renovação.
A partidocracia extrema que se vive em Portugal só foi possível pela progressiva alienação/abstenção dos cidadãos que se foram acomodando a uma situação que, mercê da Europa, foi durante muito anos de relativo conforto.
A corrupção foi alastrando a ponto de atingir todos os níveis da sociedade portuguesa. Sendo que corrupção não é só receber luvas por fazer favores políticos mas permitir uma administração pública mastodôntica, incumpridora e incompetente. Salvaguardando, naturalmente, as devidas e honrosas excepções.
Os partidos do arco do poder foram, ao longo dos anos, consolidando a sua posição ao assegurarem um viveiro de votos. Já que o voto se tornou, em grande parte, no exercício de interesses pessoais e, bem pouco, no exercício de uma participação comunitária e cívica.
Palavras duras, mas que precisam de ser ditas.
A recente candidatura do Dr. Fernando Nobre à Presidência da República assumiu-se como uma candidatura supra-partidária e da cidadania visando combater a exclusão, a pobreza e a fome. Uma candidatura de valores e de independência baseada num trajecto humanitário e num curriculum de humildade.
Candidatura que empolgou muitos portugueses que lhe deram uma inesperada e choruda percentagem de 14,10% decorrente de 594.068 votos para além de um honroso terceiro lugar. Muito acima das mais optimistas previsões.
Conquistando um capital notável de simpatia e esperança numa sociedade conservadora e pouco avessa a mudanças profundas mas que se mostrou aberta à aposta nos valores e na esperança.
Eis que, em pleno rescaldo de PEC´S/Demissões/Eleições, vem o detentor desse capital endossar o cheque a um partido como forma de assegurar um tacho que não sendo o primeiro é, pelo menos, o segundo da hierarquia do estado!
Não interessando, minimamente para o caso, a que partido foi.
Sem dar a cara e deixando o cidadão comum “doravante à rasca para distinguir o que é nobre do que é rasca”prestou um péssimo serviço a Portugal e aos valores que dizia defender mas que eram mais para inglês ver do que para português usufruir.
Um simples e vulgar troca-tintas.
P E D R O D A M A S C E N O
Jorge Castro Guedes
Coordenador da Candidatura de Fernando Nobre
Viana do castelo
O TROCA-TINTAS
Portugal já andava muito mal de políticas e de políticas.
O que lhe faltava, mesmo, era perder a confiança na possibilidade de existir vida para além dos partidos. Pese embora o papel fundamental que estes desempenham numa democracia parlamentar.
O pleno exercício de uma cidadania – esclarecida, tolerante e interveniente – é uma necessidade vital para reformar o sistema político democrático português porque só ela poderá levar os partidos à indispensável reflexão interna e consequente renovação.
A partidocracia extrema que se vive em Portugal só foi possível pela progressiva alienação/abstenção dos cidadãos que se foram acomodando a uma situação que, mercê da Europa, foi durante muito anos de relativo conforto.
A corrupção foi alastrando a ponto de atingir todos os níveis da sociedade portuguesa. Sendo que corrupção não é só receber luvas por fazer favores políticos mas permitir uma administração pública mastodôntica, incumpridora e incompetente. Salvaguardando, naturalmente, as devidas e honrosas excepções.
Os partidos do arco do poder foram, ao longo dos anos, consolidando a sua posição ao assegurarem um viveiro de votos. Já que o voto se tornou, em grande parte, no exercício de interesses pessoais e, bem pouco, no exercício de uma participação comunitária e cívica.
Palavras duras, mas que precisam de ser ditas.
A recente candidatura do Dr. Fernando Nobre à Presidência da República assumiu-se como uma candidatura supra-partidária e da cidadania visando combater a exclusão, a pobreza e a fome. Uma candidatura de valores e de independência baseada num trajecto humanitário e num curriculum de humildade.
Candidatura que empolgou muitos portugueses que lhe deram uma inesperada e choruda percentagem de 14,10% decorrente de 594.068 votos para além de um honroso terceiro lugar. Muito acima das mais optimistas previsões.
Conquistando um capital notável de simpatia e esperança numa sociedade conservadora e pouco avessa a mudanças profundas mas que se mostrou aberta à aposta nos valores e na esperança.
Eis que, em pleno rescaldo de PEC´S/Demissões/Eleições, vem o detentor desse capital endossar o cheque a um partido como forma de assegurar um tacho que não sendo o primeiro é, pelo menos, o segundo da hierarquia do estado!
Não interessando, minimamente para o caso, a que partido foi.
Sem dar a cara e deixando o cidadão comum “doravante à rasca para distinguir o que é nobre do que é rasca”prestou um péssimo serviço a Portugal e aos valores que dizia defender mas que eram mais para inglês ver do que para português usufruir.
Um simples e vulgar troca-tintas.
P E D R O D A M A S C E N O
A CRISE DAS PALAVRAS
A CRISE DAS PALAVRAS
Não apetece falar.
A vida política, económica e social tomou tal rumo em Portugal que não apetece falar, sob pena de cair um lugares comuns e redundâncias. As palavras foram-se esgotando de tanto e tão mal usadas.
As palavras tem tomado o lugar dos actos que ficam, assim, substituídos por treta e mais treta, quer do lado da situação quer do lado da oposição. Para além do perorar contínuo e infatigável das carradas de opinantes televisivos e jornalísticos.
De liderança nicles!
Os chavões da dívida soberana, dos mercados e do rating esgotaram-se e desbotaram-se de tanto repetidos. E da mentira se fez luz de tanto repetida ou afirmado que foi dita faltando deliberar comprar uns quantos detectores da dita cuja.
Os fatos e as gravatas de cores lisas ou multicolores, conforme a moda da altura, alinham-se em exércitos palavrosos e portadores das respectivas verdades que lavam sempre mais branco do que as outras. E o Zé embasbacado vira as costas fazendo o gesto da praxe.
O consenso para os males é quase unânime, o consenso para os bens meteu baixa e foi de férias.
Entra FMI, não entra FMI num rodopio de diz que sim e diz que não que nos deixa tontos, atarantados e abananados não nos restando mais do que ir a votos por causa de PECs que não se discutiram e deveriam ter discutido e outras irrelevâncias.
Os alfas estão de saída e os beta preparam-se para entrar como se tudo isto fosse uma questão de castas e não um país a sério. E, cada vez menos,se acredita no carrossel de vaidades, arrogâncias e incompetências em que se tornou a Praça da Alegria da política.
Não será de estranhar que a vindoura diarreia de palavras que se propõe levar nos de novo ao paraíso desencadeie uma súbita e aguda vontade de ficar em casa e ir à praia (se ainda as houver) ficando tudo, novamente, em águas de bacalhau.
Só a ironia nos pode salvar deste tsunami de banalidades.
O país, esse vai ter que esperar para que a maré seque e dos escombros surja uma reconstrução feita - com diligência, competência e disciplina - por sobreviventes reciclados. Resta esperar pela bonança depois da tempestade.
Porque, entretanto, até as palavras incomodam de tão rotas e ocas.
P E D R O D A M A S C E N O
Não apetece falar.
A vida política, económica e social tomou tal rumo em Portugal que não apetece falar, sob pena de cair um lugares comuns e redundâncias. As palavras foram-se esgotando de tanto e tão mal usadas.
As palavras tem tomado o lugar dos actos que ficam, assim, substituídos por treta e mais treta, quer do lado da situação quer do lado da oposição. Para além do perorar contínuo e infatigável das carradas de opinantes televisivos e jornalísticos.
De liderança nicles!
Os chavões da dívida soberana, dos mercados e do rating esgotaram-se e desbotaram-se de tanto repetidos. E da mentira se fez luz de tanto repetida ou afirmado que foi dita faltando deliberar comprar uns quantos detectores da dita cuja.
Os fatos e as gravatas de cores lisas ou multicolores, conforme a moda da altura, alinham-se em exércitos palavrosos e portadores das respectivas verdades que lavam sempre mais branco do que as outras. E o Zé embasbacado vira as costas fazendo o gesto da praxe.
O consenso para os males é quase unânime, o consenso para os bens meteu baixa e foi de férias.
Entra FMI, não entra FMI num rodopio de diz que sim e diz que não que nos deixa tontos, atarantados e abananados não nos restando mais do que ir a votos por causa de PECs que não se discutiram e deveriam ter discutido e outras irrelevâncias.
Os alfas estão de saída e os beta preparam-se para entrar como se tudo isto fosse uma questão de castas e não um país a sério. E, cada vez menos,se acredita no carrossel de vaidades, arrogâncias e incompetências em que se tornou a Praça da Alegria da política.
Não será de estranhar que a vindoura diarreia de palavras que se propõe levar nos de novo ao paraíso desencadeie uma súbita e aguda vontade de ficar em casa e ir à praia (se ainda as houver) ficando tudo, novamente, em águas de bacalhau.
Só a ironia nos pode salvar deste tsunami de banalidades.
O país, esse vai ter que esperar para que a maré seque e dos escombros surja uma reconstrução feita - com diligência, competência e disciplina - por sobreviventes reciclados. Resta esperar pela bonança depois da tempestade.
Porque, entretanto, até as palavras incomodam de tão rotas e ocas.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, março 25, 2011
JAPÃO E KADHAFI
JAPÃO E KADHAFI
Aparentemente sem qualquer relação entre elas, duas realidades tão distantes e, no entanto, tão próximas nos seus respectivos dramas. Um feito pela mão da natureza e o outro pela mão do homem.
Uns sobrevivendo a uma catástrofe natural de proporções gigantescas outros sucumbindo aos ditames sanguinários de um ditador psicopata. Tudo quase em directo nossas televisões.
Enquanto no Japão os sobreviventes juntam em improvisadas casas de cartão os pouco haveres que lhes restaram e, ordeira e agradecidamente, aguardam ao auxílio que lhes chega; outros são chacinados numa luta desigual.
Assim vai o nosso mundo.
A forma heróica como os japoneses encararam o terramoto/tsunami e encaram agora a ameaça nuclear encontra um denominador comum com a forma determinada como os resistentes líbios enfrentam, com armas rudimentares, o poder de fogo do seu demente líder.
Os acontecimentos do Japão vieram provar, para quem ainda tivesse dúvidas, a nossa impotência perante as forças naturais em fúria. Não há tecnologia nem prevenção que nos valha e o País do Sol Nascente é, certamente, um exemplo do estado da arte da tecnologia e da disciplina.
Séculos passados sobre a instauração do regime democrático em Inglaterra ainda se morre por delitos de opinião e a liberdade cívica (que tomamos completamente de barato) é uma miragem reprimida sem apelo nem agravo. Perante uma comunidade internacional de mãos atadas e que, só agora, tomou uma posição.
A situação de perigo nuclear em Fukushima veio colocar a questão da energia nuclear noutro patamar. A sua inocuidade ficou completamente em causa e os futuros debates sobre essa questão serão certamente diferentes. Nunca esquecendo que a energia emitida pelo Sol é milhares de vezes superior às nossas necessidades globais.
Mais uma vez a ONU veio provar ser um órgão burocrático e dilacerado por contradições internas que o tornam um peso quase morto no que diz respeito à mediação de conflitos. A Costa do Marfim continua sem solução à vista sendo a situação humanitária muito séria e tendo número de pessoas deslocadas aumentado 10 vezes desde Dezembro. A Líbia é o que se vê.
O comportamento do japoneses perante a adversidade constitui um exemplo para todos nós, minimizando os terríveis impactos de uma destruição maciça e mostrando o que a cultura e educação cívica podem fazer. Sobretudo para nós latinos, especialistas em fazer tempestades em copos de água.
A total falta de respeito pelos mais elementares direitos humanos na Líbia vem chamar a atenção para os perigos da chamada política realista que sacrifica quase tudo em nome do “sacrossanto” petróleo tendo colocado Kadhafi na qualidade de chefe de estado respeitado e a respeitar!
Possivelmente o paradigma dos grandes centros urbanos e a da concentração de milhões de pessoas em cidades terá que ser posto em causa. Ontem o Rio de Janeiro hoje Miyagi. Números astronómicos: 24.000 desaparecidos com 270.000 desalojados, dados que questionam o modelo de ocupação do solo.
Depois dos insucessos do Iraque, do Afeganistão, da Costa do Marfim e da atabalhoada “intervenção” na Líbia será necessário repensar o modelo de actuação da ONU perante países que, escudados por uma putativa nacionalidade, cometem as maiores atrocidades. Encontrando consensos que efectivamente resolvam os problemas e abolindo as hipocrisias em que as Nações Unidas são useiras e vezeiras.
Muito para reflectir no rescaldo de tudo isto.
P E D R O D A M A S C E N O
Aparentemente sem qualquer relação entre elas, duas realidades tão distantes e, no entanto, tão próximas nos seus respectivos dramas. Um feito pela mão da natureza e o outro pela mão do homem.
Uns sobrevivendo a uma catástrofe natural de proporções gigantescas outros sucumbindo aos ditames sanguinários de um ditador psicopata. Tudo quase em directo nossas televisões.
Enquanto no Japão os sobreviventes juntam em improvisadas casas de cartão os pouco haveres que lhes restaram e, ordeira e agradecidamente, aguardam ao auxílio que lhes chega; outros são chacinados numa luta desigual.
Assim vai o nosso mundo.
A forma heróica como os japoneses encararam o terramoto/tsunami e encaram agora a ameaça nuclear encontra um denominador comum com a forma determinada como os resistentes líbios enfrentam, com armas rudimentares, o poder de fogo do seu demente líder.
Os acontecimentos do Japão vieram provar, para quem ainda tivesse dúvidas, a nossa impotência perante as forças naturais em fúria. Não há tecnologia nem prevenção que nos valha e o País do Sol Nascente é, certamente, um exemplo do estado da arte da tecnologia e da disciplina.
Séculos passados sobre a instauração do regime democrático em Inglaterra ainda se morre por delitos de opinião e a liberdade cívica (que tomamos completamente de barato) é uma miragem reprimida sem apelo nem agravo. Perante uma comunidade internacional de mãos atadas e que, só agora, tomou uma posição.
A situação de perigo nuclear em Fukushima veio colocar a questão da energia nuclear noutro patamar. A sua inocuidade ficou completamente em causa e os futuros debates sobre essa questão serão certamente diferentes. Nunca esquecendo que a energia emitida pelo Sol é milhares de vezes superior às nossas necessidades globais.
Mais uma vez a ONU veio provar ser um órgão burocrático e dilacerado por contradições internas que o tornam um peso quase morto no que diz respeito à mediação de conflitos. A Costa do Marfim continua sem solução à vista sendo a situação humanitária muito séria e tendo número de pessoas deslocadas aumentado 10 vezes desde Dezembro. A Líbia é o que se vê.
O comportamento do japoneses perante a adversidade constitui um exemplo para todos nós, minimizando os terríveis impactos de uma destruição maciça e mostrando o que a cultura e educação cívica podem fazer. Sobretudo para nós latinos, especialistas em fazer tempestades em copos de água.
A total falta de respeito pelos mais elementares direitos humanos na Líbia vem chamar a atenção para os perigos da chamada política realista que sacrifica quase tudo em nome do “sacrossanto” petróleo tendo colocado Kadhafi na qualidade de chefe de estado respeitado e a respeitar!
Possivelmente o paradigma dos grandes centros urbanos e a da concentração de milhões de pessoas em cidades terá que ser posto em causa. Ontem o Rio de Janeiro hoje Miyagi. Números astronómicos: 24.000 desaparecidos com 270.000 desalojados, dados que questionam o modelo de ocupação do solo.
Depois dos insucessos do Iraque, do Afeganistão, da Costa do Marfim e da atabalhoada “intervenção” na Líbia será necessário repensar o modelo de actuação da ONU perante países que, escudados por uma putativa nacionalidade, cometem as maiores atrocidades. Encontrando consensos que efectivamente resolvam os problemas e abolindo as hipocrisias em que as Nações Unidas são useiras e vezeiras.
Muito para reflectir no rescaldo de tudo isto.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, fevereiro 11, 2011
Viver e morrer em Nova Iorque
Viver e morrer em Nova Iorque
Já passaram dias bastante para que se possa analisar com alguma serenidade o crime que ocorreu em Nova Iorque, perpetrado por um jovem aspirante a modelo sobre um maduro colunista social.
Assunto que ocupou as primeiras paginas do jornais durante semanas e que ainda continua continua a ser motivo de controvérsia matizada, em grande parte dos casos, por paixões desencontradas.
Mas, para além de tudo o que disse ou possa vir a dizer, tratou-se indiscutivelmente de um homicídio rodeado de extrema violência envolvendo pessoas aparentemente sem hábitos agressivos.
O que aconteceu, então, naquele distante quarto de hotel em Nova Iorque?
O que poderá ter levado um jovem de Cantanhede sem passado violento a cometer semelhante crime e o que levou um homem sofisticado e maduro de Lisboa a envolver-se com um puto provinciano?
Luxúria, carências afectivas, ambição desmedida, oportunismo, egoísmo, consumismo exacerbado, dinheiro fácil, exploração psicológica, vulnerabilidade emocional. Talvez tudo isso, num cenário de grande falta de valores.
Ter-se-á o rapaz “passado” perante uma pressão intolerável por parte do suposto protector? Terá havido drogas? É possível mas caberá aos investigadores e psicólogos/psiquiatras decidir.
O certo é que um jovem estragou a vida e um homem maduro perdeu a sua. Tudo porque o estranho mundo a que chegamos criou o “caldinho” indispensável para que coisas dessas aconteçam.
A futilidade e frivolidade da vida urbana moderna, frutos da falta de valores e do endeusamento do dinheiro e da “fama, criaram atalhos aonde deveria haver trabalho, talento, perseverança e resiliência.
Com a conivência das próprias famílias que talvez também esperassem algumas migalhas do banquete. Como diria o povo quando a esmola é grande o pobre desconfia. Mas isso era antigamente. Hoje contam, principalmente, as luzes da ribalta e os faz-de-conta.
Possível explicação para o que se passou e possível razão para explicar as manifestações de solidariedade a favor e contra da vítima e do matador transformando algo que deveria merecer uma reflexão séria e profunda em mais um número de circo mediático.
Ter-se tudo isto tornado noutra novela de cordel é o pior que podia ter acontecido. Carlos e Renato são, por razões diferentes, dois exemplos paradigmáticos dos tempos em que vivemos. Dos tempos em que 43 mulheres foram também assassinadas, em 2010 e em Portugal, por violência doméstica. Dos tempos em que um engenheiro de 65 anos executa a tiro, em frente da neta, um ex-genro advogado.
Faces diferentes da mesma moeda. O resto são detalhes.
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, janeiro 28, 2011
Em busca da alma perdida
Muda primeiro em ti o que queres mudar no mundo
Ghandi
Em busca da alma perdida
Portugal, muito antiga e nobre nação, tem tudo para dar certo: clima, paisagem, grande área de mar, regiões autónomas marítimas. E sobretudo o povo, afável e capaz de grandes feitos como a História nos ensina.
Nos últimos cem anos chegámos a ser a nação que mais cresceu economicamente na Europa. Para não falar, naturalmente, nos mundos que demos ao mundo e nas marcas que deixámos um pouco por todo lado.
Somos capazes e muito viáveis como sobejamente já provamos durante a longa marcha que trazemos desde os tempos do Condado Portucalense.
E, contudo, andamos agora nas bocas do mundo como um pais à beira da falência e o nosso dia-a-dia só nos fala de crise e de falta de dinheiro, curvados perante os canhões em posição do FMI!
Depois da queda do cinzento, austero e miserabilista regime salazarista conquistámos, de novo, o direito à democracia e à participação política que nos tinha sido arrancada como consequência dos desmandos republicanos de outrem.
Entramos na Europa saindo, finalmente, de dezenas de anos do isolamento do “orgulhosamente sós” a que o dito estado novo nos tinha acorrentado na tese de que para lá de Vilar Formoso estava o pecado e a perdição.
Com olhos no bem estar europeu começamos a usufruir das benesses das liberdade e dos sólidos apoios económicos a que tivemos acesso. Sentimos-nos europeus, fundamos partidos e fomos à vida.
Passados quase quarenta anos desde a restauração da democracia baixamos a cabeça e nem sequer ao trabalho de votar nos damos. Deixamos de acreditar na política e nos políticos que, nós próprios, criámos.
A abstenção cresce para níveis preocupantes, a corrupção e o compadrio alastram e, tudo indica, que voltámos ao estado de espírito abúlico e desiludido de que tem já não acredita em nada e deixou cair os braços.
Quando o que se passa hoje em dia – e é muito mau – é da nossa responsabilidade colectiva. Temos os políticos e os partidos que ajudámos a criar e a filosofia de vida que escolhemos.
Só temos, portanto, que nos virar para nós próprios.
Só temos, cada um de nós, de mudar aquilo que achamos mal nos outros. Deixando de lado a convicção infantil de que as coisas estão mal por razões e pessoas alheias e que, individualmente considerados, somos todos óptimos.
As eleições presidenciais, mornas e sem rasgo, vieram mostrar um país que fortemente se absteve (que não está para se chatear..) mas mostrou, também, um país que foi as às urnas para dizer não ao sistema expressando vontade de participação cívica.
Temos o sistema que, colectivamente, fomos capazes de gerar. Os indispensáveis partidos e políticos que temos foram criados à nossa imagem e semelhança. Se não gostamos do resultado só temos que nos mudar a nós próprios e o resto vira por acréscimo.
Não esperando por qualquer salvador milagroso que nos venha fazer o trabalho de casa para, depois, nos por, de novo, açaime. Como diria um conhecido comentarista da praça: não há pequenos almoços de graça!...
P E D R O D A M A S C E N O
Ghandi
Em busca da alma perdida
Portugal, muito antiga e nobre nação, tem tudo para dar certo: clima, paisagem, grande área de mar, regiões autónomas marítimas. E sobretudo o povo, afável e capaz de grandes feitos como a História nos ensina.
Nos últimos cem anos chegámos a ser a nação que mais cresceu economicamente na Europa. Para não falar, naturalmente, nos mundos que demos ao mundo e nas marcas que deixámos um pouco por todo lado.
Somos capazes e muito viáveis como sobejamente já provamos durante a longa marcha que trazemos desde os tempos do Condado Portucalense.
E, contudo, andamos agora nas bocas do mundo como um pais à beira da falência e o nosso dia-a-dia só nos fala de crise e de falta de dinheiro, curvados perante os canhões em posição do FMI!
Depois da queda do cinzento, austero e miserabilista regime salazarista conquistámos, de novo, o direito à democracia e à participação política que nos tinha sido arrancada como consequência dos desmandos republicanos de outrem.
Entramos na Europa saindo, finalmente, de dezenas de anos do isolamento do “orgulhosamente sós” a que o dito estado novo nos tinha acorrentado na tese de que para lá de Vilar Formoso estava o pecado e a perdição.
Com olhos no bem estar europeu começamos a usufruir das benesses das liberdade e dos sólidos apoios económicos a que tivemos acesso. Sentimos-nos europeus, fundamos partidos e fomos à vida.
Passados quase quarenta anos desde a restauração da democracia baixamos a cabeça e nem sequer ao trabalho de votar nos damos. Deixamos de acreditar na política e nos políticos que, nós próprios, criámos.
A abstenção cresce para níveis preocupantes, a corrupção e o compadrio alastram e, tudo indica, que voltámos ao estado de espírito abúlico e desiludido de que tem já não acredita em nada e deixou cair os braços.
Quando o que se passa hoje em dia – e é muito mau – é da nossa responsabilidade colectiva. Temos os políticos e os partidos que ajudámos a criar e a filosofia de vida que escolhemos.
Só temos, portanto, que nos virar para nós próprios.
Só temos, cada um de nós, de mudar aquilo que achamos mal nos outros. Deixando de lado a convicção infantil de que as coisas estão mal por razões e pessoas alheias e que, individualmente considerados, somos todos óptimos.
As eleições presidenciais, mornas e sem rasgo, vieram mostrar um país que fortemente se absteve (que não está para se chatear..) mas mostrou, também, um país que foi as às urnas para dizer não ao sistema expressando vontade de participação cívica.
Temos o sistema que, colectivamente, fomos capazes de gerar. Os indispensáveis partidos e políticos que temos foram criados à nossa imagem e semelhança. Se não gostamos do resultado só temos que nos mudar a nós próprios e o resto vira por acréscimo.
Não esperando por qualquer salvador milagroso que nos venha fazer o trabalho de casa para, depois, nos por, de novo, açaime. Como diria um conhecido comentarista da praça: não há pequenos almoços de graça!...
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, janeiro 14, 2011
Bastão e Cenoura?
Quanto mais leis mais ladrões
Ditado taoísta
Bastão e Cenoura?
A crise das instituições em Portugal já se tornou um facto banal, de tanto ser badalado. Sobretudo a administração pública que, de forma recorrente, ocupa o pódio da baixa rentabilidade e o centro do humor laboral.
E também, de forma recorrente, se preconiza como solução a nomeação de comissões de inquérito que, por sua vez, apontam para a emissão de mais regras, regulamentos e leis. Bem como a instituição de incentivos para os vários agentes fazerem bem aquilo que era sua obrigação.
Bastão e cenoura.
E, assim, vamos perdendo a confiança em instituições de que dependemos. Instituições que não nos dão o que precisamos.
Escolas que não cuidam da instrução dos nossos filhos como deviam. Médicos que não nos dão a atenção e os cuidados sem pressas que procuramos. Sistema judicial mais amarrado a procedimentos administrativos do que a fazer justiça.
Funcionários administrativos das mil e uma repartições que nem se preocupam em dar bom dia e utilizam o seu “poder” de forma displicente e arrogante. Trabalhadores do estado que adormecem em cima das enxadas.
Todos nós conhecemos e vivemos isto. Como, também, todos nos sentimos desencantados e insatisfeitos. Mas, bem mais frequentemente do que se pensa, os autores dessas nossas frustrações também estão, por sua vez, mergulhados no desencanto e na frustração.
Muitos médicos gostariam, certamente, de tratar bem melhor os seus doentes em vez de estarem afogados em tarefas administrativas e terem de atingir verdadeiros recordes de consultas por hora.
Muitos professores gostariam de ensinar melhor o seus alunos em vez de estarem absorvidos por intermináveis acções de formação, testes estandardizados e novas técnicas de ensino que, na prática, se traduzem num interminável aumento de tarefas burocráticas.
Muitos magistrados, advogados e funcionários judiciais estariam muito mais realizados se não estivessem soterrados sob verdadeiras diarreias legislativas e regulamentares mas, antes, a fazer justiça.
Muitos funcionários administrativos estariam muito mais satisfeitos a fazer tarefas simples e claras que tornassem o seu trabalho atractivo do que sujeitos ao infernal aparelho burocrático do estado.
No fundo a grande maioria de todos nós gostaria que o nosso trabalho fosse estimulante e gratificante. Do mesmo que todos nós sentimos necessidade de afecto e calor, quer a nível pessoal quer a nível profissional.
Trabalho e afecto: as chaves da felicidade.
E para isso é indispensável a sabedoria prática, a mesma que um tocador de jazz precisa para improvisar ou um artesão para fazer uma casa.
Sabedoria não é um bem reservado a elites e a gurus mas uma ferramenta essencial à gestão do nosso dia a dia. Uma sabedoria prática que nos ajude a atingir a excelência na vida e a saber lidar com os problemas concretos. Uma sabedoria que os antigos tinham de sobra.
Regras e incentivos são necessários. Mas nada pode substituir o olhar para dentro e o saber libertar o enorme potencial que todos nós possuímos. Trocando as voltas ao circo mediático e barulhento em que se tornaram as nossas vidas.
Uma tarefa que cabe a todos: desde o primeiro ministro ao mais modesto trabalhador.
P E D R O D A M A S C E N O
Ditado taoísta
Bastão e Cenoura?
A crise das instituições em Portugal já se tornou um facto banal, de tanto ser badalado. Sobretudo a administração pública que, de forma recorrente, ocupa o pódio da baixa rentabilidade e o centro do humor laboral.
E também, de forma recorrente, se preconiza como solução a nomeação de comissões de inquérito que, por sua vez, apontam para a emissão de mais regras, regulamentos e leis. Bem como a instituição de incentivos para os vários agentes fazerem bem aquilo que era sua obrigação.
Bastão e cenoura.
E, assim, vamos perdendo a confiança em instituições de que dependemos. Instituições que não nos dão o que precisamos.
Escolas que não cuidam da instrução dos nossos filhos como deviam. Médicos que não nos dão a atenção e os cuidados sem pressas que procuramos. Sistema judicial mais amarrado a procedimentos administrativos do que a fazer justiça.
Funcionários administrativos das mil e uma repartições que nem se preocupam em dar bom dia e utilizam o seu “poder” de forma displicente e arrogante. Trabalhadores do estado que adormecem em cima das enxadas.
Todos nós conhecemos e vivemos isto. Como, também, todos nos sentimos desencantados e insatisfeitos. Mas, bem mais frequentemente do que se pensa, os autores dessas nossas frustrações também estão, por sua vez, mergulhados no desencanto e na frustração.
Muitos médicos gostariam, certamente, de tratar bem melhor os seus doentes em vez de estarem afogados em tarefas administrativas e terem de atingir verdadeiros recordes de consultas por hora.
Muitos professores gostariam de ensinar melhor o seus alunos em vez de estarem absorvidos por intermináveis acções de formação, testes estandardizados e novas técnicas de ensino que, na prática, se traduzem num interminável aumento de tarefas burocráticas.
Muitos magistrados, advogados e funcionários judiciais estariam muito mais realizados se não estivessem soterrados sob verdadeiras diarreias legislativas e regulamentares mas, antes, a fazer justiça.
Muitos funcionários administrativos estariam muito mais satisfeitos a fazer tarefas simples e claras que tornassem o seu trabalho atractivo do que sujeitos ao infernal aparelho burocrático do estado.
No fundo a grande maioria de todos nós gostaria que o nosso trabalho fosse estimulante e gratificante. Do mesmo que todos nós sentimos necessidade de afecto e calor, quer a nível pessoal quer a nível profissional.
Trabalho e afecto: as chaves da felicidade.
E para isso é indispensável a sabedoria prática, a mesma que um tocador de jazz precisa para improvisar ou um artesão para fazer uma casa.
Sabedoria não é um bem reservado a elites e a gurus mas uma ferramenta essencial à gestão do nosso dia a dia. Uma sabedoria prática que nos ajude a atingir a excelência na vida e a saber lidar com os problemas concretos. Uma sabedoria que os antigos tinham de sobra.
Regras e incentivos são necessários. Mas nada pode substituir o olhar para dentro e o saber libertar o enorme potencial que todos nós possuímos. Trocando as voltas ao circo mediático e barulhento em que se tornaram as nossas vidas.
Uma tarefa que cabe a todos: desde o primeiro ministro ao mais modesto trabalhador.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, dezembro 31, 2010
PNB ou FNB?
PNB ou FNB ?
É de todos sabido o significado de PNB (Produto Nacional Bruto). Que é, sumariamente, a soma de bens e serviços produzidos pelos nacionais no país e no estrangeiro num dado período de tempo, normalmente um ano. Incluindo remessas de emigrantes e excluindo aquilo que os estrangeiros produzem nesse país.
Contudo, um obscuro e pequeno país dos Himalaias (entalado entre a China e a Índia) de 700 mil habitantes, de seu nome Butão, avalia a prestação do estado segundo o conceito de FNB (Felicidade nacional Bruta).
Sendo a FNB butanesa a soma da acumulação de vários índices como bem estar psicológico, ambiente, saúde, educação, cultura, nível de vida, utilização do tempo, actividades sociais boa governação. Rejeitando a lógica mercantil quando invade bens colectivos considerados intangíveis como a educação e a saúde.
O Butão é possivelmente, o único país que jamais transitou de um regime feudal de monarquia absoluta para uma monarquia parlamentar por iniciativa do próprio soberano que iniciou uma democratização que os seus próprios súbditos não procuravam!
Graças ao FNB o país tem hoje um quadro ambiental e cultural preservado com crescimento anual da ordem dos 7%. Conseguindo uma pronunciada queda do analfabetismo e um rápido aumento da esperança de vida ao nascer.
O actual rei Khesar, jovem e muito popular, inscreveu o FNB na constituição e, desse modo, introduziu a felicidade no âmago das políticas públicas. Criando uma comissão que avalia o impacto as políticas em função do bem estar colectivo.
Tudo isto sem alardes e, muito menos, sem chavões ditos colectivistas ditados por uma nomenclatura política instalada e mantida no poder pela força e pela repressão. De maioria budista o país tem procurado seguir um modelo de modernização e crescimento económico que não ponha radicalmente em causa os valores tradicionais mas que integre alguns bens da civilização ocidental.
Tendo conseguido um honroso 8º lugar na Carta Mundial da Felicidade publicada em 2006 pela Universidade de Leicester em que os primeiros lugares são ocupados por países da Europa do Norte. Feito notável para um obscuro reino asiático de poucos recursos localizado numa das zonas de maior pobreza do mundo.
Utopia? Talvez mas é bom constatar a existência e o exemplo de um país que, ao arrepio dos padrões habituais, nem se refugia numa ditadura sangrenta e demagógica nem se põe em bicos de pés para aceder, de pleno direito, ao “paraíso” do consumismo.
Embora admitindo a entrada de turistas o Butão coloca restrições sérias a um turismo de massas que venha delapidar os recursos naturais e pôr em causa um modelo de desenvolvimento que põe as pessoas e o seu bem estar e identidade no topo da agenda política.
O país optou por um turismo para segmentos elevados limitando o número de visitantes como forma de manter a sua identidade cultural aproveitando as mais valias trazidas por quem pode pagar e aprecia, com alguma reverência, um ambiente preservado e uma cultura autêntica.
O Butão é, certamente, uma gota de água no oceano. Mas uma que faz falta, como diria a Madre Teresa de Calcutá.
No mínimo, este despretensioso e humilde país asiático poderá tornar-se num caso de estudo para quem se preocupa com os valores da felicidade e do bem estar num cenário de preservação ambiental e cultural. Oxalá não se estrague e não se converta noutra Meca da fast food espiritual ou numa pequena América nos Himalaias.
É bom sonhar!
P E D R O D A M A S C E N O
É de todos sabido o significado de PNB (Produto Nacional Bruto). Que é, sumariamente, a soma de bens e serviços produzidos pelos nacionais no país e no estrangeiro num dado período de tempo, normalmente um ano. Incluindo remessas de emigrantes e excluindo aquilo que os estrangeiros produzem nesse país.
Contudo, um obscuro e pequeno país dos Himalaias (entalado entre a China e a Índia) de 700 mil habitantes, de seu nome Butão, avalia a prestação do estado segundo o conceito de FNB (Felicidade nacional Bruta).
Sendo a FNB butanesa a soma da acumulação de vários índices como bem estar psicológico, ambiente, saúde, educação, cultura, nível de vida, utilização do tempo, actividades sociais boa governação. Rejeitando a lógica mercantil quando invade bens colectivos considerados intangíveis como a educação e a saúde.
O Butão é possivelmente, o único país que jamais transitou de um regime feudal de monarquia absoluta para uma monarquia parlamentar por iniciativa do próprio soberano que iniciou uma democratização que os seus próprios súbditos não procuravam!
Graças ao FNB o país tem hoje um quadro ambiental e cultural preservado com crescimento anual da ordem dos 7%. Conseguindo uma pronunciada queda do analfabetismo e um rápido aumento da esperança de vida ao nascer.
O actual rei Khesar, jovem e muito popular, inscreveu o FNB na constituição e, desse modo, introduziu a felicidade no âmago das políticas públicas. Criando uma comissão que avalia o impacto as políticas em função do bem estar colectivo.
Tudo isto sem alardes e, muito menos, sem chavões ditos colectivistas ditados por uma nomenclatura política instalada e mantida no poder pela força e pela repressão. De maioria budista o país tem procurado seguir um modelo de modernização e crescimento económico que não ponha radicalmente em causa os valores tradicionais mas que integre alguns bens da civilização ocidental.
Tendo conseguido um honroso 8º lugar na Carta Mundial da Felicidade publicada em 2006 pela Universidade de Leicester em que os primeiros lugares são ocupados por países da Europa do Norte. Feito notável para um obscuro reino asiático de poucos recursos localizado numa das zonas de maior pobreza do mundo.
Utopia? Talvez mas é bom constatar a existência e o exemplo de um país que, ao arrepio dos padrões habituais, nem se refugia numa ditadura sangrenta e demagógica nem se põe em bicos de pés para aceder, de pleno direito, ao “paraíso” do consumismo.
Embora admitindo a entrada de turistas o Butão coloca restrições sérias a um turismo de massas que venha delapidar os recursos naturais e pôr em causa um modelo de desenvolvimento que põe as pessoas e o seu bem estar e identidade no topo da agenda política.
O país optou por um turismo para segmentos elevados limitando o número de visitantes como forma de manter a sua identidade cultural aproveitando as mais valias trazidas por quem pode pagar e aprecia, com alguma reverência, um ambiente preservado e uma cultura autêntica.
O Butão é, certamente, uma gota de água no oceano. Mas uma que faz falta, como diria a Madre Teresa de Calcutá.
No mínimo, este despretensioso e humilde país asiático poderá tornar-se num caso de estudo para quem se preocupa com os valores da felicidade e do bem estar num cenário de preservação ambiental e cultural. Oxalá não se estrague e não se converta noutra Meca da fast food espiritual ou numa pequena América nos Himalaias.
É bom sonhar!
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, novembro 12, 2010
BIOCRACIA (Biodemocracia)
O país não precisa de uma ditadura, mas precisa de uma radical reforma.
Vasco Pulido Valente
BIOCRACIA
(Biodemocracia)
Portugal precisa, de facto, de uma radical reforma.
E quem diz Portugal diz a nossa cultura ocidental. Porque não somos assim tão diferentes de todos os outros. Os nossos défices orçamentais podem ser maiores, a nossa produtividade menor mas a filosofia do sistema é a mesma.
Basicamente somos uma cultura de consumo que explora os nossos recursos naturais de forma, crescentemente, insustentável baseados na convicção de que o planeta está à nossa inteira disposição e foi “feito” para nos servir.
Consideramos-nos o supra-sumo da criação com o direito de decidir sobre o destino de todas as outras espécies só pelo simples facto de termos um cérebro mais desenvolvido e termos criado as tecnologias que tal nos permite fazer.
E, mesmo sabendo que o hábito não faz o monge, procurarmos gratificação e felicidade fora de nós, quer por via do consumismo e do conforto excessivos quer tentando ignorar que a nossa casa comum – o planeta – precisa da biodiversidade para manter qualidade.
O que levou a que, nos últimos quarenta anos, se desse um declínio de cerca de 30% da biodiversidade global e uma pressão sobre os recursos naturais da ordem de uma Terra e meia.
Ou seja, também ao nível dos recursos naturais e da manutenção das outras espécies, estamos a viver muito acima das nossas possibilidades. Só com uma grande diferença: a nível do ambiente e dos recursos naturais não há FMI que nos possa salvar!
Desde 1980 que consumimos mais recursos naturais do a capacidade de regeneração dos ecossistemas e produzimos mais dióxido de carbono do que a Terra pode absorver, situação agravada pela excessiva desflorestação que continua a fazer-se. Estando, por conseguinte, em défice ambiental desde essa altura.
Sendo a grande diferença que não é possível emitir qualidade ambiental da mesma forma que se pode emitir moeda. E qualidade ambiental é uma condição indispensável à nossa qualidade de vida e, no limite, á nossa sobrevivência.
Sendo que tudo isto assume particular importância quando se estima que a população mundial atinja os 9 mil milhões em 2050. E quando se percebe que países emergentes e muito populosos como a China, a Índia e o Brasil tenham objectivos (até certo ponto legítimos) de conseguir os níveis de consumo e conforto do Estados Unidos e da Europa.
O que se poderá tornar trágico quando se sabe que dez hectares são insuficientes para compensar para compensar o estilo de vida de um habitante dos Emirados em comparação com o meio hectare necessário a um timorense! E que com a actual pressão consumista esta Terra já não nos chega.
Sendo a democracia (poder do povo, humano entenda-se) o melhor sistema imperfeito que se conhece talvez seja altura para evoluirmos para a biocracia ou biodemocracia. Sendo esta uma democracia ecológica que inclua todos os seres vivos, tanto na biodiversidade como na diversidade cultural.
Sendo seguro que as outras espécies e os ecossistemas não possam vir a ter os seus próprios parlamentos compete-nos a nós, principais interessados, dar-lhes voz e poder político. Sob pena de podermos vir a estar perante um ecocídio e, o mesmo é dizer, um biocídio. Palavras novas para novas ameaças.
Viva-se no centro de Nova Iorque ou nos Açores!
PEDRO DAMASCENO
Vasco Pulido Valente
BIOCRACIA
(Biodemocracia)
Portugal precisa, de facto, de uma radical reforma.
E quem diz Portugal diz a nossa cultura ocidental. Porque não somos assim tão diferentes de todos os outros. Os nossos défices orçamentais podem ser maiores, a nossa produtividade menor mas a filosofia do sistema é a mesma.
Basicamente somos uma cultura de consumo que explora os nossos recursos naturais de forma, crescentemente, insustentável baseados na convicção de que o planeta está à nossa inteira disposição e foi “feito” para nos servir.
Consideramos-nos o supra-sumo da criação com o direito de decidir sobre o destino de todas as outras espécies só pelo simples facto de termos um cérebro mais desenvolvido e termos criado as tecnologias que tal nos permite fazer.
E, mesmo sabendo que o hábito não faz o monge, procurarmos gratificação e felicidade fora de nós, quer por via do consumismo e do conforto excessivos quer tentando ignorar que a nossa casa comum – o planeta – precisa da biodiversidade para manter qualidade.
O que levou a que, nos últimos quarenta anos, se desse um declínio de cerca de 30% da biodiversidade global e uma pressão sobre os recursos naturais da ordem de uma Terra e meia.
Ou seja, também ao nível dos recursos naturais e da manutenção das outras espécies, estamos a viver muito acima das nossas possibilidades. Só com uma grande diferença: a nível do ambiente e dos recursos naturais não há FMI que nos possa salvar!
Desde 1980 que consumimos mais recursos naturais do a capacidade de regeneração dos ecossistemas e produzimos mais dióxido de carbono do que a Terra pode absorver, situação agravada pela excessiva desflorestação que continua a fazer-se. Estando, por conseguinte, em défice ambiental desde essa altura.
Sendo a grande diferença que não é possível emitir qualidade ambiental da mesma forma que se pode emitir moeda. E qualidade ambiental é uma condição indispensável à nossa qualidade de vida e, no limite, á nossa sobrevivência.
Sendo que tudo isto assume particular importância quando se estima que a população mundial atinja os 9 mil milhões em 2050. E quando se percebe que países emergentes e muito populosos como a China, a Índia e o Brasil tenham objectivos (até certo ponto legítimos) de conseguir os níveis de consumo e conforto do Estados Unidos e da Europa.
O que se poderá tornar trágico quando se sabe que dez hectares são insuficientes para compensar para compensar o estilo de vida de um habitante dos Emirados em comparação com o meio hectare necessário a um timorense! E que com a actual pressão consumista esta Terra já não nos chega.
Sendo a democracia (poder do povo, humano entenda-se) o melhor sistema imperfeito que se conhece talvez seja altura para evoluirmos para a biocracia ou biodemocracia. Sendo esta uma democracia ecológica que inclua todos os seres vivos, tanto na biodiversidade como na diversidade cultural.
Sendo seguro que as outras espécies e os ecossistemas não possam vir a ter os seus próprios parlamentos compete-nos a nós, principais interessados, dar-lhes voz e poder político. Sob pena de podermos vir a estar perante um ecocídio e, o mesmo é dizer, um biocídio. Palavras novas para novas ameaças.
Viva-se no centro de Nova Iorque ou nos Açores!
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, outubro 29, 2010
O orçamento de estado
O orçamento de Estado
Quando se presume que está eminente o epílogo da novela do orçamento do Estado 2011 fica-nos a sensação disso mesmo: de que vivemos mais uma novela recheado de sensacionalismo tendo faltado apenas um pouco de sexo.
Passando o orçamento ou não (e provavelmente vai passar) fica para trás uma maratona de negociações que não eram para ter acontecido mas que aconteceram, num clima de crispação incompreensível.
Semelhante ao que aconteceria se tivessemos a nossa própria casa a arder e nos virássemos unas aos outros em vez de tentar apagar o fogo, o mais rapidamente possível.
A hora de todos os julgamentos políticos e partidários virá a seu tempo e, sem dúvida, que haverá vencedores e vencidos. Mas sobre os escombros resultantes de um incêndio por fogo posto.
O momento difícil que vive Portugal não é apenas , nem essencialmente, devido à crise internacional e/ou à gestão politica do país. Esses são apenas alguns dos ingredientes de uma situação bem mais profunda e complexa.
Diz-se, e é verdade, que temos os políticos que merecemos. Estes são, ao fim e ao cabo, entes de carne e osso como todos nós e reflectem de forma relativamente fidedigna quem os elegeu.
Desde o 25 de Abril que, infelizmente, se vulgarizou a consolidação do conceito de clientelas partidarias como forma priveligiada de chegar ao poder e o manter. Por isso são responsáveis os partidos (nomeadamente os do arco do poder) e todos nós.
E também se assumiu que, por hipotético truque de mágica, passamos de um paíz atrasado, deprimido e cinzentamente conservador para um país europeu e moderno com indíceis que desenvolvimento que nos conferiram acesso ao consumo destravado.
Passamos dos oito para os oitenta, sem pontos ou vírgulas.
O campo desertificou-se ainda mais, extensas áreas do litoral foram selvaticamente destruídas e ocupadas por betão e o mar foi esquecido. O crédito fácil e abundante subverteu a prudência e a vontade de trabalhar.
Passamos, no ranking mundial da corrupção, do 23º lugar para o 35º. Um evolução negativa só explicável à luz da impunidade de que a corrupção goza em Portugal. Ao ponto de se ter tornado quase um status socialmente aceitável e uma inevitabilidade.
O chico-espertismo e o desenrascanço tornaram-se duas marcas de sucesso, imprescindíveis à boa progressão social e financeira. A administração pública tornou-se num polvo incontrolado e incontrolável.
Os três pilares da democracia – saúde, educação e justiça – tornaram-se piores, mais caros e mais escassos. Consequência directa do facto de que a riqueza produzida pelo país ser, sistemáticamente, ultrapassada pelos gastos do Estado.
O nosso grande problema não é a viabilização ou não do orçamento de 2011. Essa é uma mera questão de curto prazo e conjuntural. O nosso grande problema é não termos interiorizado ainda que temos todos que mudar: muito e depressa.
Da esquerda à direita, do rico ao pobre, do empresário ao assalariado, do político ao eleitor, do funcionário público ao trabalhador da privada. E todos temos uma boa ideia sobre o que precisamos de mudar.
Mas persistimos em manter a cabeça debaixo da areia, á espera do malfadado D. Sebastião, de mítica memória e trágica realidade.
PEDRO DAMASCENO
Quando se presume que está eminente o epílogo da novela do orçamento do Estado 2011 fica-nos a sensação disso mesmo: de que vivemos mais uma novela recheado de sensacionalismo tendo faltado apenas um pouco de sexo.
Passando o orçamento ou não (e provavelmente vai passar) fica para trás uma maratona de negociações que não eram para ter acontecido mas que aconteceram, num clima de crispação incompreensível.
Semelhante ao que aconteceria se tivessemos a nossa própria casa a arder e nos virássemos unas aos outros em vez de tentar apagar o fogo, o mais rapidamente possível.
A hora de todos os julgamentos políticos e partidários virá a seu tempo e, sem dúvida, que haverá vencedores e vencidos. Mas sobre os escombros resultantes de um incêndio por fogo posto.
O momento difícil que vive Portugal não é apenas , nem essencialmente, devido à crise internacional e/ou à gestão politica do país. Esses são apenas alguns dos ingredientes de uma situação bem mais profunda e complexa.
Diz-se, e é verdade, que temos os políticos que merecemos. Estes são, ao fim e ao cabo, entes de carne e osso como todos nós e reflectem de forma relativamente fidedigna quem os elegeu.
Desde o 25 de Abril que, infelizmente, se vulgarizou a consolidação do conceito de clientelas partidarias como forma priveligiada de chegar ao poder e o manter. Por isso são responsáveis os partidos (nomeadamente os do arco do poder) e todos nós.
E também se assumiu que, por hipotético truque de mágica, passamos de um paíz atrasado, deprimido e cinzentamente conservador para um país europeu e moderno com indíceis que desenvolvimento que nos conferiram acesso ao consumo destravado.
Passamos dos oito para os oitenta, sem pontos ou vírgulas.
O campo desertificou-se ainda mais, extensas áreas do litoral foram selvaticamente destruídas e ocupadas por betão e o mar foi esquecido. O crédito fácil e abundante subverteu a prudência e a vontade de trabalhar.
Passamos, no ranking mundial da corrupção, do 23º lugar para o 35º. Um evolução negativa só explicável à luz da impunidade de que a corrupção goza em Portugal. Ao ponto de se ter tornado quase um status socialmente aceitável e uma inevitabilidade.
O chico-espertismo e o desenrascanço tornaram-se duas marcas de sucesso, imprescindíveis à boa progressão social e financeira. A administração pública tornou-se num polvo incontrolado e incontrolável.
Os três pilares da democracia – saúde, educação e justiça – tornaram-se piores, mais caros e mais escassos. Consequência directa do facto de que a riqueza produzida pelo país ser, sistemáticamente, ultrapassada pelos gastos do Estado.
O nosso grande problema não é a viabilização ou não do orçamento de 2011. Essa é uma mera questão de curto prazo e conjuntural. O nosso grande problema é não termos interiorizado ainda que temos todos que mudar: muito e depressa.
Da esquerda à direita, do rico ao pobre, do empresário ao assalariado, do político ao eleitor, do funcionário público ao trabalhador da privada. E todos temos uma boa ideia sobre o que precisamos de mudar.
Mas persistimos em manter a cabeça debaixo da areia, á espera do malfadado D. Sebastião, de mítica memória e trágica realidade.
PEDRO DAMASCENO
terça-feira, outubro 26, 2010
Alugar um gato!
Alugar um gato!
O Japão, país de tradições comunitárias e com uma das maiores taxas de centenários do mundo, não consegue assegurar uma velhice condigna para um grande número dos seus cidadãos.
Um país que, num passado recente, tinha dois pilares fundamentais – a comunidade e a família – entra numa rampa descendente no que diz respeito aos apoios aos idosos.
A criminalidade grisalha, como lhe chamam, atinge proporções preocupantes sobretudo em grandes meios urbanos como Tóquio. Os lares para idosos são ainda raros e a rua é, muitas vezes, a única opção.
Afinal são mais de 8 milhões de cidadãos com mais de 80 anos e 29,4 milhões com mais de 65 anos. Num país com uma população de de 127 milhões. Fenómeno que está acontecer, um pouco, por todo o mundo “desenvolvido”.
O país da alta tecnologia resvala para um estilo de vida implacável em que horários de trabalho de 12 horas por dia são correntes deixando os cidadãos privados de um verdadeira vida pessoal.
Vidas em que não é possível cultivar amizades e criar laços comunitários/familiares. Surgindo, desse modo, novos negócios que se dedicam a alugar o que as pessoas não conseguem ter: desde “um bom amigo” até um gato para passearem no pouco tempo que lhes resta!
E o aluguer de um gato pode atingir valores da ordem dos 8 €/hora!
Embora falando de situações limites de grandes cidades não deixam de ser indicadores altamente preocupantes do que acontece quando as sociedades se desumanizam e não deixam lugar condigno para aqueles atingiram o limiar das suas vidas.
Sendo os Açores ainda essencialmente rurais já se notam sinais claros de degradação dos valores comunitários e familiares e uma insensibilidade crescente para com os idosos nomeadamente para os mais dependentes.
O número de idosos que procuram instituições de solidariedade social para terminarem os seus dias tem vindo a crescer e os laços comunitários e familiares têm vindo a afrouxar.
Ainda bem que tem havido investimento público muito significativo nessa solução que não sendo a ideal dá resposta a pessoas que já não conseguem encontrar suporte no seio das comunidades e famílias.
O ideal seria que os idosos não fossem “obrigados” a deixar as suas casas e as comunidades e mantivessem um contacto diário com os vários grupos etários. Sendo sabido que as instituições de idosos acabam sempre por provocar a sua exclusão social por muito boas que sejam as condições de alojamento.
O frenesim e as exigências consumistas da vida moderna geram nos mais novos uma impaciência para com os “velhos” que, ao invés de serem fontes de conhecimento e experiência, se tornam empecilhos. E, assim, se quebram inestimáveis cadeias de solidariedade e entreajuda.
Os avós precisam dos filhos e dos netos. Mas nada mais do que os netos e os filhos precisam dos avós e pais. Como acontecia no advento do homem e como ainda acontece em comunidades rurais em muitos pontos do globo.
Sendo conhecida a veneração pelos idosos que as civilizações ditas mais primitivas cultivavam (e muitas ainda cultivam) torna-se incompreensível a crescente impaciência que a nossa cultura do fast food e de tudo o resto adopta em relação a eles.
No fundo, com um pouco de sorte, todos nós seremos idosos amanhã e bom seria que não víssemos obrigado a alugar um gato ou a contratar um “bom amigo”.
O amanhã começa hoje.
PEDRO DAMASCENO
O Japão, país de tradições comunitárias e com uma das maiores taxas de centenários do mundo, não consegue assegurar uma velhice condigna para um grande número dos seus cidadãos.
Um país que, num passado recente, tinha dois pilares fundamentais – a comunidade e a família – entra numa rampa descendente no que diz respeito aos apoios aos idosos.
A criminalidade grisalha, como lhe chamam, atinge proporções preocupantes sobretudo em grandes meios urbanos como Tóquio. Os lares para idosos são ainda raros e a rua é, muitas vezes, a única opção.
Afinal são mais de 8 milhões de cidadãos com mais de 80 anos e 29,4 milhões com mais de 65 anos. Num país com uma população de de 127 milhões. Fenómeno que está acontecer, um pouco, por todo o mundo “desenvolvido”.
O país da alta tecnologia resvala para um estilo de vida implacável em que horários de trabalho de 12 horas por dia são correntes deixando os cidadãos privados de um verdadeira vida pessoal.
Vidas em que não é possível cultivar amizades e criar laços comunitários/familiares. Surgindo, desse modo, novos negócios que se dedicam a alugar o que as pessoas não conseguem ter: desde “um bom amigo” até um gato para passearem no pouco tempo que lhes resta!
E o aluguer de um gato pode atingir valores da ordem dos 8 €/hora!
Embora falando de situações limites de grandes cidades não deixam de ser indicadores altamente preocupantes do que acontece quando as sociedades se desumanizam e não deixam lugar condigno para aqueles atingiram o limiar das suas vidas.
Sendo os Açores ainda essencialmente rurais já se notam sinais claros de degradação dos valores comunitários e familiares e uma insensibilidade crescente para com os idosos nomeadamente para os mais dependentes.
O número de idosos que procuram instituições de solidariedade social para terminarem os seus dias tem vindo a crescer e os laços comunitários e familiares têm vindo a afrouxar.
Ainda bem que tem havido investimento público muito significativo nessa solução que não sendo a ideal dá resposta a pessoas que já não conseguem encontrar suporte no seio das comunidades e famílias.
O ideal seria que os idosos não fossem “obrigados” a deixar as suas casas e as comunidades e mantivessem um contacto diário com os vários grupos etários. Sendo sabido que as instituições de idosos acabam sempre por provocar a sua exclusão social por muito boas que sejam as condições de alojamento.
O frenesim e as exigências consumistas da vida moderna geram nos mais novos uma impaciência para com os “velhos” que, ao invés de serem fontes de conhecimento e experiência, se tornam empecilhos. E, assim, se quebram inestimáveis cadeias de solidariedade e entreajuda.
Os avós precisam dos filhos e dos netos. Mas nada mais do que os netos e os filhos precisam dos avós e pais. Como acontecia no advento do homem e como ainda acontece em comunidades rurais em muitos pontos do globo.
Sendo conhecida a veneração pelos idosos que as civilizações ditas mais primitivas cultivavam (e muitas ainda cultivam) torna-se incompreensível a crescente impaciência que a nossa cultura do fast food e de tudo o resto adopta em relação a eles.
No fundo, com um pouco de sorte, todos nós seremos idosos amanhã e bom seria que não víssemos obrigado a alugar um gato ou a contratar um “bom amigo”.
O amanhã começa hoje.
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, outubro 08, 2010
Finalmente - Aeroporto do Pico?
Finalmente – Aeroporto do Pico!?
O encerramento para obras, previsto para breve, da pista de São Jorge vai implicar a deslocação para o Pico do tráfego daquela ilha. O que implicará que o aeroporto do Pico passe a servir cerca de vinte cinco mil pessoas.
Situação que obviamente irá colocar novos desafios ao tráfego aéreo de/e para o Pico. Embora a informação oficial da duração das obras aponte para período muito curto estas estarão sempre condicionadas a factores exógenos entre os quais avultam as condições climatéricas.
Desafios que a estrutura aeroportuária desta ilha está em perfeitas condições de satisfazer, salvo o malfadado abastecimento das aeronaves – processo com contornos e atrasos incompreensíveis para o comum dos mortais.
Sendo sabido que o investimento até agora realizado no Pico não tem tido remuneração em termos de prestação de serviços, quer no que diz respeito ao seu papel de gateway quer no que diz respeito à sua proximidade de São Jorge e ao papel de complementaridade que deveria ter em relação ao aeroporto da Horta.
Em contradição com as convicções de um ex-alto responsável da SATA que previa para o Pico um protagonismo decisivo para as ligações do Triângulo com o exterior e dentro Açores dada a sua centralidade e o seu carácter de alternativa a Castelo Branco.
Tendo-se criado , somente, o voo de má figura dos sábados para se dar, apenas, cumprimento à promessa da criação da gateway do Pico, voo que não interessa nem ao Menino Jesus e que, serve simultaneamente, de farisaica fundamentação para a absurda afirmação de que esta ilha não tem mais voos porque tem oferta e não tem procura!
A Ilha do Pico não tem oferta de voos para o/e do exterior. Tem apenas um faz de conta que não serve a ninguém: nem turistas nem locais. Toda agente sabe isso.
Passando a servir, agora, mais dez mil pessoas estima-se estarem reunidas as condições para se iniciar uma nova era da sua gateway com a concretização de, pelo menos, dois voos semanais (segunda e sextas) o que para além de vir satisfazer anseios legítimos se afigura como uma medida comercial de elementar bom senso.
Longe vão os tempos em que as reivindicações de carácter meramente bairrista faziam sentido. Hoje tem que se apostar, cada vez mais, na boa gestão dos recursos e numa análise dos números, actualizada e correcta.
A importância crescente da Ilha do Pico no contexto regional é bem visível a olho nú e só não vê quem não quer. Seja nos sectores primários e da transformação seja no estratégico sector do turismo, a afirmação desta ilha é inegável e imparável.
Insistir em manter o Aeroporto da Horta como a única getway, objectiva e real, das ilhas do Triângulo é, antes de tudo, um clamoroso erro de análise e de gestão. Quer por parte das companhias aéreas quer por parte dos responsáveis pelo sector dos transportes.
Erro que, alias, contradiz completamente o investimento muito vultuoso que foi feito no Pico. Das duas uma: ou se fez um investimento impensado e sem fundamento ou então estão a subordinar-se os interesses de um boa gestão dos recursos e de uma visão estratégica de desenvolvimento a inexplicáveis razões que a razão desconhece.
Por muito curto que seja o encerramento de São Jorge bem pode esperar-se que estes mais dez mil utentes do Aeroporto do Pico sejam o talismã e a oportunidade para teste e mudança. Que servirá a todos, quer no plano pessoal quer no plano da economia, pura e dura.
Já não é sem tempo!
PEDRO DAMASCENO
O encerramento para obras, previsto para breve, da pista de São Jorge vai implicar a deslocação para o Pico do tráfego daquela ilha. O que implicará que o aeroporto do Pico passe a servir cerca de vinte cinco mil pessoas.
Situação que obviamente irá colocar novos desafios ao tráfego aéreo de/e para o Pico. Embora a informação oficial da duração das obras aponte para período muito curto estas estarão sempre condicionadas a factores exógenos entre os quais avultam as condições climatéricas.
Desafios que a estrutura aeroportuária desta ilha está em perfeitas condições de satisfazer, salvo o malfadado abastecimento das aeronaves – processo com contornos e atrasos incompreensíveis para o comum dos mortais.
Sendo sabido que o investimento até agora realizado no Pico não tem tido remuneração em termos de prestação de serviços, quer no que diz respeito ao seu papel de gateway quer no que diz respeito à sua proximidade de São Jorge e ao papel de complementaridade que deveria ter em relação ao aeroporto da Horta.
Em contradição com as convicções de um ex-alto responsável da SATA que previa para o Pico um protagonismo decisivo para as ligações do Triângulo com o exterior e dentro Açores dada a sua centralidade e o seu carácter de alternativa a Castelo Branco.
Tendo-se criado , somente, o voo de má figura dos sábados para se dar, apenas, cumprimento à promessa da criação da gateway do Pico, voo que não interessa nem ao Menino Jesus e que, serve simultaneamente, de farisaica fundamentação para a absurda afirmação de que esta ilha não tem mais voos porque tem oferta e não tem procura!
A Ilha do Pico não tem oferta de voos para o/e do exterior. Tem apenas um faz de conta que não serve a ninguém: nem turistas nem locais. Toda agente sabe isso.
Passando a servir, agora, mais dez mil pessoas estima-se estarem reunidas as condições para se iniciar uma nova era da sua gateway com a concretização de, pelo menos, dois voos semanais (segunda e sextas) o que para além de vir satisfazer anseios legítimos se afigura como uma medida comercial de elementar bom senso.
Longe vão os tempos em que as reivindicações de carácter meramente bairrista faziam sentido. Hoje tem que se apostar, cada vez mais, na boa gestão dos recursos e numa análise dos números, actualizada e correcta.
A importância crescente da Ilha do Pico no contexto regional é bem visível a olho nú e só não vê quem não quer. Seja nos sectores primários e da transformação seja no estratégico sector do turismo, a afirmação desta ilha é inegável e imparável.
Insistir em manter o Aeroporto da Horta como a única getway, objectiva e real, das ilhas do Triângulo é, antes de tudo, um clamoroso erro de análise e de gestão. Quer por parte das companhias aéreas quer por parte dos responsáveis pelo sector dos transportes.
Erro que, alias, contradiz completamente o investimento muito vultuoso que foi feito no Pico. Das duas uma: ou se fez um investimento impensado e sem fundamento ou então estão a subordinar-se os interesses de um boa gestão dos recursos e de uma visão estratégica de desenvolvimento a inexplicáveis razões que a razão desconhece.
Por muito curto que seja o encerramento de São Jorge bem pode esperar-se que estes mais dez mil utentes do Aeroporto do Pico sejam o talismã e a oportunidade para teste e mudança. Que servirá a todos, quer no plano pessoal quer no plano da economia, pura e dura.
Já não é sem tempo!
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, setembro 17, 2010
Parabéns Pico. Parabéns Triângulo
Parabéns Pico
Parabéns Triângulo
A eleição da Paisagem Vulcânica da Ilha do Pico como uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal foi não só um acto de justiça mas também o galardão que o Pico precisava para se afirmar, em definitivo, como um destino especial.
Não sendo demais salientar que o prémio diz respeito à paisagem vulcânica da ilha e não apenas à montanha mais alta de Portugal. Montanha que terá levado 240 mil anos a formar-se, resultando de inúmeras erupções vulcânicas que moldaram essa grandiosa paisagem.
Espectáculo que deverá ter sido empolgante e que nos deixou marcas que, agora, assumem uma mística cantada por poetas e sentida por todos. Como disse Natália Correia : “Onde vos retiver a beleza dum lugar, há um Deus que vos indica o caminho do espírito."
E o Pico é isso mesmo: uma beleza que nos retém e aonde há um Deus que nos leva para os caminhos do espírito. As cicatrizes do grande fogo que brotou das entranhas do planeta e que atestam a grandeza dessa criação que tantas paixões e ódios tem suscitado. Uma vertigem sensorial que marca, irremediavelmente, quem por cá passa com olhos de ver.
Piquinho do Pico, seis da manha de qualquer um bom dia de Julho. Sem uma nuvem, num silêncio profundo que convida à prece estende-se, perante nós, o oceano infinito salpicado pelas ilhas que daqui se avistam. Nascendo, lentamente, o sol por trás de São Jorge e tendo junto de nós uma fumarola que nos aquece da geada do amanhecer.
É partir para nunca mais deixar de regressar: um amor de vida, insubstituível!
Parabéns Triângulo porque o Pico é património de fidelidade diária do Faial e de São Jorge. Ilhas que lhe garantem essa imponência e profundidade que só de lá é possível apreender e fruir. O Pico sem o Triângulo nunca seria uma ilha completa. Faltar-lhe-ia sempre esse precioso jogo de espelhos dos canais do nosso dia-a-dia.
É uma vivência cúmplice, um concubinato que só agora começa a ser assumido na sua plenitude e que dará mais terra aos Açores que, além de serem ilhas, são um arquipélago que pouco se sente mas que aqui assume a sua expressão máxima.
Só a má “estória” atirou estas ilhas para arrufos que apenas nos enfraqueceram e nos puseram de costas voltadas quando, no fundo, passávamos a vida a espreitar-nos uns aos outros. Amores furtivos que viviam disfarçados de malquerenças.
Parabéns Pico. Parabéns Triângulo.
PEDRO DAMASCENO
Parabéns Triângulo
A eleição da Paisagem Vulcânica da Ilha do Pico como uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal foi não só um acto de justiça mas também o galardão que o Pico precisava para se afirmar, em definitivo, como um destino especial.
Não sendo demais salientar que o prémio diz respeito à paisagem vulcânica da ilha e não apenas à montanha mais alta de Portugal. Montanha que terá levado 240 mil anos a formar-se, resultando de inúmeras erupções vulcânicas que moldaram essa grandiosa paisagem.
Espectáculo que deverá ter sido empolgante e que nos deixou marcas que, agora, assumem uma mística cantada por poetas e sentida por todos. Como disse Natália Correia : “Onde vos retiver a beleza dum lugar, há um Deus que vos indica o caminho do espírito."
E o Pico é isso mesmo: uma beleza que nos retém e aonde há um Deus que nos leva para os caminhos do espírito. As cicatrizes do grande fogo que brotou das entranhas do planeta e que atestam a grandeza dessa criação que tantas paixões e ódios tem suscitado. Uma vertigem sensorial que marca, irremediavelmente, quem por cá passa com olhos de ver.
Piquinho do Pico, seis da manha de qualquer um bom dia de Julho. Sem uma nuvem, num silêncio profundo que convida à prece estende-se, perante nós, o oceano infinito salpicado pelas ilhas que daqui se avistam. Nascendo, lentamente, o sol por trás de São Jorge e tendo junto de nós uma fumarola que nos aquece da geada do amanhecer.
É partir para nunca mais deixar de regressar: um amor de vida, insubstituível!
Parabéns Triângulo porque o Pico é património de fidelidade diária do Faial e de São Jorge. Ilhas que lhe garantem essa imponência e profundidade que só de lá é possível apreender e fruir. O Pico sem o Triângulo nunca seria uma ilha completa. Faltar-lhe-ia sempre esse precioso jogo de espelhos dos canais do nosso dia-a-dia.
É uma vivência cúmplice, um concubinato que só agora começa a ser assumido na sua plenitude e que dará mais terra aos Açores que, além de serem ilhas, são um arquipélago que pouco se sente mas que aqui assume a sua expressão máxima.
Só a má “estória” atirou estas ilhas para arrufos que apenas nos enfraqueceram e nos puseram de costas voltadas quando, no fundo, passávamos a vida a espreitar-nos uns aos outros. Amores furtivos que viviam disfarçados de malquerenças.
Parabéns Pico. Parabéns Triângulo.
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, setembro 03, 2010
Boas notícias
Boas notícias
Depois dos fogos, da crise e da chuva na Semana dos Baleeiros bem precisamos de boas notícias e elas aí estão!
Vivemos no Paraíso, se é que ele existe.
E, realmente, obcecados pelos nossos pequenos dói-dóis, pouca atenção prestamos à situação de privilégio em que vivemos: natureza, não poluição, tranquilidade e segurança.
Sendo tudo isso , mais ou menos comum, ao resto dos Açores ganha uma escala especial no Pico, uma ilha rural e de natureza mas numa escala que só tem paralelo em São Miguel que sendo uma ilha bela já perdeu , em grande parte, esse charme.
Pesem, embora, variados problemas que nos preocupam (assistência medica, acessibilidades, alguns défices de desenvolvimento) temos acesso a uma das melhores qualidade de vida. Conciliando o isolamento e a natureza com o acesso a facilidades tecnológicas que nos ligam, instantaneamente, ao resto mundo.
Juntando o útil ao agradável.
Viver hoje nos Açores é um privilégio. Viver no Triângulo e na Ilha do Pico é, realmente, viver no Paraíso.
Tudo isto num contexto de equilíbrio social em que quase toda a gente vive com apreciável nível de conforto e com problemas sociais que são, ainda, numa percentagem muito diminuta.
É bom sabermos contar as nossas bênçãos e não ficarmos grudados às televisões que se tem vindo a tornar em arautos da desgraça raramente seleccionando notícias que se traduzam em optimismo e em ganhos de auto estima e vontade de viver.
As boas noticias estão por aí por todo o lado para quem as quiser ver. O mar infindo, a montanha majestosa, o matizado infindável de verdes na sua cama de basalto, as cagarras e os garajaus, o por do sol e esse silêncio profundo que se espalha pela ilha serena.
E esse recorte magnifico da montanha ao anoitecer em dias de bom tempo.
Mas bem sabemos, assim reza a Bíblia, que ate o próprio paraíso conseguimos estragar se não tivermos juízo. Não havendo fim para o sofrimento que os seres humanos podem infligir a outros. A História está cheia de exemplos, muitos deles bem recentes.
Mas hoje é um dia inteiramente dedicado às boas notícias - que são do melhor que pode haver - e dia de nos deixarmos de lamurias e de tantas mesquinhices que ainda fazem parte integrante do nosso quotidiano.
Hoje é dia para nos sentirmos gratos por estarmos vivos e podermos usufruir dessa dádiva magnífica que é a Vida.
Que venham a nós as boas notícias.
PEDRO DAMASCENO
Depois dos fogos, da crise e da chuva na Semana dos Baleeiros bem precisamos de boas notícias e elas aí estão!
Vivemos no Paraíso, se é que ele existe.
E, realmente, obcecados pelos nossos pequenos dói-dóis, pouca atenção prestamos à situação de privilégio em que vivemos: natureza, não poluição, tranquilidade e segurança.
Sendo tudo isso , mais ou menos comum, ao resto dos Açores ganha uma escala especial no Pico, uma ilha rural e de natureza mas numa escala que só tem paralelo em São Miguel que sendo uma ilha bela já perdeu , em grande parte, esse charme.
Pesem, embora, variados problemas que nos preocupam (assistência medica, acessibilidades, alguns défices de desenvolvimento) temos acesso a uma das melhores qualidade de vida. Conciliando o isolamento e a natureza com o acesso a facilidades tecnológicas que nos ligam, instantaneamente, ao resto mundo.
Juntando o útil ao agradável.
Viver hoje nos Açores é um privilégio. Viver no Triângulo e na Ilha do Pico é, realmente, viver no Paraíso.
Tudo isto num contexto de equilíbrio social em que quase toda a gente vive com apreciável nível de conforto e com problemas sociais que são, ainda, numa percentagem muito diminuta.
É bom sabermos contar as nossas bênçãos e não ficarmos grudados às televisões que se tem vindo a tornar em arautos da desgraça raramente seleccionando notícias que se traduzam em optimismo e em ganhos de auto estima e vontade de viver.
As boas noticias estão por aí por todo o lado para quem as quiser ver. O mar infindo, a montanha majestosa, o matizado infindável de verdes na sua cama de basalto, as cagarras e os garajaus, o por do sol e esse silêncio profundo que se espalha pela ilha serena.
E esse recorte magnifico da montanha ao anoitecer em dias de bom tempo.
Mas bem sabemos, assim reza a Bíblia, que ate o próprio paraíso conseguimos estragar se não tivermos juízo. Não havendo fim para o sofrimento que os seres humanos podem infligir a outros. A História está cheia de exemplos, muitos deles bem recentes.
Mas hoje é um dia inteiramente dedicado às boas notícias - que são do melhor que pode haver - e dia de nos deixarmos de lamurias e de tantas mesquinhices que ainda fazem parte integrante do nosso quotidiano.
Hoje é dia para nos sentirmos gratos por estarmos vivos e podermos usufruir dessa dádiva magnífica que é a Vida.
Que venham a nós as boas notícias.
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, agosto 20, 2010
Justiça e estados de alma
Justiça e estados de alma
Muito mal têm estado o Procurador Geral da República (PGR) e o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP). Dos seus diferendos deram conhecimento ao país de forma inteiramente inadequada para quem exerce funções de tanta e alta responsabilidade.
Uma verdadeira peixeirada na praça pública que apenas veio confundir, ainda mais, o cidadão comum.
Embora se entenda que os diferendos existam e que ambas as partes tenham legitimidade para defender os seus pontos de vista, dificilmente se poderá perceber a linguagem e o tom.
O PGR quando afirma que o SMMP actua como um pequeno partido e um mero lobby de interesses pessoais. O SMMP quando diz que a hierarquia do Ministério Público está moribunda e que o actual PGR tem uma visão militarizada e do posso quero e mando.
São linguagens e atitudes completamente inaceitáveis. Nem o PGR deveria ter tido tecido qualquer comentário ao comunicado do SMMP nem este se deveria ter dirigido à cúpula do Ministério Público daquela forma.
A liberdade é, talvez, o pilar mais importante da democracia e que inclui o direito de associação sindical. Mas tudo isso não pode justificar que se ponha em causa o próprio estado de direito. Mas foi isso que, infelizmente aconteceu.
O PGR (legitimamente nomeado) e o SMMP (livremente constituído) deveriam ter sabido açaimar dos seus estados de alma e não pôr em causa, de forma tão óbvia e crua, relações institucionais respeitosas e respeitadoras que deveriam existir em órgãos de soberania.
Veio tudo isto a propósito do tão badalado caso do Freeport de que toda a gente fala mas que muitos poucos conhecem com fundamento. À boa maneira portuguesa todos mandam bocas e tomam partido consoante simpatias pessoais/partidárias sem grandes preocupações pelo rigor nem pelo bom nome das pessoas.
A novela PGR/SMMP em nada veio ajudar a esclarecer o que quer que fosse mas somente abalar, ainda mais, o fraco conceito em que os portugueses têm a sua justiça. Mesmo sem ser jurista se percebe que algo anda mal no reino da Dinamarca.
Como explicar então que perguntas, eventualmente, a dirigir ao Primeiro Ministro não tenham sido feitas atempo e horas e se tempo não tivesse havido não se tivesse pedido uma prorrogação de prazo? E que não tendo sido feitas venham a fazer parte de um despacho?!
Situação que cheira a falta de lealdade que deveria existir de cima para baixo e, certamente, de baixo para cima. Dando, possivelmente, razão a um ilustre jurista que se não acanha de falar em pandemia de deslealdades. Um conceito que, infelizmente, parece ter sério fundamento.
A Justiça, para o ser, tem que ser rápida, competente e eficaz. Se assim não for de pouco servirá, a quem quer que seja. E para o ser terá que se fazer num contexto de respeito institucional que não se compadece com brigas na via pública.
Muito pior andarão os caminhos da justiça em Portugal se quem de direito não exigir mais. Porque é de exigir que o PGR e o SMMP colaborem a bem da justiça, e trabalhem paralelamente sem se atrapalharem. Objectivo maior num verdadeiro estado de direito.
PEDRO DAMASCENO
Muito mal têm estado o Procurador Geral da República (PGR) e o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP). Dos seus diferendos deram conhecimento ao país de forma inteiramente inadequada para quem exerce funções de tanta e alta responsabilidade.
Uma verdadeira peixeirada na praça pública que apenas veio confundir, ainda mais, o cidadão comum.
Embora se entenda que os diferendos existam e que ambas as partes tenham legitimidade para defender os seus pontos de vista, dificilmente se poderá perceber a linguagem e o tom.
O PGR quando afirma que o SMMP actua como um pequeno partido e um mero lobby de interesses pessoais. O SMMP quando diz que a hierarquia do Ministério Público está moribunda e que o actual PGR tem uma visão militarizada e do posso quero e mando.
São linguagens e atitudes completamente inaceitáveis. Nem o PGR deveria ter tido tecido qualquer comentário ao comunicado do SMMP nem este se deveria ter dirigido à cúpula do Ministério Público daquela forma.
A liberdade é, talvez, o pilar mais importante da democracia e que inclui o direito de associação sindical. Mas tudo isso não pode justificar que se ponha em causa o próprio estado de direito. Mas foi isso que, infelizmente aconteceu.
O PGR (legitimamente nomeado) e o SMMP (livremente constituído) deveriam ter sabido açaimar dos seus estados de alma e não pôr em causa, de forma tão óbvia e crua, relações institucionais respeitosas e respeitadoras que deveriam existir em órgãos de soberania.
Veio tudo isto a propósito do tão badalado caso do Freeport de que toda a gente fala mas que muitos poucos conhecem com fundamento. À boa maneira portuguesa todos mandam bocas e tomam partido consoante simpatias pessoais/partidárias sem grandes preocupações pelo rigor nem pelo bom nome das pessoas.
A novela PGR/SMMP em nada veio ajudar a esclarecer o que quer que fosse mas somente abalar, ainda mais, o fraco conceito em que os portugueses têm a sua justiça. Mesmo sem ser jurista se percebe que algo anda mal no reino da Dinamarca.
Como explicar então que perguntas, eventualmente, a dirigir ao Primeiro Ministro não tenham sido feitas atempo e horas e se tempo não tivesse havido não se tivesse pedido uma prorrogação de prazo? E que não tendo sido feitas venham a fazer parte de um despacho?!
Situação que cheira a falta de lealdade que deveria existir de cima para baixo e, certamente, de baixo para cima. Dando, possivelmente, razão a um ilustre jurista que se não acanha de falar em pandemia de deslealdades. Um conceito que, infelizmente, parece ter sério fundamento.
A Justiça, para o ser, tem que ser rápida, competente e eficaz. Se assim não for de pouco servirá, a quem quer que seja. E para o ser terá que se fazer num contexto de respeito institucional que não se compadece com brigas na via pública.
Muito pior andarão os caminhos da justiça em Portugal se quem de direito não exigir mais. Porque é de exigir que o PGR e o SMMP colaborem a bem da justiça, e trabalhem paralelamente sem se atrapalharem. Objectivo maior num verdadeiro estado de direito.
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, julho 23, 2010
O PAÍS DOS GAJOS PORREIROS
O PAÍS DOS GAJOS PORREIROS
O gajo porreiro é uma instituição em Portugal.
Não havendo uma definição objectiva sobre o que isso quer dizer é uma das bengalas mais usadas no português coloquial. Sendo o porreirismo um neologismo que traduz, na perfeição, muito do nosso modo de estar.
Porreiro, pá! Foi uma expressão que entrou no anedotário nacional e que revela bem o seu carácter abrangente e universal. Isto é porreiro, uma coisa porreira, uns gajos porreiros. E por aí fora.
Sendo, às tantas, a palavra facilitador a que mais se aproxima de porreiro. “Vai ter com ele que é um gajo porreiro” quer dizer isso mesmo: um gajo que desenrasca e que não chateia.
O gajo porreiro é, talvez, a figura moderna que mais se aproxima do Zé Povinho do Bordalo Pinheiro. Falta o seu talento para o desenhar e dar mais um alento à olaria tradicional que bem precisaria de um estímulo.
Aqui fica a sugestão: se se promova um concurso de âmbito nacional para encontrar um talento que traduza em imagens o gajo porreiro.
O gajo porreiro é, consensualmente, um gajo que não chateia e que não tem nenhuma daquelas posturas de rigor e exigência germânicas. Uma pessoa que nos faz sentir seguros neste nosso quotidiano delicodoce que detesta o confronto e adora a manta que nos cobre a todos nós.
Há quem ache que ser porreiro é ser meio tótó, um tipo sem personalidade, pouco criativo, pouco atraente e incapaz de ameaçar quem quer que seja. O gajo que achamos inferior a nós, o gajo que nunca na vida nos irá roubar a namorada ou ensombrar o nosso “brilho”. O tipo em que se vota para a junta de freguesia.
Mas essa versão do gajo porreiro é, talvez, exagerada. O gajo porreiro basicamente é um tipo que não complica e que ajuda a que este país continue a ser um feudo da mediocridade e o habitat natural para quem não quer ser nem deixar de ser.
Não ameaçando ninguém o gajo porreiro permitiu que este país tenha chegado aonde chegou - em que ninguém acredita em ninguém. Sabendo-se que o porreirismo não puxa carroça promoveu o facilitismo, a corrupção e o horror generalizado por tudo a que cheira a trabalho e a esforço.
Possivelmente há vários tipo de gajos porreiros. Havendo alguns que, embora sendo “porreiros”, conseguem promover o mérito e o esforço mas esses serão uma minoria que não conta para esta estória.
O gajo porreiro, no fundo, é a caricatura dos nossos brandos costumes. Todos matamos e esfaqueamos mas – quando chega a hora da verdade – metemos o rabo entre as pernas porque, afinal, somos todos uns gajos porreiros e uns coitadinhos.
Traduzindo, às tantas, aquilo que realmente somos: boa gente. O que sendo uma grande qualidade abre, contudo, a porta à balda, à irresponsabilidade e à nossa crónica incapacidade para meter a nação na ordem.
Tornando-nos, inevitavelmente, num país de gajos porreiros.
P E D R O D A M A S C E N O
O gajo porreiro é uma instituição em Portugal.
Não havendo uma definição objectiva sobre o que isso quer dizer é uma das bengalas mais usadas no português coloquial. Sendo o porreirismo um neologismo que traduz, na perfeição, muito do nosso modo de estar.
Porreiro, pá! Foi uma expressão que entrou no anedotário nacional e que revela bem o seu carácter abrangente e universal. Isto é porreiro, uma coisa porreira, uns gajos porreiros. E por aí fora.
Sendo, às tantas, a palavra facilitador a que mais se aproxima de porreiro. “Vai ter com ele que é um gajo porreiro” quer dizer isso mesmo: um gajo que desenrasca e que não chateia.
O gajo porreiro é, talvez, a figura moderna que mais se aproxima do Zé Povinho do Bordalo Pinheiro. Falta o seu talento para o desenhar e dar mais um alento à olaria tradicional que bem precisaria de um estímulo.
Aqui fica a sugestão: se se promova um concurso de âmbito nacional para encontrar um talento que traduza em imagens o gajo porreiro.
O gajo porreiro é, consensualmente, um gajo que não chateia e que não tem nenhuma daquelas posturas de rigor e exigência germânicas. Uma pessoa que nos faz sentir seguros neste nosso quotidiano delicodoce que detesta o confronto e adora a manta que nos cobre a todos nós.
Há quem ache que ser porreiro é ser meio tótó, um tipo sem personalidade, pouco criativo, pouco atraente e incapaz de ameaçar quem quer que seja. O gajo que achamos inferior a nós, o gajo que nunca na vida nos irá roubar a namorada ou ensombrar o nosso “brilho”. O tipo em que se vota para a junta de freguesia.
Mas essa versão do gajo porreiro é, talvez, exagerada. O gajo porreiro basicamente é um tipo que não complica e que ajuda a que este país continue a ser um feudo da mediocridade e o habitat natural para quem não quer ser nem deixar de ser.
Não ameaçando ninguém o gajo porreiro permitiu que este país tenha chegado aonde chegou - em que ninguém acredita em ninguém. Sabendo-se que o porreirismo não puxa carroça promoveu o facilitismo, a corrupção e o horror generalizado por tudo a que cheira a trabalho e a esforço.
Possivelmente há vários tipo de gajos porreiros. Havendo alguns que, embora sendo “porreiros”, conseguem promover o mérito e o esforço mas esses serão uma minoria que não conta para esta estória.
O gajo porreiro, no fundo, é a caricatura dos nossos brandos costumes. Todos matamos e esfaqueamos mas – quando chega a hora da verdade – metemos o rabo entre as pernas porque, afinal, somos todos uns gajos porreiros e uns coitadinhos.
Traduzindo, às tantas, aquilo que realmente somos: boa gente. O que sendo uma grande qualidade abre, contudo, a porta à balda, à irresponsabilidade e à nossa crónica incapacidade para meter a nação na ordem.
Tornando-nos, inevitavelmente, num país de gajos porreiros.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, junho 25, 2010
Síndroma de Défice de Natureza
As nossas crianças não podem usufruir – nem aprender com – as maravilhas da natureza se os adultos dizem uma coisa (sair de de casa) e fazem outra (ficar dentro de portas)
Richard Louv
Síndroma de Défice de Natureza
Contacto com a natureza - para quem vive numa zona rural – é uma coisa trivial que pouco valorizamos. As estações que se sucedem, as plantas que desabrocham, os pássaros que chilreiam e o vento que passa.
Infelizmente o homem dos nossos dias está tornar-se num ser urbano que assume a selva de betão e o trânsito como o seu habitat sendo os espaços verdes, progressivamente, mais escassos.
E a criança tem vindo a substituir as brincadeiras esquecidas na rua para se passar para o computador, a consola de jogos e a televisão. Para não falar nos telemóveis com os quais desaprendem de falar e escrever.
Como dizia, recentemente, uma criança: “prefiro brincar dentro de casa porque é ai que estão as tomadas eléctricas”. Antigamente as crianças problemáticas eram as que se refugiavam em casa. Hoje são as que se refugiam na rua e na floresta.
As alergias e as doenças auto-imunes que tem vindo a aumentar estão relacionadas com uma baixa acentuada das defesas imunitária que, por seu turno, são afectadas por um mundo esterilizado e stressante.
Situação muito preocupante que levou à identificação do Síndroma de Déficite de Natureza que não tendo uma carácter científico ou médico sintetiza bem os deficits de natureza que as crianças, sobretudo urbanas, têm.
Preocupações sobre as consequências, a longo prazo – afectando o bem estar emocional, as capacidades de aprendizagem e a consciência ambiental – criaram os Estados Unidos um movimento nacional que visa não deixar nenhuma criança dentro de casa.
O movimento Children & Nature Network (Rede de Crianças e Natureza) tem como objectivo voltar a “ligar” as crianças às alegrias e lições da natureza. Destinando-se a apoiar pessoas e organizações – a nível nacional e internacional - cujo trabalho se desenvolva com esse objectivo.
No portal www.childrenandnature.org é possível encontrar um manancial de notícias sobre esta tema bem como sobre a investigação que está a ser feita nos mais diversos campos com ele relacionados.
Uma criança para quem uma galinha é um saco de plástico com carne dentro, uma vaca/porco um conjunto de peças sanguinolentas expostas numa vitrina refrigerada ou a floresta é um desenho animado/jogo de computador precisa de ser “re-ligada”, urgentemente, à natureza.
E às que a esse extremo ainda não chegaram é prioritário impedir que cheguem. E aqui entram as nossas que vivendo num ambiente privilegiado dele não tiram o prazer e as lições que os avós, a todos os níveis, tiravam.
O progresso – para o ser – não pode tornar-se num inimigo activo da natureza e do ambiente. As modernas tecnologias e confortos devem, antes de tudo, ser ferramentas para usufruirmos, em melhores condições, de tudo aquilo que os os nossos antepassados usufruíam.
Doutro modo o Síndroma de Déficite de Natureza arrisca-se mesmo a tornar-se numa classificação médica e numa verdadeira patologia.
PEDRO DAMASCENO
Richard Louv
Síndroma de Défice de Natureza
Contacto com a natureza - para quem vive numa zona rural – é uma coisa trivial que pouco valorizamos. As estações que se sucedem, as plantas que desabrocham, os pássaros que chilreiam e o vento que passa.
Infelizmente o homem dos nossos dias está tornar-se num ser urbano que assume a selva de betão e o trânsito como o seu habitat sendo os espaços verdes, progressivamente, mais escassos.
E a criança tem vindo a substituir as brincadeiras esquecidas na rua para se passar para o computador, a consola de jogos e a televisão. Para não falar nos telemóveis com os quais desaprendem de falar e escrever.
Como dizia, recentemente, uma criança: “prefiro brincar dentro de casa porque é ai que estão as tomadas eléctricas”. Antigamente as crianças problemáticas eram as que se refugiavam em casa. Hoje são as que se refugiam na rua e na floresta.
As alergias e as doenças auto-imunes que tem vindo a aumentar estão relacionadas com uma baixa acentuada das defesas imunitária que, por seu turno, são afectadas por um mundo esterilizado e stressante.
Situação muito preocupante que levou à identificação do Síndroma de Déficite de Natureza que não tendo uma carácter científico ou médico sintetiza bem os deficits de natureza que as crianças, sobretudo urbanas, têm.
Preocupações sobre as consequências, a longo prazo – afectando o bem estar emocional, as capacidades de aprendizagem e a consciência ambiental – criaram os Estados Unidos um movimento nacional que visa não deixar nenhuma criança dentro de casa.
O movimento Children & Nature Network (Rede de Crianças e Natureza) tem como objectivo voltar a “ligar” as crianças às alegrias e lições da natureza. Destinando-se a apoiar pessoas e organizações – a nível nacional e internacional - cujo trabalho se desenvolva com esse objectivo.
No portal www.childrenandnature.org é possível encontrar um manancial de notícias sobre esta tema bem como sobre a investigação que está a ser feita nos mais diversos campos com ele relacionados.
Uma criança para quem uma galinha é um saco de plástico com carne dentro, uma vaca/porco um conjunto de peças sanguinolentas expostas numa vitrina refrigerada ou a floresta é um desenho animado/jogo de computador precisa de ser “re-ligada”, urgentemente, à natureza.
E às que a esse extremo ainda não chegaram é prioritário impedir que cheguem. E aqui entram as nossas que vivendo num ambiente privilegiado dele não tiram o prazer e as lições que os avós, a todos os níveis, tiravam.
O progresso – para o ser – não pode tornar-se num inimigo activo da natureza e do ambiente. As modernas tecnologias e confortos devem, antes de tudo, ser ferramentas para usufruirmos, em melhores condições, de tudo aquilo que os os nossos antepassados usufruíam.
Doutro modo o Síndroma de Déficite de Natureza arrisca-se mesmo a tornar-se numa classificação médica e numa verdadeira patologia.
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, junho 11, 2010
RESPIRAR NOS AÇORES
RESPIRAR NOS AÇORES
(A força das coisas simples)
Venha respirar aos Açores, bem poderia ser um slogan publicitário para o turismo da Região que muito precisa de um forte abanão nestes tempos de recessão nos nossos mercados emissores tradicionais.
Sendo o respirar uma função vital de primeira linha e uma das condições mais importantes para a qualidade de vida e a prevenção da doença ressalta bem a sua importância em qualquer turismo de saúde e bem estar.
Turismo de saúde e bem estar que poderá ser o futuro produto ancora do turismo açoriano já que temos todas as condições ideais para que assim seja. Temos natureza, tranquilidade, segurança e uma densidade populacional baixa.
Os recursos naturais, indispensáveis à saúde e bem estar, abundam e entre eles está certamente o ar. Não só pelo abundante oxigénio mas pela inexistência de poluição atmosférica.
O nosso exuberante verde é a garantia de uma fotossíntese vigorosa que nos proporciona oxigénio com fartura, elemento indispensável à respiração. Respiração que, nas tradições orientais, tem sido objecto de décadas de estudo.
Havendo mosteiros cuja actividade e estudos se centram na respiração e na sua importância. Sendo bem conhecido o facto de muitos dos ditos milagres executados pelos faquires serem baseados no controle da respiração.
Todos os organismos – humanos, plantas e animais – são constituídos por uma multiplicidade de células que se organizam em tecidos específicos e orgãos que , por sua vez, constituem o corpo físico. A vida daquelas células e consequentemente do corpo dependem de um aporte contínuo de energia.
Sendo os alimentos os fornecedores primeiros dessa energia não deixa, contudo, de ser indispensável a existência ao nível celular do oxigénio para que aqueles nutrientes se transformem em energia utilizável pelas células – unidades bases de toda a vida.
E um adequado fornecimento de oxigénio depende, certamente, da integridade e bom funcionamento do aparelho respiratório mas também da sua qualidade e quantidade existentes na atmosfera.
Sendo, por consequência, decisiva a qualidade do meio ambiente seja por via da existência de árvores seja por via da baixa poluição. Factos que tornam os Açores aptos para proporcionarem uma excelente respiração e, desse modo, uma boa saúde das células e – o mesmo é dizer – de todo o corpo.
Vindo isto tudo a propósito de como coisas bem simples, para nós banais, podem ser a chave do sucesso de um destino turístico. Respirar nos Açores é um privilégio para quem se preocupa com a saúde e bem estar. Bem maior do que a gastronomia ou os vinhos.
A respiração é um excelente ferramenta para o relaxamento sendo a base da meditação que tantos adeptos continua a conquistar em todo o mundo e que se tem tornado numa das armas mais eficazes para o combate ao stress.
O que torna os Açores num destino ainda mais extraordinário para quem procura a desintoxicação, o relaxamento e a qualidade de vida. Por via de um abundantíssimo recurso que pouco valorizámos, mesmo para nós próprios.
Venha respirar para os Açores e traga um amigo também.
PEDRO DAMASCENO
(A força das coisas simples)
Venha respirar aos Açores, bem poderia ser um slogan publicitário para o turismo da Região que muito precisa de um forte abanão nestes tempos de recessão nos nossos mercados emissores tradicionais.
Sendo o respirar uma função vital de primeira linha e uma das condições mais importantes para a qualidade de vida e a prevenção da doença ressalta bem a sua importância em qualquer turismo de saúde e bem estar.
Turismo de saúde e bem estar que poderá ser o futuro produto ancora do turismo açoriano já que temos todas as condições ideais para que assim seja. Temos natureza, tranquilidade, segurança e uma densidade populacional baixa.
Os recursos naturais, indispensáveis à saúde e bem estar, abundam e entre eles está certamente o ar. Não só pelo abundante oxigénio mas pela inexistência de poluição atmosférica.
O nosso exuberante verde é a garantia de uma fotossíntese vigorosa que nos proporciona oxigénio com fartura, elemento indispensável à respiração. Respiração que, nas tradições orientais, tem sido objecto de décadas de estudo.
Havendo mosteiros cuja actividade e estudos se centram na respiração e na sua importância. Sendo bem conhecido o facto de muitos dos ditos milagres executados pelos faquires serem baseados no controle da respiração.
Todos os organismos – humanos, plantas e animais – são constituídos por uma multiplicidade de células que se organizam em tecidos específicos e orgãos que , por sua vez, constituem o corpo físico. A vida daquelas células e consequentemente do corpo dependem de um aporte contínuo de energia.
Sendo os alimentos os fornecedores primeiros dessa energia não deixa, contudo, de ser indispensável a existência ao nível celular do oxigénio para que aqueles nutrientes se transformem em energia utilizável pelas células – unidades bases de toda a vida.
E um adequado fornecimento de oxigénio depende, certamente, da integridade e bom funcionamento do aparelho respiratório mas também da sua qualidade e quantidade existentes na atmosfera.
Sendo, por consequência, decisiva a qualidade do meio ambiente seja por via da existência de árvores seja por via da baixa poluição. Factos que tornam os Açores aptos para proporcionarem uma excelente respiração e, desse modo, uma boa saúde das células e – o mesmo é dizer – de todo o corpo.
Vindo isto tudo a propósito de como coisas bem simples, para nós banais, podem ser a chave do sucesso de um destino turístico. Respirar nos Açores é um privilégio para quem se preocupa com a saúde e bem estar. Bem maior do que a gastronomia ou os vinhos.
A respiração é um excelente ferramenta para o relaxamento sendo a base da meditação que tantos adeptos continua a conquistar em todo o mundo e que se tem tornado numa das armas mais eficazes para o combate ao stress.
O que torna os Açores num destino ainda mais extraordinário para quem procura a desintoxicação, o relaxamento e a qualidade de vida. Por via de um abundantíssimo recurso que pouco valorizámos, mesmo para nós próprios.
Venha respirar para os Açores e traga um amigo também.
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, maio 28, 2010
Falta de esperma em Portugal
Falta de esperma em Portugal
( A invasão silenciosa?)
Segundo a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução falta esperma em Portugal! Tendo sido levantada a possibilidade da importação de esperma de países como a Espanha.
O que, para além de deixar todos os nossos marialvas do passado e do presente à beira de um ataque de nervos, vem pôr em causa o que parecia ser o último reduto da produção nacional: o esperma.
Ou seja, até na produção de esperma vamos ter de recorrer a Espanha como se não bastasse tudo o que de lá importámos. Correndo obviamente o risco de virmos a ter no futuro sucessivas levas de nostros hermanos, via espermatozóides importados.
Tirando os aspectos anedóticos fica-nos a sensação de que, nem ao nível de recolha de esperma e de óvulos, conseguimos encontrar soluções que não passem pela importação de materiais biológicos que porão em causa a nossa própria carga genética.
Levando, por conseguinte, a globalização para o terreno da genética e da reprodução. O que não sendo trágico revela bem a fragilidade das nossas capacidades produtivas e organizativas, mesmo a um nível que parecia impensável.
É evidente que não haverá falta de esperma em Portugal a crer nas estatísticas da actividade sexual dos portugueses e do seu desempenho. O que significará, mais uma vez , a incapacidade de gerar a nossa auto-suficiência em domínios quase caricatos.
Segundo o juiz desembargador Eurico Reis há a necessidade urgente da criação de um centro público de gâmetas (óvulos/espermatozóides) o que significa que tal centro não existe bem como a concomitante recolha do material orgânico.
O que nos põe um pouco em paz com a bombástica e pública afirmação de falta de esperma em Portugal. Sendo o problema da escassez essencialmente centrado na organização e recolha e não tanto na falta de produção nacional.
O que, às tantas, é aplicável a outras importações que fazemos e que, com a devida organização e planeamento, não teríamos de fazer. Com evidentes implicações na balança de pagamentos e no famigerado défice das contas públicas que, agora, nos faz andar a todos de cinto apertado.
Défice que não surpreende no país do esbanjamento e do desperdício (será também assim com o esperma?!) em que nos comportamos como os recursos fossem infinitos e em que o cidadão comum se comporta como o estado e a coisa pública fossem coisas que não lhe dizem directamente respeito e que, gostosamente, ajuda a delapidar.
Reflexões sugeridas pelo magno problema da falta de esperma que, com toda a certeza, não é um problema estrutural mas simplesmente mais um sintoma alarmante da nossa proverbial incapacidade de aproveitar recursos próprios ou aqueles que nos foram postos à disposição.
Foi assim com as especiarias e o ouro da expansão colonial, foi assim com os biliões da comunidade europeia e, pelos vistos, será assim com o esperma que - tudo leva a crer - será de boa qualidade e em quantidade suficiente.
A ciência e a tecnologia devem merecer-nos todo o respeito. Mas há coisas que não lembram nem ao Diabo.
PEDRO DAMASCENO
( A invasão silenciosa?)
Segundo a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução falta esperma em Portugal! Tendo sido levantada a possibilidade da importação de esperma de países como a Espanha.
O que, para além de deixar todos os nossos marialvas do passado e do presente à beira de um ataque de nervos, vem pôr em causa o que parecia ser o último reduto da produção nacional: o esperma.
Ou seja, até na produção de esperma vamos ter de recorrer a Espanha como se não bastasse tudo o que de lá importámos. Correndo obviamente o risco de virmos a ter no futuro sucessivas levas de nostros hermanos, via espermatozóides importados.
Tirando os aspectos anedóticos fica-nos a sensação de que, nem ao nível de recolha de esperma e de óvulos, conseguimos encontrar soluções que não passem pela importação de materiais biológicos que porão em causa a nossa própria carga genética.
Levando, por conseguinte, a globalização para o terreno da genética e da reprodução. O que não sendo trágico revela bem a fragilidade das nossas capacidades produtivas e organizativas, mesmo a um nível que parecia impensável.
É evidente que não haverá falta de esperma em Portugal a crer nas estatísticas da actividade sexual dos portugueses e do seu desempenho. O que significará, mais uma vez , a incapacidade de gerar a nossa auto-suficiência em domínios quase caricatos.
Segundo o juiz desembargador Eurico Reis há a necessidade urgente da criação de um centro público de gâmetas (óvulos/espermatozóides) o que significa que tal centro não existe bem como a concomitante recolha do material orgânico.
O que nos põe um pouco em paz com a bombástica e pública afirmação de falta de esperma em Portugal. Sendo o problema da escassez essencialmente centrado na organização e recolha e não tanto na falta de produção nacional.
O que, às tantas, é aplicável a outras importações que fazemos e que, com a devida organização e planeamento, não teríamos de fazer. Com evidentes implicações na balança de pagamentos e no famigerado défice das contas públicas que, agora, nos faz andar a todos de cinto apertado.
Défice que não surpreende no país do esbanjamento e do desperdício (será também assim com o esperma?!) em que nos comportamos como os recursos fossem infinitos e em que o cidadão comum se comporta como o estado e a coisa pública fossem coisas que não lhe dizem directamente respeito e que, gostosamente, ajuda a delapidar.
Reflexões sugeridas pelo magno problema da falta de esperma que, com toda a certeza, não é um problema estrutural mas simplesmente mais um sintoma alarmante da nossa proverbial incapacidade de aproveitar recursos próprios ou aqueles que nos foram postos à disposição.
Foi assim com as especiarias e o ouro da expansão colonial, foi assim com os biliões da comunidade europeia e, pelos vistos, será assim com o esperma que - tudo leva a crer - será de boa qualidade e em quantidade suficiente.
A ciência e a tecnologia devem merecer-nos todo o respeito. Mas há coisas que não lembram nem ao Diabo.
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, maio 14, 2010
As cinzas do norte
As cinzas do norte
A “moda” chegou. Inevitavelmente as cinzas vulcânicas da Islândia atingiram os Açores. Provando a pequenez do planeta e a susceptibilidade de todos nós.
Sem cair no chavão de que estamos a pagar pelas agressões ao ambiente deverá ser, contudo, motivo de reflexão. Dado que engrossamos uma Europa que tem tido prejuízos no sector do turismo da ordem dos trezentos milhões de euros num só dia.
A Organização Mundial de Turismo já estimou prejuízos para o turismo europeu que ultrapassam os 1.700 milhões de euros e as companhias aéreas poderão ter que subir os preços das passagens.
A chegada das cinzas deixou a Região paralisada desde domingo e sem ligações ao exterior sendo apenas possível viajar, com normalidade, entre as ilhas do Triângulo. Atestando o caracter peculiar e de proximidade destas ilhas.
Os prejuízos económicos serão, também, de monta nos Açores sem contabilizar todos os transtornos pessoais ocorridos. O que, ironicamente, nos põe todos a desejar ainda mais chuva, mas desta vez para ajudar a limpar as cinzas.
As cinzas da Islândia, o derrame de petróleo do Novo México, os sucessivos furacões nos Estados Unidos conferem à crise financeira numa dimensão bem menos trágica. Dado que ultrapassar esta depende, em primeira linha, de nós.
Contexto em que se torna importante reflectir sobre a necessidade crescente de reavaliarmos o nosso estilo de vida e o modo insensato como, tantas vezes, desbaratámos os nossos recursos naturais ou menosprezamos a força da natureza.
Força que, num ápice, pode fazer ruir o baralho de cartas em que as nossas vidas se tornaram já que dependem de recursos e tecnologias que falhando nos deixam ao sabor do improviso.
O que é ainda mais verdade para uma região periférica como a nossa em que, infelizmente, as pessoas tem vindo a perder competências de sobrevivência mercê de um facilitismo que atinge o próprio sector alimentar, condição primeira de vida.
A presente experiência, se bem digerida e reflectida, pode ser o ponto de arranque para uma nova postura perante a vida e um recuo face a um consumismo que já nos atinge em cheio e que nos vulnerabiliza em termos de sobrevivência num cenário de catástrofe.
Sem perder o rumo da modernidade e do desenvolvimento deveríamos preservar e estimular as nossas ancestrais capacidades de fazer face a uma natureza lindíssima mas igualmente agreste e difícil. Voltar, se possível, ao amor à terra.
Os Açores são um local fascinante com condições para atrair gente igualmente fascinante. Mas o futuro de tudo isso depende de nós e da maneira como formos capazes de “casar” progresso com tradição.
As Ilhas de Bruma recomendam-se mas é urgente voltar a amá-las.
P E D R O D A M A S C E N O
A “moda” chegou. Inevitavelmente as cinzas vulcânicas da Islândia atingiram os Açores. Provando a pequenez do planeta e a susceptibilidade de todos nós.
Sem cair no chavão de que estamos a pagar pelas agressões ao ambiente deverá ser, contudo, motivo de reflexão. Dado que engrossamos uma Europa que tem tido prejuízos no sector do turismo da ordem dos trezentos milhões de euros num só dia.
A Organização Mundial de Turismo já estimou prejuízos para o turismo europeu que ultrapassam os 1.700 milhões de euros e as companhias aéreas poderão ter que subir os preços das passagens.
A chegada das cinzas deixou a Região paralisada desde domingo e sem ligações ao exterior sendo apenas possível viajar, com normalidade, entre as ilhas do Triângulo. Atestando o caracter peculiar e de proximidade destas ilhas.
Os prejuízos económicos serão, também, de monta nos Açores sem contabilizar todos os transtornos pessoais ocorridos. O que, ironicamente, nos põe todos a desejar ainda mais chuva, mas desta vez para ajudar a limpar as cinzas.
As cinzas da Islândia, o derrame de petróleo do Novo México, os sucessivos furacões nos Estados Unidos conferem à crise financeira numa dimensão bem menos trágica. Dado que ultrapassar esta depende, em primeira linha, de nós.
Contexto em que se torna importante reflectir sobre a necessidade crescente de reavaliarmos o nosso estilo de vida e o modo insensato como, tantas vezes, desbaratámos os nossos recursos naturais ou menosprezamos a força da natureza.
Força que, num ápice, pode fazer ruir o baralho de cartas em que as nossas vidas se tornaram já que dependem de recursos e tecnologias que falhando nos deixam ao sabor do improviso.
O que é ainda mais verdade para uma região periférica como a nossa em que, infelizmente, as pessoas tem vindo a perder competências de sobrevivência mercê de um facilitismo que atinge o próprio sector alimentar, condição primeira de vida.
A presente experiência, se bem digerida e reflectida, pode ser o ponto de arranque para uma nova postura perante a vida e um recuo face a um consumismo que já nos atinge em cheio e que nos vulnerabiliza em termos de sobrevivência num cenário de catástrofe.
Sem perder o rumo da modernidade e do desenvolvimento deveríamos preservar e estimular as nossas ancestrais capacidades de fazer face a uma natureza lindíssima mas igualmente agreste e difícil. Voltar, se possível, ao amor à terra.
Os Açores são um local fascinante com condições para atrair gente igualmente fascinante. Mas o futuro de tudo isso depende de nós e da maneira como formos capazes de “casar” progresso com tradição.
As Ilhas de Bruma recomendam-se mas é urgente voltar a amá-las.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, março 26, 2010
ELVIS
ELVIS
O Elvis era apenas um pequeno cão de estimação. Nem especialmente bonito nem portador de uma linhagem particularmente pura. Era um desses muitos “vira-latas” que por aí andam.
Tinha, contudo, uma personalidade muito vincada e uma vitalidade fora do comum. E, desse modo, criou um lugar próprio na vida de muita gente que dele recebeu grande afecto inteiramente retribuído.
O Elvis morreu, serenamente, após uma vida longa.
História que nada tem de extraordinário mas que encerra, por isso mesmo, uma lição simples sobre a vida e a morte e a nossa relação com os animais. Ao fim e ao cabo seres vivos como nós.
Não havendo notícia da existência de qualquer decreto-lei ou outro documento que tenha deliberado tornar os animais cidadãos de segunda neste nosso conturbado planeta resta, apenas, a nossa convicção de que somos os seres mais importantes da criação.
E tem sido uma longa luta (ainda longe do fim) o reconhecimento do direito dos animais à existência . A lembrar, pesem as diferenças, as lutas pela igualdade dos escravos e das mulheres.
Sabendo-se, como se sabe hoje, que a biodiversidade é preciosa e condição indispensável para a nossa própria existência facilmente se percebe que o nosso equilíbrio biológico e emocional depende do respeito por todos os seres vivos.
Dos mais “insignificantes” aos mais corpulentos.
E vai sendo tempo de deixarmos de brincar aos deuses e parar de decidir quais as espécies que irão sobreviver. Porque todas elas fazem parte do nosso eco-sistema e são indispensáveis à sua manutenção.
O Elvis foi apenas uma gota muito pequena nesse grande oceano. Mas uma gota (que como diria Madre Teresa de Calcutá) que faz falta, como todos nós nesse imenso caleidoscópio que é o Universo. Um pequeno raio de luz.
Acreditando que tudo o que existe, vivo ou não, faz parte integrante deste mundo e que se tudo se transforma e nada se perde temos que aprender a viver nesse continuum de existência que não tem hierarquias e que a todos trata por igual.
Sendo, por isso, a morte não mais do que a transição de um estado para outro, independentemente das convicções religiosas e/ou filosóficas de qualquer um de nós. Tudo o que cá existe cá permanece mudando, apenas, de forma.
Não muito longe vai o tempo em que se considerava que os pretos e as mulheres não tinham alma. Hoje, felizmente, todos tem direito a ela – o que quer que seja. E porque não os animais?
O mistério é profundo e vai, provavelmente, manter-se indefinidamente. Pelo menos nesta breve passagem que é a nossa existência que, tantas vezes, desbaratamos em nome de uma qualquer efémera glória ou posse.
Restando-nos, simplesmente, saber amar para saber viver.
PEDRO DAMASCENO
O Elvis era apenas um pequeno cão de estimação. Nem especialmente bonito nem portador de uma linhagem particularmente pura. Era um desses muitos “vira-latas” que por aí andam.
Tinha, contudo, uma personalidade muito vincada e uma vitalidade fora do comum. E, desse modo, criou um lugar próprio na vida de muita gente que dele recebeu grande afecto inteiramente retribuído.
O Elvis morreu, serenamente, após uma vida longa.
História que nada tem de extraordinário mas que encerra, por isso mesmo, uma lição simples sobre a vida e a morte e a nossa relação com os animais. Ao fim e ao cabo seres vivos como nós.
Não havendo notícia da existência de qualquer decreto-lei ou outro documento que tenha deliberado tornar os animais cidadãos de segunda neste nosso conturbado planeta resta, apenas, a nossa convicção de que somos os seres mais importantes da criação.
E tem sido uma longa luta (ainda longe do fim) o reconhecimento do direito dos animais à existência . A lembrar, pesem as diferenças, as lutas pela igualdade dos escravos e das mulheres.
Sabendo-se, como se sabe hoje, que a biodiversidade é preciosa e condição indispensável para a nossa própria existência facilmente se percebe que o nosso equilíbrio biológico e emocional depende do respeito por todos os seres vivos.
Dos mais “insignificantes” aos mais corpulentos.
E vai sendo tempo de deixarmos de brincar aos deuses e parar de decidir quais as espécies que irão sobreviver. Porque todas elas fazem parte do nosso eco-sistema e são indispensáveis à sua manutenção.
O Elvis foi apenas uma gota muito pequena nesse grande oceano. Mas uma gota (que como diria Madre Teresa de Calcutá) que faz falta, como todos nós nesse imenso caleidoscópio que é o Universo. Um pequeno raio de luz.
Acreditando que tudo o que existe, vivo ou não, faz parte integrante deste mundo e que se tudo se transforma e nada se perde temos que aprender a viver nesse continuum de existência que não tem hierarquias e que a todos trata por igual.
Sendo, por isso, a morte não mais do que a transição de um estado para outro, independentemente das convicções religiosas e/ou filosóficas de qualquer um de nós. Tudo o que cá existe cá permanece mudando, apenas, de forma.
Não muito longe vai o tempo em que se considerava que os pretos e as mulheres não tinham alma. Hoje, felizmente, todos tem direito a ela – o que quer que seja. E porque não os animais?
O mistério é profundo e vai, provavelmente, manter-se indefinidamente. Pelo menos nesta breve passagem que é a nossa existência que, tantas vezes, desbaratamos em nome de uma qualquer efémera glória ou posse.
Restando-nos, simplesmente, saber amar para saber viver.
PEDRO DAMASCENO
sexta-feira, fevereiro 26, 2010
Deuses com pés de barro
Deuses com pés de barro
Passada a primeira onda de consternação sobre os graves acontecimentos ocorridos na Madeira no passado fim de semana, ficam-nos as imagens da destruição maciça e das vidas perdidas.
A Pérola do Atlântico transformou-se, de um dia para o outro, num imenso lamaçal a atestar a nossa impotência perante as forças da natureza e o seu incomensurável poder. Deixando-nos um travo amargo de pequenez.
A Lei das Finanças Regionais que, ainda ontem, era assunto de todos os jornais fugiu do palco a uma velocidade meteórica para dar lugar às imagens do sofrimento e da destruição, transformando aquele numa matéria sem relevância.
Como a provar que os nossos reinados de poder pouco adiantam perante forças que não conseguimos controlar e que estripam não apenas os nossas vidas e haveres mas atingem também, em pleno, o nosso ceptro de comando.
Foi assim na Madeira como foi assim aqui no sismo que ocorreu no Triângulo na madrugada de 9 de Julho de 1998 e que esventrou e destruiu num ápice o que demorou, depois, largos anos a reconstruir. Deixando, igualmente, um rasto de perdas humanas.
Como foi na avalanche de 1997 na Ribeira Quente que provocou 29 mortes e grandes danos materiais ou na enorme avalanche de 21 Outubro de 1522 que destruiu Vila Franca do Campo e causou milhares de mortos soterrando uma enorme área urbana.
Naturalmente para só falar de alguns casos que nos estão mais próximos mas não esquecendo a catástrofe que se abateu em Janeiro passado sobre o Haiti levando milhares de vidas e destruindo o muito pouco de tanta gente.
São momentos que nos devem convidar uma reflexão profunda sobre a nossa fragilidade de seres vivos e sobre a nossa condição de dependência em relação a forças que todo não controlamos. Sob pena de continuarmos a não aprender nada.
Trazendo à consciência a magna questão do respeito pela Natureza.
Não sendo, possivelmente, qualquer dos exemplos referidos imputáveis ao efeito de estufa e ao aquecimento global vêm todavia lembrar-nos da nossa enorme incapacidade de prever a generalidade das catástrofes naturais.
E que, assim sendo, tudo o que podemos fazer é trazer à consciência a necessidade de tornar responsável e, sobretudo, previdente a nossa relação com o ambiente. Numa base diária e individual não deixando, apenas, para os governos essa responsabilidades.
As matérias de respeito ambiental e de ordenamento do território são, por tudo isso, da maior importância. Em qualquer ponto do globo porque fazemos parte de um todo à escala planetária e universal e as consequências dos nosso erros também.
Desde sempre tivemos a tendência de brincar aos deuses e de nos comportamos como donos do universo alegando um usucapião que, pelos vistos, não é reconhecido senão por nós próprios, armados em juízes em causa própria.
Mas não temos, comprovadamente, jeito.
Nunca passaremos de deuses com pés de barro.
P E D R O D A M A S C E N O
Passada a primeira onda de consternação sobre os graves acontecimentos ocorridos na Madeira no passado fim de semana, ficam-nos as imagens da destruição maciça e das vidas perdidas.
A Pérola do Atlântico transformou-se, de um dia para o outro, num imenso lamaçal a atestar a nossa impotência perante as forças da natureza e o seu incomensurável poder. Deixando-nos um travo amargo de pequenez.
A Lei das Finanças Regionais que, ainda ontem, era assunto de todos os jornais fugiu do palco a uma velocidade meteórica para dar lugar às imagens do sofrimento e da destruição, transformando aquele numa matéria sem relevância.
Como a provar que os nossos reinados de poder pouco adiantam perante forças que não conseguimos controlar e que estripam não apenas os nossas vidas e haveres mas atingem também, em pleno, o nosso ceptro de comando.
Foi assim na Madeira como foi assim aqui no sismo que ocorreu no Triângulo na madrugada de 9 de Julho de 1998 e que esventrou e destruiu num ápice o que demorou, depois, largos anos a reconstruir. Deixando, igualmente, um rasto de perdas humanas.
Como foi na avalanche de 1997 na Ribeira Quente que provocou 29 mortes e grandes danos materiais ou na enorme avalanche de 21 Outubro de 1522 que destruiu Vila Franca do Campo e causou milhares de mortos soterrando uma enorme área urbana.
Naturalmente para só falar de alguns casos que nos estão mais próximos mas não esquecendo a catástrofe que se abateu em Janeiro passado sobre o Haiti levando milhares de vidas e destruindo o muito pouco de tanta gente.
São momentos que nos devem convidar uma reflexão profunda sobre a nossa fragilidade de seres vivos e sobre a nossa condição de dependência em relação a forças que todo não controlamos. Sob pena de continuarmos a não aprender nada.
Trazendo à consciência a magna questão do respeito pela Natureza.
Não sendo, possivelmente, qualquer dos exemplos referidos imputáveis ao efeito de estufa e ao aquecimento global vêm todavia lembrar-nos da nossa enorme incapacidade de prever a generalidade das catástrofes naturais.
E que, assim sendo, tudo o que podemos fazer é trazer à consciência a necessidade de tornar responsável e, sobretudo, previdente a nossa relação com o ambiente. Numa base diária e individual não deixando, apenas, para os governos essa responsabilidades.
As matérias de respeito ambiental e de ordenamento do território são, por tudo isso, da maior importância. Em qualquer ponto do globo porque fazemos parte de um todo à escala planetária e universal e as consequências dos nosso erros também.
Desde sempre tivemos a tendência de brincar aos deuses e de nos comportamos como donos do universo alegando um usucapião que, pelos vistos, não é reconhecido senão por nós próprios, armados em juízes em causa própria.
Mas não temos, comprovadamente, jeito.
Nunca passaremos de deuses com pés de barro.
P E D R O D A M A S C E N O
sexta-feira, janeiro 29, 2010
HAITI
H A I T I
A tragédia que se abateu sobre o Haiti, possivelmente o país mais carenciado das Caraíbas, tem preenchido os tempos de maior audiência das nossas televisões. Porque, além do mais, tem todos os ingredientes para o sucesso mediático.
Todos os aspectos, grandes e pequeninos, têm sido esmiuçados diariamente: os mortos, a miséria, a violência, a solidariedade, as pilhagens, os salvamentos milagrosos, o vazio do poder, a quase anarquia, o desespero e a doença.
A pequena república caribenha transformou-se no centro das atenções a uma escala planetária até que canse e surjam outros novas temas igualmente mediáticos porque, infelizmente, são o que não falta neste conturbado mundo.
Por isso mesmo, e antes que o Haiti saia da ribalta, é importante meditar sobre o facto de ainda existirem países soberanos com tais os níveis de miséria, desorganização e corrupção. Quando noutras paragens existem tão elevados níveis de afluência e tecnologia!
Algo está muito mal no reino da Dinamarca.
Pesem embora as vastíssimas e variadas ajudas internacionais tudo voltará, inexoravelmente e a devido tempo, à escala zero. Porque as deficiências estruturais do país não serão ultrapassadas, simplesmente, com a ajuda humanitária.
Como alguém disse e bem o Haiti não foi vítima apenas de um desastre natural mas um desastre governativo cujo inicio teve início na sangrenta ditadura da “dinastia” Duvalier a que se seguiram consecutivos arremedos de democracia.
Algo de muito mais profundo e estruturante terá que ser feito. E não se vislumbra outra hipótese que não seja a das Nações Unidas que terão de começar, finalmente, a exercer as funções de guardião de uma ordem internacional baseada nos valores da democracia e da justiça social.
Utopia? Talvez, mas todos os grandes feitos da humanidade passaram sempre por uma fase de utopia. A utopia têm sido, invariavlemente, a antecâmara da realidade futura. Sem sonho a humanidade simplesmente não avança.
A comunidade internacional tem que continuar a ajudar todos os haitis deste mundo mas tem que assegurar que essa ajuda não vai servir para continuar a apoiar governos corruptos e incompetentes que impedem que as populações acedam a padrões mínimos de qualidade de vida.
Quem dá o pão dá a educação e é tempo de deixarmos de brincar às caridadezinhas e passarmos a exigir contrapartidas de governança competente, séria e democrática. Ninguém pode pedir ajuda para, no momento seguinte, puxar dos galões da independência e da soberania.
Independência e soberania conquistam-se por mérito e muito trabalho. E quem recebe ajuda dela tem que prestar contas, de forma clara e transparente. Tudo o que assim não for apenas servirá para perpetuar a ignorância e a miséria e encher os bolsos de políticos corruptos e respectivas cliques.
Que o Haiti seja um despertar de consciências e não apenas um êxito de audiências televisivas.
P E D R O D A M A S C E N O
A tragédia que se abateu sobre o Haiti, possivelmente o país mais carenciado das Caraíbas, tem preenchido os tempos de maior audiência das nossas televisões. Porque, além do mais, tem todos os ingredientes para o sucesso mediático.
Todos os aspectos, grandes e pequeninos, têm sido esmiuçados diariamente: os mortos, a miséria, a violência, a solidariedade, as pilhagens, os salvamentos milagrosos, o vazio do poder, a quase anarquia, o desespero e a doença.
A pequena república caribenha transformou-se no centro das atenções a uma escala planetária até que canse e surjam outros novas temas igualmente mediáticos porque, infelizmente, são o que não falta neste conturbado mundo.
Por isso mesmo, e antes que o Haiti saia da ribalta, é importante meditar sobre o facto de ainda existirem países soberanos com tais os níveis de miséria, desorganização e corrupção. Quando noutras paragens existem tão elevados níveis de afluência e tecnologia!
Algo está muito mal no reino da Dinamarca.
Pesem embora as vastíssimas e variadas ajudas internacionais tudo voltará, inexoravelmente e a devido tempo, à escala zero. Porque as deficiências estruturais do país não serão ultrapassadas, simplesmente, com a ajuda humanitária.
Como alguém disse e bem o Haiti não foi vítima apenas de um desastre natural mas um desastre governativo cujo inicio teve início na sangrenta ditadura da “dinastia” Duvalier a que se seguiram consecutivos arremedos de democracia.
Algo de muito mais profundo e estruturante terá que ser feito. E não se vislumbra outra hipótese que não seja a das Nações Unidas que terão de começar, finalmente, a exercer as funções de guardião de uma ordem internacional baseada nos valores da democracia e da justiça social.
Utopia? Talvez, mas todos os grandes feitos da humanidade passaram sempre por uma fase de utopia. A utopia têm sido, invariavlemente, a antecâmara da realidade futura. Sem sonho a humanidade simplesmente não avança.
A comunidade internacional tem que continuar a ajudar todos os haitis deste mundo mas tem que assegurar que essa ajuda não vai servir para continuar a apoiar governos corruptos e incompetentes que impedem que as populações acedam a padrões mínimos de qualidade de vida.
Quem dá o pão dá a educação e é tempo de deixarmos de brincar às caridadezinhas e passarmos a exigir contrapartidas de governança competente, séria e democrática. Ninguém pode pedir ajuda para, no momento seguinte, puxar dos galões da independência e da soberania.
Independência e soberania conquistam-se por mérito e muito trabalho. E quem recebe ajuda dela tem que prestar contas, de forma clara e transparente. Tudo o que assim não for apenas servirá para perpetuar a ignorância e a miséria e encher os bolsos de políticos corruptos e respectivas cliques.
Que o Haiti seja um despertar de consciências e não apenas um êxito de audiências televisivas.
P E D R O D A M A S C E N O
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