sexta-feira, março 25, 2011

JAPÃO E KADHAFI

JAPÃO E KADHAFI

Aparentemente sem qualquer relação entre elas, duas realidades tão distantes e, no entanto, tão próximas nos seus respectivos dramas. Um feito pela mão da natureza e o outro pela mão do homem.

Uns sobrevivendo a uma catástrofe natural de proporções gigantescas outros sucumbindo aos ditames sanguinários de um ditador psicopata. Tudo quase em directo nossas televisões.

Enquanto no Japão os sobreviventes juntam em improvisadas casas de cartão os pouco haveres que lhes restaram e, ordeira e agradecidamente, aguardam ao auxílio que lhes chega; outros são chacinados numa luta desigual.

Assim vai o nosso mundo.

A forma heróica como os japoneses encararam o terramoto/tsunami e encaram agora a ameaça nuclear encontra um denominador comum com a forma determinada como os resistentes líbios enfrentam, com armas rudimentares, o poder de fogo do seu demente líder.

Os acontecimentos do Japão vieram provar, para quem ainda tivesse dúvidas, a nossa impotência perante as forças naturais em fúria. Não há tecnologia nem prevenção que nos valha e o País do Sol Nascente é, certamente, um exemplo do estado da arte da tecnologia e da disciplina.

Séculos passados sobre a instauração do regime democrático em Inglaterra ainda se morre por delitos de opinião e a liberdade cívica (que tomamos completamente de barato) é uma miragem reprimida sem apelo nem agravo. Perante uma comunidade internacional de mãos atadas e que, só agora, tomou uma posição.

A situação de perigo nuclear em Fukushima veio colocar a questão da energia nuclear noutro patamar. A sua inocuidade ficou completamente em causa e os futuros debates sobre essa questão serão certamente diferentes. Nunca esquecendo que a energia emitida pelo Sol é milhares de vezes superior às nossas necessidades globais.

Mais uma vez a ONU veio provar ser um órgão burocrático e dilacerado por contradições internas que o tornam um peso quase morto no que diz respeito à mediação de conflitos. A Costa do Marfim continua sem solução à vista sendo a situação humanitária muito séria e tendo número de pessoas deslocadas aumentado 10 vezes desde Dezembro. A Líbia é o que se vê.

O comportamento do japoneses perante a adversidade constitui um exemplo para todos nós, minimizando os terríveis impactos de uma destruição maciça e mostrando o que a cultura e educação cívica podem fazer. Sobretudo para nós latinos, especialistas em fazer tempestades em copos de água.

A total falta de respeito pelos mais elementares direitos humanos na Líbia vem chamar a atenção para os perigos da chamada política realista que sacrifica quase tudo em nome do “sacrossanto” petróleo tendo colocado Kadhafi na qualidade de chefe de estado respeitado e a respeitar!

Possivelmente o paradigma dos grandes centros urbanos e a da concentração de milhões de pessoas em cidades terá que ser posto em causa. Ontem o Rio de Janeiro hoje Miyagi. Números astronómicos: 24.000 desaparecidos com 270.000 desalojados, dados que questionam o modelo de ocupação do solo.

Depois dos insucessos do Iraque, do Afeganistão, da Costa do Marfim e da atabalhoada “intervenção” na Líbia será necessário repensar o modelo de actuação da ONU perante países que, escudados por uma putativa nacionalidade, cometem as maiores atrocidades. Encontrando consensos que efectivamente resolvam os problemas e abolindo as hipocrisias em que as Nações Unidas são useiras e vezeiras.

Muito para reflectir no rescaldo de tudo isto.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Viver e morrer em Nova Iorque


Viver e morrer em Nova Iorque


Já passaram dias bastante para que se possa analisar com alguma serenidade o crime que ocorreu em Nova Iorque, perpetrado por um jovem aspirante a modelo sobre um maduro colunista social.

Assunto que ocupou as primeiras paginas do jornais durante semanas e que ainda continua continua a ser motivo de controvérsia matizada, em grande parte dos casos, por paixões desencontradas.

Mas, para além de tudo o que disse ou possa vir a dizer, tratou-se indiscutivelmente de um homicídio rodeado de extrema violência envolvendo pessoas aparentemente sem hábitos agressivos.

O que aconteceu, então, naquele distante quarto de hotel em Nova Iorque?

O que poderá ter levado um jovem de Cantanhede sem passado violento a cometer semelhante crime e o que levou um homem sofisticado e maduro de Lisboa a envolver-se com um puto provinciano?

Luxúria, carências afectivas, ambição desmedida, oportunismo, egoísmo, consumismo exacerbado, dinheiro fácil, exploração psicológica, vulnerabilidade emocional. Talvez tudo isso, num cenário de grande falta de valores.

Ter-se-á o rapaz “passado” perante uma pressão intolerável por parte do suposto protector? Terá havido drogas? É possível mas caberá aos investigadores e psicólogos/psiquiatras decidir.

O certo é que um jovem estragou a vida e um homem maduro perdeu a sua. Tudo porque o estranho mundo a que chegamos criou o “caldinho” indispensável para que coisas dessas aconteçam.

A futilidade e frivolidade da vida urbana moderna, frutos da falta de valores e do endeusamento do dinheiro e da “fama, criaram atalhos aonde deveria haver trabalho, talento, perseverança e resiliência.

Com a conivência das próprias famílias que talvez também esperassem algumas migalhas do banquete. Como diria o povo quando a esmola é grande o pobre desconfia. Mas isso era antigamente. Hoje contam, principalmente, as luzes da ribalta e os faz-de-conta.

Possível explicação para o que se passou e possível razão para explicar as manifestações de solidariedade a favor e contra da vítima e do matador transformando algo que deveria merecer uma reflexão séria e profunda em mais um número de circo mediático.

Ter-se tudo isto tornado noutra novela de cordel é o pior que podia ter acontecido. Carlos e Renato são, por razões diferentes, dois exemplos paradigmáticos dos tempos em que vivemos. Dos tempos em que 43 mulheres foram também assassinadas, em 2010 e em Portugal, por violência doméstica. Dos tempos em que um engenheiro de 65 anos executa a tiro, em frente da neta, um ex-genro advogado.

Faces diferentes da mesma moeda. O resto são detalhes.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Em busca da alma perdida

Muda primeiro em ti o que queres mudar no mundo
Ghandi


Em busca da alma perdida


Portugal, muito antiga e nobre nação, tem tudo para dar certo: clima, paisagem, grande área de mar, regiões autónomas marítimas. E sobretudo o povo, afável e capaz de grandes feitos como a História nos ensina.

Nos últimos cem anos chegámos a ser a nação que mais cresceu economicamente na Europa. Para não falar, naturalmente, nos mundos que demos ao mundo e nas marcas que deixámos um pouco por todo lado.

Somos capazes e muito viáveis como sobejamente já provamos durante a longa marcha que trazemos desde os tempos do Condado Portucalense.

E, contudo, andamos agora nas bocas do mundo como um pais à beira da falência e o nosso dia-a-dia só nos fala de crise e de falta de dinheiro, curvados perante os canhões em posição do FMI!

Depois da queda do cinzento, austero e miserabilista regime salazarista conquistámos, de novo, o direito à democracia e à participação política que nos tinha sido arrancada como consequência dos desmandos republicanos de outrem.

Entramos na Europa saindo, finalmente, de dezenas de anos do isolamento do “orgulhosamente sós” a que o dito estado novo nos tinha acorrentado na tese de que para lá de Vilar Formoso estava o pecado e a perdição.

Com olhos no bem estar europeu começamos a usufruir das benesses das liberdade e dos sólidos apoios económicos a que tivemos acesso. Sentimos-nos europeus, fundamos partidos e fomos à vida.

Passados quase quarenta anos desde a restauração da democracia baixamos a cabeça e nem sequer ao trabalho de votar nos damos. Deixamos de acreditar na política e nos políticos que, nós próprios, criámos.

A abstenção cresce para níveis preocupantes, a corrupção e o compadrio alastram e, tudo indica, que voltámos ao estado de espírito abúlico e desiludido de que tem já não acredita em nada e deixou cair os braços.

Quando o que se passa hoje em dia – e é muito mau – é da nossa responsabilidade colectiva. Temos os políticos e os partidos que ajudámos a criar e a filosofia de vida que escolhemos.

Só temos, portanto, que nos virar para nós próprios.

Só temos, cada um de nós, de mudar aquilo que achamos mal nos outros. Deixando de lado a convicção infantil de que as coisas estão mal por razões e pessoas alheias e que, individualmente considerados, somos todos óptimos.

As eleições presidenciais, mornas e sem rasgo, vieram mostrar um país que fortemente se absteve (que não está para se chatear..) mas mostrou, também, um país que foi as às urnas para dizer não ao sistema expressando vontade de participação cívica.

Temos o sistema que, colectivamente, fomos capazes de gerar. Os indispensáveis partidos e políticos que temos foram criados à nossa imagem e semelhança. Se não gostamos do resultado só temos que nos mudar a nós próprios e o resto vira por acréscimo.

Não esperando por qualquer salvador milagroso que nos venha fazer o trabalho de casa para, depois, nos por, de novo, açaime. Como diria um conhecido comentarista da praça: não há pequenos almoços de graça!...


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Bastão e Cenoura?

Quanto mais leis mais ladrões
Ditado taoísta


Bastão e Cenoura?


A crise das instituições em Portugal já se tornou um facto banal, de tanto ser badalado. Sobretudo a administração pública que, de forma recorrente, ocupa o pódio da baixa rentabilidade e o centro do humor laboral.

E também, de forma recorrente, se preconiza como solução a nomeação de comissões de inquérito que, por sua vez, apontam para a emissão de mais regras, regulamentos e leis. Bem como a instituição de incentivos para os vários agentes fazerem bem aquilo que era sua obrigação.

Bastão e cenoura.

E, assim, vamos perdendo a confiança em instituições de que dependemos. Instituições que não nos dão o que precisamos.

Escolas que não cuidam da instrução dos nossos filhos como deviam. Médicos que não nos dão a atenção e os cuidados sem pressas que procuramos. Sistema judicial mais amarrado a procedimentos administrativos do que a fazer justiça.

Funcionários administrativos das mil e uma repartições que nem se preocupam em dar bom dia e utilizam o seu “poder” de forma displicente e arrogante. Trabalhadores do estado que adormecem em cima das enxadas.

Todos nós conhecemos e vivemos isto. Como, também, todos nos sentimos desencantados e insatisfeitos. Mas, bem mais frequentemente do que se pensa, os autores dessas nossas frustrações também estão, por sua vez, mergulhados no desencanto e na frustração.

Muitos médicos gostariam, certamente, de tratar bem melhor os seus doentes em vez de estarem afogados em tarefas administrativas e terem de atingir verdadeiros recordes de consultas por hora.

Muitos professores gostariam de ensinar melhor o seus alunos em vez de estarem absorvidos por intermináveis acções de formação, testes estandardizados e novas técnicas de ensino que, na prática, se traduzem num interminável aumento de tarefas burocráticas.

Muitos magistrados, advogados e funcionários judiciais estariam muito mais realizados se não estivessem soterrados sob verdadeiras diarreias legislativas e regulamentares mas, antes, a fazer justiça.

Muitos funcionários administrativos estariam muito mais satisfeitos a fazer tarefas simples e claras que tornassem o seu trabalho atractivo do que sujeitos ao infernal aparelho burocrático do estado.

No fundo a grande maioria de todos nós gostaria que o nosso trabalho fosse estimulante e gratificante. Do mesmo que todos nós sentimos necessidade de afecto e calor, quer a nível pessoal quer a nível profissional.

Trabalho e afecto: as chaves da felicidade.

E para isso é indispensável a sabedoria prática, a mesma que um tocador de jazz precisa para improvisar ou um artesão para fazer uma casa.

Sabedoria não é um bem reservado a elites e a gurus mas uma ferramenta essencial à gestão do nosso dia a dia. Uma sabedoria prática que nos ajude a atingir a excelência na vida e a saber lidar com os problemas concretos. Uma sabedoria que os antigos tinham de sobra.

Regras e incentivos são necessários. Mas nada pode substituir o olhar para dentro e o saber libertar o enorme potencial que todos nós possuímos. Trocando as voltas ao circo mediático e barulhento em que se tornaram as nossas vidas.

Uma tarefa que cabe a todos: desde o primeiro ministro ao mais modesto trabalhador.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, dezembro 31, 2010

PNB ou FNB?

PNB ou FNB ?


É de todos sabido o significado de PNB (Produto Nacional Bruto). Que é, sumariamente, a soma de bens e serviços produzidos pelos nacionais no país e no estrangeiro num dado período de tempo, normalmente um ano. Incluindo remessas de emigrantes e excluindo aquilo que os estrangeiros produzem nesse país.

Contudo, um obscuro e pequeno país dos Himalaias (entalado entre a China e a Índia) de 700 mil habitantes, de seu nome Butão, avalia a prestação do estado segundo o conceito de FNB (Felicidade nacional Bruta).

Sendo a FNB butanesa a soma da acumulação de vários índices como bem estar psicológico, ambiente, saúde, educação, cultura, nível de vida, utilização do tempo, actividades sociais boa governação. Rejeitando a lógica mercantil quando invade bens colectivos considerados intangíveis como a educação e a saúde.

O Butão é possivelmente, o único país que jamais transitou de um regime feudal de monarquia absoluta para uma monarquia parlamentar por iniciativa do próprio soberano que iniciou uma democratização que os seus próprios súbditos não procuravam!

Graças ao FNB o país tem hoje um quadro ambiental e cultural preservado com crescimento anual da ordem dos 7%. Conseguindo uma pronunciada queda do analfabetismo e um rápido aumento da esperança de vida ao nascer.

O actual rei Khesar, jovem e muito popular, inscreveu o FNB na constituição e, desse modo, introduziu a felicidade no âmago das políticas públicas. Criando uma comissão que avalia o impacto as políticas em função do bem estar colectivo.

Tudo isto sem alardes e, muito menos, sem chavões ditos colectivistas ditados por uma nomenclatura política instalada e mantida no poder pela força e pela repressão. De maioria budista o país tem procurado seguir um modelo de modernização e crescimento económico que não ponha radicalmente em causa os valores tradicionais mas que integre alguns bens da civilização ocidental.

Tendo conseguido um honroso 8º lugar na Carta Mundial da Felicidade publicada em 2006 pela Universidade de Leicester em que os primeiros lugares são ocupados por países da Europa do Norte. Feito notável para um obscuro reino asiático de poucos recursos localizado numa das zonas de maior pobreza do mundo.

Utopia? Talvez mas é bom constatar a existência e o exemplo de um país que, ao arrepio dos padrões habituais, nem se refugia numa ditadura sangrenta e demagógica nem se põe em bicos de pés para aceder, de pleno direito, ao “paraíso” do consumismo.

Embora admitindo a entrada de turistas o Butão coloca restrições sérias a um turismo de massas que venha delapidar os recursos naturais e pôr em causa um modelo de desenvolvimento que põe as pessoas e o seu bem estar e identidade no topo da agenda política.

O país optou por um turismo para segmentos elevados limitando o número de visitantes como forma de manter a sua identidade cultural aproveitando as mais valias trazidas por quem pode pagar e aprecia, com alguma reverência, um ambiente preservado e uma cultura autêntica.

O Butão é, certamente, uma gota de água no oceano. Mas uma que faz falta, como diria a Madre Teresa de Calcutá.

No mínimo, este despretensioso e humilde país asiático poderá tornar-se num caso de estudo para quem se preocupa com os valores da felicidade e do bem estar num cenário de preservação ambiental e cultural. Oxalá não se estrague e não se converta noutra Meca da fast food espiritual ou numa pequena América nos Himalaias.

É bom sonhar!


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, novembro 12, 2010

BIOCRACIA (Biodemocracia)

O país não precisa de uma ditadura, mas precisa de uma radical reforma.
Vasco Pulido Valente


BIOCRACIA
(Biodemocracia)

Portugal precisa, de facto, de uma radical reforma.

E quem diz Portugal diz a nossa cultura ocidental. Porque não somos assim tão diferentes de todos os outros. Os nossos défices orçamentais podem ser maiores, a nossa produtividade menor mas a filosofia do sistema é a mesma.

Basicamente somos uma cultura de consumo que explora os nossos recursos naturais de forma, crescentemente, insustentável baseados na convicção de que o planeta está à nossa inteira disposição e foi “feito” para nos servir.

Consideramos-nos o supra-sumo da criação com o direito de decidir sobre o destino de todas as outras espécies só pelo simples facto de termos um cérebro mais desenvolvido e termos criado as tecnologias que tal nos permite fazer.

E, mesmo sabendo que o hábito não faz o monge, procurarmos gratificação e felicidade fora de nós, quer por via do consumismo e do conforto excessivos quer tentando ignorar que a nossa casa comum – o planeta – precisa da biodiversidade para manter qualidade.

O que levou a que, nos últimos quarenta anos, se desse um declínio de cerca de 30% da biodiversidade global e uma pressão sobre os recursos naturais da ordem de uma Terra e meia.

Ou seja, também ao nível dos recursos naturais e da manutenção das outras espécies, estamos a viver muito acima das nossas possibilidades. Só com uma grande diferença: a nível do ambiente e dos recursos naturais não há FMI que nos possa salvar!

Desde 1980 que consumimos mais recursos naturais do a capacidade de regeneração dos ecossistemas e produzimos mais dióxido de carbono do que a Terra pode absorver, situação agravada pela excessiva desflorestação que continua a fazer-se. Estando, por conseguinte, em défice ambiental desde essa altura.

Sendo a grande diferença que não é possível emitir qualidade ambiental da mesma forma que se pode emitir moeda. E qualidade ambiental é uma condição indispensável à nossa qualidade de vida e, no limite, á nossa sobrevivência.

Sendo que tudo isto assume particular importância quando se estima que a população mundial atinja os 9 mil milhões em 2050. E quando se percebe que países emergentes e muito populosos como a China, a Índia e o Brasil tenham objectivos (até certo ponto legítimos) de conseguir os níveis de consumo e conforto do Estados Unidos e da Europa.

O que se poderá tornar trágico quando se sabe que dez hectares são insuficientes para compensar para compensar o estilo de vida de um habitante dos Emirados em comparação com o meio hectare necessário a um timorense! E que com a actual pressão consumista esta Terra já não nos chega.

Sendo a democracia (poder do povo, humano entenda-se) o melhor sistema imperfeito que se conhece talvez seja altura para evoluirmos para a biocracia ou biodemocracia. Sendo esta uma democracia ecológica que inclua todos os seres vivos, tanto na biodiversidade como na diversidade cultural.

Sendo seguro que as outras espécies e os ecossistemas não possam vir a ter os seus próprios parlamentos compete-nos a nós, principais interessados, dar-lhes voz e poder político. Sob pena de podermos vir a estar perante um ecocídio e, o mesmo é dizer, um biocídio. Palavras novas para novas ameaças.

Viva-se no centro de Nova Iorque ou nos Açores!


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, outubro 29, 2010

O orçamento de estado

O orçamento de Estado

Quando se presume que está eminente o epílogo da novela do orçamento do Estado 2011 fica-nos a sensação disso mesmo: de que vivemos mais uma novela recheado de sensacionalismo tendo faltado apenas um pouco de sexo.

Passando o orçamento ou não (e provavelmente vai passar) fica para trás uma maratona de negociações que não eram para ter acontecido mas que aconteceram, num clima de crispação incompreensível.

Semelhante ao que aconteceria se tivessemos a nossa própria casa a arder e nos virássemos unas aos outros em vez de tentar apagar o fogo, o mais rapidamente possível.

A hora de todos os julgamentos políticos e partidários virá a seu tempo e, sem dúvida, que haverá vencedores e vencidos. Mas sobre os escombros resultantes de um incêndio por fogo posto.

O momento difícil que vive Portugal não é apenas , nem essencialmente, devido à crise internacional e/ou à gestão politica do país. Esses são apenas alguns dos ingredientes de uma situação bem mais profunda e complexa.

Diz-se, e é verdade, que temos os políticos que merecemos. Estes são, ao fim e ao cabo, entes de carne e osso como todos nós e reflectem de forma relativamente fidedigna quem os elegeu.

Desde o 25 de Abril que, infelizmente, se vulgarizou a consolidação do conceito de clientelas partidarias como forma priveligiada de chegar ao poder e o manter. Por isso são responsáveis os partidos (nomeadamente os do arco do poder) e todos nós.

E também se assumiu que, por hipotético truque de mágica, passamos de um paíz atrasado, deprimido e cinzentamente conservador para um país europeu e moderno com indíceis que desenvolvimento que nos conferiram acesso ao consumo destravado.


Passamos dos oito para os oitenta, sem pontos ou vírgulas.

O campo desertificou-se ainda mais, extensas áreas do litoral foram selvaticamente destruídas e ocupadas por betão e o mar foi esquecido. O crédito fácil e abundante subverteu a prudência e a vontade de trabalhar.

Passamos, no ranking mundial da corrupção, do 23º lugar para o 35º. Um evolução negativa só explicável à luz da impunidade de que a corrupção goza em Portugal. Ao ponto de se ter tornado quase um status socialmente aceitável e uma inevitabilidade.

O chico-espertismo e o desenrascanço tornaram-se duas marcas de sucesso, imprescindíveis à boa progressão social e financeira. A administração pública tornou-se num polvo incontrolado e incontrolável.

Os três pilares da democracia – saúde, educação e justiça – tornaram-se piores, mais caros e mais escassos. Consequência directa do facto de que a riqueza produzida pelo país ser, sistemáticamente, ultrapassada pelos gastos do Estado.

O nosso grande problema não é a viabilização ou não do orçamento de 2011. Essa é uma mera questão de curto prazo e conjuntural. O nosso grande problema é não termos interiorizado ainda que temos todos que mudar: muito e depressa.

Da esquerda à direita, do rico ao pobre, do empresário ao assalariado, do político ao eleitor, do funcionário público ao trabalhador da privada. E todos temos uma boa ideia sobre o que precisamos de mudar.

Mas persistimos em manter a cabeça debaixo da areia, á espera do malfadado D. Sebastião, de mítica memória e trágica realidade.



PEDRO DAMASCENO

terça-feira, outubro 26, 2010

Alugar um gato!

Alugar um gato!


O Japão, país de tradições comunitárias e com uma das maiores taxas de centenários do mundo, não consegue assegurar uma velhice condigna para um grande número dos seus cidadãos.

Um país que, num passado recente, tinha dois pilares fundamentais – a comunidade e a família – entra numa rampa descendente no que diz respeito aos apoios aos idosos.

A criminalidade grisalha, como lhe chamam, atinge proporções preocupantes sobretudo em grandes meios urbanos como Tóquio. Os lares para idosos são ainda raros e a rua é, muitas vezes, a única opção.

Afinal são mais de 8 milhões de cidadãos com mais de 80 anos e 29,4 milhões com mais de 65 anos. Num país com uma população de de 127 milhões. Fenómeno que está acontecer, um pouco, por todo o mundo “desenvolvido”.

O país da alta tecnologia resvala para um estilo de vida implacável em que horários de trabalho de 12 horas por dia são correntes deixando os cidadãos privados de um verdadeira vida pessoal.

Vidas em que não é possível cultivar amizades e criar laços comunitários/familiares. Surgindo, desse modo, novos negócios que se dedicam a alugar o que as pessoas não conseguem ter: desde “um bom amigo” até um gato para passearem no pouco tempo que lhes resta!

E o aluguer de um gato pode atingir valores da ordem dos 8 €/hora!

Embora falando de situações limites de grandes cidades não deixam de ser indicadores altamente preocupantes do que acontece quando as sociedades se desumanizam e não deixam lugar condigno para aqueles atingiram o limiar das suas vidas.

Sendo os Açores ainda essencialmente rurais já se notam sinais claros de degradação dos valores comunitários e familiares e uma insensibilidade crescente para com os idosos nomeadamente para os mais dependentes.

O número de idosos que procuram instituições de solidariedade social para terminarem os seus dias tem vindo a crescer e os laços comunitários e familiares têm vindo a afrouxar.

Ainda bem que tem havido investimento público muito significativo nessa solução que não sendo a ideal dá resposta a pessoas que já não conseguem encontrar suporte no seio das comunidades e famílias.

O ideal seria que os idosos não fossem “obrigados” a deixar as suas casas e as comunidades e mantivessem um contacto diário com os vários grupos etários. Sendo sabido que as instituições de idosos acabam sempre por provocar a sua exclusão social por muito boas que sejam as condições de alojamento.

O frenesim e as exigências consumistas da vida moderna geram nos mais novos uma impaciência para com os “velhos” que, ao invés de serem fontes de conhecimento e experiência, se tornam empecilhos. E, assim, se quebram inestimáveis cadeias de solidariedade e entreajuda.

Os avós precisam dos filhos e dos netos. Mas nada mais do que os netos e os filhos precisam dos avós e pais. Como acontecia no advento do homem e como ainda acontece em comunidades rurais em muitos pontos do globo.

Sendo conhecida a veneração pelos idosos que as civilizações ditas mais primitivas cultivavam (e muitas ainda cultivam) torna-se incompreensível a crescente impaciência que a nossa cultura do fast food e de tudo o resto adopta em relação a eles.

No fundo, com um pouco de sorte, todos nós seremos idosos amanhã e bom seria que não víssemos obrigado a alugar um gato ou a contratar um “bom amigo”.

O amanhã começa hoje.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, outubro 08, 2010

Finalmente - Aeroporto do Pico?

Finalmente – Aeroporto do Pico!?


O encerramento para obras, previsto para breve, da pista de São Jorge vai implicar a deslocação para o Pico do tráfego daquela ilha. O que implicará que o aeroporto do Pico passe a servir cerca de vinte cinco mil pessoas.

Situação que obviamente irá colocar novos desafios ao tráfego aéreo de/e para o Pico. Embora a informação oficial da duração das obras aponte para período muito curto estas estarão sempre condicionadas a factores exógenos entre os quais avultam as condições climatéricas.

Desafios que a estrutura aeroportuária desta ilha está em perfeitas condições de satisfazer, salvo o malfadado abastecimento das aeronaves – processo com contornos e atrasos incompreensíveis para o comum dos mortais.

Sendo sabido que o investimento até agora realizado no Pico não tem tido remuneração em termos de prestação de serviços, quer no que diz respeito ao seu papel de gateway quer no que diz respeito à sua proximidade de São Jorge e ao papel de complementaridade que deveria ter em relação ao aeroporto da Horta.

Em contradição com as convicções de um ex-alto responsável da SATA que previa para o Pico um protagonismo decisivo para as ligações do Triângulo com o exterior e dentro Açores dada a sua centralidade e o seu carácter de alternativa a Castelo Branco.

Tendo-se criado , somente, o voo de má figura dos sábados para se dar, apenas, cumprimento à promessa da criação da gateway do Pico, voo que não interessa nem ao Menino Jesus e que, serve simultaneamente, de farisaica fundamentação para a absurda afirmação de que esta ilha não tem mais voos porque tem oferta e não tem procura!

A Ilha do Pico não tem oferta de voos para o/e do exterior. Tem apenas um faz de conta que não serve a ninguém: nem turistas nem locais. Toda agente sabe isso.

Passando a servir, agora, mais dez mil pessoas estima-se estarem reunidas as condições para se iniciar uma nova era da sua gateway com a concretização de, pelo menos, dois voos semanais (segunda e sextas) o que para além de vir satisfazer anseios legítimos se afigura como uma medida comercial de elementar bom senso.

Longe vão os tempos em que as reivindicações de carácter meramente bairrista faziam sentido. Hoje tem que se apostar, cada vez mais, na boa gestão dos recursos e numa análise dos números, actualizada e correcta.

A importância crescente da Ilha do Pico no contexto regional é bem visível a olho nú e só não vê quem não quer. Seja nos sectores primários e da transformação seja no estratégico sector do turismo, a afirmação desta ilha é inegável e imparável.

Insistir em manter o Aeroporto da Horta como a única getway, objectiva e real, das ilhas do Triângulo é, antes de tudo, um clamoroso erro de análise e de gestão. Quer por parte das companhias aéreas quer por parte dos responsáveis pelo sector dos transportes.

Erro que, alias, contradiz completamente o investimento muito vultuoso que foi feito no Pico. Das duas uma: ou se fez um investimento impensado e sem fundamento ou então estão a subordinar-se os interesses de um boa gestão dos recursos e de uma visão estratégica de desenvolvimento a inexplicáveis razões que a razão desconhece.

Por muito curto que seja o encerramento de São Jorge bem pode esperar-se que estes mais dez mil utentes do Aeroporto do Pico sejam o talismã e a oportunidade para teste e mudança. Que servirá a todos, quer no plano pessoal quer no plano da economia, pura e dura.

Já não é sem tempo!



PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, setembro 17, 2010

Parabéns Pico. Parabéns Triângulo

Parabéns Pico
Parabéns Triângulo


A eleição da Paisagem Vulcânica da Ilha do Pico como uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal foi não só um acto de justiça mas também o galardão que o Pico precisava para se afirmar, em definitivo, como um destino especial.

Não sendo demais salientar que o prémio diz respeito à paisagem vulcânica da ilha e não apenas à montanha mais alta de Portugal. Montanha que terá levado 240 mil anos a formar-se, resultando de inúmeras erupções vulcânicas que moldaram essa grandiosa paisagem.

Espectáculo que deverá ter sido empolgante e que nos deixou marcas que, agora, assumem uma mística cantada por poetas e sentida por todos. Como disse Natália Correia : “Onde vos retiver a beleza dum lugar, há um Deus que vos indica o caminho do espírito."

E o Pico é isso mesmo: uma beleza que nos retém e aonde há um Deus que nos leva para os caminhos do espírito. As cicatrizes do grande fogo que brotou das entranhas do planeta e que atestam a grandeza dessa criação que tantas paixões e ódios tem suscitado. Uma vertigem sensorial que marca, irremediavelmente, quem por cá passa com olhos de ver.

Piquinho do Pico, seis da manha de qualquer um bom dia de Julho. Sem uma nuvem, num silêncio profundo que convida à prece estende-se, perante nós, o oceano infinito salpicado pelas ilhas que daqui se avistam. Nascendo, lentamente, o sol por trás de São Jorge e tendo junto de nós uma fumarola que nos aquece da geada do amanhecer.

É partir para nunca mais deixar de regressar: um amor de vida, insubstituível!

Parabéns Triângulo porque o Pico é património de fidelidade diária do Faial e de São Jorge. Ilhas que lhe garantem essa imponência e profundidade que só de lá é possível apreender e fruir. O Pico sem o Triângulo nunca seria uma ilha completa. Faltar-lhe-ia sempre esse precioso jogo de espelhos dos canais do nosso dia-a-dia.

É uma vivência cúmplice, um concubinato que só agora começa a ser assumido na sua plenitude e que dará mais terra aos Açores que, além de serem ilhas, são um arquipélago que pouco se sente mas que aqui assume a sua expressão máxima.

Só a má “estória” atirou estas ilhas para arrufos que apenas nos enfraqueceram e nos puseram de costas voltadas quando, no fundo, passávamos a vida a espreitar-nos uns aos outros. Amores furtivos que viviam disfarçados de malquerenças.

Parabéns Pico. Parabéns Triângulo.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, setembro 03, 2010

Boas notícias

Boas notícias


Depois dos fogos, da crise e da chuva na Semana dos Baleeiros bem precisamos de boas notícias e elas aí estão!

Vivemos no Paraíso, se é que ele existe.

E, realmente, obcecados pelos nossos pequenos dói-dóis, pouca atenção prestamos à situação de privilégio em que vivemos: natureza, não poluição, tranquilidade e segurança.

Sendo tudo isso , mais ou menos comum, ao resto dos Açores ganha uma escala especial no Pico, uma ilha rural e de natureza mas numa escala que só tem paralelo em São Miguel que sendo uma ilha bela já perdeu , em grande parte, esse charme.

Pesem, embora, variados problemas que nos preocupam (assistência medica, acessibilidades, alguns défices de desenvolvimento) temos acesso a uma das melhores qualidade de vida. Conciliando o isolamento e a natureza com o acesso a facilidades tecnológicas que nos ligam, instantaneamente, ao resto mundo.

Juntando o útil ao agradável.

Viver hoje nos Açores é um privilégio. Viver no Triângulo e na Ilha do Pico é, realmente, viver no Paraíso.

Tudo isto num contexto de equilíbrio social em que quase toda a gente vive com apreciável nível de conforto e com problemas sociais que são, ainda, numa percentagem muito diminuta.

É bom sabermos contar as nossas bênçãos e não ficarmos grudados às televisões que se tem vindo a tornar em arautos da desgraça raramente seleccionando notícias que se traduzam em optimismo e em ganhos de auto estima e vontade de viver.


As boas noticias estão por aí por todo o lado para quem as quiser ver. O mar infindo, a montanha majestosa, o matizado infindável de verdes na sua cama de basalto, as cagarras e os garajaus, o por do sol e esse silêncio profundo que se espalha pela ilha serena.

E esse recorte magnifico da montanha ao anoitecer em dias de bom tempo.

Mas bem sabemos, assim reza a Bíblia, que ate o próprio paraíso conseguimos estragar se não tivermos juízo. Não havendo fim para o sofrimento que os seres humanos podem infligir a outros. A História está cheia de exemplos, muitos deles bem recentes.

Mas hoje é um dia inteiramente dedicado às boas notícias - que são do melhor que pode haver - e dia de nos deixarmos de lamurias e de tantas mesquinhices que ainda fazem parte integrante do nosso quotidiano.

Hoje é dia para nos sentirmos gratos por estarmos vivos e podermos usufruir dessa dádiva magnífica que é a Vida.

Que venham a nós as boas notícias.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, agosto 20, 2010

Justiça e estados de alma

Justiça e estados de alma


Muito mal têm estado o Procurador Geral da República (PGR) e o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP). Dos seus diferendos deram conhecimento ao país de forma inteiramente inadequada para quem exerce funções de tanta e alta responsabilidade.

Uma verdadeira peixeirada na praça pública que apenas veio confundir, ainda mais, o cidadão comum.

Embora se entenda que os diferendos existam e que ambas as partes tenham legitimidade para defender os seus pontos de vista, dificilmente se poderá perceber a linguagem e o tom.

O PGR quando afirma que o SMMP actua como um pequeno partido e um mero lobby de interesses pessoais. O SMMP quando diz que a hierarquia do Ministério Público está moribunda e que o actual PGR tem uma visão militarizada e do posso quero e mando.

São linguagens e atitudes completamente inaceitáveis. Nem o PGR deveria ter tido tecido qualquer comentário ao comunicado do SMMP nem este se deveria ter dirigido à cúpula do Ministério Público daquela forma.

A liberdade é, talvez, o pilar mais importante da democracia e que inclui o direito de associação sindical. Mas tudo isso não pode justificar que se ponha em causa o próprio estado de direito. Mas foi isso que, infelizmente aconteceu.

O PGR (legitimamente nomeado) e o SMMP (livremente constituído) deveriam ter sabido açaimar dos seus estados de alma e não pôr em causa, de forma tão óbvia e crua, relações institucionais respeitosas e respeitadoras que deveriam existir em órgãos de soberania.

Veio tudo isto a propósito do tão badalado caso do Freeport de que toda a gente fala mas que muitos poucos conhecem com fundamento. À boa maneira portuguesa todos mandam bocas e tomam partido consoante simpatias pessoais/partidárias sem grandes preocupações pelo rigor nem pelo bom nome das pessoas.

A novela PGR/SMMP em nada veio ajudar a esclarecer o que quer que fosse mas somente abalar, ainda mais, o fraco conceito em que os portugueses têm a sua justiça. Mesmo sem ser jurista se percebe que algo anda mal no reino da Dinamarca.

Como explicar então que perguntas, eventualmente, a dirigir ao Primeiro Ministro não tenham sido feitas atempo e horas e se tempo não tivesse havido não se tivesse pedido uma prorrogação de prazo? E que não tendo sido feitas venham a fazer parte de um despacho?!

Situação que cheira a falta de lealdade que deveria existir de cima para baixo e, certamente, de baixo para cima. Dando, possivelmente, razão a um ilustre jurista que se não acanha de falar em pandemia de deslealdades. Um conceito que, infelizmente, parece ter sério fundamento.

A Justiça, para o ser, tem que ser rápida, competente e eficaz. Se assim não for de pouco servirá, a quem quer que seja. E para o ser terá que se fazer num contexto de respeito institucional que não se compadece com brigas na via pública.

Muito pior andarão os caminhos da justiça em Portugal se quem de direito não exigir mais. Porque é de exigir que o PGR e o SMMP colaborem a bem da justiça, e trabalhem paralelamente sem se atrapalharem. Objectivo maior num verdadeiro estado de direito.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, julho 23, 2010

O PAÍS DOS GAJOS PORREIROS

O PAÍS DOS GAJOS PORREIROS


O gajo porreiro é uma instituição em Portugal.

Não havendo uma definição objectiva sobre o que isso quer dizer é uma das bengalas mais usadas no português coloquial. Sendo o porreirismo um neologismo que traduz, na perfeição, muito do nosso modo de estar.

Porreiro, pá! Foi uma expressão que entrou no anedotário nacional e que revela bem o seu carácter abrangente e universal. Isto é porreiro, uma coisa porreira, uns gajos porreiros. E por aí fora.

Sendo, às tantas, a palavra facilitador a que mais se aproxima de porreiro. “Vai ter com ele que é um gajo porreiro” quer dizer isso mesmo: um gajo que desenrasca e que não chateia.

O gajo porreiro é, talvez, a figura moderna que mais se aproxima do Zé Povinho do Bordalo Pinheiro. Falta o seu talento para o desenhar e dar mais um alento à olaria tradicional que bem precisaria de um estímulo.

Aqui fica a sugestão: se se promova um concurso de âmbito nacional para encontrar um talento que traduza em imagens o gajo porreiro.

O gajo porreiro é, consensualmente, um gajo que não chateia e que não tem nenhuma daquelas posturas de rigor e exigência germânicas. Uma pessoa que nos faz sentir seguros neste nosso quotidiano delicodoce que detesta o confronto e adora a manta que nos cobre a todos nós.

Há quem ache que ser porreiro é ser meio tótó, um tipo sem personalidade, pouco criativo, pouco atraente e incapaz de ameaçar quem quer que seja. O gajo que achamos inferior a nós, o gajo que nunca na vida nos irá roubar a namorada ou ensombrar o nosso “brilho”. O tipo em que se vota para a junta de freguesia.

Mas essa versão do gajo porreiro é, talvez, exagerada. O gajo porreiro basicamente é um tipo que não complica e que ajuda a que este país continue a ser um feudo da mediocridade e o habitat natural para quem não quer ser nem deixar de ser.

Não ameaçando ninguém o gajo porreiro permitiu que este país tenha chegado aonde chegou - em que ninguém acredita em ninguém. Sabendo-se que o porreirismo não puxa carroça promoveu o facilitismo, a corrupção e o horror generalizado por tudo a que cheira a trabalho e a esforço.

Possivelmente há vários tipo de gajos porreiros. Havendo alguns que, embora sendo “porreiros”, conseguem promover o mérito e o esforço mas esses serão uma minoria que não conta para esta estória.

O gajo porreiro, no fundo, é a caricatura dos nossos brandos costumes. Todos matamos e esfaqueamos mas – quando chega a hora da verdade – metemos o rabo entre as pernas porque, afinal, somos todos uns gajos porreiros e uns coitadinhos.

Traduzindo, às tantas, aquilo que realmente somos: boa gente. O que sendo uma grande qualidade abre, contudo, a porta à balda, à irresponsabilidade e à nossa crónica incapacidade para meter a nação na ordem.

Tornando-nos, inevitavelmente, num país de gajos porreiros.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, junho 25, 2010

Síndroma de Défice de Natureza

As nossas crianças não podem usufruir – nem aprender com – as maravilhas da natureza se os adultos dizem uma coisa (sair de de casa) e fazem outra (ficar dentro de portas)
Richard Louv


Síndroma de Défice de Natureza


Contacto com a natureza - para quem vive numa zona rural – é uma coisa trivial que pouco valorizamos. As estações que se sucedem, as plantas que desabrocham, os pássaros que chilreiam e o vento que passa.

Infelizmente o homem dos nossos dias está tornar-se num ser urbano que assume a selva de betão e o trânsito como o seu habitat sendo os espaços verdes, progressivamente, mais escassos.

E a criança tem vindo a substituir as brincadeiras esquecidas na rua para se passar para o computador, a consola de jogos e a televisão. Para não falar nos telemóveis com os quais desaprendem de falar e escrever.

Como dizia, recentemente, uma criança: “prefiro brincar dentro de casa porque é ai que estão as tomadas eléctricas”. Antigamente as crianças problemáticas eram as que se refugiavam em casa. Hoje são as que se refugiam na rua e na floresta.

As alergias e as doenças auto-imunes que tem vindo a aumentar estão relacionadas com uma baixa acentuada das defesas imunitária que, por seu turno, são afectadas por um mundo esterilizado e stressante.

Situação muito preocupante que levou à identificação do Síndroma de Déficite de Natureza que não tendo uma carácter científico ou médico sintetiza bem os deficits de natureza que as crianças, sobretudo urbanas, têm.

Preocupações sobre as consequências, a longo prazo – afectando o bem estar emocional, as capacidades de aprendizagem e a consciência ambiental – criaram os Estados Unidos um movimento nacional que visa não deixar nenhuma criança dentro de casa.

O movimento Children & Nature Network (Rede de Crianças e Natureza) tem como objectivo voltar a “ligar” as crianças às alegrias e lições da natureza. Destinando-se a apoiar pessoas e organizações – a nível nacional e internacional - cujo trabalho se desenvolva com esse objectivo.

No portal www.childrenandnature.org é possível encontrar um manancial de notícias sobre esta tema bem como sobre a investigação que está a ser feita nos mais diversos campos com ele relacionados.

Uma criança para quem uma galinha é um saco de plástico com carne dentro, uma vaca/porco um conjunto de peças sanguinolentas expostas numa vitrina refrigerada ou a floresta é um desenho animado/jogo de computador precisa de ser “re-ligada”, urgentemente, à natureza.

E às que a esse extremo ainda não chegaram é prioritário impedir que cheguem. E aqui entram as nossas que vivendo num ambiente privilegiado dele não tiram o prazer e as lições que os avós, a todos os níveis, tiravam.

O progresso – para o ser – não pode tornar-se num inimigo activo da natureza e do ambiente. As modernas tecnologias e confortos devem, antes de tudo, ser ferramentas para usufruirmos, em melhores condições, de tudo aquilo que os os nossos antepassados usufruíam.

Doutro modo o Síndroma de Déficite de Natureza arrisca-se mesmo a tornar-se numa classificação médica e numa verdadeira patologia.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, junho 11, 2010

RESPIRAR NOS AÇORES

RESPIRAR NOS AÇORES
(A força das coisas simples)



Venha respirar aos Açores, bem poderia ser um slogan publicitário para o turismo da Região que muito precisa de um forte abanão nestes tempos de recessão nos nossos mercados emissores tradicionais.

Sendo o respirar uma função vital de primeira linha e uma das condições mais importantes para a qualidade de vida e a prevenção da doença ressalta bem a sua importância em qualquer turismo de saúde e bem estar.

Turismo de saúde e bem estar que poderá ser o futuro produto ancora do turismo açoriano já que temos todas as condições ideais para que assim seja. Temos natureza, tranquilidade, segurança e uma densidade populacional baixa.

Os recursos naturais, indispensáveis à saúde e bem estar, abundam e entre eles está certamente o ar. Não só pelo abundante oxigénio mas pela inexistência de poluição atmosférica.

O nosso exuberante verde é a garantia de uma fotossíntese vigorosa que nos proporciona oxigénio com fartura, elemento indispensável à respiração. Respiração que, nas tradições orientais, tem sido objecto de décadas de estudo.

Havendo mosteiros cuja actividade e estudos se centram na respiração e na sua importância. Sendo bem conhecido o facto de muitos dos ditos milagres executados pelos faquires serem baseados no controle da respiração.

Todos os organismos – humanos, plantas e animais – são constituídos por uma multiplicidade de células que se organizam em tecidos específicos e orgãos que , por sua vez, constituem o corpo físico. A vida daquelas células e consequentemente do corpo dependem de um aporte contínuo de energia.

Sendo os alimentos os fornecedores primeiros dessa energia não deixa, contudo, de ser indispensável a existência ao nível celular do oxigénio para que aqueles nutrientes se transformem em energia utilizável pelas células – unidades bases de toda a vida.

E um adequado fornecimento de oxigénio depende, certamente, da integridade e bom funcionamento do aparelho respiratório mas também da sua qualidade e quantidade existentes na atmosfera.

Sendo, por consequência, decisiva a qualidade do meio ambiente seja por via da existência de árvores seja por via da baixa poluição. Factos que tornam os Açores aptos para proporcionarem uma excelente respiração e, desse modo, uma boa saúde das células e – o mesmo é dizer – de todo o corpo.

Vindo isto tudo a propósito de como coisas bem simples, para nós banais, podem ser a chave do sucesso de um destino turístico. Respirar nos Açores é um privilégio para quem se preocupa com a saúde e bem estar. Bem maior do que a gastronomia ou os vinhos.

A respiração é um excelente ferramenta para o relaxamento sendo a base da meditação que tantos adeptos continua a conquistar em todo o mundo e que se tem tornado numa das armas mais eficazes para o combate ao stress.

O que torna os Açores num destino ainda mais extraordinário para quem procura a desintoxicação, o relaxamento e a qualidade de vida. Por via de um abundantíssimo recurso que pouco valorizámos, mesmo para nós próprios.

Venha respirar para os Açores e traga um amigo também.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, maio 28, 2010

Falta de esperma em Portugal

Falta de esperma em Portugal
( A invasão silenciosa?)


Segundo a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução falta esperma em Portugal! Tendo sido levantada a possibilidade da importação de esperma de países como a Espanha.

O que, para além de deixar todos os nossos marialvas do passado e do presente à beira de um ataque de nervos, vem pôr em causa o que parecia ser o último reduto da produção nacional: o esperma.

Ou seja, até na produção de esperma vamos ter de recorrer a Espanha como se não bastasse tudo o que de lá importámos. Correndo obviamente o risco de virmos a ter no futuro sucessivas levas de nostros hermanos, via espermatozóides importados.

Tirando os aspectos anedóticos fica-nos a sensação de que, nem ao nível de recolha de esperma e de óvulos, conseguimos encontrar soluções que não passem pela importação de materiais biológicos que porão em causa a nossa própria carga genética.

Levando, por conseguinte, a globalização para o terreno da genética e da reprodução. O que não sendo trágico revela bem a fragilidade das nossas capacidades produtivas e organizativas, mesmo a um nível que parecia impensável.

É evidente que não haverá falta de esperma em Portugal a crer nas estatísticas da actividade sexual dos portugueses e do seu desempenho. O que significará, mais uma vez , a incapacidade de gerar a nossa auto-suficiência em domínios quase caricatos.

Segundo o juiz desembargador Eurico Reis há a necessidade urgente da criação de um centro público de gâmetas (óvulos/espermatozóides) o que significa que tal centro não existe bem como a concomitante recolha do material orgânico.

O que nos põe um pouco em paz com a bombástica e pública afirmação de falta de esperma em Portugal. Sendo o problema da escassez essencialmente centrado na organização e recolha e não tanto na falta de produção nacional.



O que, às tantas, é aplicável a outras importações que fazemos e que, com a devida organização e planeamento, não teríamos de fazer. Com evidentes implicações na balança de pagamentos e no famigerado défice das contas públicas que, agora, nos faz andar a todos de cinto apertado.

Défice que não surpreende no país do esbanjamento e do desperdício (será também assim com o esperma?!) em que nos comportamos como os recursos fossem infinitos e em que o cidadão comum se comporta como o estado e a coisa pública fossem coisas que não lhe dizem directamente respeito e que, gostosamente, ajuda a delapidar.

Reflexões sugeridas pelo magno problema da falta de esperma que, com toda a certeza, não é um problema estrutural mas simplesmente mais um sintoma alarmante da nossa proverbial incapacidade de aproveitar recursos próprios ou aqueles que nos foram postos à disposição.

Foi assim com as especiarias e o ouro da expansão colonial, foi assim com os biliões da comunidade europeia e, pelos vistos, será assim com o esperma que - tudo leva a crer - será de boa qualidade e em quantidade suficiente.

A ciência e a tecnologia devem merecer-nos todo o respeito. Mas há coisas que não lembram nem ao Diabo.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, maio 14, 2010

As cinzas do norte

As cinzas do norte


A “moda” chegou. Inevitavelmente as cinzas vulcânicas da Islândia atingiram os Açores. Provando a pequenez do planeta e a susceptibilidade de todos nós.

Sem cair no chavão de que estamos a pagar pelas agressões ao ambiente deverá ser, contudo, motivo de reflexão. Dado que engrossamos uma Europa que tem tido prejuízos no sector do turismo da ordem dos trezentos milhões de euros num só dia.

A Organização Mundial de Turismo já estimou prejuízos para o turismo europeu que ultrapassam os 1.700 milhões de euros e as companhias aéreas poderão ter que subir os preços das passagens.

A chegada das cinzas deixou a Região paralisada desde domingo e sem ligações ao exterior sendo apenas possível viajar, com normalidade, entre as ilhas do Triângulo. Atestando o caracter peculiar e de proximidade destas ilhas.

Os prejuízos económicos serão, também, de monta nos Açores sem contabilizar todos os transtornos pessoais ocorridos. O que, ironicamente, nos põe todos a desejar ainda mais chuva, mas desta vez para ajudar a limpar as cinzas.

As cinzas da Islândia, o derrame de petróleo do Novo México, os sucessivos furacões nos Estados Unidos conferem à crise financeira numa dimensão bem menos trágica. Dado que ultrapassar esta depende, em primeira linha, de nós.

Contexto em que se torna importante reflectir sobre a necessidade crescente de reavaliarmos o nosso estilo de vida e o modo insensato como, tantas vezes, desbaratámos os nossos recursos naturais ou menosprezamos a força da natureza.

Força que, num ápice, pode fazer ruir o baralho de cartas em que as nossas vidas se tornaram já que dependem de recursos e tecnologias que falhando nos deixam ao sabor do improviso.

O que é ainda mais verdade para uma região periférica como a nossa em que, infelizmente, as pessoas tem vindo a perder competências de sobrevivência mercê de um facilitismo que atinge o próprio sector alimentar, condição primeira de vida.

A presente experiência, se bem digerida e reflectida, pode ser o ponto de arranque para uma nova postura perante a vida e um recuo face a um consumismo que já nos atinge em cheio e que nos vulnerabiliza em termos de sobrevivência num cenário de catástrofe.

Sem perder o rumo da modernidade e do desenvolvimento deveríamos preservar e estimular as nossas ancestrais capacidades de fazer face a uma natureza lindíssima mas igualmente agreste e difícil. Voltar, se possível, ao amor à terra.

Os Açores são um local fascinante com condições para atrair gente igualmente fascinante. Mas o futuro de tudo isso depende de nós e da maneira como formos capazes de “casar” progresso com tradição.

As Ilhas de Bruma recomendam-se mas é urgente voltar a amá-las.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, março 26, 2010

ELVIS

ELVIS


O Elvis era apenas um pequeno cão de estimação. Nem especialmente bonito nem portador de uma linhagem particularmente pura. Era um desses muitos “vira-latas” que por aí andam.

Tinha, contudo, uma personalidade muito vincada e uma vitalidade fora do comum. E, desse modo, criou um lugar próprio na vida de muita gente que dele recebeu grande afecto inteiramente retribuído.

O Elvis morreu, serenamente, após uma vida longa.

História que nada tem de extraordinário mas que encerra, por isso mesmo, uma lição simples sobre a vida e a morte e a nossa relação com os animais. Ao fim e ao cabo seres vivos como nós.

Não havendo notícia da existência de qualquer decreto-lei ou outro documento que tenha deliberado tornar os animais cidadãos de segunda neste nosso conturbado planeta resta, apenas, a nossa convicção de que somos os seres mais importantes da criação.

E tem sido uma longa luta (ainda longe do fim) o reconhecimento do direito dos animais à existência . A lembrar, pesem as diferenças, as lutas pela igualdade dos escravos e das mulheres.

Sabendo-se, como se sabe hoje, que a biodiversidade é preciosa e condição indispensável para a nossa própria existência facilmente se percebe que o nosso equilíbrio biológico e emocional depende do respeito por todos os seres vivos.

Dos mais “insignificantes” aos mais corpulentos.

E vai sendo tempo de deixarmos de brincar aos deuses e parar de decidir quais as espécies que irão sobreviver. Porque todas elas fazem parte do nosso eco-sistema e são indispensáveis à sua manutenção.

O Elvis foi apenas uma gota muito pequena nesse grande oceano. Mas uma gota (que como diria Madre Teresa de Calcutá) que faz falta, como todos nós nesse imenso caleidoscópio que é o Universo. Um pequeno raio de luz.

Acreditando que tudo o que existe, vivo ou não, faz parte integrante deste mundo e que se tudo se transforma e nada se perde temos que aprender a viver nesse continuum de existência que não tem hierarquias e que a todos trata por igual.

Sendo, por isso, a morte não mais do que a transição de um estado para outro, independentemente das convicções religiosas e/ou filosóficas de qualquer um de nós. Tudo o que cá existe cá permanece mudando, apenas, de forma.

Não muito longe vai o tempo em que se considerava que os pretos e as mulheres não tinham alma. Hoje, felizmente, todos tem direito a ela – o que quer que seja. E porque não os animais?

O mistério é profundo e vai, provavelmente, manter-se indefinidamente. Pelo menos nesta breve passagem que é a nossa existência que, tantas vezes, desbaratamos em nome de uma qualquer efémera glória ou posse.

Restando-nos, simplesmente, saber amar para saber viver.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Deuses com pés de barro

Deuses com pés de barro


Passada a primeira onda de consternação sobre os graves acontecimentos ocorridos na Madeira no passado fim de semana, ficam-nos as imagens da destruição maciça e das vidas perdidas.

A Pérola do Atlântico transformou-se, de um dia para o outro, num imenso lamaçal a atestar a nossa impotência perante as forças da natureza e o seu incomensurável poder. Deixando-nos um travo amargo de pequenez.

A Lei das Finanças Regionais que, ainda ontem, era assunto de todos os jornais fugiu do palco a uma velocidade meteórica para dar lugar às imagens do sofrimento e da destruição, transformando aquele numa matéria sem relevância.

Como a provar que os nossos reinados de poder pouco adiantam perante forças que não conseguimos controlar e que estripam não apenas os nossas vidas e haveres mas atingem também, em pleno, o nosso ceptro de comando.

Foi assim na Madeira como foi assim aqui no sismo que ocorreu no Triângulo na madrugada de 9 de Julho de 1998 e que esventrou e destruiu num ápice o que demorou, depois, largos anos a reconstruir. Deixando, igualmente, um rasto de perdas humanas.

Como foi na avalanche de 1997 na Ribeira Quente que provocou 29 mortes e grandes danos materiais ou na enorme avalanche de 21 Outubro de 1522 que destruiu Vila Franca do Campo e causou milhares de mortos soterrando uma enorme área urbana.

Naturalmente para só falar de alguns casos que nos estão mais próximos mas não esquecendo a catástrofe que se abateu em Janeiro passado sobre o Haiti levando milhares de vidas e destruindo o muito pouco de tanta gente.

São momentos que nos devem convidar uma reflexão profunda sobre a nossa fragilidade de seres vivos e sobre a nossa condição de dependência em relação a forças que todo não controlamos. Sob pena de continuarmos a não aprender nada.

Trazendo à consciência a magna questão do respeito pela Natureza.

Não sendo, possivelmente, qualquer dos exemplos referidos imputáveis ao efeito de estufa e ao aquecimento global vêm todavia lembrar-nos da nossa enorme incapacidade de prever a generalidade das catástrofes naturais.

E que, assim sendo, tudo o que podemos fazer é trazer à consciência a necessidade de tornar responsável e, sobretudo, previdente a nossa relação com o ambiente. Numa base diária e individual não deixando, apenas, para os governos essa responsabilidades.

As matérias de respeito ambiental e de ordenamento do território são, por tudo isso, da maior importância. Em qualquer ponto do globo porque fazemos parte de um todo à escala planetária e universal e as consequências dos nosso erros também.

Desde sempre tivemos a tendência de brincar aos deuses e de nos comportamos como donos do universo alegando um usucapião que, pelos vistos, não é reconhecido senão por nós próprios, armados em juízes em causa própria.

Mas não temos, comprovadamente, jeito.

Nunca passaremos de deuses com pés de barro.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, janeiro 29, 2010

HAITI

H A I T I


A tragédia que se abateu sobre o Haiti, possivelmente o país mais carenciado das Caraíbas, tem preenchido os tempos de maior audiência das nossas televisões. Porque, além do mais, tem todos os ingredientes para o sucesso mediático.

Todos os aspectos, grandes e pequeninos, têm sido esmiuçados diariamente: os mortos, a miséria, a violência, a solidariedade, as pilhagens, os salvamentos milagrosos, o vazio do poder, a quase anarquia, o desespero e a doença.

A pequena república caribenha transformou-se no centro das atenções a uma escala planetária até que canse e surjam outros novas temas igualmente mediáticos porque, infelizmente, são o que não falta neste conturbado mundo.

Por isso mesmo, e antes que o Haiti saia da ribalta, é importante meditar sobre o facto de ainda existirem países soberanos com tais os níveis de miséria, desorganização e corrupção. Quando noutras paragens existem tão elevados níveis de afluência e tecnologia!

Algo está muito mal no reino da Dinamarca.

Pesem embora as vastíssimas e variadas ajudas internacionais tudo voltará, inexoravelmente e a devido tempo, à escala zero. Porque as deficiências estruturais do país não serão ultrapassadas, simplesmente, com a ajuda humanitária.

Como alguém disse e bem o Haiti não foi vítima apenas de um desastre natural mas um desastre governativo cujo inicio teve início na sangrenta ditadura da “dinastia” Duvalier a que se seguiram consecutivos arremedos de democracia.

Algo de muito mais profundo e estruturante terá que ser feito. E não se vislumbra outra hipótese que não seja a das Nações Unidas que terão de começar, finalmente, a exercer as funções de guardião de uma ordem internacional baseada nos valores da democracia e da justiça social.

Utopia? Talvez, mas todos os grandes feitos da humanidade passaram sempre por uma fase de utopia. A utopia têm sido, invariavlemente, a antecâmara da realidade futura. Sem sonho a humanidade simplesmente não avança.

A comunidade internacional tem que continuar a ajudar todos os haitis deste mundo mas tem que assegurar que essa ajuda não vai servir para continuar a apoiar governos corruptos e incompetentes que impedem que as populações acedam a padrões mínimos de qualidade de vida.


Quem dá o pão dá a educação e é tempo de deixarmos de brincar às caridadezinhas e passarmos a exigir contrapartidas de governança competente, séria e democrática. Ninguém pode pedir ajuda para, no momento seguinte, puxar dos galões da independência e da soberania.

Independência e soberania conquistam-se por mérito e muito trabalho. E quem recebe ajuda dela tem que prestar contas, de forma clara e transparente. Tudo o que assim não for apenas servirá para perpetuar a ignorância e a miséria e encher os bolsos de políticos corruptos e respectivas cliques.

Que o Haiti seja um despertar de consciências e não apenas um êxito de audiências televisivas.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Fé, a quanto obrigas

Os terroristas islâmicos são pessoas perfeitamente normais
Fúria Divina


Fé, a quanto obrigas!


A recente tentativa de atentado, na Dinamarca, contra um dos autores das caricaturas do profeta Maomé por um fundamentalista islâmico aos berros de “sangue” e “vingança” vem relembrar os velhos apelos dos mullahs radicais.

O incidente ocorreu no início deste mês e está relacionado com igual tentativa levado a cabo em Chicago contra o editor das citadas caricaturas havendo uma clara relação entre elas.

O que vem demonstrar o braço longo do islamismo radical que procura aplicar a sharia (justiça muçulmana) em todo o mundo e, sobretudo, também a não muçulmanos. Tentando universalizar as regras ditadas por Maomé.

No ano de 2009 da nossa era ainda somos confrontados com práticas medievais em nome de um Deus supostamente justo e misericordioso e, por cima de tudo, em países de tradição judaico-cristã. Em colisão absoluta com as nossos valores de tolerância e liberdade de expressão e de culto.

E, ao contrário do que seria e esperar, não estamos perantes pessoas primitivas e socialmente excluídas. O grau de instrução e o nível social desses terroristas é, frequentemente, elevado. Como foi, notoriamente, o caso dos autores dos atentados de Nova Iorque.

Sendo importante perceber o conceito de jihad que muito interpretam apenas com o guerra santa. Jihad tem a ver com a luta interior de cada muçulmano deve travar consigo próprio para se aperfeiçoar mas tem tem também a ver com defesa e expansão dos valores do Alcorão.

E sendo a Fé uma convicção e um acreditar que não exige provas irrefutáveis ou de carácter científico fácil se torna converter um sistema de crença religiosa num desígnio de vida blindado a qualquer sentido crítico. A palavra de Deus torna-se num argumento incontornável.

E nesse campo de pouco serve a instrução ou a posição social.

Só assim se pode explicar que actos de puro delito comum e da mais satânica falta de compaixão possam ser perpetrados por pessoas de nível superior e em nome de uma suposta causa espiritual.

Sendo também por isso que os sistemas de crenças baseados numa fé inquestionada e inquestionável se tornam extremamente perigosos. Porque não obedecem a parâmetros discutíveis e porque, supostamente, se subordinam a uma entidade (Deus) que não diz directamente da sua justiça.

O fundamentalismo islâmico é a inquisição do século XXI. Com outras roupagens e novos adereços mas com a mesma perigosa obsessão de lavar os pecados do mundo em nome de Deus e de formatar a vida de acordo com a visão de uma classe eclesiástica, obscurantista e obcecada.

Sendo a fé (nos valores, nas pessoas, nas atitudes) um valor estruturante das nossas vidas não deveria todavia servir de base à violência, ao ódio e à intransigência. A distância entre fé e obsessão é, demasiadas vezes, muito pequena.

Se vida não pode ser vivida apenas com um racionalismo puro e frio tendo de haver paixão e fé não é menos verdade que estas tem de ser temperadas com bom senso e inteligência crítica.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Os minaretes da Suíça

Os minaretes da Suíça


Os minaretes são torres que existem, habitualmente, nas mesquitas e que se destinam a fazer os cincos chamamentos diários para as orações muçulmanas e que, tradicionalmente, são feitos pelos almuadem.

Os almuadem são os encarregados de fazer esse chamamento que é feito em forma de um cantar monocórdico com alusões a Ala e a Maomé. Prática que faz parte, também, do exotismo de muitos países árabes sobretudo ao anoitecer.

As orações são feitas no interior das mesquitas e em nada dependem directamente dos chamamentos feitos dos minaretes pelo que a sua existência, ou não, em nada coarcta a livre prática religiosa, um indiscutível pilar da democracia.

Na Suíça os muçulmanos representam cerca de 5% da população e, para alem de três mesquitas com minaretes, tem uma vasta rede de mesquitas e locais de oração que asseguram a sua prática religiosa.

Os três minaretes existentes na Suíça deixaram há muito de ser utilizados para os chamamentos das orações constituindo apenas um pormenor arquitectónico das mesquitas não tendo qualquer utilidade prática.

Desconhece-se, em absoluto, limitações à prática religiosa na Suíça. Seja da religião muçulmana ou qualquer outra. Sendo no entanto bem conhecida a intolerância religiosa nos países em que o islamismo controla a política.

No referendo efectuado naquele país apenas se decidiu a autorização ou não da construção de minaretes e nunca qualquer restrição à livre pratica religiosa. Somente se decidiu se os minaretes também podem fazer parte da paisagem suíça.

Sendo a Suíça um país soberano e que preza muito, e com toda a legitimidade, a sua identidade cultural e paisagística tem todo direito democrático de decidir sobre uma matéria que só foi notícia porque não é, actualmente, politicamente correcto ser considerado intolerante religioso.


Sendo a região islâmica aquela em que o fenómeno do fundamentalismo é mais evidente não deixa de ser irónico que a mera construção de um pormenor arquitectónico que, ainda por cima, é tipicamente árabe num país europeu seja notícia de intolerância religiosa!

Tanto quanto se sabe os muçulmanos são inteiramente livres de praticar a sua religião na Suíça ou em qualquer país europeu. Podendo para o efeito construir, alugar ou pedir emprestados os seus locais de culto. Não tendo a questão dos minaretes nada a ver com o caso.

Os suíços entenderam que não queriam a sua paisagem típica e, simultaneamente, marca turística descaracterizada por torres que nada têm a ver com ela. Estão no seu pleno direito.

O resto é conversa de quem ainda não percebeu que sendo a liberdade sendo um bem precioso não pode, jamais, servir de pretexto para dar cobertura democrática a quem não a pratica.

Liberdade sim, mas para tudo. Mesmo para dizer que não.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, novembro 06, 2009

Quando o ilógico se torna rotina

Quando o ilógico se torna rotina



Totalmente remodelado o aeroporto do Pico, percebidos os desafios das acessibilidades e as especificidades das três ilhas do triângulo tudo parecia encaminhar-se para a coordenação e a complementaridades dos transportes.

Mas nada mais longe da realidade.

Tudo continua a acontecer como se as três ilhas pouco ou nada tenham a ver umas como as outras, como se o aeroporto do Pico seja um mero fait-divers não um investimento com objectivos claros e como se a Transmaçor fosse uma libelinha tonta.

Não há coordenação, complementaridade ou simplesmente lógica. Os voos da TAP para a Horta continuam a ter horários como se apenas servissem a Ilha do Faial, a Transmaçor continua a não perceber que aqueles voos trazem, invariavelmente, passageiros para o Pico e este continua a ter uma ridícula desobriga semanal da TAP.

E não adianta pregar ou barafustar. Continuam todos de costas olimpicamente voltadas continuando a ser possível ver o Cruzeiro do Canal ainda dentro do porto da Horta depois de um rally iniciado no aeroporto de Castelo Branco ou a ter dias em que não há voos nem para o Pico nem para o Faial.

A descoordenação é tão chocante que parece ser propositada. Recursos que se desperdiçam, tempos de pessoas que se desprezam e oportunidades que se perdem.

Situação que assume contornos surrealistas quando experimentada por quem nos visita e desconhece as nossas idiossincrasias de antanho. Pessoas que ficam sem vontade de voltar, sobretudo em época baixa.

Parece ter sido tudo planeado ao milímetro para não funcionar.


Sendo a única pedrada neste nosso charco, as viagens diárias e todo ano para São Jorge de parto bem difícil mas que irão, certamente, consolidar o triângulo e tornar os jorgenses nossos efectivos parceiros.

Quando a lógica e o bom senso apontam para a necessidade absoluta de evitar desperdícios e maximizar recursos parece não ser possível coordenar Transmaçor, SATA e TAP criando condições de diálogo e cooperação.

O que falta?

Falta, com toda a certeza, a percepção e a interiorização do conceito de triângulo e de proximidade que existe neste mini-arquipélago, tão próximo e tão distante. Como falta o exercício de uma cidadania do triângulo em detrimento dos bairrismos de ilha ou de concelho.

Algumas apostas estão lançadas embora as nuvens permaneçam. Resta agora saber concretizar no terreno uma lógica de união e de procura de sinergias que venham tornar esta zona do Arquipélago num ainda mais apetecível lugar para se viver e num empolgante destino turístico.

E que, sobretudo, torne o lógico em rotina.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, outubro 16, 2009

Eu, também, sou negro

Eu, também, sou negro.


A polémica gerada em torno da atribuição do Premio Nobel da Paz a Barack Obama possibilitou uma análise, mais profunda dos fundamentos para a atribuição do galardão.

Com gente a favor e gente contra, mas centrando o debate essencialmente nos méritos ou deméritos do presidente americano para o receber. Esquecendo que a Academia Sueca também o tem atribuído para sublinhar causas,

Foi assim no Médio Oriente (Sadat e Begin), em Timor (Ramos Horta e Ximenes Belo) e foi também por uma causa que foi atribuído a Al Gore. Foi assim quando foi atribuído a instituições como as Nações Unidas ou a Agencia Internacional da Energia Atómica.

A Barack Obama foi atribuído por pelos seus esforços para reforçar o papel da diplomacia internacional e a cooperação entre os povos e tem o objectivo evidente de apoiar a paz e a concórdia.

Sendo os Estados Unidos, ainda, a maior potência militar do globo está-lhe reservado um papel central na procura e consolidação da paz. Tendo Obama sucedido ao militarista Bush ficou claro que os americanos depositaram, também, naquele um grande capital de esperança,

A eleição de Obama representou para os Estado Unidos uma verdadeira revolução: negro, democrata, verde e pacifista. Tudo aquilo que Bush não era e que nos deixou um travo amargo de mediocridade, arrogância e militarismo.

Ser negro é uma forma de vida tão válida e necessária como qualquer outra. Mas eleger, em 2008, um negro para a Presidência dos Estado Unidos representou um salto gigante a favor das causas da igualdade e da paz.

Barack Obama ao conseguir fazer eleger-se e dispor-se a correr um constante risco de vida num país com tradição de assassinar presidentes, tornou-se num dos meus heróis.

Sendo apenas um homem tem, fatalmente, defeitos e virtudes como todos nós. Mas é um homem de coragem e resiliência fora do comum. Um homem que representa um marco na história recente da América.

Penso ser lícito pensar que o Nobel foi atribuído mais àquilo que Obama representa do que a ele próprio. Ou melhor, é impossível dissociar a pessoa das causas que defende e do trabalho que tem pela frente.

A atribuição do prémio representa, por isso, um forte sinal de reconhecimento por parte de um país europeu da necessidade da cooperação transatlântica e um grande incentivo para as colossais tarefas da paz e da justiça.

E Obama vai precisar de todo o apoio que consiga reunir.

A sua eleição foi apenas um primeiro passo para a grande caminhada que visa mudar o paradigma das relações entre as nações e o equilíbrio entre pobres ricos e entre norte e sul.

Por tudo isso eu, também, sou um negro. Com o mesmo espírito que Kennedy afirmou ser um berlinense em 1963 junto ao muro de má memória. Bem haja Real Academia Sueca dos Prémios Nobel!


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, setembro 18, 2009

"Fuck them"

Fuck them
Alberto João Jardim dirigindo-se a jornalistas


“Fuck them”


Qualquer pessoa que perceba, minimamente bem, inglês sabe que o título desta crónica é do mais ordinário que se pode dizer na língua de William Shakespeare. Embora comum hoje em dia, mas muito ordinário em qualquer dos casos.

Então porque o escolhi?

Porque foi essa a expressão que o Presidente do Governo Regional da Madeira entendeu adequada para mimosear os jornalistas que indagaram das razões porque Manuela Ferreira Leite usou automóveis do Governo Regional na sua visita partidária à Madeira.

Expressão que dita publicamente (tendo sido transmitida pela TV) se enquadrava, até 1983, num crime público. Tendo sido despenalizada não deixa, por isso, de ser totalmente ofensiva e inadequada ainda agora.

E perante tudo isto, mais uma vez, nada aconteceu!

O Presidente da República a banhos em Boliqueime. E o resto do pessoal a encolher os ombros e a acomodar-se, novamente, aos destemperos (de que origem?) daquele que se apresenta como o bobo de serviço na Corte da Madeira.

Penso que nem Benito Mussolini, pese embora a sua forte veia de palhaço, foi tão longe.

É difícil perceber como um país que se indigna tão violentamente com a suspensão do noticiário da Senhora Manuela Moura Guedes não reaja ao facto de um Presidente de Governo Regional mandar “foder”, em alto e bom som e com todas as letras, os jornalistas!

E não consta que o respectivo Sindicato tenha decidido tomar alguma atitude e, muito menos, que a AACS (Alta Autoridade para a Comunicação Social) tenha tomado posição sobre o assunto.

Embora seja público e notório, desde há muito tempo, que o Dr. Alberto João Jardim deixou de ter condições para exercer um cargo de tal importância.

Não só pela mais elementar falta de boa educação e respeito pelos outros como, sobretudo, pelo desrespeito provocatório, trauliteiro e sistemático dos órgãos de soberania nacional num exemplo flagrante de ausência de sentido de estado e de cultura politica e democrática.

Só não vê quem não quer ver. O eterno argumento de que arrecada sempre o voto popular é, no mínimo, patético. Como se toda a gente não soubesse como estas coisas se fazem com o beneplácito de um regime democrático frouxo.

O que torna o regime da Madeira num exemplo paradigmático das perversões da democracia quando ela é entendida como um simples ir a votos. E, o mesmo é dizer, da ileteracia e do caciquismo que ainda se vive em Portugal. Pragas de que não nos livraremos enquanto houver, no activo, semelhantes políticos.

Mas tudo isto é bater em ferro frio porque, há muito, que a democracia portuguesa se afunda num conformismo exasperante e num aparente complexo do exercício da autoridade com a óbvia falência do normal funcional das suas instituições.

Mas lá que irrita e machuca, é verdade.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, setembro 04, 2009

A insustentável leveza da nossa democracia

nunca ninguém nos presta contas de coisa alguma
Ricardo Costa




A insustentável leveza da nossa democracia



Aproximam-se novos actos eleitorais e aí está a parafrenalia promocional. Cartazes, cores, frases e - mais tarde - tea-shirts, esferográficas, bonés e mais cartazes e frases. E muita barulheira.

Chegou o zénite da nossa democracia: as campanhas eleitorais. As máquinas partidárias aquecem os motores e os militantes acordam depois de uma longa hibernação. Os escritórios desertos animam-se de novo.

Os programas e folhetos que praticamente ninguém lerá (porque não vale a pena?) saem para a rua. Provavelmente a sua aplicação nunca será monitorizada, de forma transparente e sistemática, fado a que já nos habituámos ao longo dos mais de 30 anos da nossa democracia.

Fica tudo mesmo assim.

Os partidos políticos empenham-se, nova e encarniçadamente, na luta pelo poder. O que, na prática, acaba por ser o seu grande objectivo pesem as listagens de soluções, mais ou menos milagrosas, que sempre propõem para salvar o país.

Não questionando as boas intenções - que dessas está o inferno cheio – fica a ideia de que os programas são uma chatisse. E que servem sobretudo para serem argumentos em sede de debates que, mesmo assim, quase sempre descambam para diatribes pessoais.

A grande maioria dos leitores submerge perante a avalanche inusitada de informação e de interesse pelas suas anónimas pessoas que, na véspera, não constavam do mapa e agora recebem resmas de apertos de mãos e de pancadas nas costas.

Vindos de um grande vazio de militância partidária e ideológica e de activismo cívico os eleitores são, de repente, o centro de todas as atenções. Uns mordem a isca mas um grande número desconfia e fica em casa. Uma minoria mais politizada vai tentando fazer navegação à vista e votar útil

Crescentemente.

Longe vão os tempos do debate político convicto e participado. E assim vai a insustentável leveza desta nossa democracia que persiste em tornar a política num circo feérico e mediático em que a imagem vale quase tudo e a substância quase nada.

A abstenção dispara e o interesse cai a pique. O recrutamento dos políticos entra numa crise semelhante ao recrutamento de sacerdotes. Quem não pode caçar com cão caça com gato e portanto que venha a nós quem quer e não quem é preciso.

É necessário lutar pela democracia porque não há alternativa. É necessário defender os partidos porque sem eles não há democracia. Mas ainda bem que há vida para além deles e dos períodos eleitorais e talvez seja essa mesma a chave para o futuro.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, agosto 21, 2009

A dança dos transportes

A dança dos transportes



Um arquipélago de nove ilhas, com pretensões a ser destino turístico, como os Açores tem que ter uma política que assegure transportes eficientes, fiáveis e de custo aceitável.

A nossa condição a isso obriga.

Contudo as complicações, desencontros, insuficiências e preços dos nossos transportes não auguram nada de bom. Viajar de avião entre as ilhas continua a ser proibitivamente caro e de barco uma aventura.

Verdade para toda a Região mas, ainda mais verdade, para as ilhas do Triângulo e Flores. Por aqui o aeroporto do Pico jaz morto e apodrece e as ligações marítimas com São Jorge são o que são.

Restando a esperança que as reiteradas promessas políticas de ligações diárias e todo ano com a Ilha do Dragão tenham, já este ano, concretização. E que, finalmente, a novela do abastecimento de combustível às aeronaves no aeroporto do Pico termine.

Esperando-se, também, que os cancelamentos do aeroporto da Horta não continuem a significar aterragens na Terceira e regresso a Lisboa transformando uma viagem de duas horas e meia em sete horas e meia. Assim não há turismo que resista.

Como se espera que o horários publicados pela Transmaçor na Internet correspondam aos horários efectivamente praticados. Ninguém acredita que essa discrepância possa existir mas a verdade é que existe e muito boa gente perdeu ligações por isso mesmo!

Passados dois anos sobre a inauguração do aeroporto e da realização de investimento de 25 milhões de euros, o Pico continua a ser tudo menos um aeroporto alternativo ao da Horta e, ainda menos, uma gateway da Região. Cheirando o voo semanal a mera desobriga política.

Do outro lado do Canal de Vitorino Nemésio estão cerca de 10.000 pessoas inquietas para verem a sua Ilha ligada, de forma consistente e eficaz, ao Pico e ao Faial e por terem acesso rápido a uma gateway que lhe permita entrar e sair da Região com a fluidez que as limitações do seu aeroporto não permitem.

Não podemos continuar sujeitos ao livre arbítrio da SATA Internacional e da TAP pesem embora as boas intenções do regulamento de serviço público. Terá que existir um conjunto de procedimentos estandardizados para os cancelamentos. Os pilotos não podem ter a última palavra.

É sabido que a palavra de boca é a melhor forma de promoção mas experiências quase surrealistas que continuam a acontecer, quer de avião quer de barco, não auguram nada de bom. Já basta o nosso destino ser caro.

O desafio está, sem dúvida, dos lado dos políticos que não podem continuar esconder-se por trás da teoria que o mercado é que funciona mas está também do lado dos empresários e respectivas associações.

O dossier dos transportes é muito complexo não se compadecendo com visões e reivindicações simplistas e, muito menos, com medidas avulsas. É indispensável pegar nele com uma atitude fresca e isenta de preconceitos num ambiente de diálogo e concertação.

Ou então continuaremos a ser somente um potencial destino turístico e um negócio de apenas dois meses por ano.


PEDRO DAMASCENO

sexta-feira, agosto 07, 2009

O POLVO

O POLVO

Sem dúvida que existem excepções na Administração Pública: pessoas competentes, empenhadas e diligentes. Mas não passam disso mesmo, excepções.

O resto é uma máquina pesada, ineficiente e caríssima que asfixia este país.

Atingindo todos os sectores mesmo os mais nevrálgicos como a Saúde, a Educação e a Justiça. E não há estado de direito que resista, por muito perfeita que sejam a Constituição e as leis.

Tendo os agentes dessa administração a noção, correcta alias, que os seus votos são um peso decisivo no “jogo” democrático e que, por conseguinte, não há partido, com ambições de poder, que se “atreva” a desafiá-los.

E assim tem sido desde o 25 de Abril. O que leva a que saudosos do salazarismo e outros-que-melhor-não-entendem façam apelos ao regresso ao passado.

Confundindo tudo. Porque o que este país precisa não é de uma versão reciclada do dinossauro excelentíssimo mas sim de uma autoridade democrática que cumpra e faça cumprir as leis.

Uma autoridade constituída com base no voto e no sufrágio popular mas que se decida a servir e não a servir-se. Que saiba usar, sem tibiezas ou complexos, a autoridade que lhe foi conferida para defender os cidadãos e os seus direitos.

Sobretudo num país em que a ileteracia ainda tem um peso muitíssimo significativo e aonde as tradições democráticas são muito recentes e que, por isso mesmo, precisam de ser consolidadas pelo exemplo que tem que vir precisamente da classe política e dos agentes da administração.

Muito se escrito sobre isto, muito tem se tem barafustado mas sem resultados à vista. A abstenção aumenta sistematicamente e os exemplos que por ai abundam em nada ajudam.

Veja-se o último caso bem ilustrativo da javardisse a que chegou a política portuguesa. Um politico é condenado em tribunal a prisão efectiva e a perda de mandato e tudo o que se lembra é de começar, nesse momento, a sua campanha para as próximas eleições!

Tudo isto não é normal e atesta, eloquentemente, a degradação a que chegou a cidadania em Portugal. Uns fingem que não estão a ver, outros que não percebem e o povinho, esse “coitado”, fica de boca aberta a indagar-se sobre para que servem os tribunais e a justiça.

A nossa democracia bem precisa de uma lufada de ar fresco, que terá de vir de um número crescente de pessoas que, individualmente ou organizadas, passem a exercer uma cidadania esclarecida, interventora e fortemente reivindicativa.

Assim não sendo o polvo não parará de crescer.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, julho 24, 2009

São rosas, meu Senhor!

São rosas, meu Senhor!



Faz parte do nosso património religioso e cultural a mentira piedosa que a Rainha D. Isabel pregou ao seu marido, El-Rei D. Dinis. Uma lenda que sempre entusiasma quem a ouve.

Vem isto a propósito ou a despropósito do turismo nos Açores. Considerado um potencial de desenvolvimento económico tem-se sobre ele mantido algumas mentiras piedosas.

Analisando-o sob a perspectiva do aumento do numero de camas e de dormidas tem-se defendido a tese de que o sector mantêm um bom crescimento e que as perspectivas de futuro são animadoras.

Mas basta uma pequena rabanada de vento como a paragem da vinda para São Miguel dos suecos para que seja claro que o negócio do turismo é uma actividade de 3 meses. E o que o resto é um arrastar-se para aí.

O turismo na Região tem inegáveis potencialidades porque temos recursos naturais únicos na Europa e uma estabilidade e segurança invejáveis sendo que os segmentos do turismo de natureza e bem-estar são os que mais crescem.

Contudo os transportes mantêm-se exorbitantemente caros e as acessibilidades inadequadas, faltando um conceito que venha dar uma resposta estruturante para as longuíssimas noites da época baixa.

As mais-valias acumuladas nos três meses de Verão são, rapidamente, comidas pelas despesas do exercício da actividade no longo período em que procura cai abruptamente.

E assim o investimento fica-se mesmo por aí. Sendo bom quando já é possível assegurar as despesas fixas e o serviço da dívida durante todo o ano. Reinvestir torna-se, por conseguinte, crescentemente problemático.

O turismo precisa nos Açores de um grande abanão.

Sendo essencial criar um verdadeiro “brainstorming” que envolva agentes económicos, políticos e, por fim, profissionais internacionais do turismo vocacionados para estabelecer diagnósticos e propor medidas.

Iniciativa e custos que devem caber ao Governo Regional que agora encetou funções e que precisa de encontrar uma resposta cosmopolita, criativa e global para o sector.

Dizer que são rosas o que, verdadeiramente, são espinhos não colhe e, muito menos, serve um objectivo nobre como o defendido pela Rainha D. Isabel. Sendo certo que os tempos são de crise podem, por isso mesmo, aguçar o engenho e a arte.

Fica o desafio.


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, julho 10, 2009

O Amor em tempo de crise

Em Portugal a aventura acaba na pastelaria
Alexandre O’Neill



O Amor em tempo de crise



De vento em popa lá se foi, ou vai indo, o amor à antiga portuguesa! Um amor previsível e seguro, embora cheio de alçapões, enganos e desenganos. “Amor” de vida inteira, com uma outra facadita à mistura.

Amor de papel assinado e bênção de eterna fidelidade. O homem angariador e dominante, a mulher submissa e mãe de filhos. Deus, Pátria, Família: a Trilogia da Educação Nacional. O lar perfeito, rústico, humilde, analfabeto, patriarcal e cristão.

Sendo certo que nessa altura já havia os ballet rose e outras perversidades do regime que eram, contudo, apenas usufruídas pelos privilegiados dos corredores do poder. E, claro, a burguesia urbana que já fugia ao cenário edílico do mundo rural e agrícola.

25 de Abril, revolução dos cravos e do costumes.

Em pouco mais de trinta anos passa-se de oito para oitenta. A pornografia irrompe nos mais longínquos lugarejos e a televisão torna-se no omnipotente omnipresente meio de comunicação que ainda hoje é.

A mulher assume, progressivamente, um papel socialmente relevante e invade as universidades em que detêm, hoje, uma maioria qualificada. E com a emancipação e a liberdade vêm, inevitavelmente, uma reviravolta radical nos costumes.

A Igreja Católica perde pé e passa a não conseguir impor a sua ortodoxia moralista que durante anos lhe garantiu um lugar privilegiado à mesa dos poderosos. Incapaz de se adaptar aos novos tempos perde sacerdotes e influência.

A moral e o sexo liberalizam-se e o divórcio assume carácter da maior naturalidade. As relações de facto vulgarizam-se estimando-se que no presente já ultrapassam os casamentos. O sexo pré marital tornou-se uma “pandemia”!

A homossexualidade sai do armário e torna-se num lóbi poderoso que já conquistou em muitos países o direito ao casamento. Sendo previsível que o mesmo venha a acontecer em Portugal a curto prazo.

O casamento e a família como as conhecíamos tornaram-se em instituições em vias de desagregação. E, como tudo está em grande ebulição, ainda se não enxerga bem o futuro: famílias mono parentais, pluri parentais, homossexuais, transsexuais?

E o amor? Esse certamente continua, mas irrompe das maneiras mais diversas possíveis. Sem as mascaras de uma sexualidade reprimida ou de sentimentos de culpa, pleno de desejo e de paixão. Saltando os paredões da convenção e assumindo a descoberta.

O amor e a paixão são intemporais mas, como quase tudo o resto, não estarão a resvalar para o “fast” e o descartável? Talvez por isso o amor on-line se tenha tornado quase mais popular do que o propriamente dito.

Os meios de comunicação e a rapidez das telecomunicações tornaram o mundo numa aldeia global mas a comunicação pessoal e directa parece ter-se vido a tornar mais difícil. Passam-se horas no telemóvel e na Internet mas a qualidade da comunicação parece ter piorado.

Ter-se-á somado à crise económica uma crise de afectos de proporções igualmente preocupantes? Será que o consumismo terá inquinado também o coração e o deixado à mercê dos mercados volúveis da moda e do politicamente correcto?


P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, abril 24, 2009

Turismo em tempo de crise

Turismo em tempo de crise

São previsíveis dificuldades no turismo açoriano, como em todo o lado. A retracção do consumo irá, inevitavelmente, reflectir-se num sector de actividade que dele tanto depende.

Não sendo as férias e o passear uma prioridade de primeira linha para a generalidade das pessoas será uma das despesas a reduzir nos orçamentos familiares, mesmo em países de maior desafogo.

Os Açores, sendo um destino caro, não estarão na primeira linha das opções de férias de muita gente. Sobretudo no nosso mercado emissor mais importante que continua, ainda, a ser o continental.

Mas as crises, como tudo na vida, têm coisas más e boas. E, neste caso, as boas serão a possibilidade de reflectirmos, calmamente, na sustentabilidade do nosso modelo de desenvolvimento turístico.

Embora sustentabilidade seja uma palavra que muito se poluiu de tanto ser usada, a propósito de tudo e de nada, não deixa de ser um conceito inteiramente actual e indispensável ao progresso.

Tempos de vacas gordas, geralmente, não convidam muito á reflexão. Estando toda a gente mais ou menos bem, não importa muito filosofar. Nem que se esteja a correr no fio da navalha.

E foi um pouco o que aconteceu na Região. A SATA Internacional tornou-se uma realidade de mais valia – sobretudo pela abertura de rotas directas para os Açores, os mercados emissores expandiram-se e o número de camas e dormidas explodiu.

De um destino quase desconhecido passamos a ter níveis de notoriedade interessantes que foram ampliados por alguns reconhecimentos internacionais como o selecção da vinha do Pico como património mundial ou o painel da National Geographic.

Sendo certo que o aumento exponencial de camas turísticas dos Açores não teve como base um aumento sólido da procura nem se fez com base num conceito de turismo devidamente identificado.

Cresceu-se e pronto.

Agora, em tempo de vacas magras, será a melhor altura para avaliar o que foi feito e para programar o futuro com base numa análise de mercado rigorosa e num conceito que resulte da experiência acumulada, da sensibilidade dos agentes económicos e da vontade dos políticos.

A excessiva confiança não deverá dar lugar ao desânimo. Os Açores são um destino com inegáveis potencialidades nos mercados já estabilizados e noutros – que urge explorar – como os americano e canadiano.

Seria interessante organizar, ao nível da Região, uma mega operação de reflexão sobre o que temos, o que devemos fazer e para onde queremos ir. E tempos de crise são, por natureza, os mais criativos ou não fosse a necessidade a melhor forma de aguçar o engenho.



P E D R O D A M A S C E N O

sexta-feira, março 27, 2009

O preservativo da discordia

O preservativo da discórdia


Poderá parecer excessivo voltar à questão das declarações do Papa Bento XVI a propósito do uso do preservativo. Contudo foram feitas no âmbito da sua visita a África, continente aonde vivem 70% dos infectados com a Sida.

Uma epidemia de proporções colossais e cuja erradicação passa pela tomada de medidas muito drásticas e que não se compadecem com leituras da vida completamente desajustados dos dias em que vivemos.

Tecnicamente é um facto indiscutível que a prevenção primária da Sida, para além da irrealista abstinência, passa pela utilização de uma barreira física que impeça a contaminação. E que essa barreira se chama preservativo.

Esta é, por conseguinte, uma questão básica de Saúde Pública. Que tem levado a que a generalidade dos países ocidentais faça campanhas de utilização do preservativo. Com o apoio explicito e activo da Organização Mundial de Saúde.

O que difere a Sida de outras doenças contagiosas também muito graves é o facto de ser uma doença tipicamente adquirida por via sexual, embora o possa ser de outros modos. Facto que não a desqualifica como um verdadeiro flagelo.

Sendo o sexo a forma, habitual e corrente, de propagar a espécie humana e, simultaneamente, o resultado de um dos instintos nucleares do homo sapiens fácil será perceber que o combate à Sida tem pela frente um obstáculo formidável.

Tentar limitar o seu combate à abstinência sexual e a monogamia será, pelo menos, tão difícil como abrir, outra vez, as águas do Mar Vermelho. Sobretudo se atendermos a culturas tão diferentes, perante o sexo, como as africanas.

A questão da utilização do preservativo é, desse modo, uma questão que ultrapassa de todo as questões da moral em abstracto para se ter tornado num imperativo cívico para quem quer erradicar uma doença tão grave e que atinge milhões de inocentes, nomeadamente crianças.

A Igreja Católica tem como organização religiosa tem todo o direito de assumir as posturas morais que entender adequadas mas não deveria em nome dessas posturas fazer contracorrente em relação a uma medida de prevenção da doença tão importante como é preservativo.

O Papa, em vésperas de visitar África, poderia ter escolhido outro tema mais adequado como as ditaduras, a corrupção e a miséria. Situações endémicas nesse continente tão prodigioso e, ao mesmo tempo, tão carente.

A mensagem de Cristo foi – exemplarmente – uma mensagem de compaixão e solidariedade. Um Cristo humilde e profundamente tolerante que fez do amor o centro da sua vida.

Custa, agora, ver o seu sucessor perorar, do alto dos seus brocados, sobre uma moral pequenina que vê o mundo através do buraco da fechadura do Vaticano e se esquece do mundo de sofrimento e miséria que gravita em torno de uma doença perfeitamente evitável.


P E D R O D A M A S C E N O